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Os estudos culturais e a leitura da sociedade

O estudo do hip hop no Brasil, em particular no Distrito Federal, será analisado do ponto de vista teórico à luz das categorias analíticas da teoria materialista da cultura, de Raymond Williams. Pertencente ao campo de estudos denominado cultural studies, essa teoria se mostra mais adequada para o objetivo proposto por estar particularmente preocupada em explicar as dinâmicas culturais contemporâneas ocidentais. A teoria materialista da cultura foi elaborada no âmbito de uma releitura do marxismo e busca ampliar o entendimento do conceito de superestrutura a partir da atribuição de graus diferenciados de autonomia em relação à força e à pressão exercidas pela determinação do capital bem como esclarecer o papel das instituições culturais em relação à infra-estrutura econômica.

Para trabalhar com as proposições de Williams é necessário definir e compreender o conceito de cultura e manifestações culturais. Conjunto de hábitos, práticas e crenças que marcam a vida em sociedade, as manifestações culturais diferenciam-se entre si em relação aos povos e ao tempo. O conhecimento e o estudo de suas múltiplas expressões têm permitido às civilizações modernas adquirirem uma maior compreensão sob o passado e, também, sobre as sociedades contemporâneas. Da pintura rupestre aos primeiros artefatos de metal, da arquitetura clássica às habitações verticais, das sinfonias eruditas à música popular, em todos os cantos é possível identificar elementos peculiares a uma época e a uma cultura. De fato, a definição do

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termo cultura é ampla e complexa e sua polissemia pode remeter o leitor a uma gama de noções que abrigam desde o conjunto de conhecimentos e crenças até os sistemas de valores sociais e monetários de determinados grupos. Morin definiu cultura como um corpo de símbolos, mitos e imagens concernentes à vida prática e, também, à vida imaginária do homem (1969:17). O termo cultura, entretanto, pode ser interpretado como a soma dos costumes e práticas populares, como um estilo de vida global e, ao mesmo tempo, como forma das pessoas se relacionarem dentro da sociedade.

No entendimento de Michel Foucault (2008:170), os saberes ingênuos encontrados nas mais variadas culturas são comumente categorizados como saberes insuficientemente elaborados e com baixos níveis de cientificidade. Geralmente produzidos por pessoas não autorizadas, esses conhecimentos deveriam – na opinião do cientista social – ser considerados não como saberes comuns, mas como saberes diferenciados, particulares. Nessa direção, Raymond Williams (1980:23) lembra que o conceito de cultura deve ser observado em um contexto mais amplo dentro do desenvolvimento histórico, já que o mesmo exerce forte pressão sobre outros conceitos, especificamente os de sociedade e economia.

As investigações acadêmicas de Raymond Williams acerca do termo “cultura” datam do ano de 1948, com a publicação do livro Cultura e Sociedade, na Inglaterra. Seu trabalho constitui relevante colaboração para clarificar muitas ações e comportamentos que influenciam os fenômenos culturais contemporâneos. Como dito inicialmente, os estudos de Williams buscaram investigar a dinâmica da formação de processos culturais a partir de uma visão crítica de textos e conceitos formulados por Marx. O interesse do autor pelo marxismo estava relacionado à sua origem social e ao histórico de militância socialista que possuía. A familiaridade com as categorias marxistas, entretanto, não implicava em uma concordância total do teórico com as mesmas, pelo contrário. A visão crítica de Williams em relação ao que era a “cultura oficial inglesa impulsionou tanto a proposição de formulações quanto a elaboração do seu conceito de cultura. Juntamente com outro livro, As utilizações da cultura, de Richard Hoggart, os estudos de Williams ajudaram a marcar no período pós segunda guerra o surgimento de um novo campo de estudos dedicado à análise da cultura. Este campo passou a ser conhecido como “estudos culturais”.

