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O fenómeno imigratório

Em 2000, Portugal já apresentava um elevado número de estrangeiros a residir no país59, todavia se as referências em ambos os jornais à questão imigratória são bastantes,

as relacionadas com a imigração brasileira são raras (facto mais evidente no Expresso do que no Público). Isto leva-nos a concluir que então (finais do séc. XX) a imigração brasileira não era ainda percecionada como um fenómeno significativo no contexto mais geral da imigração no país.

No Expresso houve oito peças relacionadas com o fenómeno imigratório e no Público catorze, no entanto, neste jornal, para além de uma atenção maior ao tema, também se identifica um enfoque na imigração brasileira, com uma capa da Pública (revista do jornal60

) dedicada aos denominados ilegais brasileiros em Portugal. Neste sentido, antes de nos debruçarmos sobre a imigração brasileira em Portugal, discorreremos brevemente sobre o fenómeno imigratório geral no país, de modo a compreender melhor o fluxo de brasileiros: como este se insere no movimento mais geral de imigração em Portugal, como o Estado português lida com as diferentes populações estrangeiras no seu território e, ainda, quais os estereótipos e representações sociais mobilizados sobre estes migrantes.

Conforme explanado anteriormente, até à década de 1960, Portugal caracterizou-se como um país de índole predominantemente emigratória, mas a partir do início dos anos 1980 presenciou um aumento exponencial do número de estrangeiros residentes, com destaque para as comunidades dos Palop e do Brasil. Se em 1980 havia pouco mais de 50 mil imigrantes residentes, em 2000 este valor já era de mais de 200 mil61.

Este boom de fluxos imigratórios a partir dos anos 1980 foi impulsionado pela independência das colónias portuguesas em África durante a década de 1970, pela crise económica que assolou o Brasil a partir de 1980 e pela desintegração política dos países

59 Segundo relatório do SEF, em 2000 Portugal possuía 208.198 imigrantes com residência legal, número

que indica um crescimento de 8,89% face o ano anterior. Informações disponíveis em: <https://sefstat.sef.pt/Docs/Rifa_2000.pdf >

60 A revista do Público é uma publicação semanal, à parte do jornal, que teve diversos nomes ao longo dos

anos – Pública, 2, Xis… Na análise deste jornal decidimos tratar todos os exemplares da sua revista de forma a equilibrar com a análise do Expresso, que todas as semanas vem também acompanhado de uma revista.

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Esta informação consta nos relatórios anuais do SEF, no entanto os números referem-se apenas aos imigrantes em situação regular.

que compunham o bloco de Leste nos anos 1990. Ainda assim, a emigração manteve vitalidade ao longo dos anos 1990, tendo apenas alterado algumas das suas modalidades e rotas tradicionais (Peixoto et al., 2016).

A concomitância verificada em Portugal entre movimentos emigratórios e imigratórios em finais do séc. XX explica-se por uma lógica de dependência estrutural (Santos, 2006), em que uma específica corrente migratória chega em substituição da mão- de-obra local que, entretanto, emigrou para outro espaço, a exemplo dos cabo-verdianos que, já em meados dos anos 1960, chegaram ao país para trabalhar em obras públicas no lugar dos portugueses que tinham emigrado para França. Esta concomitância pode também ser entendida como um efeito da posição semiperiférica do país (Lopes, 1999), pois Portugal não atua como um mero emissor e recetor de fluxos migratórios, mas também como uma placa giratória de rotas migratórias internacionais. Naquele período, o país recebia tanto trabalhadores altamente qualificados de países ocidentais, quanto mão-de-obra não qualificada, oriunda sobretudo dos Palop (que muitas vezes via Portugal como primeira etapa de um projeto migratório, que tinha por objetivo último os países mais desenvolvidos do continente).

