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7 A CONTEXTUALIZAÇÃO MASSORÉTICA

7.8 A M ESSORÁ PÓS TALMÚDICA

7.8.1 A Messorá Babilônica

7.8.1.4 Os dialetos judaicos babilônicos

Nesta seção, abordam-se os dialetos judaicos babilônicos com o intuito de apresentar os obstáculos que o presente estudo encontrou ao comparar os textos 411 (YEIVIN, 2003) p93-94. 412 (YEIVIN, 1985) p24. 413 (LEVITA, 1867) p118 ou (LEVITA, 1771) p8. 414 (OFER, 2001) p41. 415

Esses centros são os mesmos onde estavam instaladas as academias rabínicas no Período do Gueonato, vide §ă6.3.2.

416

(BREUER, 2002) p78-79 nota 8.

417 ”,ăOferănãoăexplicaăoăqueăéăumaă pisqá “fechada”,ămasăpeloăcontextoăentende-se que se trata do espaçamento entre o versículo apontado e o anterior (OFER, 2001) p319.

418 (OFER, 2001) p420. 419

tiberienses tratados por ayy djăcom os textos babilônicos. Nota-se que a ausência de um corpus textual escrito completo que represente a tradição babilônica e a diversidade de fragmentos com características variadas traz incertezas420 e novas descobertas podem sugerir alterações nos modelos estabelecidos421.

Em 1902, Kahle expandiu as pesquisas sobre a tradição judaica babilônica. Ele identificou corretamente que certos manuscritos refletiam um dialeto que, segundo ele, seria o dialeto judaico babilônico original, isto é, em um estágio anterioră àă suaă “contaminação”ă pelaă tradiçãoă tiberiense422. Com base nisso, Kahle classificou os manuscritos que refletem este dialeto em (Judaico) Babilônico Antigo (JBA)423 e os outros como (Judaico) Babilônico Recente (JBR). Diéz-Macho continuou o trabalho de Kahle na edição de manuscritos e na sua análise classificatória424. Yeivin juntou todo o material disponível espalhado em diversas bibliotecas, analisou-o e o reclassificou em sua obra magna (1.273 páginas!) em função do dialeto veiculado, independente do sistema de vogais e em função do sistema grafemático, independente do dialeto425. Manuscritos com escrita babilônica que reproduzem 100% o dialeto tiberiense foram excluídos dos estudos de Yeivin, pois o objetivo de Yeivin era documentar o dialeto babilônico.

420

(YEIVIN, 1985) p3. Outro agravante é a limitação de acesso ao material original e a necessidade de trabalhar fotocópias, dentre elas, algumas de baixa qualidade (YEIVIN, 1985) p5.

421

Em relação à associação dos textos com sistema massorético de sinais à tradição por ele representada vide (YEIVIN, 1985) p90-100. Em relação à tradição relacionada à divisão e organização da Bíblia Hebraica segundo a tradição judaica babilônica, vide (OFER, 2001) p124-184.

422

Em Der Massoritiche Text des AT nach der Ueberlieferung de babylonischen, Leipzig – 1902 citado em (YEIVIN, 1985) p45.

423

Segundo Yeivin não há discussões sobre essa proposta. Convém atentar que textos que refletem o dialeto babilônico antigo já tinham sido publicados por Strack (1875) em um compêndio no qual analisa questões massoréticas e divergências entre as tradições ocidentais e orientais entre outras. Todavia somente 27 anos depois Kahle perceberia que parte do material publicado por Strack refletia um dialeto hebraico diferente daquele conhecido pelos textos tiberienses. (YEIVIN, 1985) p43.

424 (YEIVIN, 1985) p49-51 e p91. 425

Yeivin identificou manuscritos híbridos que apresentam traços de JBA e de JBR simultaneamente. Concluiu que se trata de um estágio de transição entre o JBA e o JBR426 e o denominou de Judaico Babilônico Intermediário (JBI). Enfatiza que os manuscritos não apresentam data e localidade e as classificações propostas baseiam-se no contingente de traços tiberienses e por esse motivo, não atestam a cronologia e a localização onde foram escritos427. Yeivin resume as diferenças entre JBA e JBR assim: “aămesmaălínguaă‘vestiu’ăduasăformasădiferentes”,ăpoisăasăsemelhançasăconstatadasăsãoă maiores que as diferenças, isto é, os fenômenos fonológicos, morfológicos e estruturas gramaticais que os distinguem são mínimos428. Por este motivo pode-se dizer que o dialeto mais próximo do dialeto judaico babilônico é o tiberiense. Essas semelhanças, segundo Yeivin, justificam a não necessidade de comparar o dialeto judaico babilônico com outras línguas semíticas429