De acordo com Stuart Hall, embora não tenham sido concebidas com o objetivo de constituir uma escola ou disciplina, as duas obras evidenciaram rupturas com as linhas de pensamento tradicionais ao propor uma leitura da cultura “da classe trabalhadora em busca de valores e significados incorporados em seus padrões e estruturas” (2003:132). Seu caráter - à época - tinha apenas o propósito identificar e reconhecer os valores e práticas culturais produzidos e incorporados pela classe trabalhadora na Inglaterra da década de 1950. Os livros, no entanto, abriram espaço para outras obras que se constituíram em “respostas às pressões imediatas do tempo e da sociedade em que foram escritos” (HALL, 2003:133).

Mas, afinal, por que trabalhar com uma teoria dos estudos culturais como referencial teórico? A resposta está relacionada à forma materialista como os bens culturais são considerados dentro desse campo de estudos. Aplicada à cultura, o conceito de materialidade permite enxergar as diversas manifestações como práticas culturais, que necessitam de capital para investimentos, formação de mão-de-obra, contratação de gravadoras, estrutura física para a realização de ensaios, etc. Dentro dessa visão mais abrangente, os estudos culturais entendem o termo “cultura” como um espaço de convergência de definições. Stuart Hall já alertava para o fato de que “nenhuma definição única e não problemática de cultura se encontra aqui” (2003:134). Williams resgatou o sentido do termo a partir da idéia de cultivo e criação. Os processos de cultivar vegetais ou criar animais são entendidos, ainda hoje, como culturas. Nas considerações do autor:

culture was not a response to the new methods of production, the new Industry, alone. It was concerned, beyond these, with the new kinds of personal and social relationship […] The idea of culture would be simpler if it had been a response to the new problems of political and social developments, to Democracy48 (1985:17).

48 A cultura não era uma resposta aos novos métodos de produção, ou à nova indústria, unicamente. Além desses elementos, ela também se referia aos novos tipos de relacionamento pessoal e social [...] A idéia de cultura seria mais simples se tivesse sido uma resposta aos novos problemas da evolução política e social, com a Democracia. Tradução livre.

Os modos como Raymond Williams analisa os fenômenos culturais podem ser explicados a partir de aspectos relacionados à experiência, à tradição e às relações e papéis vividos dentro da sociedade. Mais antropológica, essa última abordagem é uma clara referência às práticas sociais, determinadas por diversos processos, notadamente os de ordem econômica e política. A partir dela, a cultura passa a ser definida como um modo de vida global (HALL, 2003:136). Nesse sentido, a ênfase da cultura se manifesta na linguagem, na arte, e no trabalho intelectual. Lavina Ribeiro (2004:13) explica que, para Raymond Williams, “a cultura não é apenas um corpo de trabalho imaginativo e intelectual, é também essencialmente todo um modo de vida”. Assim, pode-se entender que as experiências comuns dos indivíduos se expressam em suas práticas culturais. Para o teórico, a cultura seria comum ou ordinária à medida que fosse herdada, vivida e fundamentalmente criada por todos os membros da sociedade.

O termo arte, dentro dos estudos culturais, merece atenção especial por apresentar um significado novo, relacionado mais à criatividade e à imaginação do que, exatamente, às técnicas e conhecimentos. Na era contemporânea, diferencia-se arte de artesanato e artista de artesão. “As artes – literatura, música, pintura, escultura, teatro – foram agrupadas juntas, nessa nova fase, como possuidoras de um atributo essencial que as distinguiram das demais habilidades humanas” (WILLIAMS, 1963:15). Dentro das manifestações produzidas pelo homem, contudo, os estudos culturais incorporam como objeto de estudos e análises outras práticas, tais como a linguagem, o jornalismo e a filosofia.

Antes de avançar sobre alguns dos conceitos propostos por Raymond Williams, que nortearão o desenvolvimento deste trabalho, é importante registrar que o marxismo, como projeto político, influenciou os estudos culturais a partir de proposições relacionadas ao poder econômico, à exploração e às classes sociais. Essa afirmação, contudo, não implica na convergência das duas linhas. De fato,

já pairava no ar a sempre pertinente questão das grandes insuficiências, teóricas e políticas, dos silêncios retumbantes, das grandes evasões do marxismo - as coisas que Marx não falava nem parecia compreender, que eram o nosso objeto de estudo: cultura, ideologia, linguagem, o simbólico. Pelo contrário, os elementos que aprisionavam o marxismo como forma de pensamento, como atividade prática crítica, encontravam-se, já e desde sempre, presentes (HALL,2003:203)

Foi justamente por discordar das definições atribuídas pela teoria marxista da cultura aos termos base e superestrutura, segundo os quais a base estaria relacionada apenas à força produtiva (estrutura econômica da sociedade) e a superestrutura, à vida social, instituições culturais e políticas, que Williams defendeu, por meio da teoria do materialismo cultural, que as práticas culturais são também materiais.

