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OS ESPAÇOS INTERMEDIÁRIOS: OS SUBESPAÇOS “LUMINOSOS MARGINAIS”

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1.3 OS ESPAÇOS INTERMEDIÁRIOS: OS SUBESPAÇOS “LUMINOSOS MARGINAIS”

Na cidade em estudo, podemos perceber a presença de espaços que se caracterizam por apresentarem um mix de lentidão e de rapidez, de luminosidade e opacidade, de rarefação e densidade técnica. Chamaremo- os de subespaços de densidade técnica intermediária. Nesses pontos da área urbana caicoense, a técnica se apresenta sem grande densidade, mas não se configura como sendo intensamente rarefeita.

Técnicas, que não estão totalmente obsoletas, mas que, também, não estão na “ponta” do sistema técnico mais atual, são um marco destes subespaços. É como se pudéssemos, analogicamente, ao que diz Santos (2004) em sua obra o espaço dividido, chamar de um espaço luminoso

marginal ou que, eles estão para a área urbana de Caicó, como os países em desenvolvimento estão para o mundo, ou seja, na semiperiferia.

Supermercados, lojas e pontos de prestação de serviços se utilizam de técnicas até muito avançadas. Mas nesses estabelecimentos elas não são a regra; pelo contrário, se constituem em exceções. No entanto, coexistem com um conjunto de outras técnicas menos avançadas e, juntas, dão conta do que esses comerciantes necessitam para “tocar” seus empreendimentos. E mais ainda, atendem de forma satisfatória a uma gama de clientes que, por habitar tais subespaços, estão em sintonia com essa condição de “usuários de técnicas intermediárias”.

Tabela 08: Nível de presença da técnica em supermercadose padarias

OBJETOS Câmeras de

Segurança Ar Condicionado Caixa Informatizado

Sofisticação do ambiente

PADARIAS Baixo Alto Médio Médio

SUPERMERCADOS Alto Baixo Alto Médio

Fonte: Elaborada pelo autor a partir de pesquisa de campo, 2010.

Estes subespaços do urbano caicoense refletem uma realidade que pode parecer nova, mas, na verdade, sempre existiu no contexto dos territórios, como, também, dos grupos sociais diante da presença/ ausência da técnica. A novidade é que a cada parcela deste ou daquele período técnico, o que se torna obsoleto nas áreas luminosas, dá o tom da técnica utilizada nestes subespaços.

É a convivência, a coexistência das técnicas do artesão e as do técnico ou engenheiro citadas por Ortega y Gasset, (1963) e confirmadas por (Santos 1999), quando nos mostra a classificação dos vários períodos técnicos se revelando no urbano caicoense. Analisar esses subespaços é penetrar na rota do intermediário. Não estamos falando dos subespaços opacos com alguma presença de luminosidade, muito menos de lugares luminosos com rastros de opacidade. Essas áreas da cidade são diferenciadas, quando se caracterizam por um mix, uma situação que se coloca entre a densidade e a rarefação da técnica.

Máquinas que “passam” cartões de débito e/ou crédito, leitoras de códigos de barras, leptops, televisores de LCD que fazem a apresentação de algumas mercadorias, entre outras fantasias do mundo como fábula,

coexistem com técnicas menos avançadas, como é o caso, por exemplo, do preenchimento a mão de promissórias e de cheques, sistemas arcaicos de refrigeração de mercadorias, entre outros. Isso só para citar alguns objetos que, entre tantos outros, seguem essa mesma linha de coexistência de técnicas.

Mas não é só no comércio que isto é percebido. Temos, também na indústria têxtil local um surto dessa técnica intermediária. Grande parte dessas indústrias se utiliza de máquinas e técnicas que não estão na “ponta” do sistema técnico atual, mas que não podem ser consideradas obsoletas e/ou demasiadamente arcaicas. É o caso, por exemplo, das indústrias menos capitalizadas que, diga-se de passagem, não são poucas. Contudo, elas contribuem intensamente para o movimento e para a dinâmica e expansão urbana da cidade de Caicó.

Um pequeno número de outras indústrias se apresenta diferente e utiliza uma técnica e uma tecnologia que estão extremamente atualizadas com o que há de mais recente nos mercados do centro-sul brasileiro e do mundo desenvolvido. Referimo-nos principalmente a algumas bonelarias, nas quais boa parte da produção é complexa e sofisticada. Assim, se vê que a maioria dessas indústrias está nesse contexto da técnica intermediária. Nelas coexistem técnicas que revelam a sobreposição de tempos e períodos.

Não podemos, também, nos furtar da análise de alguns serviços, como educação e saúde, entre outros que são prestados à comunidade caicoense, pois alguns desses se encontram exatamente como o comércio e a indústria. Por uma lado, utilizando técnicas que se classificam como intermediárias, os seja, é comum em algumas instituições que os procedimentos para atender ao público se utilizam de uma tecnologia mais avançada. Por outro lado, essa mesma instituição presta outros serviços que usam uma técnica mais modesta, mas não tão arcaica se comparada àquelas comuns nos opacos subespaços da cidade.

No que se refere aos grupos sociais que habitam esses subespaços os quais optamos chamar de intermediários, eles revelam, também em seus lócus de vivência, características que remetem a essa condição da intermediária densidade técnica, pois salvo algumas exceções, guardam em suas garagens carros e/ou motocicletas populares sem muita sofisticação técnica, instrumentos eletrônicos que também se caracterizam por essa mescla de tempos, entre outros. O acesso desse grupo ao mundo da modernidade dá-se, então, com base nessa premissa da “luminosidade marginal”.

é um caleidoscópio. Portanto, é possível, através de um olhar mais acurado, filtrar os subespaços e caracterizá-los de acordo com a maior ou menor presença da técnica e dos sistemas de engenharias, ou, como já enfatizamos, a partir de um mix destas. Está claro, portanto, que os subespaços “luminosos marginais” são uma realidade na área urbana do município de Caicó, pois as características, acima apresentadas, comprovam a existência de tais subespaços. Neles, a cidade se apresenta com uma intermediária “presença de mundo”, revelando-nos um aspecto muito peculiar da globalização: a dependência e a interação do homem com as técnicas, mesmo que elas não estejam tão ajustadas com o que há de mais atual no período técnico-científico e informacional.

A crítica, que surge em meio às análises desses pontos da cidade, é que, mesmo sendo subespaços de densidade técnica intermediária, a força do mundo, como fábula, se faz presente e norteia as decisões que permeiam a organização desses pequenos territórios. Assim sendo, a força do lugar se esmaece e dá margem para a ratificação de relações injustas e que montam um discurso falso de equidade na distribuição e uso dessas técnicas, quando sabemos que não é bem assim. As técnicas estão muito mais a serviço dos grupos mais privilegiados que, no caso, são aqueles que mandam. Os que obedecem são, também, usuários destas técnicas, mas o benefício maior não fica com estes últimos e sim com os primeiros.

1.4 OS POUCOS LUGARES LUMINOSOS, RÁPIDOS, FLUIDOS E