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Os condicionantes da competitividade decorrentes da localização das atividades

2.2 OS CONDICIONANTES DA COMPETITIVIDADE

2.2.2 Os condicionantes da competitividade decorrentes da localização das atividades

produtivas

Porter (1989b, 1998a, 1998b e 1999) destaca o papel da nação ou localidade para a competitividade de determinadas indústrias. Segundo o autor, as maneiras pelas quais determinadas indústrias são competitivas na competição global proporcionam as bases necessárias para o entendimento do papel da nação ou localidade neste processo.

Porter (1999) argumenta que, a despeito da capacidade das empresas contemporâneas transcenderem a concorrência de mercados locais, a competitividade de determinadas indústrias se origina na localização de suas atividades produtivas.

Segundo o autor, compreender a competitividade das empresas a partir da localização das suas atividades produtivas envolve considerar algumas premissas. Primeiro, a natureza da competitividade e as fontes de vantagem competitiva diferem muito entre indústrias e, até mesmo, entre segmentos da mesma indústria. Portanto, deve-se levar em conta as diferentes fontes de vantagem competitiva em diferentes indústrias, em lugar de depender de uma única e ampla fonte, como custos da mão-de-obra ou economias de escala. Segundo, os competidores globais desempenham, com freqüência, certas atividades da sua cadeia de valores fora de sua nação sede. Portanto, a competitividade em nível global não nega o papel relevante da nação sede para a vantagem competitiva de suas empresas em suas atividades em outras nações. Terceiro, as empresas criam e sustentam a vantagem competitiva por meio de

inovação, o que inclui tanto a tecnologia como os métodos, abrangendo novos produtos, novos métodos de produção, novas maneiras de comercializar e identificação de novos grupos de clientes. Portanto, a competitividade de determinadas empresas está relacionada à sua capacidade de promover inovação tanto de processos, quanto de produtos e de ações em mercados. Finalmente, as empresas que criam e sustentam a vantagem competitiva em uma determinada indústria são aquelas que não só identificam a necessidade de um novo mercado, mas as mais ágeis em explorar as mudanças destas indústrias. Portanto, a competitividade está relacionada com as decisões estratégicas de determinadas indústrias.

Porém, Porter (1989b e 1999) afirma que é necessário ir além do simples reconhecimento de diferenças na vantagem competitiva entre nações ou localizações – é necessário identificar as fontes de vantagem competitiva da localidade para criar a infra- estrutura local necessária para condicionar a competitividade das empresas que se instalam e produzem naquela localidade.

Para criar a infra-estrutura local necessária para a competitividade das empresas, Porter (1989b) propõe o “Modelo Diamante”, que é um modelo constituído por quatro fontes de vantagem competitiva da localização das atividades produtivas que condicionam a competitividade de determinadas indústrias. São elas: condições dos fatores de produção; condições de demanda; indústrias correlatas e de apoio, e; estratégia, estrutura e rivalidade das empresas.

O “Modelo Diamante” é um sistema no qual o papel de qualquer fonte de vantagem competitiva da localização das atividades produtivas que condiciona a competitividade de determinadas indústrias não pode ser vista de forma isolada.

Souza e Arica (2006a) afirmam que o “Modelo Diamante” proposto por Porter (1989b) é um modelo amplamente difundido e empregado na análise de competitividade de empresas e de suas respectivas indústrias em diversos países, o que justifica a sua adoção para identificar as fontes da vantagem competitiva das empresas e das localizações.

O “Modelo Diamante” é identificado na figura 03, a seguir:

Estratégia, estrutura e rivalidade das

empresas

Condições dos fatores de produção

Condições de demanda

Indústrias correlatas e de apoio

Figura 03 -O “Modelo Diamante” Fonte: Adaptado de Porter, 1989b, p. 88.

2.2.2.1 Condições dos fatores de produção

Porter (1989b, 1998a, 1998b e 1999) identifica as condições dos fatores de produção como a primeira fonte de vantagem competitiva da localização das atividades produtivas que condiciona a competitividade de determinadas indústrias. Segundo o autor, as condições dos fatores de produção representam os insumos básicos para a vantagem competitiva de determinadas indústrias tais como recursos naturais, capital, recursos humanos qualificados, infra-estrutura física e conhecimentos científicos.