Por essa lógica, a prática cultural e as tradições podem ser compreendidas como mais do que expressões superestruturais de uma infra-estrutura econômica. Nesse sentido, a teoria materialista da cultura considera que todas as práticas sociais são constituídas de significado e elementos materiais. Como argumento de defesa do seu ponto de vista no livro Marxismo e

Literatura, Raymond Williams parte de um exemplo utilizado por Marx para afirmar que a arte e

a estética são produtos culturais constituídos a partir das forças produtivas, com valor mercantil:

La producción consiste em trabajar sobre matérias primas con el objeto de producir mercancias que formen parte del sistema capitalista de distribución e intercambio. Em consecuencia, um piano es una mercancia y la música no lo es (o no lo era)49 (WILLIAMS, 1980: 113).

A passagem citada por Williams faz referência a uma nota de pé de página do livro

Grundisse, onde Karl Marx explicava que um fabricante de pianos seria um trabalhador

produtivo por estar comprometido com um trabalho cujo resultado final seria um bem material, ao passo que um pianista não poderia ser visto da mesma forma. Com o exemplo, Williams consegue mostrar que a teoria materialista da cultura é bem mais abrangente e adequada aos objetivos propostos, uma vez que alguns dos seus principais conceitos-chave, tais como reflexo,

mediação, hegemonia, tradição e noções de culturas residuais e emergentes, podem

colaborar para melhorar a compreensão sobre o fenômeno musical rap na cultura contemporânea. Também o conceito de determinação foi revisto pelo autor. Segundo Williams, a determinação designaria um conjunto de limitações e pressões exercidas pelo poder econômico

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A produção consiste em trabalhar sobre matérias-primas, com o objetivo de produzir bens que fazem parte do sistema capitalista de distribuição e troca. Em conseqüência, um piano é uma mercadoria, a música não é (ou não era). Tradução livre.

dentro das esferas sociais. Desse entendimento, pode-se inferir que as práticas sociais podem ser influenciadas por interesses econômicos e, dessa maneira, as manifestações culturais refletiriam a materialidade da força produtiva.

Na direção oposta da superestrutura do marxismo, o conceito de cultura dentro do campo dos estudos culturais opõe-se à compreensão elitista empregada ao termo como sendo algo restrito à produção artística e somente acessível a uma minoria dedicada a criar esses produtos. A esse respeito, Williams (1980:107) chegou a afirmar que "a sociedade nunca é somente uma 'casca morta' que limita a realização social e individual". Pelo contrário, justamente pelas características de dinamismo e mobilidade da sociedade, a cultura pode ser compreendida como um sistema de formação e reprodução de crenças e valores que está continuamente aberto a mudanças e influências sociais e econômicas. Tem sido assim na arquitetura, no cinema, nas artes circenses, no vestuário e em tantos outros elementos definidores de práticas e significados sociais.

Admitidas as influências sociais e as mudanças nos códigos da sociedade, é possível estabelecer um diálogo entre os estudos culturais e os estudos do imaginário social. Desse modo, as análises elaboradas por Bronislaw Baczko serão utilizadas – juntamente com a teoria materialista e os conceitos de Williams – como referencial teórico para guiar as investigações acerca do mundo rap em Brasília e seus meios de comunicação. As práticas sociais dos rappers estão impregnadas de símbolos que traduzem no imaginário social do grupo uma identidade coletiva que evidencia aspectos relacionados à sua territorialidade, valores, atividades sociais e orientações expressivas. Como uma força que regula a vida em coletividade, o imaginário social utiliza referências simbólicas tanto para exprimir as expectativas e aspirações dos grupos quanto para indicar o pertencimento dos indivíduos à determinada sociedade. Mais do que para tudo isso, o imaginário social também é usado dentro da sociedade para distribuir e justificar posições sociais, estabelecer padrões de conduta e exprimir e impor crenças comuns.

