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LICENÇA DE IMPLANTAÇÃO 159 10.1 O CUMPRIMENTO DA DIMENSÃO DE FISCALIZAÇÃO NOS PTLI/PTLA

2. TRATAMENTO DE ESGOTO SANITÁRIO

2.1 OS IMPACTOS AMBIENTAIS DO ESGOTO SANITÁRIO

A caracterização do esgoto sanitário, da forma como convencionalmente é encontrada na bibliografia, exprime a ideia de que esse é um líquido, eminentemente composto por água, e ele contém ainda sólidos (separados em algumas frações), matéria orgânica, nutrientes e um conjunto de organismos patogênicos.

Ao ser lançado em um ambiente, o esgoto sanitário bruto, em decorrência dessas características, altera o meio de forma eminentemente negativa. Esse lançamento condiz com a principal definição de impacto ambiental amplamente utilizada:

Considera-se impacto ambiental qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades

humanas que, direta ou indiretamente, afetam: I - a saúde, a segurança e o bem - estar da população; II - as atividades sociais e econômicas; III - à biota; IV - as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; V - a qualidade dos recursos ambientais (BRASIL, 1986, Art. 1º).

Jordão & Pessôa (2005), assim como Von Sperling (2005) retratam a constituição do esgoto sanitário da seguinte forma:

 40 a 60% compostos protéicos  25 a 50% carboidratos

 8 a 12% gorduras e óleos

 uréia, surfactantes, fenóis, pesticidas, metais e outros em menor quantidade Essas frações se associam a alguns tipos de impactos negativos que atingem as tubulações e o próprio sistema, os corpos hídricos e a atmosfera. Estas associações são descritas no quadro a seguir.

Quadro 1 - Principais frações que compõem o esgoto sanitário e os impactos associados a sua presença

Fração Constituição Impactos Associados

Proteínas

Em maior frequência: Nitrogênio, Carbono, Hidrogênio, Oxigênio Em menor frequência: Enxofre,

fósforo e ferro

Responsável (o enxofre presente nas proteínas) pela geração do gás sulfídrico do qual decorre o odor desagradável ou insuportável do esgoto

em estado séptico

Carboidratos Carbono, hidrogênio e oxigênio

Sua decomposição pelas bactérias acarreta na produção de ácidos orgânicos, razão pela qual

os esgotos velhos apresentam-se ácidos

Gordura e Óleos

Óleos vegetais e animais, além da gordura relacionada aos

alimentos

Aderência às paredes de tubulações e ETE causando entupimentos e odores desagradáveis

Formação da “escuma”, podendo causar entupimento de filtros e inibição da vida biológica, além de problemas de manutenção

Surfactantes

Moléculas orgânicas (principalmente Alquil-benzeno-

sulfonado oriundo de detergentes sintéticos)

Formação de escuma na ETE ou nos corpos receptores do esgoto sanitário

Fenóis Compostos orgânicos originados a partir de despejos industriais

Ainda que em baixa concentração, pode conferir gosto característico a água

Fonte: adaptado de Jordão & Pessôa (2005)

A quantidade de matéria orgânica biodegradável existente no esgoto sanitário é comumente medida através da determinação do parâmetro Demanda Bioquímica de

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Oxigênio (DBO). A utilização desse parâmetro para caracterizar o esgoto traz implícita a ideia de poluição atribuída a esse efluente. Nesse sentido, Von Sperling (2005) relata que o principal efeito ecológico da poluição decorrente do lançamento do esgoto sanitário em um curso d’água se refere à diminuição dos teores de oxigênio dissolvido (OD) causado pela respiração dos microrganismos que se alimentam da matéria orgânica.

Com relação aos nutrientes, o nitrogênio e o fósforo se destacam como principais elementos que podem acarretar em impactos ambientais. O nitrogênio, em suas formas de apresentação, representa um elemento fundamental para a existência das algas e consequentes processos de eutrofização de corpos hídricos. Além disso, o processo de oxidação da amônia envolve o consumo de oxigênio o que determina mais uma característica poluidora desse nutriente. Por fim, os diversos autores retratam outra característica relevante: a toxicidade da amônia aos peixes. De acordo com Von Sperling (2005), esta forma de nitrogênio, é uma das predominantes deste elemento.

Assim como o nitrogênio, o fósforo é um elemento químico essencial para o crescimento de algas, de modo que também pode conduzir aos processos de eutrofização em cursos d’água.

A parcela do esgoto sanitário capaz de causar doenças aos seres humanos decorre da presença de diversos organismos patogênicos. Tendo em vista que a determinação de todos esses organismos, individualmente, se tornaria inviável, adotam-se indicadores desse tipo de contaminação. Destacam-se neste âmbito as bactérias do grupo coliforme.

Verifica-se assim que as quatro principais frações que compõem o esgoto sanitário, sólidos, matéria orgânica, nutrientes e organismos patogênicos representam as características poluentes desse efluente.

