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adultério, consequentemente, tornava-se mais um crime de propriedade do que um crime de natureza sexual, praticado sobretudo pelas mulheres. O sexo fora do casamento era gravemente condenado se praticado pelas mulheres, contrastando com a permissão dada aos homens, a não ser se feito com mulheres casadas. Nesse caso, o homem seria igualmente punido com a mulher que praticara o adultério.

Com o passar do tempo, a repressão do adultério ter-se-á tornado mais relaxada na legislação romana até à passagem da Lex Julia de adulteriis coercendis por Augusto. Esta lei permitia ao pai ou ao marido matar a filha adúltera e o amante se apanhados em flagrante delito em sua casa ou na do marido; porém, apenas era permitido ao marido matar o adúltero, nunca a mulher. Tirando a possível morte, a punição mais comum por este crime era o exílio dos dois adúlteros para diferentes áreas do império, para além da confiscação total dos bens do marido e da renúncia da mulher a metade do seu dos. O marido da adúltera era também obrigado a divorciar-se após ter conhecimento do crime sob a pena de ser punido como adquirente226. A acusação de adultério deveria ser feita inicialmente pelo marido ou pelo pai da mulher num período de 60 dias após o divórcio;

decorrido esse tempo, a acusação podia ser feita por qualquer pessoa durante 4 meses, pela consideração do adultério como uma ofensa à moralidade. Era permitido a tortura de servos com o propósito de conseguir uma confissão se se entendesse que estes tivessem envolvidos no ato, nem que fosse somente como testemunhas involuntárias. Por fim o adultério feito por uma concubina era tratado como o de uma mulher casada227. As penalidades da Lex Julia tornaram-se mais severas com os imperadores Cristãos.

Constantino, por exemplo, introduziu a pena de morte e Justiniano não apenas a confirmou, como restaurou o direito de o marido matar a mulher adúltera se apanhada em flagrante delito. Em contrapartida, restringiu-se o direito de acusação aos parentes228. No que diz respeito às práticas germânicas sobre o adultério, as primeiras descrições veem de Tácito. Este enfatiza os padrões duplos aplicados às mulheres, relatando as punições humilhantes impostas às mulheres adúlteras enquanto à sua contraparte era permitido relacionar-se com outras mulheres senão com aquelas já casadas, à semelhança do que estava presente na legislação romana. O homem adúltero era punido de forma semelhante à mulher, se identificado e detido229. Não obstante, o adultério nas sociedades

226 Vern L. Bullough, “Medieval Concepts of Adultery,” Arthuriana, vol. 7, nº 4 (1997): 6-7.

227 Ibidem. 7.

228 Ibidem.

229 Ibidem. 5-6.

germânicas primitivas, no caso das mulheres, era uma ofensa que apenas a mulher casada podia cometer, pois estava no mundium do marido. A necessidade de retribuição era evidente principalmente pela ofensa à honra do marido230. Nas primeiras codificações germânicas, as mulheres eram encaradas não tanto como pessoas, mas sim como propriedades do detentor do seu mundium, existindo, portanto, uma maior valorização da castidade e da virtude feminina, virtudes estas que passavam a ser detidas pelo marido, tornando este delito, à semelhança daquilo que se passava na legislação romana, mais um crime de propriedade do que de natureza sexual231.

A Igreja cristã, ao defender o casamento monógamo, assumia uma posição firme e resoluta contra o sexo extramarital, vendo nesta atividade a necessidade de a suprimir e punir sempre que possível. A comunicação desta mensagem não foi fácil e foi veiculada sobretudo pela literatura penitencial, cujas provisões se dirigiam, acima de tudo, aos homens, cobrindo casos como o adultério com a mulher de outrem, com uma filha virgem ou com uma serva sua. O maior desenvolvimento da literatura penitencial sobre as atividades sexuais proibidas deu azo a opiniões conflituosas e até mesmo contraditórias, o que levou as autoridades da Igreja a voltarem-se para o direito romano como guia para dispor e regularizar este delito. Um dos grandes problemas que os juristas cristãos enfrentaram foi a indefinição sobre o que constituía adultério no direito romano, comparativamente às elaboradas punições a ele associadas, ambiguidade esta que irá subsistir nos penitenciais. Os legalistas canónicos atribuíram o termo adultério à violação do leito matrimonial, definindo-se como a relação sexual de uma pessoa casada com outra que não o seu esposo ou esposa. Aliás, o conceito de adultério foi alargado, passando a incluir qualquer tipo de luxúria sexual; um casamento contraído por propósitos errados ou até um casamento ilícito ou clandestino. Uma das grandes diferenças entre o direito romano e o direito canónico passa pela eliminação dos padrões duplos para os homens e para as mulheres. O adultério era pecado independentemente do sexo, sendo a punição igual para ambos. Para além disso, o princípio de vingança também foi rejeitado, mesmo no caso de flagrante delito, mas, todavia, o direito civil medieval continuou a tolerar o homicídio privado em caso de adultério. Desenvolveu-se, por fim, um número de punições menores que passavam pelo pagamento de coimas ou pela punição pública232.