Presente em todas as atividades da vida coletiva, o campo da imaginação e do simbólico funciona muitas vezes como local de lutas e conflitos entre dominantes e dominados. Baczko (1985: 304) resgata Marx para lembrar que “a luta das classes passa necessariamente pelo campo ideológico” e que “a ideologia não opera senão através do irreal, que são as representações que ela faz intervir”. Essa estreita proximidade entre as representações coletivas e a possibilidade de

influência e poder podem ajudar a explicar, mais adiante, o interesse da propaganda sobre o campo dos imaginários sociais. Bronislaw Baczko já alertava para o fato de que:

Os poderes que conseguem garantir o controle, senão o monopólio destes meios, apropriam-se assim de uma arma tanto mais temível quanto mais sofisticada. É difícil superestimar as possibilidades que se abrem, deste modo, às iniciativas de tipo totalitário que visam anular os valores e modelos formadores diferentes daqueles que o Estado deseja, bem como condicionar e manipular as massas, bloqueando a produção e renovação espontânea dos imaginários sociais (1985:308).

Surge aqui um ponto de divergência entre Raymond Williams e Bronislaw Baczko. Dentro da sociologia da cultura, conceitos como “massa”, “civilização de massa” e “comunicação de massa” são considerados inadequados para fazer referência a grandes grupamentos ou mesmo à aglomeração de pessoas comuns. Isso porque, no idioma inglês, o termo “massa” tornou-se sinônimo de “mob”, que pode ser traduzido por inconstância, vulnerabilidade, coletivo de animais, baixo padrão de gostos e hábitos. Em razão desses significados, conclui-se que – na prática – ninguém quer fazer parte da “massa”. De outro modo, o termo “massa” refere-se aos que estão socialmente distantes, aos outros e, mais genericamente, à classe trabalhadora. Nas palavras de Williams, “I do not think of my relatives, friends,

neighbours, colleagues, acquaintances, as masses; we none of us can or do. The masses are always the others, whom we don’t know”50 (1985:289). Apesar de reconhecer um distanciamento entre o conceito de massas relacionado à mob e o conceito de massas relacionado a grupos majoritários, os estudos culturais partem do entendimento de que as pessoas não se enxergam como parte de um grupo social disforme e que o termo “massa” neutraliza as estruturas de classe e os grupos específicos. Dessa forma, para autores como Raymond Williams não existem as massas.

O debate sobre a temática da multidão, contudo, é recorrente e já foi discutido por autores como Ortega y Gasset. Muitas vezes sob as vestes do termo “massa”, o conceito de grupo majoritário está presente em vários estudos de comunicação, manifestações e publicações

50 Eu não penso em meus parentes, amigos, vizinhos, colegas, conhecidos, como massas, que nenhum de nós pode

acadêmicas. Este e o caso, por exemplo, de Umberto Eco (Apocalípticos e Integrados) e Renato Ortiz (Cultura e Modernidade). Ambos utilizam o conceito para fazer referencia a multidão.

Ao reconhecer que os sistemas simbólicos utilizados como representações coletivas desse e de outros grupos sociais exprimem, em um grau qualquer, o estado e a maneira como esse grupo tende a reagir diante de determinados fatos, e que cada grupo ou classe social necessita de sistemas simbólicos específicos para transmitir os seus sistemas de valores, é possível enxergar nas idéias de Bronislaw Baczko e de Raymond Williams conceitos complementares. Nesse sentido, a partir do entendimento de que o imaginário social é expresso por ideologias, símbolos, crenças e rituais coletivos, que modelam condutas e podem perpetuar ou alterar a ordem social vigente, é coerente reconhecê-los, também, como manifestações culturais.

