• Nenhum resultado encontrado

4. Um percurso com várias etapas

4.3 Realização – Passo a passo até ao destino final

4.3.5 Modelos instrucionais

4.3.5.1 Os desafios do Modelo de Educação Desportiva

O MED encerra uma proposta de ensino bastante própria, assente na promoção de um ambiente lúdico de aprendizagem (play education), em detrimento de metodologias curriculares descontextualizadas, através do qual se procura estabelecer experiências desportivas autênticas e significativas para os alunos (Mesquita & Graça, 2011).

82

Este modelo foi desenvolvido por Siedentop em 1987, como alternativa às estratégias de ensino demasiado fechadas, que não possuíam a abertura necessária à descoberta e iniciativa dos alunos, desvirtuando, por vezes, o valor pedagógico do desporto e da disciplina de Educação Física.

Na sua génese, o MED “comporta a inclusão de três eixos fundamentais que se revêem nos objectivos da reforma educativa da Educação Física actual: o da competência desportiva, o da literacia desportiva e o do entusiasmo pelo desporto, sendo o seu propósito formar a pessoa desportivamente competente, desportivamente culta e desportivamente entusiasta.” (Mesquita & Graça, 2011, p. 59). No que concerne à competência, pretende-se que o aluno desenvolva as habilidades necessárias para uma participação eficaz no contexto competitivo, conhecendo, compreendendo e adotando um comportamento adequado durante a prática. Relativamente à cultura, o aluno deve ser capaz de diferenciar uma boa de uma má prática desportiva, valorizando e conhecendo as principais tradições e rituais inerentes ao desporto. Ao nível do entusiasmo, este modelo pretende elevar os índices de motivação para a prática desportiva.

O carácter inclusivo do MED, apoiado numa perspetiva construtivista do ensino, reconhece o aluno como figura central de todo o processo de aprendizagem, pelo que o trabalho em equipa e o desempenho de diversas funções e responsabilidades são uma constante da sua aplicação. Os alunos são desafiados a participar como árbitros, cronometristas, estatísticos e treinadores, participando nas tarefas da aula no seio de uma equipa. De acordo com Mesquita & Graça (2011, p. 61), “a variedade de papéis assumida pelos alunos na constituição das equipas (jogadores, árbitros, jornalistas, dirigentes, etc.) evidencia uma redefinição de papéis do professor e dos alunos, sugerindo a filiação do MED às ideias construtivistas prevalecentes nos anos 90.”

Estruturalmente, o MED procura aproximar-se da realidade institucional do fenómeno desportivo, com o intuito de proporcionar experiências autênticas aos alunos. Neste sentido, foram introduzidos os conceitos de época desportiva, filiação, competição formal, registo estatístico, festividade e eventos culminantes. As UD foram substituídas por épocas desportivas, organizadas

83

segundo um calendário competitivo, com momentos de treino e competição (torneios), com registo estatístico permanente e com um evento final culminante.

A filiação foi desenvolvida pela integração dos alunos em equipas e a festividade assumiu-se como uma constante de todo o processo, atingindo o seu auge no evento culminante.

A formação de equipas homogéneas foi uma das minhas principais preocupações. O sucesso da inclusão dos alunos, no contexto do MED é garantido, de certa forma, pela promoção de igualdade de oportunidades de participação na competição e nas restantes tarefas da aula. Pretende-se que os alunos menos dotados sejam acolhidos pela sua equipa e estimulados a desenvolver as suas capacidades, através de uma aprendizagem cooperativa, suportada pelos alunos com maior aptidão para a modalidade. “O modelo de educação desportiva acredita nas vantagens da aprendizagem cooperativa em pequenos grupos heterogéneos e duradouros.” (Graça & Mesquita, 2013, p. 15). A filiação à equipa deve ser incrementada através do recurso ao diálogo e entreajuda, numa relação de igualdade e respeito, em que os valores sociais e éticos devem concorrer para a busca do sucesso mutuo. Segundo Graça & Mesquita (2013), deve existir um esforço no sentido de reforçar a identidade de grupo, em que as tensões e os conflitos sociais devem ser resolvidos com recurso à comunicação, num clima de equidade e consideração pelo outro. A competição e cooperação devem funcionar como fatores promotores de motivação, estimulando a criação de um ambiente propício à aprendizagem.

