• Nenhum resultado encontrado

4 OS DIREITOS POLÍTICOS COMO DIREITOS FUNDAMENTAIS

4.2 Os direitos políticos fundamentais na Constituição Federal de 1988

Segundo Robert Alexy (2008), a noção de direitos fundamentais está diretamente relacionada à sua fundamentalidade no ordenamento jurídico que aponta para uma qualificada proteção num sentido formal e num sentido material.

A fundamentalidade formal resulta de sua consagração positiva num texto constitucional e implica na sua natureza supralegal qualificando-a como parâmetro de controle de toda legislação ordinária e também sendo retirada da esfera de disponibilidade dos poderes constituídos (SARLET, 2004).

Por sua vez, a fundamentalidade material decorre dos direitos fundamentais constituírem as decisões básicas do Estado e da sociedade cujo conteúdo consigna valores reconhecidos de suma importância para determinada comunidade (SARLET, 2004).

No âmbito da dogmática, os direitos fundamentais apresentam uma dupla dimensão que repercute em seus desdobramentos jurídicos (SARLET, 2004).

Os direitos fundamentais na dimensão subjetiva constituem o poder que seu titular tem de demandar judicialmente sua pretensão afrontada pelo Estado ou por um indivíduo. Em razão dos diferentes bens e interesses tutelados na Constituição, bem como de seus titulares, as situações jurídico-subjetivas também são bastantes diferenciadas (SARLET, 2004).

Na dimensão objetiva, os direitos fundamentais “[...] constituem decisões valorativas de natureza jurídico-objetiva da Constituição, com eficácia em todo ordenamento jurídico e que fornecem diretrizes para os órgãos legislativos, judiciários e executivos” (SARLET, 2004, p. 152).

Evidencia Sarlet (2004) que a dimensão objetiva dos direitos fundamentais não configura um simples “reverso da medalha” dos direitos subjetivos, mas que possuem função autônoma que transcende a perspectiva subjetiva.

Um dos desdobramentos da dimensão objetiva é que os direitos fundamentais não devem ser apenas contemplados sob a ótica do indivíduo singularmente considerado, mas constituem valores resguardados por toda a sociedade, pois reconhecidos como tal e que devem ter eficácia. É o que a doutrina tem denominado de eficácia irradiante dos direitos fundamentais (Ausstrahlungswirkung), que se expande por todo ordenamento jurídico com consequências na sua interpretação e aplicabilidade (SARLET, 2004).

Outra implicação da dimensão objetiva dos direitos fundamentais seria o que Sarlet (2004, p. 156) nomeia de “eficácia dirigente”, como uma “[...] ordem dirigida ao Estado no sentido de que a este incumbe a obrigação permanente de concretização e realização dos direitos fundamentais”.

Os direitos políticos, como espécie de direitos fundamentais, também são analisados na dimensão de subjetiva e objetiva. Na perspectiva subjetiva, conferem um direito ao cidadão de participar da vida política do Estado, tanto no viés ativo, votando, escolhendo seus representantes políticos, participando de plebiscito e referendo, propondo ação popular, como no viés passivo, pleiteando um cargo eletivo para a disputa nas eleições.

Na dimensão objetiva, os direitos políticos se apresentam como princípios fundamentais da ordem constitucional e impõem aos poderes públicos que se abstenham de realizar intervenções indevidas nas normas que garantem os direitos políticos, bem como

demandam sua atuação positiva de lhes conferir a devida efetividade. Assim, “os direitos políticos condicionam e limitam positiva ou negativamente as possibilidades de intervenção estatal, em quaisquer dos seus níveis e funções, no que respeita ao âmbito de proteção das condutas por eles asseguradas” (GUEDES, 2013, p. 661).

A Constituição Federal de 1988 estabeleceu os direitos políticos no rol dos direitos fundamentais (Capítulo II) como aqueles “[...] concernentes à aquisição, ao exercício, às restrições, à suspensão e à perda do direito de eleger e ser eleito” (NIESS, 2000, p. 19).

Quanto aos direitos políticos ativos, alusivos ao direito de votar, a Constituição Federal de 1988 disciplinou o direito de voto aos brasileiros maiores de dezesseis anos e analfabetos. Dispôs, como regra, a obrigatoriedade do voto, possibilitando a sua facultatividade aos maiores de dezesseis e menores de dezoito anos, aos maiores de setenta anos e aos analfabetos.

Na seara dos direitos políticos passivos, referentes aos requisitos ou condições estabelecidas pelo ordenamento jurídico para que o cidadão possa concorrer a um mandato eletivo, o texto constitucional fez uma subdivisão entre as condições de elegibilidade e as inelegibilidades.

As condições de elegibilidade são aqueles requisitos que o cidadão brasileiro tem que preencher para poder concorrer a um mandato eletivo. Seria o aspecto positivo da capacidade eleitoral do indivíduo de ser candidato. Estão descritos no art. 14, parágrafo 3o, da CF-88, e são referentes à nacionalidade brasileira, ao pleno exercício dos direitos políticos, ao alistamento eleitoral na circunscrição do pleito, à filiação partidária e à idade mínima relativa ao cargo pleiteado.

Já as inelegibilidades configuram regras restritivas estabelecidas na Constituição Federal ou em Lei Complementar na qual o cidadão não pode incorre sob pena de que seja obstada sua elegibilidade, ou seja, “[...] é o estado jurídico negativo de quem não possui tal direito subjetivo (direito de ser votado)” (COSTA, 2013, p. 145).

A Constituição Federal de 1988 descreve no art. 14, §§ 4º ao 8º, as seguintes inelegibilidades constitucionais: dos inalistáveis (estrangeiros e conscritos); analfabetos; dos Chefes do Poder Executivo em segundo mandato consecutivo; dos parentes dos Chefes do Poder Executivo na circunscrição do pleito; e, finalmente, do militar.

Após a descrição das inelegibilidades constitucionais, há uma norma de abertura, no art. 14, parágrafo 9º, da CF/88, pela qual o constituinte possibilitou ao legislador criar outras hipóteses de inelegibilidade. Vejamos a redação do dispositivo, verbis:

Art. 14, § 9º. Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para o exercício do mandato, considerada a vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta. (BRASIL, 1988)

Com a finalidade de conferir efetividade a esse preceito constitucional foi promulgada a Lei Complementar nº 64/90, denominada Lei das Inelegibilidades. Após vinte anos de sua vigência, a Lei das Inelegibilidades foi modificado pela Lei Complementar no 135-2010 (Lei da Ficha Limpa), que captou uma maior exigência da sociedade brasileira de padrões éticos para legitimar a candidatura de brasileiros aos mandatos políticos.