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Os estudos retóricos de gêneros textuais e do discurso: a nova

CAPÍTULO 3 A RETÓRICA LAUDATÓRIA DOS GÊNEROS

3.1 Os estudos retóricos de gêneros textuais e do discurso: a nova

retórica e a análise crítica do discurso

Como ponto de partida, para melhor esclarecermos essa ideia de que os gêneros textuais são concebidos como respostas a situações sociais, uma pressuposição subjacente ao nosso agir individual e social, citando Mey (2001, p. 71), é que ambos podem ser reconhecidos no termo discurso, e os textos como produto desse discurso, o opus operatum, são, em muitos aspectos, uma operação discursiva que é o modus operandi de um habitus. Ou melhor, as práticas ou ações sociais somente significam seu significado sob certas condições, aquelas da conjuntura de Bourdieu, entendida como uma combinação sincrônica de disposição e situação. Como explica Mey (2001, p.128),

“nem os atos de produção textual (‘atos de fala’) nem os atos de consumo de texto [...] são livres num sentido ilimitado. Eles são realizados num ambiente que é sempre formatado; as possibilidades (affordances) permitidas pelo ambiente são aquelas que formatam nossa recepção, e a formatação em si mesma já exclui tudo [...]. Entendidos dessa forma, tanto os atos de fala como outros atos de atividade intelectual constituem aquilo que chamei de atos

pragmáticos.

Os postulados teóricos da pragmática evocados antes de principiarmos a discussão daquilo que propomos para esta etapa de nosso estudo visam,

primordialmente, situar os gêneros textuais como um ato pragmático que só pode ser executado contra um pano de fundo de condições pragmaticamente estabelecidas. Como adverte Marcuschi (2010, p. 37), “o trabalho com gêneros textuais é uma extraordinária oportunidade de lidar com a língua em seus mais diversos usos autênticos no dia a dia.” O que realmente interessa a maior parte dos estudiosos desse assunto é compreender como nossas atividades cotidianas são (re)produzidas pelos gêneros textuais que criamos para agir nas situações da vida cotidiana.

Assim, muitos aspectos são levados em conta nessa (re)produção e consumo de textos no mundo da vida: quando, quem produz e para quem, com qual propósito, com quais escolhas linguísticas, com qual conteúdo, com quais estratégias discursivas etc. As abordagens de análise mais recentes variam de acordo com o enfoque deste ou daquele elemento. A ideia de gênero não se alinha mais com aquela que a considera apenas como simples categorização ou classificação de textos. Em vez disso, há um entendimento de que os gêneros textuais estão conectados a tipos de ações sociais, são formas de reconhecer, de responder, de agir de maneira significativa, e, consequentemente, de ajudar a reproduzir situações socialmente recorrentes. Portanto, revelam a dinâmica da vida humana operacionalizada pelo uso da linguagem. Agora passemos ao assunto que nos propusemos a discutir no início deste capítulo.

Bazerman (2010, p. xi), ao prefaciar o livro Genre: an introduction to

history, theory, research, and pedagogy, disserta acerca do valor dos gêneros

como formas que moldam e são moldadas (pel)o processo de interação social. O linguista americano explica que “muitos aspectos da comunicação, dos acordos sociais, do fazer significar humano estão amalgamados no reconhecimento de um gênero.” Argumenta ainda que os gêneros tanto caracterizam o complexo de regularidades da vida humana como também a individualidade de cada palavra situada. Ao tecer suas considerações conceituais sobre a função do gênero na vida social revela-nos a riqueza e ao mesmo tempo a complexidade da concepção dessa terminologia quando nos diz:

Os gêneros estão associados a sequências de pensamento, a estilos de auto-apresentação, a posições e a relações de autor audiência, a contextos e organizações específicos, a epistemologias e ontologias, a emoções e prazeres, a atos de fala e realizações sociais. [...] moldam práticas comunicativas regularizadas que juntas delimitam organizações, instituições e sistemas de atividades. [...] por identificarem contextos e planos para ações também focalizam nossa atenção cognitiva e juntos projetam/configuram/desenham a dinâmica de nossa mente em busca de relações comunicativas específicas, desse modo, exercitam e desenvolvem meios/formas particulares de pensar.