230 Theodore John Rivers, “Adultery in Early Anglo-Saxon Society: Æthelberht 31 in Comparison with Continental Germanic Law,” 19-20.

231 Vern L. Bullough, “Medieval Concepts of Adultery,” 5.

232 Ibidem. 8-11.

Feita esta breve exposição, podemos então passar para a análise das matérias presentes nos dois códigos legais, começando pelo FJ. O FJ não faz uma clara definição do que era considerado adultério, mas, mesmo assim, existem dois cenários no decorrer do título IV que, indiretamente, oferecem um vislumbre sobre aquilo que se englobava ou não na categoria do adultério. O primeiro e o mais óbvio, pois é aquele que possivelmente seria mais recorrente, alude às relações extramaritais feitas por homens ou mulheres casadas.

O adultério, todavia, não se restringia ao casamento, sendo então considerada adúltera toda e qualquer mulher que tivesse relações sexuais antes do casamento, remetendo para a importância da castidade e da virtude feminina, mas também para a submissão ao mundium do pai, sendo estes dois fatores um grande entrave para a liberdade sexual feminina, restringindo-a consideravelmente. Este segundo cenário é aquele que surge mais vezes, talvez por ser aquele que se afasta da norma, sendo, por tal, necessário ao legislador acautelar todas as possibilidades.

Nesse sentido, comecemos pelo primeiro cenário. O FJ faz a distinção entre um adultério feito pela força e um adultério consentido pela mulher. O adultério feito pela força não trazia qualquer tipo de repercussão para a mulher. O adúltero, por outro lado, era punido de acordo com a existência ou não de filhos legítimos. O FJ indica que se o violentador tivesse filhos, então este seria colocado no poder da mulher, com a devida transferência dos seus bens para a mão dos filhos. Em contrapartida, caso filhos não houvesse, então este seria colocado sob o poder não da mulher, mas sim do seu marido, tal como todos os seus bens, indicando esta lei, de certa forma, que o marido era o principal gestor do património do casal. Ademais, era concedido ao marido o direito de se vingar do homem como entendesse ser apropriado. O adultério consentido pela mulher tinha como principal consequência a sua submissão ao poder do marido, bem como a transmissão de todas as suas coisas para a mão deste, sendo possibilitado ao marido fazer o que quisesse dos dois adúlteros233. O FJ prevê a possibilidade de um adultério feito por uma mulher solteira com um homem casado. Nesse caso, se o adultério fosse devidamente provado pela mulher casada, então a adúltera seria metida sob o seu poder, tendo esta a possibilidade de se vingar como entendesse234. Como já vimos relativamente à lei do divórcio, a partir

233 FJ, III, IV, 1.

234 FJ, III, IV, 9.

do momento em que o adultério do marido fosse provado, a mulher poderia procurar divorciar-se dele235.