Não obstante esta situação ambivalente, em finais do século XX Portugal já possuía uma estabelecida e considerável população estrangeira, com destaque para os imigrantes de origem africana, que em 1998 eram mais de 80 mil e cujo boom se tinha iniciado a partir de 1977, e os brasileiros. Estes apresentam uma evolução gradual ao longo das últimas décadas do século passado, sendo em 1998 já quase 20 mil (Lopes, 1999, p. 95). É com base neste quadro que iremos analisar três trabalhos jornalísticos publicados em ambos os jornais, que se debruçam sobre o processo de regularização de imigrantes não documentados (concessão de autorizações de permanência a quem apresentasse contratos de trabalho). Este processo insere-se no contexto, identificável entre os anos de 1998 e 2005, de intervenção do Estado português para condicionar a entrada de imigrantes às necessidades de mão-de-obra do país (Costa, 2006).

“Trabalho dá legalização” (Público, 7/6/00, p. 22)

O diário escreve sobre este novo processo ̶ naquele momento ainda em discussão no Governo ̶ em notícia sob o chapéu “Sociedade” e que ocupa 2/3 de página. Com o título “Trabalho dá legalização” e o antetítulo “Se tiverem emprego, estrangeiros sem papéis podem ficar legalmente cinco anos”, o Público constrói de forma implícita, pela utilização

de palavras derivadas do adjetivo “legal”, uma associação entre imigrantes não regularizados e a ideia de contravenção. Estamos em presença do conceito semântico de “implicação” (van Dijk, 2002a): a utilização da palavra “legal” serve para sugerir pressuposições, que os leitores inferem a partir do seu background social e cultural. Se o adjetivo diz respeito a algo que está em consonância com a lei, o seu derivado “ilegal”, consequentemente, indica o oposto. Se o não cumprimento de leis, como normalmente se pressupõe, configura contravenção, aqueles apelidados de “ilegais” só podem ser considerados infratores, mesmo isto não sendo explicitamente afirmado.

Constatamos, também, que o termo “ilegal” e os seus derivados só são utilizados em relação aos imigrantes e à sua situação; quando o texto se refere às multas em que incorrem as empresas que empregam estrangeiros sem autorização de residência, são outros os termos utilizados:

Está igualmente previsto um apertar da malha sobre quem empregue estrangeiros sem autorização de residência, autorização de permanência ou visto de trabalho […] O incumprimento das leis de trabalho, fiscal e de segurança social será considerado “infracção muito grave” punível pelas sanções previstas na legislação laboral.

A notícia destaca ainda que a figura de “autorização de permanência” concedida pelo novo processo constituiria uma permanência autorizada, porém a prazo, pois tal autorização, dependente da apresentação de um contrato de trabalho e renovável ano a ano, apenas seria prorrogável até um máximo de cinco anos. Na sequência de parágrafos anteriores explicativos da preferência do Estado pela “autorização de permanência” em vez da tradicional “autorização de residência”, como resposta à situação de milhares de imigrantes não regularizados e também como atenuação do “efeito íman” que os clássicos processos de legalização geralmente provocavam, a ênfase dada no texto ao caráter provisório desta regularização sugere uma perceção por parte do repórter João Manuel Rocha de que o objetivo da medida em preparação seria, sobretudo, conter o fluxo de imigrantes, já sentido como intenso naquele momento.

Esta avaliação – percetível no intertítulo “Contrariar efeito de íman” – terá mais a ver com a interpretação do jornalista do que com algo explicitamente assumido por membros do Governo, pois em nenhum momento é citada qualquer fonte ou sequer referido o texto da proposta (ainda em discussão nos seus pormenores finais, conforme se afirma no primeiro parágrafo). A falta de informações fiáveis que expliquem as razões deste novo processo é evidente em trechos como o seguinte:

A preferência pela concessão de “autorizações de permanência” parece ter a ver com a vontade de responder a situação dos milhares de trabalhadores que afluíram ilegalmente ao país desde 1996. Ao mesmo tempo transparece o desejo de atenuar o efeito de íman que sempre surge associado aos processos clássicos de legalização [...] (grifos nossos).

A notícia prossegue com a explicação sobre a “autorização de permanência” funcionar como uma espécie de contentor de imigrantes, ao dizer que esta figura “[...] surge assim como um instrumento que as autoridades portuguesas consideram poder funcionar como dissuasor do afluxo de novos imigrantes”. Como se observa neste trecho, a fonte “autoridades portuguesas”, além de ser referenciada por meio de uma citação indireta, não se mostra muito precisa sobre quem, afinal, vê o novo processo desta forma.