Ao considerarmos a concepção de gênero e de discurso como prática e ação social, escolhemos apresentar os estudos do discurso e de gêneros textuais com o objetivo de estabelecer o modelo teórico-metodológico de nossa investigação. Essas abordagens recobrem, principalmente, a nova retórica (Miller, Bazerman, Devitt, Bawashi e Reiff), a linguística sistêmica funcional (Martin) e a análise crítica do discurso (Fairclough, Wodak e Reisigl, Wodak e Meyer).

Nas pesquisas sobre gêneros filiadas à tradição da nova retórica21, acreditamos que uma das mais influentes concepções seja a de Carolyn Miller (1984, Genre as social action) que concebe gênero como uma ação retórica baseada em situações recorrentes, além de propor um princípio de classificação dos gêneros a partir da prática retórica, sustentado exclusivamente na estrutura, na substância e no propósito de cada gênero. O ensaio de Miller de 1984 é referência na teoria de gênero da nova retórica de linha americana. A linguista americana baseia-se na noção de recorrência de situações retóricas descrita por Bitzer (1968) para fundamentar a sua teoria de gênero como forma de ação retórica socialmente tipificada. Como enfatiza Swales (1990, p. 44), um “trabalho excepcional” exatamente porque a linguista americana, ao reforçar o conceito de gênero como ação social, como algo

21 Chaim Perelman juntamente com sua colaboradora Lucie Olbrechts-Tyteca lançam, em 1958, livro

resultado de suas pesquisas, intitulado Tratado de argumentação no qual resgatam a aproximação da dialética com a retórica na perspectiva aristotélica para analisar o discurso argumentativo. Ele propõe uma teoria da argumentação construída a partir da análise dos meios de prova usados pelas ciências humanas, em especial pela ciência jurídica, em que são examinadas argumentações apresentadas pelos advogados em seus arrazoados, pelos juízes em suas sentenças, pelo promotor de justiça etc, isto é, o trabalho cotidiano desses profissionais e a sua produção doutrinária. Essa empreitada é chamada por Perelman de nova retórica. Hoje estudiosos de gênero que se afiliam à nova retórica, principalmente os da América do Norte, defendem que os gêneros emergem de uma ação social repetida em situações recorrentes que conduzem a regularidades em forma e em conteúdo. Os gêneros analisados são os mais diversos e inserem-se nas muitas esferas das atividades humanas.

situado em um contexto sociorretórico mais amplo, destrói o mito que sempre encobria a análise de gênero como um simples estudo classificatório.

Em seu seminal artigo, Miller (1984, p. 37) postula gênero como “uma categoria convencional de discurso baseada em uma larga escala de tipificação de ação retórica”. Isso implica que um gênero pode ser entendido como uma ação social frequentemente repetida por um ator social individual ou um grupo de atores para realizar seus propósitos retóricos. Essa noção de tipificação22, emprestada do trabalho do sociólogo Alfred Schutz, apresenta-se como um ponto central para a abordagem de Miller de gênero como ação social. De acordo com Schutz (apud Bawashi & Reiff, 2010, p. 67), a tipificação constitui uma grande parte de nossos estoques de conhecimento que medeiam nossas experiências do ‘mundo da vida’ (life-world)23.

Como ação retórica tipificada, o ato de usar a linguagem simbolicamente estabelece identificação de si mesmo e dos outros no processo interativo comunicacional. Concebidos assim, os gêneros representam toda a diversidade de interações sociais, sendo, portanto, definidos muito mais pela situação do que pela forma. Caracterizam-se pela sua dinamicidade e flexibilidade e são mais uma explicação da interação social do que um sistema de classificação. Esse caráter retórico e dinâmico do gênero integra forma e conteúdo, produto e processo, indivíduo e sociedade. Como explica Bawashi (2002, p. 339), “os gêneros estão implicados na forma como experienciamos e atuamos em uma grande parte de nossas realidades discursivas, funcionando tanto em um nível ideológico como retórico”, ou seja, como percebemos e agimos retoricamente e como reproduzimos essas realidades e a nós mesmos dentro dos diferentes textos.