Para o segundo cenário são incluídas duas perspetivas: a do adultério feito enquanto a rapariga e o rapaz estão somente esposados e a de um adultério feito por vontade da mulher solteira com um homem solteiro. Sobre a primeira situação, estabelece-se que, após se firmarem os acordos entre as famílias e terem sido dadas as arras à rapariga, tendo em conta a natureza irrevogável do contrato nupcial236, qualquer relação exterior que a esposada tivesse com outro homem, sendo equacionada a possibilidade de esta se esposar ou casar com outrem, então ela, bem como o adúltero, deviam ser colocados no poder do primeiro esposo, sendo explicitado que adquiriam a condição de servos, perdendo, para além disso, todas as suas coisas, excetuando-se a pena ao adúltero se tivesse filhos legítimos237. Para a segunda situação o FJ estabelece que, se uma mulher livre tivesse relações consensuais com um homem não casado, este era possibilitado a tê-la por mulher se o pretendesse, sendo, de qualquer maneira, a relação considerada adultério no campo legal. Todavia, se da relação houvesse somente sexo e o homem não considerasse o casamento, então deveria a mulher “tornese á sua culpa, que fu facer adulterio por so grado”238. Todas as provisões legais que antecediam um casamento legítimo deveriam ser mantidas e continuadas se o homem pretendesse casar com essa mulher, sendo este obrigado a dar por arras o valor que os pais entendessem ou o valor concordado com a rapariga. Porém, por culpa do casamento nascer de algo considerado adultério, a rapariga perderia diretamente o direito à herança do seu pai se estes o entendessem239, à semelhança daquilo que se passava se uma rapariga casasse à revelia sem o consentimento dos pais. A submissão da rapariga ao mundium do pai e a falta de liberdade da mesma fica bem patente nestas duas leis, sendo esta punida por qualquer relação que tivesse não consentida pelo progenitor, não existindo qualquer tipo de referência às relações pré-maritais dos homens, o que leva a crer que eram socialmente aceites sem qualquer tipo de restrição.

O FJ reconhece como legítimo o homicídio no caso de o adultério ser descoberto em flagrante delito. Refere o FJ que não existia qualquer tipo de pena associada ao homicídio

235 FJ, III, VI, 2.

236 FJ, III, I, 4.

237 FJ, III, IV, 2.

238 FJ, III, IV, 8.

239 FJ, III, IV, 7.

“Si el marido, ó el esposo mata la moyer, é el adulterador”240. Não era só ao esposo ou ao marido que era concedida esta possibilidade. O pai da rapariga era outro dos que não saía lesado se apanhasse a filha a cometer adultério em sua casa. Como já referi anteriormente, após a morte do pai, a guarda da rapariga passava para os irmãos, se fossem maiores de idade, ou para os tios. O mesmo é replicado nesta lei, tendo estes a possibilidade de matar a irmã ou a sobrinha se a apanhassem no ato. Contudo, se não a quisessem matar, esta e o adúltero seriam colocados sob o seu poder241, não sendo claro quais os benefícios obtidos pelos homens ou as consequências que as raparigas sofriam nesta condição.

O FJ estabelece também as condições através das quais o marido podia acusar a mulher de adultério, se não a apanhasse em flagrante delito. Ora, se o marido simplesmente tivesse qualquer sinal, suspeita, presunção ou até qualquer prova que se mostrasse conveniente para demonstrar a infidelidade da sua mulher, podia então acusá-la perante o juiz da sua cidade, e, se o provasse, então tanto a mulher como o adúltero seriam colocados sob o seu poder242. Não obstante, abre-se a possibilidade de o marido ser incapaz de acusar a mulher, ou porque “non la pode acusar” ou porque “nin se poden quitar de so amor déla”. Tendo isto em conta, determina-se que os filhos legítimos dessa união podiam livremente acusar a mãe, tal como o seu pai e, se não houvesse filhos ou se não fossem maiores de idade, essa responsabilidade recaía para os parentes mais próximos, tendo direito a receber a quinta parte da herança da mulher pelo seu trabalho, recebendo os filhos as outras quatro partes da dita herança. Se, por sua vez, ninguém quisesse acusar a mulher “por amor de la madre, ó por dón, ó por negligencia”, podia o rei, após ter conhecimento do ocorrido, nomear aquele que seguiria com a acusação, decidindo o rei aquilo que seria entregue dos bens da adúltera ao acusador243. Os servos podiam ser testemunhas na acusação de adultério, voluntariamente ou não, pois era permitida a tortura destes até que se soubesse a verdade, ou seja, essencialmente, até que estes cedessem e admitissem qualquer coisa, verdade ou não244. O FJ acautela-se sobre a possibilidade de os senhores concederem liberdade aos seus servos para encobrir os seus atos, mas determina-se que esta concessão não tem qualquer validade, não sendo, todavia,

240 FJ, III, IV, 4.

241 FJ, III, IV, 5.

242 FJ, III, IV, 3.

243 FJ, III, IV, 13.

244 FJ, III, IV, 10.

necessário torturar os servos se estes disserem verdade sobre o que sabem do adultério do senhor245.

