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4. Ser Professor Coordenador Pedagógico – o real

4.3. Ser PCP: análise dos dados

4.3.9. Os desafios e as dificuldades do PCP

No que diz respeito aos desafios de estar na Coordenação Pedagógica, Ângelo considera que a intervenção na prática docente seja o maior deles, pois implica em ter de mostrar ao professor a possibilidade de mudança.

Já Bárbara acredita que o primeiro grande desafio é conseguir articular a participação da família na escola, o que seria fundamental para um melhor atendimento aos alunos e melhor qualidade no ensino.

Nossas mães não trabalhavam fora, hoje elas trabalham. Mas se houvesse pelo menos, sei lá, um terço do que a gente tinha, sabe, se elas tivessem com eles hoje. Eles são muito carentes, carentes de atenção, de zelo. E isso faz falta, faz muita falta. E a escola fica sozinha pra resolver isso. Mais essa atribuição foi dada à escola. Eu não acho justo, sabe. Eu tenho a minha família, eu tenho a minha obrigação emocional em casa e eu tenho que usar aqui também. Porque eu sei que os meninos não têm. (Informação verbal, Bárbara)

Bartolomeu considera que o grande desafio da Coordenação Pedagógica é conseguir que a escola funcione da melhor forma possível, ou seja, ele conseguir realizar o trabalho de coordenação e o professor realizar bem seu trabalho em sala de aula. A gente que está na CP em jornada dupla, por causa do salário, da mesma forma o professor. E essa coisa vai virando uma bola de neve. Eu acho que o desafio, eu diria, a coisa ideal, é fazendo sua parte do lado de cá. Os encaminhamentos que têm que ser feitos fora da sala de aula (...), mas nem sempre isso acontece.

Conseguir aliar o trabalho de PCP ao de professor em sala de aula é, para Ana, o maior desafio. Porque a coordenação te suga muito, seu trabalho é 24 horas por dia. (...) Eu acho que o PCP deveria ser só PCP. Sabe por quê? A gente não é super-homem, nem super- mulher. Eu acho que eu fico dividida na sala de aula e na coordenação.

Os PCP das duas escolas pesquisadas reconhecem que elas possuem privilégios em termos de recursos materiais, equipamentos e estrutura. Bartolomeu ressalta a dificuldade de manutenção dos equipamentos de informática, por exemplo, que dependem de uma hierarquia externa à escola e muita burocracia para solucionar o problema, por exemplo, de uma impressora que não funciona. Ele questiona a falta de autonomia da escola para solucionar problemas dessa natureza.

Outra dificuldade dos PCP, evidenciada principalmente na Escola B, se refere à substituição de professores faltosos que acabam impedindo o desenvolvimento do trabalho de coordenação. Bartolomeu pondera: Meu pensamento é esse: se eu estou substituindo neste momento, então eu não sou CP, eu vou ficar em sala de aula. Aí meu bloco vai ficar sem CP naquele dia. (...) Definitivamente eu não dou conta e não vou ficar assumindo duas ou três coisas ao mesmo tempo.

A dificuldade em lidar com pessoas inflexíveis, segundo Ana, é outro fator que dificulta o trabalho do PCP. Como a gente lida com todos os tipos de pessoas, tem gente que

não abre mão de nada, que é muito radical. Às vezes eu fico com dificuldade em relação a isso. Às vezes eu pego o negócio pra fazer, porque aquela pessoa não dá em nada não. Eu pego e faço. E acabo fazendo, e pego mais coisa para fazer, e fico sobrecarregada.

A sobrecarga de trabalho é outra queixa dos PCP. Ana acredita que há muito a se fazer e que não é possível fazer tudo por causa do excesso de atividades e pelo pouco tempo disponível. Eu acho que o problema está aí, que a gente está fazendo um monte de coisas dentro da escola, que antes a gente não fazia. Antes tinha alguém para dividir isso com a gente. Agora a gente não tem. Daí a angústia, daí a frustração, daí a doença.

O excesso de tarefas e o acúmulo de funções e preocupações acabam gerando o adoecimento dos PCP. Bartolomeu identifica que essa sobrecarga no trabalho do professor, a jornada dupla, as salas de aulas lotadas e os alunos que, a cada ano que chegam à escola pública apresentando grandes defasagens, dificuldades, falta de estrutura familiar e de saúde, são os causadores do número cada vez maior de professores doentes e afastados por licença médica. O professor está adoecendo e ele adoece, não dá conta e a Coordenação tem que dá conta. E chega num ponto que a Coordenação também não vai dar conta, declara Bartolomeu.

Ana, que adoeceu e ficou afastada da docência por um período, compartilha o conselho que recebeu da psicoterapeuta:“Você tem que lembrar de se proteger, pra não ficar desse jeito”. Porque eu pegava muito dos problemas dos meninos, e ficava sofrendo com aquilo, sabe. Isso ia me dominando muito, aí na hora que eu vi eu estava doente.

A partir dos relatos dos PCP, fica evidente que, embora as conquistas na perspectiva da autonomia e da participação na escola sejam incontestáveis, elas não trouxeram consigo a garantia de condições objetivas necessárias para a plena atividade dos docentes e dos próprios PCP, significando maior compromisso, sobrecarga e adoecimento do trabalhador docente.

Como se observa, os desafios e as dificuldades apresentadas pelos PCP dizem respeito às demandas urgentes que lhe são postas em seu cotidiano, à fragmentação e à simultaneidade das atividades, os muitos afazeres e responsabilidades assumidas no trabalho e à falta de tempo para sua execução. Tais elementos evidenciam a intensificação do trabalho docente, característica da nova regulação educativa, bem como suas conseqüências na identidade docente.

Cada vez mais, os professores se vêem diante de dificuldades e desafios sem ampliação do tempo da jornada de trabalho e com uma maior intensidade de ações e tarefas, o que exige deles que respondam e dominem novas práticas, novos saberes e novas competências para o exercício de suas atividades no âmbito da unidade escolar (OLIVEIRA, 2006).