Assumindo que a construção social é inerente à linguagem em uso, Miller (1984) considera que os gêneros adquirem seus significados repetidamente tanto de uma dada situação retórica24 como também de um

22 Reconhecimentos de similaridades compartilhadas e definidas socialmente.

23 Para Bawashi & Reiff (2010, p. 67), life-world é um dos conceitos-chave da fenomenologia que influenciou os estudos retóricos de gênero, e está intimamente relacionado à noção de intencionalidade. O life-world, em nossa tradução ‘mundo da vida’, é “o mundo da experiência comum, encontrado em nossa vida cotidiana.” Como Shutz (apud Bawashi & Reiff, 2010, p. 67) explica “o life-world é uma realidade que nós modificamos através de nossos atos, por outro lado, e que modifica nossas ações.”

24 Lembramos que, nos estudos de retórica, o vocábulo situação não era um termo padrão,

contexto social mais amplo e comum no qual essa situação surgiu.25 Eles representam respostas repetidas a certos contextos discursivos, expressando convenções situacionais específicas na linguagem em uso. Desse modo, a realização recorrente de textos em situações retóricas típicas coincide com a

reprodução e reforço das convenções em uso e assim do próprio grupo.

Baseando-se na teoria da estruturação de Giddens (2009), mais especificamente em uma de suas principais proposições, a dualidade da estrutura26, Miller (2009, p. 51) explica o fenômeno da recorrência pelo da

reprodução da estrutura ao afirmar que:

[...] a noção de reprodução acrescenta é a ação dos participantes; dos atores sociais criam recorrência em suas ações ao reproduzir os aspectos estruturais das instituições, ao usar estruturas disponíveis como meio para sua ação e, desse modo, produzir essas estruturas de novo como resultados virtuais, disponíveis para futura memória, interpretação e uso.

Ao refinar a noção de gênero em seu artigo Comunidade retórica: a base

cultural dos gêneros, Miller (2009, p. 52-58) esclarece, portanto, que os

gêneros, na sua dimensão estrutural, são convenções que podem concatenar vários recursos retóricos e, na sua dimensão pragmática, não apenas ajudam intitulado The rhetorical situation (1968, p. 1-14) que introduziu a situação como importante elemento a ser considerado na constituição do discurso retórico que, em seu ponto de vista, ‘surge em resposta a uma situação. ’ Nessa perspectiva, a situação retórica é tida como uma condição necessária ao discurso retórico. Compõe-se e define-se, segundo Bitzer (1968: 6), por três elementos: exigência (uma imperfeição marcada pela urgência, um defeito, um

obstáculo, algo que espera ser feito, uma coisa que é outra que deveria ser feita) audiência

(pessoas que, na situação retórica, são influenciadas pelo discurso e podem ser mediadoras da modificação de uma exigência), conjunto de restrições (pessoas, eventos, objetos e relações que tem o poder de delimitar/restringir a decisão e a ação necessárias para modificar a exigência). Segundo Bitzer (1968, p. 5): [...] “um complexo de pessoas, eventos, objetos e relações que se apresentam em uma exigência atual ou potencial, que pode ser completamente ou parcialmente removida se o discurso, apresentado na situação, puder delimitar uma decisão ou ação humana ou ocasionar uma significante modificação da exigência.”

25 No modelo sistêmico-funcional de Halliday (2004), o contexto é um sistema semiótico de alto

nível no qual a linguagem está fincada, e o uso da linguagem define-se a partir de um contexto de cultura ou sistema social e de um contexto de situação de fala, ou registro. A situação de

fala está inserida no contexto de cultural. O contexto, nessa perspectiva, está presente em qualquer texto sendo que este último é processo e produto daquele sistema semiótico. Essa presença pode ser percebida no texto por intermédio da relação sistemática entre o meio social e a organização funcional da língua. Em outras palavras, os textos variam sistematicamente de acordo com os valores contextuais. O contexto de cultura, nessa abordagem, compreende todo o sistema semântico da linguagem, e o contexto de situação é uma representação abstrata do entorno em termos de certas categorias gerais que têm importância para o texto.

