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2.6 CONCEITUANDO A ADESÃO

2.6.4 Os Fatores que Dificultam a Adesão

Fatores relacionados ao paciente: Socioeconômicos e demográficos

As precárias condições econômicas dos pacientes de determinadas doenças crônicas possuem relação direta com a adesão, envolve dificuldades que vão do acesso, desemprego, emprego temporário à má – alimentação (Sá et al., 2007; Natal et al., 1999). Quanto à escolaridade, há uma tendência de aumento de casos novos entre pessoas com baixa escolaridade e vários estudos têm demonstrado que a baixa escolaridade tem relação direta com a baixa adesão (Sá et al., 2007; Lima et al., 2001). Quanto ao sexo e a idade diversos estudos comprovam, que pessoas de sexo masculino e pessoas mais jovens tendem a ser menos aderentes, devido à dificuldade de conciliar o tratamento com modos de vida (Ribeiro et al., 2000; Gonçalves et al., 1999).

Micro sociais e individuais

O uso de álcool, fumo e drogas ilícitas a associação entre estes e menor aderência é motivo de vários estudos. Em relação à tuberculose existe uma proporção elevada de pacientes que não concluem o tratamento devido ao abuso de álcool e outras drogas (Sá et al., 2007; Ribeiro et al., 2000; Natal et al., 1999). A falta do suporte familiar durante o tratamento, a falta de informação da família em relação á doença (Deheinzelin et al., 1996), e várias outras questões que estão associadas á falta de adesão tais como: questões relacionadas à subjetividade do indivíduo doente, a negação da doença por parte do sujeito, o estigma e os mitos que ainda envolvem a doença, crenças, religiões (Mishra, 2006; Drive et al., 2005; Brasil, 2008a).

Fatores relacionados à doença:

O diagnóstico, a forma clinica da doença, gravidade, sintomas, as co- morbidades, grau de incapacidade, melhora clínica, no caso especifico da TB a melhora dos sintomas nos primeiros meses do tratamento cria a ilusão da cura antes da conclusão do tratamento e está associada à não-adesão ao tratamento (Sá et al., 2007; Gonçalves et al., 1999).

Fatores relacionados ao tratamento:

Teoricamente os esquemas terapêuticos disponíveis proporcionam a cura de praticamente 100% dos casos novos de tuberculose. No entanto, constituem-se eles mesmos em dificultadores para a adesão ao tratamento. O medicamento, por si só, tem pelo menos dois sentidos com significados contrários (Lefèvre, 1991): o positivo, que está relacionado à cura e ao restabelecimento da saúde; e o negativo, no qual estão colocados os efeitos colaterais, o tamanho e o gosto.

A relação entre esquema terapêutico e adesão é extremamente complexa e quanto ao tratamento duas características são de grande importância: o tempo de tratamento e o tipo do regime terapêutico. Do ponto de vista social e emocional há questões que interferem diretamente no uso da medicação, tomar ou não o remédio implica em toda uma concepção da doença e do tratamento, que obrigatoriamente será condicionada pela subjetividade do indivíduo (Carvalho, 2008). A complexidade do regime terapêutico, ainda inclui o tratamento auto administrado, a frequência diária ou intermitente dos medicamentos, o número de drogas, os efeitos adversos

dos fármacos, a intolerância medicamentosa, e a resistência ás drogas anti-tb (Sá et al., 2007). Em referência às drogas antituberculosas, sabe-se que produzem uma série de reações adversas, com efeitos menores e maiores tais como: intolerância gástrica, manifestações cutâneas, cefaléia, febre, neuropatia periférica, artralgias, vertigem, psicose, crise convulsiva, neurite ótica e hepatotoxicidade (Brasil, 2002a).

Fatores relacionados com os serviços de saúde:

O papel dos serviços de saúde é extremamente importante no processo de adesão incluindo a organização, o acesso, tempo de espera, a interação e a qualidade das relações e da comunicação entre os profissionais de saúde e pacientes, são características fundamentais para o seguimento terapêutico.

Estudos demonstram que a adesão pode aumentar ou não, dependendo do atendimento recebido, a relação médico-paciente, pode por si só, representar um instrumento terapêutico (Natal et al., 1999). Ela é capaz de construir a aceitação de um regime terapêutico prescrito e facilitar a adesão ao mesmo, à confiança constitui um elemento chave desse processo e também possibilita que o paciente se torne sujeito do seu próprio tratamento (Santos, 2001). O acolhimento ao paciente possibilita a criação de vínculo com os profissionais, à equipe e o serviço de saúde (Sá et al., 2007). Acolher significa apreender, compreender e atender as demandas do usuário, dispensando-lhes a devida atenção, com o encaminhamento de ações direcionadas para a sua resolutividade. Assim, acolher é o processo de inclusão do usuário no serviço de saúde e na rede de atendimento médico e psicossocial, conforme as expectativas e necessidades percebidas ou não do paciente (Seidl, 2005).

A compreensão desses aspectos dificultadores da adesão é o primeiro passo para o seu manejo e superação. Vale ressaltar, que na prática cotidiana dos serviços de saúde, as dificuldades de adesão devem ser identificadas e compreendidas caso a caso. Isso porque a vivência de dificuldades, bem como de facilidades para a adesão, difere de uma pessoa para outra. É no processo de escuta que os contextos individuais específicos poderão ser apropriados pela equipe, favorecendo a abordagem adequada e resolutiva. Reconhecer e respeitar as diferenças individuais significa aplicar o princípio da equidade nas práticas de saúde (Brasil, 2008a).

A não-adesão é um fenômeno universal, porém passível de intervenção, pois os fatores determinantes, embora múltiplos e complexos, são conhecidos e existem recursos para essa interferência. O não uso dos medicamentos tal como o preconizado pode ter diversas consequências, tanto para o sujeito, como para a população.

A partir dessa preocupação, identifica-se a importância de estabelecer estratégias de enfrentamento ao combate da não adesão ao tratamento da tuberculose. O TS, um dos pilares da estratégia DOTS, é um dos instrumentos para elevar os níveis de adesão e controle da doença, mas o êxito só será alcançado com a sensibilização e envolvimento dos profissionais, de modo a promover o acolhimento para que se estabeleça o vinculo e possibilitar assim uma assistência mais humanizada criando um ambiente de solidariedade e empatia para a incorporação de práticas educativas. Dessa maneira busca-se que o paciente compreenda sua doença e entenda a significância de seu tratamento passando a assumir a posição autônoma de sujeito nesta fase do processo saúde – doença. Para Merhy (1998), o serviço de saúde, ao adotar práticas centradas no usuário, precisa desenvolver capacidades de acolher, responsabilizar, resolver e autonomizar. Nesse sentido, o trabalho em saúde deve incorporar mais tecnologias leves que se materializam em práticas relacionais, como, por exemplo, acolhimento e vínculo.

Nessa direção, as bases organizativas da ESF, entre elas a integralidade do cuidado do trabalho multiprofissional, a vinculação e co-responsabilização da prestação do serviço junto aos pacientes, família e comunidade, e em conjunto, PACS - PSF têm, na figura do Agente Comunitário de Saúde (ACS), um sujeito partícipe do cotidiano desses indivíduos principalmente porque o mesmo é um membro desta comunidade. Por esta razão, o ACS constitui-se em um facilitador e aproximador do serviço aos portadores do agravo, aumentando as chances de probabilidades de sucesso na adesão ao tratamento e cura da doença.

3 OBJETIVOS

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