Sinteticamente, portanto, pode-se afirmar que a nível macro da reportagem, as estruturas esquemáticas e temáticas se organizam da seguinte forma: as duas proposições que compõem o título e o antetítulo indicam que é o emprego que dará a legalização aos imigrantes e que é apenas com este que poderão regularizar a sua situação. O lead (que a par do título e antetítulo constitui o “resumo” da notícia, segundo van Dijk 2002a) explica de forma sintetizada essa subordinação da nova lei à necessidade de um trabalho por parte do imigrante. Já o “pano de fundo” do texto contextualiza a génese do novo processo de regularização, indicando os seus objetivos, com maior destaque (já enunciado no intertítulo: “Contrariar efeito íman”) para o que relaciona a concessão de autorizações de permanência e a intenção do Governo dissuadir novos afluxos de imigrantes.

“Escravatura, dizem eles” (Público, 7/6/00, p. 22)

A crítica à concessão de autorizações de permanência não tem lugar na peça antes analisada, porém, surge numa outra logo abaixo, na mesma página, com o título “Escravatura, dizem eles” e o antetítulo “Associações anti-racismo contra autorizações de permanência”. Estes dois elementos textuais indicam, pois, que as críticas provêm apenas de associações antirracismo e, ao longo do texto, todos os supostos aspetos negativos do novo processo são discriminados por uma única fonte de uma das associações citadas, a Olho Vivo. Pode ler-se este trecho:

“As pessoas que venham a ter estas autorizações de permanência não se vão poder matricular numa Universidade, nem inscrever-se numa ordem profissional, nem ter direito ao crédito bancário, assim como não vão poder recorrer ao reagrupamento familiar”, afirmou ontem ao PÚBLICO Timóteo Macedo, explicando que em qualquer destes casos é exigida uma autorização de residência.

Quem lê os dois textos dificilmente consegue posicionar-se sobre o novo processo, pois as falas do representante associativo não são contrapostas com nenhuma de algum representante do Governo, por exemplo. Ante a falta de um texto final, como frisado pela primeira notícia, o leitor pode ser induzido pela falta de informações a questionar se a nova concessão, de facto, suprime direitos já então tidos como adquiridos por imigrantes regularizados. O que as duas peças em articulação demonstram é que, se há razões para o Governo defender a figura de “autorização de permanência”, de um lado, e motivos para as associações antirracismo a criticarem, de outro, estas duas visões não são submetidas pelos jornalistas – Leonete Botelho assina o segundo texto – a escrutínio, pois nenhum representante político ou especialista em questões migratórias foi ouvido.

A prática discursiva presente nas duas reportagens sugere a necessidade de uma reelaboração de diferentes fontes de textos (padrão habitual do discurso jornalístico, cf. Fairclough, 2001), que no caso em questão poderiam ser, por exemplo, o texto oficial do projeto de nova lei ou alguma declaração oficial (ou de especialistas) sobre o mesmo. No entanto, a leitura das notícias confirma que não foi realmente este o padrão seguido. Em relação ao primeiro texto, há um mix entre o discurso de tom mais oficial (mais comum no universo político) e outro mais coloquial (identificável logo no título, “Trabalho dá legalização”), tornando difícil a perceção sobre o que, nos textos, representa o posicionamento dos responsáveis pela nova lei e o que configura a interpretação do jornalista sobre o assunto.

“Portugal abre vagas para cidadãos a prazo” (Expresso, 17/6/00, p. 6 e 7)

A notícia do semanário apresenta, em contraposição à do diário, um tom mais crítico, identificável no seu título, pois, sem ser explícito, encaminha os leitores a questionarem um processo de regularização em que o princípio de universalidade relacionado com a ideia de “cidadania”, tido como indiscutível nas sociedades ocidentais, é posto em xeque. O tom crítico prossegue no subtítulo, onde se expõe o principal objetivo das autorizações de permanência: “Com os novos vistos de trabalho abre-se uma esperança para os imigrantes ilegais. Mas esta é uma medida do Governo mais virada para satisfazer as necessidades de mão-de-obra na construção civil”. A jornalista Catarina Carvalho também recorre a pressuposições sem base em citações, que revelam uma empatia com a situação dos imigrantes, pois, logo após relatar a corrida ao SEF com o anúncio do novo processo de regularização, afirma: “[…] as filas começam na véspera da abertura dos

‘guichets’, mas não há espera que pareça insuportável para quem nunca teve a oportunidade de regularizar a sua situação”.