26 De acordo com Giddens (2009, p. 22), “as regras e os recursos esboçados na produção e reprodução da ação social são, ao mesmo tempo, os meios de reprodução do sistema.”

as pessoas a fazer seu trabalho e realizar seus propósitos; eles também ajudam a reproduzir e reconstruir o grupo a que pertencem. Propõe uma noção de gênero como “um constituinte específico e importante da sociedade, um aspecto principal de sua estrutura comunicativa, uma das estruturas de poder que as instituições exercem.”

Ao ser considerado relevante aspecto da estrutura comunicativa social, a autora assevera que um gênero fornece “papéis reproduzíveis de falante e ouvinte, de tipificações sociais de necessidades e exigências recorrentes [...] e modos de relacionar um evento a condições materiais, transformando-as em restrições ou recursos.” Assim sendo, analisar os gêneros, considerando-os como ações sociais tipificadas, é uma forma de compreender e romper com a opacidade criada pela linguagem em sua relação com as estruturas sociais, provocada pelo caráter constitutivo do discurso e pela naturalização de certas práticas sociais. Nessa abordagem, o gênero se torna um determinante do

kairós retórico.

Bazerman (2005, p. 31) também concorda com a natureza essencialmente retórica e social de gênero proposta por Miller, argumentando que “os gêneros são fatos sociais sobre os tipos de atos de fala que as pessoas podem realizar e sobre os modos como ela os realizam.” Em resumo, “[...] são parte do modo como os seres humanos dão forma às atividades sociais.” Em seus estudos, o linguista observa as regularidades, nas propriedades de situações, recorrentes que dão origem a recorrência na forma e no conteúdo do ato comunicativo, como afirma Carvalho (2005, p. 135). No caso de nosso estudo, portanto, postulamos que os gêneros fúnebres viabilizam e realizam o agir humano em uma situação de perda de um ente querido. Por meio do epitáfio, por exemplo, a ação de localizar o morto em seu novo lugar social é instituída pelos atores sociais responsáveis por esse processo de integração.

Na abordagem de Miller (1984, 1994, 2009), algumas características dos gêneros como ações sociais são ressaltadas: o kairós do gênero, o propósito retórico, o conteúdo semântico ou substância, a estrutura formal e a léxico- gramática e as redes intertextuais dos gêneros.

A respeito do kairós, retomando os estudos filosóficos clássicos, situamos Platão, em Fedro (2008), quando discorre sobre a relevância do

kairós na retórica. Na filosofia platônica, o kairós adequado do discurso é o

momento, a oportunidade necessária para alcançar a ‘Verdade’. Uma das melhores declarações do filósofo grego sobre o papel do kairós está no trecho do diálogo de Sócrates com Fedro acerca das noções da ‘boa retórica’ em oposição à ‘má retórica’ a partir da análise do discurso sobre o amor de Lysias em que sugere ao discípulo que alguns elementos devem ser considerados na escolha do discurso pelo retor, como o momento e o tempo ‘apropriados’, assim como a audiência e o tipo de discurso ‘adequados’ para o eficaz efeito da persuasão. Sócrates explica:

“É mister que o orador que aprofundou suficientemente os seus conhecimentos seja capaz de discernir, na vida prática, o momento exato em que é oportuno usar uma outra forma de argumentação [...] Quando souber aplicar a esse homem o discurso apropriado, quando possuir todos esses conhecimentos, quando souber discernir o momento em que se deve calar ou falar, quando souber empregar ou evitar o estilo conciso, ou despertar como amplificações grandiosas e dramáticas a paixão, só então a sua arte será consumada e perfeita” (2008, p. 115).

Na filosofia platônica, não há o emprego da arte retórica sem que o orador do discurso considere todos esses pontos no ato de proferir o discurso. Em outras palavras, o kairós para Platão era meramente a ocasião, a oportunidade por meio da qual um bom orador poderia proferir sua “Verdade” para uma audiência.