Convém mencionar o destino das heranças dos adúlteros, lei criada face às dificuldades que os juízes tinham na atribuição do património dos culpados. Assim, define-se que, tanto a adúltera como o adúltero, no caso de este não ter filhos, após serem culpabilizados, deviam entregar toda a sua herança ao marido lesado, para além ficarem sob o seu poder.

Se o adúltero tiver filhos legítimos, todavia, então estes receberiam totalmente a herança, perdendo este, em todo o caso, a sua liberdade. Mas, se a mulher tivesse filhos de outro casamento, caso fosse anterior ao casamento tido com o lesado, os filhos desse primeiro casamento tinham direito à sua parte da herança; os filhos nascidos da relação adúltera, todavia, apenas receberiam a sua herança após a morte da mãe, ficando a herança na mão do marido lesado até que isso ocorresse. Por último, impõe-se ao marido a proibição de se unir carnalmente com a mulher culpada, pois estava sob o seu poder, e, se o fizesse, perderia o direito que tinha em receber os seus bens devido ao adultério, passando estes para os filhos legítimos dela e, se não houvesse filhos, para os seus herdeiros mais próximos. Esta lei aplicava-se também à herança dos esposados na ocorrência de adultério aquando dos esponsais246.

O FR sintetiza e repete muito do conteúdo do predecessor, eliminando algumas outras leis, como a tortura dos servos durante a acusação ou o homicídio dos adúlteros encontrados em flagrante delito por parte do marido e introduzindo outras novas. A principal diferença ocorre no campo da acusação. Estabelece-se, por exemplo, que se uma mulher casada ou desposada fizesse adultério, podia ser acusada por qualquer homem que soubesse do seu crime. Contudo, a acusação apenas seguiria em frente se o marido a quisesse acusar. Se este não o pretendesse fazer em pessoa ou que outro o fizesse por ele, então a acusação não teria qualquer validade e não seria recebida. Estabelece-se, desta forma, ligação ao valor cristão do perdão, e, sendo a mulher perdoada pelo seu marido, então nenhum outro teria o direito de a acusar247.

O FR categoriza, tal como o FJ, o adultério em dois cenários, sempre com a mulher em primeiro plano como culpada: o adultério pré-marital e o adultério pós-casamento. No caso do adultério após o casamento, se a mulher fosse adúltera, tanto ela como o amante

245 FJ, III, IV, 11.

246 FJ, III, IV, 12.

247 FR, IV, VII, 3.

seriam colocados sob o poder do marido, retendo este o património de ambos, e tendo a possibilidade de matar apenas um dos culpados. Porém, na existência de filhos direitos de ambos, o património seria herdado por eles, incluindo os filhos que a mulher tivera com o marido lesado. Por outro lado, se forçada, a mulher não seria sujeita à pena anterior248. O FR cria também uma disposição sobre o que fazer com as arras de uma mulher adúltera, ao contrário do FJ. Diz o FR que o adultério da mulher, se provado, ou se a mulher abandonasse a casa do marido, ou se separasse dele “por razon de facer adulterio”, tal levaria à perda total das arras, se o marido entendesse que isso era necessário249. Mais uma vez, se assiste à valorização do perdão, devido, sobretudo, à natureza matrimonial cristã e à indissolubilidade do casamento. Por um lado, o FR não reconhecia o divórcio. Tal implicava que o casamento se mantinha válido mesmo se a mulher fosse colocada sob o poder do marido. Assim, tendo de viver com ela, pouco podia o marido fazer senão perdoá-la.