Talvez por ser um texto publicado dias após a reportagem do Público, a jornalista já apresente mais dados para fundamentar afirmações como a de que a nova lei viria, sobretudo, suprir carências de mão-de-obra no mercado de trabalho português. Para isso, cita um estudo da Associação Nacional de Empreiteiros de Obras Públicas que referia serem necessários, em 2004, mais 55 mil trabalhadores do que os então existentes, além de relacionar esta informação com os prazos estabelecidos para a realização de importantes obras sob tutela do Estado, como os estádios do Campeonato Europeu de Futebol de 2004 e o metro do Porto.

Em comparação com o texto do Público, este não é explícito a afirmar que com a nova lei, quem fosse identificado com trabalhadores em situação irregular seria multado. Todavia, ao leitor é apresentada de forma mais clara a diferença em relação à lei anterior, ao explicar que as grandes empresas de obras públicas não tinham o hábito de contratar diretamente os trabalhadores, recorrendo antes a serviços oferecidos por subempreiteiros, e que, neste contexto e segundo a interpretação da legislação anterior, não tinham qualquer responsabilidade para com os imigrantes não regularizados encontrados nas suas obras.

A reportagem, também mais ampla do que a do Público, com dois intertítulos ̶ “Lisboa atribui mais vistos de trabalho” e “O que fazer com quem decidir ficar?” ̶ , contrapõe a justificativa dada por elementos do Governo para a atribuição das concessões temporárias com citações de um especialista em migrações e membros de associações antirracismo. À explicação dada por um elemento não identificado, “‘São novos imigrantes que pretendem apenas trabalhar e regressar aos seus países de origem’”, a reportagem contrapõe o ceticismo do sociólogo das migrações, Rui Pena Pires, destacando esta sua observação:

“Qual vai ser a nossa atitude quando estes imigrantes decidirem ficar, depois dos cinco anos que lhes permite a lei? Não vamos mandá-los embora, porque somos um Estado democrático”.

O texto prossegue dando destaque, em negrito, à fala de Rui Pires, que reforça o questionamento sobre cidadania espelhado no título da peça, ao argumentar que a concessão de uma permanência provisória não era a melhor solução para a urgência

“As experiências de trabalhadores convidados não funcionaram, por exemplo, na Europa pós-guerra. Achamos que estamos a receber trabalhadores mas vêm pessoas. E essas pessoas não se sentem cidadãos de pleno direito e, portanto, também não se vêem na obrigação de cumprir os seus deveres. O que é fundamental para Portugal é tentar tornar estes imigrantes cidadãos portugueses, a pagar impostos e a produzir no país”.

Diferente da peça do Público, a macroerestrutura desta notícia apresenta-se da seguinte forma: na categoria de “resumo”, as proposições formadas pelo título, subtítulo e lead indicam que (1) o novo processo de regularização permite aos imigrantes saírem da sua situação de ilegalidade, mas (2) este não era o principal objetivo, e sim satisfazer as necessidades de mão-de-obra de Portugal. O texto prossegue, na categoria “pano de fundo”, contextualizando as razões dessa necessidade ao apresentar declarações de representantes associativos e dados do setor da construção civil, para, na categoria “comentários”, questionar, a partir da contraposição de declarações de representantes do Governo e de especialistas e membros de associações, as consequências presumíveis de uma figura como a de “autorização de permanência”.

Ou seja, enquanto que para o Público, a principal razão de ser dessa nova lei seria a de conter o grande fluxo de imigrantes em Portugal, para o Expresso o objetivo corresponderia a uma necessidade de crescimento da economia portuguesa, quando um grande evento estava próximo de acontecer no país: o campeonato europeu de futebol de 2004.