Já Aristóteles (2002), em a Retórica, apontou a situação, porém de forma indireta, ao tratar dos tipos de discurso. No capítulo em que ele descreve o modo como a ‘vivacidade’ das atividades pode ser garantido no discurso pelo uso de metáforas que representem ‘movimento e vida’, ‘as coisas em seu estado de atividade, o filósofo grego adverte que a palavra ‘amolda-se aos fatos’, por conseguinte, à situação, podendo, a partir do seu uso em um momento, adquirir um novo significado. Ressalta ainda que toda declaração

deve adequar-se aos fatos (Aristóteles, 2002, p.170). Apesar de citar o

‘amoldamento das palavras aos fatos’ como algo que deve ser levado em conta pelo orador na construção do discurso, a retórica aristotélica não abordou qual a natureza das circunstâncias retóricas de produção dos discursos ou aprofundou as questões a cerca da relação entre discurso e situação.

A respeito da noção do termo kairós na filosofia clássica, Bazerman (2007, p. 120) ao discurtir o aspecto kairótico da intersubjetividade, em seu livro

Escrita, gênero e interação social, traduzindo-o como momento retórico,

adverte que a palavra kairós “chegou a ter um significado rico e complexo, englobando interesses e ética, praticidade e estética, intenções e contextos, autoafirmação e propriedade, cidadão e cidade-estado, humano e divino.”

Na abordagem proposta por Miller (2009, p. 64), o kairós insere-se como um elemento essencial na análise retórica de um gênero e compreende o “tempo-espaço socialmente percebido” que descreve “tanto o sentido segundo o qual o discurso é compreendido como apropriado e oportuno.” Por sua complexidade, a autora americana sugere que o kairós, como um termo qualitativo, precisa ser entendido em relação ao chronos, o termo quantitativo para o tempo mensurável. Essa noção é retomada do termo bakthiniano

chronótopo para ressaltar que “todo gênero expressa relações tempo-espaço

que refletem as crenças sociais correntes no que diz respeito à disposição e à ação dos indivíduos humanos no tempo e no espaço.” Dessa forma, a autora conclui que os gêneros são “profundamente ideológicos” e “para evoluir, devem permitir a incorporação de novidades, a acomodação de restrições modificadas, o ajuste de ideologias e a imposição de uma nova ideologia”.

Outro elemento considerado por Miller como uma das características do gênero como ação social é o propósito retórico ou motivo social27, que determina a existência e o formato dos textos. Para Miller (2009, p. 23), “[...] se gênero representa ação, tem que envolver situação e motivo, uma vez que a ação humana, seja simbólica ou não, somente é interpretável num contexto de situação e através de motivos”. O caráter do motivo social é dual: as situações retóricas, nas quais os gêneros são usados, implicam a necessidade para a

performance de certas ações comunicativas (motivo como necessidade

situacional), e ao mesmo tempo são motivadas e orientadas objetivamente (motivo como propósito do texto). O foco central desse postulado proposto por

27 “Motivo” e “situação” são termos de Kenneth Burke. A trilogia de Burke (A Grammar of

motives, A rhetoric of motives, Symbolic of motives) apresenta-se como um estudo que

pretende identificar as motivações do agir humano por meio da análise de suas expressões linguisticas nas mais diversas situações. Burke aborda o homem em termos de ações humanas. Seus conceitos chave, elucidados em A Grammar of motives, são: ato, cena, agente, agência e propósito (ou motivo). Os homens são vistos como agentes que atuam em uma cena e usam alguma agência para a realização de algum propósito. É o propósito ou motivo que propele o tipo de discurso a ser empreendido na ação humana.

Miller baseia-se na relação dinâmica entre gênero, exigência, situação e motivo social, o que permite identificar como construímos, como interpretamos e como atuamos em situações particulares. Essa formulação ratifica o papel dos gêneros na construção social das situações para as quais eles respondem.

A relação entre situação retórica e motivo social é referida por Miller (1984) em termos de exigência ou necessidade social objetivada. A partir de seu entendimento de situação retórica como um constructo social, a autora redefine a noção de exigência. Miller (1984, p.157) propõe que exigência “é uma forma de conhecimento social – um construir mútuo de objetos, eventos, interesses e propósitos que não somente os conectam, mas também os tornam o que eles são: uma necessidade social objetivada.”

A exigência, nessa abordagem, deve ser entendida como motivo da ação retórica. Dessa forma, inclui as suposições e as expectativas compartilhadas por membros de um grupo social nas atividades discursivas que são exigidas pela participação retórica sob condições situacionais