Para o segundo cenário, o FR apenas prevê duas situações: o adultério feito por uma mulher esposada e aquele feito por uma mulher livre sem qualquer comprometimento marital. Para o primeiro caso, determina-se que a esposada, se diretamente casar com outrem, praticando, portanto, o adultério, deveria ser entregue, bem como o segundo noivo, como servos do primeiro homem, mas este, ao contrário do adultério feito pela mulher casada, estava impossibilitado de os matar. Relativamente aos bens dos culpados, estes passariam na totalidade para as mãos do lesado, se filhos herdeiros dos adúlteros não houvesse250. Para o segundo caso, define-se que não existe qualquer tipo de pena para o homem que tiver relações consensuais com uma mulher que “non sea casada nin desposada”. Não obstante, é curiosa a omissão da prática de adultério, sendo denominada a relação entre os dois apenas de “fornicio”251. Não julgo ser correto assumir que essa omissão denote uma maior liberdade sexual da mulher, mas a prática é de certeza vista com maior leveza e com uma menor rigidez, não sendo considerado adúltero pela relação pré-conjugal nem o homem nem a mulher, ainda que tal não fosse bem visto pela Igreja.

Relativamente ao flagrante delito, apenas se concede a possibilidade de matar os adúlteros aos familiares da rapariga, tendo o pai primazia, seguido dos irmãos da rapariga, se os pais tivessem falecido, seguidos dos parentes mais próximos. Estes estavam isentos

248 FR, IV, VII, 1.

249 FR, III, II, 6.

250 FR, IV, VII, 2.

251 FR, IV, VII, 7.

de qualquer pena e podiam se quisessem, matar apenas um dos adúlteros252. Sobre as acusações, o FR infelizmente não nos faz qualquer menção àquilo que podia ser utilizado pelo acusador. Porém, abre duas possibilidades que não estão presentes no FJ. Ambas protegem, de certa forma, a mulher. A primeira indica que o marido adúltero que quiser acusar a sua mulher de adultério é obrigado a abandonar a acusação se a mulher conseguisse provar o adultério do marido253. Infelizmente, nenhuma outra lei dá seguimento a esta, não sendo claro aquilo que aconteceria ao marido. A segunda protege a mulher que fora obrigada a fazer o adultério pelo marido, aludindo à lei do divórcio do FJ, mas não fazendo referência a esse fenómeno e a uma lei sobre a herança dos adúlteros.

Diz-nos essa lei que o marido estava impossibilitado de acusar a sua mulher de adultério que esta fizesse “por su conseio o por su mandado”. Por outro lado, o marido, tendo conhecimento do crime da mulher, era compelido a “non la tenga a su mesa nin en su lecho”, sob a pena de perder qualquer reivindicação sobre os bens dela, que passariam para os filhos diretos se houvesse, para os parentes mais próximos da rapariga ou para quem ela determinasse, perdendo o homem o direito de a acusar254. Por último, para fechar o tema do adultério, o FR incluiu uma lei sem qualquer paralelo no FJ. Esta lei indica a possibilidade de uma mulher ser utilizada como “alcaoteria” a mando de um homem, contra uma mulher casada ou desposada. Se a trama fosse descoberta por “prueva o por senales manifiestas”, tanto a “alcaueta” como o homem que a enviava seriam colocados sob o poder do marido, sem a possibilidade de serem mortos ou magoados pelo mesmo, se o pleito não fosse “ayuntado”; se fosse, a “alcaueta” deveria morrer por tal.

Caso a “alcaueta” fosse viúva de bom testemunho ou “rapariga em cabelos”, esta deveria perder a 4ª parte do que tinha em património se tivesse 100 maravedis, e se tivesse menos, deveria pagar 20 maravedis. Se nem esse valor conseguisse pagar, deveria passar ¼ do ano presa255.

No que diz respeito ao casamento com mulheres que decidiram dedicar a sua vida à religião, o FJ é rigoroso e inflexível. Condenam-se os homens que casam com “vírgines sagradas, é con viodas profesas, ó con suas parientas, ó por forzia, ó por voluntad”, pois a castidade destas mulheres fora professada a Deus e deveria ser protegida. Tendo estas diretrizes em conta, o FJ proíbe o casamento com estas mulheres, mas também com as

252 FR, IV, VII, 6.

253 FR, IV, VII, 4.

254 FR, IV, VII, 5.

255 FR, IV, X, 7.