Manuscritos em JBR reproduzem o dialeto tiberiense com o sistema judaico babilônico de vogais massoréticas, porém mantêm resquícios fossilizados do dialeto judaico babilônico antigo. Como exemplos citam-se:

a vocalização do vav < > conectivo grafado em expressões como a)

(ְַ ַ ) “eărei”ă(JBR) em oposição à

ְ (T);

ּ

( ַ ) “eă

mel”ă(JBR) em oposição à ַ (T)

ּ

430;

a vocalização com /i/ no lugar de segol e /u/ no lugar de qamats em b)

sílabas fechadas não tônicas como (

) “guardarei”ă (JBR) em oposição à ֹ (T);

(

) “inteligência”ă(JBR) em oposição à (T)

431.

Manuscritos em JBI contêm mais traços de JBA que em JBR. Por exemplo:

encontram-se palavras no padrão (

) (JBI) em oposição a)

à ִ (T), como por exemplo (JBI) em vez de “deserto”ă 426 (YEIVIN, 1985) p92-93. 427 (YEIVIN, 1985) p91. 428 (YEIVIN, 1985) p21. 429 (YEIVIN, 1985) p17-18. 430 (YEIVIN, 1985) p91. 431 (YEIVIN, 1985) p91.

(T). Nota-se que o padrão (

) (JBI) se derivaram em

(T),

> “deserto”

432.

não há regra clara para a vocalização das letras < > e < > em sílabas b)

cujaă “origem”ă seriaă umaă vogală “curta” e átona, pois ora são sinalizadas com o equivalente do shevá < ְ> tiberiense ora com vogal plena, sem uma regra fixa433.

Manuscritos em JBAă “maisă recentes”ă apresentamă asă letras < > e < > vocalizadas tanto com o equivalente do < ְ> tiberiense como com vogal plena, respeitando certas regras. O < > e < > em manuscritos JBAă “maisă antigos”ă sãoă sinalizados com vogal plena de maneira estável434. Há o equivalente do < ְִ> tiberiense após < > consonantal e equivalentes dos < ְֻ, ְ> tiberienses após < > consonantal. Há o equivalente do < ְַ> tiberiense após o < > em final de palavra e há vogal de apoio435.

Paulatinamente, o dialeto como o sistema massorético de sinais foi “contaminado”ăeăpassou a apresentar características tiberienses até sucumbir.

Apesar de os sinais massoréticos judaicos babilônicos terem sobrevivido por mais tempo entre comunidades iemenitas, o dialeto representado é o tiberiense436. Yeivin acreditava que a tradição dos judeus iemenitas era a continuação da tradição judaica babilônica e que, com o tempo, começaram a substituí-la pela tiberiense437. Todavia, Morag, no final de sua vida, chegou à conclusão que a tradição iemenita é uma tradição independente, muito embora mantenha traços fossilizados do dialeto judaico babilônico438. 432 (YEIVIN, 1985) p91. 433 (YEIVIN, 1985) p91. 434 (YEIVIN, 1985) p91. 435 (YEIVIN, 1985) p91. 436

Entretanto, o mesmo não aconteceu com a Messorá targúmica. Ela manteve traços da vocalização massorética antiga de origem judaica babilônica. Isso pode ser observado pelo targum não ter sido vocalizado originalmente com o sistema massorético tiberiense de sinais como aconteceu com os textos bíblicos (YEIVIN, 2003) p40.

437 (YEIVIN, 2003) p23.ăSegundoăMoragăoăprocessoădeă“tiberização”ădosăiemenitasăteriaăcomeçadoănoă sec. XIII por influência de Maimônides (MORAG, 1963) p21-22.

438 Vide prefácio de Ilan Eldar em (MORAG, 2001). O fato de serem encontrados manuscritos de origem iemenita cuja tradição representada pelos sinais massoréticos sobrescritos era de origem judaica babilônica, não é suficiente para comprovar que a tradição de todas as comunidades do Iêmen era um

7.8.1.5 Os sistemas massoréticos judaicos babilônicos de vogais

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