“A introdução e quantificação dos pontos alcançados pelas equipas em cada exercício fomentou o empenho e cooperação dos alunos, contribuindo para um ambiente de aula propício à aprendizagem. Logo, irei procurar respeitar esta estratégia no planeamento das aulas futuras, com ênfase na dimensão competitiva, em prol de uma aprendizagem lúdica que permita desenvolver, eficazmente, as competências da turma na modalidade.”

84

No entanto, nem tudo se desenrolou como o esperado. Apesar da constituição heterogénea dos grupos ter promovido a evolução dos alunos com mais dificuldades, os elementos com melhor aptidão motora, por vezes, não encontravam uma resposta, por parte dos restantes colegas da equipa, adequada ao nível das suas capacidades, evidenciando alguns sinais de falta de motivação. Esta situação é confirmada no seguinte excerto:

“A formação de grupos exige a distribuição dos alunos segundo níveis de desempenho equilibrados, o que, se permite o desenvolvimento dos alunos com mais dificuldades por um lado, por outro promove a desmotivação dos alunos mais competentes, que não encontram desafios enquadrados segundo as suas capacidades e acabam por estagnar na sua evolução.”

(Excerto retirado da reflexão da UD de basquetebol)

A competição acérrima e a vontade de ganhar exigiram uma permanente intervenção da minha parte, no sentido de moderar comportamentos e atitudes menos apropriadas dos alunos.

“Constatei, inúmeras vezes, a tensão normal do jogo dar origem a pequenos conflitos entre os alunos, que exigiram uma intervenção oportuna e assertiva da minha parte, como forma de refrear determinados comportamentos menos adequados que poderiam evoluir para confrontos físicos indesejados.”

(Excerto retirado da reflexão da aula nº 74 e 75 de basquetebol)

Com efeito, necessitei de introduzir algumas estratégias para o controlo deste tipo de situações, como a implementação de um prémio de comportamento, que consistiu na bonificação da equipa com melhor atitude durante a aula, e a obrigatoriedade de todos os elementos da equipa participarem na competição, sob pena de a equipa ser desclassificada em situação de incumprimento desta regra.

85

“Nas próximas aulas irei continuar a explorar a presente dimensão, valorizando e bonificando, através da pontuação, comportamentos e atitudes corretas perante o jogo, com o intuito de limitar a ocorrência de condutas negativas.”

(Excerto retirado da reflexão da aula nº 74 e 75 de basquetebol)

Durante a realização dos torneios procurei manter uma postura mais atenta ao desenrolar dos diversos jogos, de forma a controlar as atitudes dos alunos e apoiar as decisões da arbitragem, esclarecendo dúvidas sobre a sinalética e a regulamentação específica da modalidade.

“ […] optei por manter uma presença mais próxima dos campos de jogo, com o intuito de controlar os comportamentos observados e esclarecer possíveis dúvidas acerca da regulamentação e sinalética da modalidade, apoiando o árbitro nas suas decisões.

(Excerto retirado da reflexão da aula nº 74 e 75 de basquetebol)

Apesar de a competição potenciar alguns conflitos, promove a superação e exultação da performance desportiva, pelo que a sua aplicação, no contexto da Educação Física, não deve ser evitada, levando a descurar uma dimensão importante do mundo desportivo. Urge, no entanto, a necessidade de ensinar os alunos a conviver com o insucesso e a valorizar o respeito e a cooperação como formas de promover um ambiente e experiências positivas através da competição. Segundo Graça & Mesquita (2013, p. 15), “competir e esforçar-se para ganhar é inerente ao ethos do jogo e à cultura desportiva, porém pretende-se que a competição esteja fundada numa ética de respeito pelo espírito de jogo, num clima que favoreça a participação, o desenvolvimento individual, que equilibre as oportunidades de aprender e de jogar de todos os participantes.”

86