Porém, a hipótese básica sobre a simples disponibilidade dos fatores de produção em determinada localidade não é o suficiente para explicar a competitividade de determinadas indústrias.

Embora a disponibilidade local destes fatores sejam relevantes para a competitividade de determinadas indústrias, a vantagem competitiva decorrente da localização das atividades produtivas resulta da produtividade, dos custos e, principalmente, da especialização e da qualidade destes fatores.

Entre os mecanismos de criação, aperfeiçoamento e uso adequado destes fatores em determinadas localizações estão as instituições educacionais públicas e privadas, os programas de formação e desenvolvimento profissional, os institutos de pesquisa privados ou governamentais, órgãos que proporcionam infra-estrutura tais como hospitais, portos, aeroportos e estradas.

Dependendo do nível de especialização e qualidade alcançado pelos fatores de produção, eles se tornam fontes relevantes de vantagem competitiva para determinadas indústrias.

determinadas indústrias. Por mais paradoxal que pareça, as desvantagens seletivas dos fatores de produção podem influenciar a estratégia e a inovação das empresas e contribuir para o êxito competitivo das empresas instaladas.

Na dinâmica competitiva, a abundância ou o baixo custo de um determinado fator pode levar à sua utilização pouco especializada ou não qualificada. Em contraste, as desvantagens seletivas de fatores básicos criam pressões favoráveis à inovação e, conseqüentemente, à potencialização da competitividade em uma determinada indústria.

Porter (1989b, 2001 e 2003) afirma que a inovação para compensar desvantagens seletivas é mais eficiente do que a inovação para explorar os pontos fortes. Segundo o autor, quando uma localidade controla fatores de produção, as desvantagens seletivas criam alvos precisos para as indústrias instaladas melhorarem as suas posições competitivas forçando-as a encontrar novas soluções e, conseqüentemente, inovar.

Portanto, a competitividade de determinadas indústrias advém da criação, aperfeiçoamento e uso adequado destes fatores em uma determinada localidade onde eles sejam mais especializados e qualificados para a vantagem competitiva destas indústrias.

Os efeitos das condições dos fatores de produção sobre a vantagem competitiva da localização das atividades produtivas que condiciona a competitividade de determinadas indústrias também dependem do equilíbrio e da sinergia das outras fontes de vantagem competitiva identificadas no “Modelo Diamante”.

2.2.2.2 Condições de demanda

Porter (1989b, 1998a, 1998b e 1999) identifica as condições de demanda como a segunda fonte de vantagem competitiva da localização das atividades produtivas que condiciona a competitividade de determinadas indústrias. Segundo o autor, a natureza do mercado local influencia a competitividade de suas respectivas indústrias.

As condições de demanda de uma determinada localidade refletem as necessidades, os níveis de sofisticação, o poder de compra e as afinidades culturais locais por determinados produtos.

A vantagem competitiva decorrente da localização de determinadas indústrias, considerando as condições de demanda, resulta da existência de clientes locais sofisticados ou de clientes sofisticados de outras localizações com demandas intensas, especializadas e com facilidade de acesso e comunicação à localidade produtiva.

Os compradores sofisticados pressionam as indústrias de determinada localidade a atingir elevados padrões de qualidade e constante renovação de seus produtos ou serviços o que, conseqüentemente, cria pressões favoráveis à inovação.

Vale ressaltar que a qualidade das condições de demanda é mais importante do que a sua quantidade, porém as condições da demanda só contribuem para a vantagem competitiva das indústrias de uma determinada localidade se gerar influências sobre as necessidades de demandas de outras localizações, inclusive de outras nações.

Os efeitos das condições de demanda sobre a vantagem competitiva da localização das atividades produtivas que condicionam a competitividade de determinadas indústrias também dependem do equilíbrio e da sinergia das outras fontes de vantagem competitiva identificadas no “Modelo Diamante”.