A imigração brasileira

No contexto migratório português, a imigração brasileira coloca-se lado a lado às migrações de outros ex-sujeitos coloniais e, como explica Igor Machado (2006a), deve ser compreendida à luz da experiência colonial que dá sentido ao fluxo. Portanto, não é possível afirmar que a intensificação da imigração brasileira em finais do séc. XX se apresentava como um fenómeno inteiramente novo, pois, como já foi dito, o intenso fluxo de portugueses para o Brasil desde finais do séc. XIX e até meados dos anos 1950, resultando em famílias divididas pelo Atlântico, sempre proporcionou movimentações constantes entre os dois lados do oceano. Isto sem falar nos brasileiros “torna-viagens” que, a despeito de serem emigrantes portugueses retornados do Brasil, em meados do séc. XIX estimularam o imaginário de que os brasileiros desde sempre têm chegado ao país.

Apesar do crescimento acentuado da imigração brasileira a partir de meados dos anos 1980 (e até à primeira década do séc. XXI, conforme os relatórios do SEF

referenciam), em 1960 já constituía a segunda maior comunidade estrangeira em Portugal, atrás apenas dos espanhóis, e representava um quinto do total de estrangeiros no país – a sua origem é, pois, muito antiga (Bógus, 2007). Todavia, entre 1960 e 1981 a comunidade diminuiu em termos relativos, principalmente em razão do aumento da imigração proveniente das antigas colónias em África, para apenas voltar a crescer em meados dos anos 1980, apresentando nessa década um crescimento superior ao do conjunto de estrangeiros residentes em Portugal. A partir de então, deu-se uma evolução constante, que se acentuou a partir de 1995 e disparou a partir de 1999.

Tais alterações nos fluxos podem ser relacionadas com os períodos de oscilação na economia brasileira, que alcançou relativa estabilidade nos primeiros anos do Plano Real, mas voltou a apresentar sintomas de fragilidade, a partir do segundo semestre de 1999, como reflexo da crise cambial. O desemprego crescente, a ausência de oportunidades no mercado de trabalho, sobretudo para os jovens, e a possibilidade de inserção em um país considerado como “porta de entrada para a Europa”, impulsionaram a retomada dos movimentos migratórios para as principais cidades portuguesas, ao longo dos últimos anos. (Bógus, 2007, p. 51)

Isto explica, provavelmente, porque no primeiro ano da nossa análise há escassas referências à imigração brasileira no conjunto de textos publicados sobre a temática imigratória. Desde meados da década de 1980 há um crescimento constante da comunidade brasileira, mas o pico deu-se apenas a partir de 1999, o que nos leva a admitir que, no ano seguinte, as estatísticas oficias talvez não tivessem logo captado o fenómeno e, principalmente, a perceção social da presença brasileira também não fosse muito precisa. Em 2000, segundo relatório do SEF, a comunidade brasileira já era a segunda maior do país, com mais de 22 mil residentes legais: atrás apenas de Cabo Verde e já à frente de Angola e Guiné-Bissau (moçambicanos e são-tomenses constavam também entre as principais comunidades de imigração em Portugal).

A forte presença das comunidades dos Palop terá acabado por atenuar a perceção da presença brasileira. Além disso, lembramos que em finais dos anos 1990 Portugal recebeu grande número de imigrantes provenientes do Leste europeu; e as notícias analisadas dizem respeito ao projeto de concessão de títulos de permanência, o qual era destinado a atender, sobretudo, estes contingentes, tanto assim que o relatório do SEF do ano seguinte já regista a Ucrânia como a nacionalidade mais contemplada por este título, seguida pelo Brasil, mas com a Moldávia e a Roménia logo nas posições seguintes. Ante

recentes fluxos provenientes do Leste europeu, compreende-se que a atenção da comunicação social à imigração brasileira não fosse então grande.

A corrente migratória brasileira, apesar de se assemelhar às provenientes dos Palop, por apresentar também como pano de fundo um histórico colonial, tem certas