Para uma melhor compreensão das manifestações culturais, Raymond Williams propõe uma classificação a partir de três definições de cultura: a “ideal”, a “documental” e a “social”. A cultura “ideal” é entendida, segundo o teórico, como a “expressão de certos valores universais ou absolutos do gênero humano, independentes das vicissitudes históricas da vida em sociedade” (RIBEIRO, 2004:18); a cultura “documental” é interpretada a partir de registros no tempo acerca das práticas e do pensamento do homem e, por último, a cultura “social” é definida por Raymond Williams como a descrição de um modo de vida particular. A análise de cada uma dessas categorias implica na utilização de procedimentos distintos. Lavina Ribeiro destaca que, Para Raymond Williams, qualquer teoria adequada da cultura deve incluir, necessariamente, esses três campos de definições (2004:19).

Para melhor compreender a conceito de cultura em Williams, entretanto, também é necessário reconhecer a existência de três níveis de cultura. “Há a ‘cultura vivida de um tempo e lugar particulares’, plenamente conhecível somente pelos que nela viveram; a cultura documentada de um período e a cultura da tradição seletiva” (RIBEIRO, 2004:19). Esta última funcionaria como um mecanismo de resgate e incorporação de práticas do passado no presente. Uma análise mais atenta da cultura vivida em determinado período, contudo, permite observar que esse nível é mais amplo e abrangente que o das tradições seletivas, justamente por abrigar as tradições dentro dos elementos singulares relacionados ao modo de vida nos quais a “cultura vivida” está ancorada (RIBEIRO, 2004: 20).

Dentro de um contexto histórico mais amplo é possível observar que a cultura está relacionada a todas as áreas de atuação humana. Raymond Williams chegou a definir o termo “cultura” como um “sistema de significações”, presente tanto nas práticas sociais da língua, literatura, arte, religião e política quanto no sistema produtivo e econômico. Para o autor, a cultura tem a capacidade de “distinguir-se, na prática, como um sistema em si mesmo: por exemplo, da maneira mais evidente, [...] como um sistema de pensamento ou consciência, [...] uma ideologia” (WILLIAMS, 1992:207).

Uma vez pacificado o entendimento do que é cultura dentro dos estudos culturais, é possível avançar sobre outras definições que influenciarão a analise em curso. Em termos de fenômenos culturais e manifestações artísticas, a metáfora do “reflexo” por muito tempo serviu para relacionar as artes à realidade que se ocultava por trás do mundo das aparências. A arte era vista como reflexo do mundo a partir da mente do artista. Como mimese ou representação imaginária do real, ela tinha a capacidade de registrar apenas alguns instantes, buscando muitas vezes a perpetuação do prazer e da percepção do belo. No século XIX, a função da arte foi definida em termos de “realismo” e naturalismo”, com influências dos conceitos científicos sobre si. A arte, que se propunha a produzir e reproduzir a vida real, “fue incorporada a uma doctrina objetivista, estática, dentro de la cual la ‘realidad’, ‘el mundo real’, ‘la base’, podían conocerse separadamente, por medio de los criterios de la verdad científica” (WILLIAMS, 1980:116). Em razão da reorganização da sociedade nesse período, a arte ganha força enquanto criação subjetiva e deixa de estar vinculada – exclusivamente – ao significado de craft, dimensão que ainda lhe conferia um aspecto de trabalho manual. A partir desse posicionamento, o “mundo real” nas artes deixa de ser visto como objeto para ser entendido como um processo social. Desse modo, na teoria materialista a “arte, considerado como reflejo no de los objetos, sino de los procesos históricos y sociales reales y verificables, fue sostenida y elaborada ampliamente (y) [...] se convirtió en un programa cultural a la vez que en una escuela crítica” (WILLIAMS, 1980:117).

Ocorre, entretanto, que o posicionamento da arte enquanto “reflexo” suprimia o caráter material das manifestações artísticas e, desse modo, o termo foi substituído pelo conceito de “mediação”. Ao contrário da idéia de reflexo, o novo conceito referia-se a um modo indireto de relação entre a experiência e sua composição. Mediar, entretanto, já pressupunha alguma intervenção sobre o processo em questão. No caso das realidades sociais, a mediação poderia ser