2.2.2.3 Indústrias correlatas e de apoio

Porter (1989b, 1998a, 1998b e 1999) identifica as indústrias correlatas e de apoio como a terceira fonte de vantagem competitiva da localização das atividades produtivas que condiciona a competitividade de determinadas indústrias. Segundo o autor, a presença local de fornecedores especializados e de indústrias correlatas com elevado poder de competição reduz os custos de transação e os atrasos decorrentes de negociações com empresas distantes, aumenta a eficiência dos processos produtivos, desenvolve complementaridades em pesquisa e desenvolvimento, reduz os custos com marketing e transporte, além de facilitar os reparos e as soluções de problemas.

A proximidade de fornecedores e indústrias correlatas fomenta rapidez no fluxo das informações, a colaboração científica e o desenvolvimento de esforços conjuntos. Além disso, intensifica a velocidade e a flexibilidade no desenvolvimento e introdução de novos processos produtivos e de novos produtos, o que estimula a inovação.

Esta proximidade, juntamente com as condições de fatores de produção e as condições da demanda local, destaca o papel relevante da concentração de indústrias inter-relacionadas na mesma localidade que se concentram as indústrias especializadas.

A concentração de indústrias inter-relacionadas na mesma localidade que as indústrias especializadas cria um ambiente onde as empresas são capazes de reunir insumos, conhecimentos e habilidades com maior eficiência, o que representa um ativo coletivo que facilita a inovação e a competitividade tanto das indústrias, quanto dos fornecedores.

A vantagem competitiva decorrente da localização de determinadas indústrias, considerando as indústrias correlatas e de apoio, resulta da concentração de indústrias inter- relacionadas em uma determinada localidade.

A concentração de indústrias inter-relacionadas em uma determinada localidade fornecendo insumos e provendo apoio às indústrias desta mesma localidade estimula investimentos e inovações nos processos produtivos e nos produtos ou serviços, o que potencializa a competitividade tanto das indústrias inter-relacionadas quanto das próprias indústrias.

Os efeitos das indústrias correlatas e de apoio sobre a vantagem competitiva da localização das atividades produtivas que condicionam a competitividade de determinadas indústrias também dependem do equilíbrio e da sinergia das outras fontes de vantagem competitiva identificadas no “Modelo Diamante”.

2.2.2.4 Estratégia, estrutura e rivalidade entre empresas

Porter (1989b, 1998a, 1998b e 1999) identifica estratégia, estrutura e rivalidade de empresas como a quarta, e última, fonte de vantagem competitiva da localização das atividades produtivas que condiciona a competitividade de determinadas indústrias. Segundo o autor, as circunstâncias e o contexto da nação ou da localidade geram tendências relativas a como as empresas serão constituídas, organizadas e gerenciadas, assim como o qual será a natureza da rivalidade doméstica. Isso inclui práticas gerenciais locais, estrutura organizacional, governança corporativa e a natureza dos principais mercados de capitais locais.

A rivalidade no mercado doméstico é outro fator importante para o contexto competitivo. Segundo Porter (1999), a rivalidade local afeta a taxa de inovação em um mercado, muito mais do que a rivalidade estrangeira.

A competitividade decorrente da localização das atividades produtivas de determinadas indústrias, considerando estratégia, estrutura e rivalidade de empresas, resulta das metas empresariais, da concepção e execução de modelos e de sistemas de gestão dinâmicos e competitivos, dos volumes de capitais disponíveis para investimentos e dos seus respectivos níveis de taxas de juros.

A qualificação e a motivação profissional e a confiança da população local em suas próprias atitudes estimulam e complementam a estratégia, estrutura e rivalidade de empresas.

A competição combinada com metas e atitudes pressionam-se mutuamente para o desenvolvimento da competitividade das empresas e para a formação de novas empresas.

Os efeitos das estratégia, estrutura e rivalidade de empresas sobre a vantagem competitiva da localização das atividades produtivas que condicionam a competitividade de determinadas indústrias também dependem do equilíbrio e da sinergia das outras fontes de vantagem competitiva identificadas no “Modelo Diamante”.

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