O tratamento do esgoto sanitário tem como função a eliminação ou diminuição do teor dessas frações, de forma que as alterações que o lançamento do efluente tratado venham a provocar ocorram dentro de um patamar aceitável pelos compartimentos atingidos.

Nuvolari (2011) ressalta que cada ambiente, dada suas características, reage a esse lançamento e à implantação e operação da ETE de forma diferenciada e que o tipo de tratamento empregado deve ser planejado de acordo com tais características.

[...] o lançamento de esgoto sanitário sem prévio tratamento, num corpo d’água, pode causar a deterioração da qualidade dessa água, que passaria então a ser uma ameaça à saúde da população.

No entanto [...] nem sempre isso é uma verdade. Dependendo da relação entre a carga poluente lançada e a vazão desse corpo d’água, a variação pode não ser significativa. [...]

Com isso, quer se dizer que o nível de tratamento sempre vai depender da análise das condições locais (NUVOLARI, 2011, p. 255).

No que diz respeito aos impactos ambientais relacionados ao lançamento dos efluentes tratados em cursos d’água, torna-se evidente, portanto, a necessidade de analisar a capacidade que esse recurso natural tem de receber e assimilar tais despejos.

De acordo com Jordão & Pessôa (2005), a forma mais imediata de determinação do grau de tratamento necessário para que o efluente da ETE possa ser lançado em um curso d’água é o estudo da diluição local desse, com a descrição do seu fenômeno de Mistura inicial. Esse fenômeno corresponde à nova concentração dos parâmetros indicativos da qualidade do curso d’água, imediatamente após o lançamento do efluente.

Com vistas a descrever a capacidade de assimilação dos efluentes tratados, de forma mais aprofundada, existem os estudos de autodepuração dos cursos d’água. Através desses, é feita a análise das condições biológicas, físicas e químicas inerentes ao trecho do curso d’água onde o efluente será lançado, com vistas a determinar a quantidade de esgoto que pode ser lançada em concentrações adequadas à manutenção da vida aquática.

Jordão & Pessôa retratam essa questão da seguinte maneira:

A capacidade de autodepuração de um rio é função de uma série de fatores, e típica para cada rio e cada condição. Será justamente esta capacidade de depuração que deverá indicar a quantidade de esgotos [...] que poderá ser lançada no curso d’água, a fim de que a uma determinada distância do ponto de lançamento existam condições de vida aquática e de uso benéfico da água (JORDÃO & PESSÔA, 2005, p. 74).

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Portanto, ao se planejar o lançamento de um efluente com suas características em um curso d’água, os estudos de autodepuração referentes ao trecho considerado constituem uma previsão fundamental para a determinação dos impactos causados por esse lançamento. A decisão de se implantar e operar uma ETE cujos efluentes tratados sejam lançados em cursos d’água deve, portanto estar fundamentada nesses estudos.

Da mesma forma que o impacto do efluente depende das características do curso d’água no qual ele será lançado, quando for esse o seu destino; os impactos da implantação e operação de uma ETE também dependem das características ambientais.

As características tecnológicas de cada um dos principais arranjos de unidades de tratamento de esgoto sanitário indicam as principais interferências que cada um desses modelos traz inerente à sua implantação e operação. Quando tais interferências acarretam em degradação da qualidade do ambiente em que as ETE se inserem, elas passam a se configurar em impactos ambientais negativos associados a tais tecnologias.

Assim, evidencia-se que a abordagem analítica sobre as interações entre as ETE e o meio deve integrar aspectos sociais, econômicos, ecológicos, sanitários e diversos outros nos quais o planejamento, implantação e operação desses empreendimentos tenham o potencial de provocar alterações.

Nesse âmbito, Von Sperling (2005) indica, de forma geral a todos os tipos de tratamento, os principais impactos ambientais a serem considerados no tratamento dos esgotos sanitários e ressalta que a avaliação desses deve ser feita em relação às condições locais:

 Odores: fatores importantes nos processos de tratamento e destino final dos resíduos do tratamento, principalmente quando o ambiente no qual a ETE estiver inserida for urbanizado.

 Atração de insetos: impacto associado ao odor, de relevância no processamento e destino final do lodo.

 Ruído: relevância exaltada quando a ETE se localizar em zonas urbanas.  Transporte do lodo: necessidade de avaliação acerca da rota e forma do

transporte.

 Riscos Sanitários: associados à qualidade do efluente, o número de pessoas expostas dentre outros aspectos.

caso de aspersões e aerossóis.

 Contaminação do solo e subsolo: associado a determinados tipos de tratamento específicos ou disposição do lodo

 Contaminação de águas superficiais e subterrâneas: variável em função da tecnologia empregada.

 Valorização ou desvalorização de áreas próximas.

 Incômodos à população afetada: associados à criação de grupos de resistência contra a implantação de determinadas formas de tratamento e destino final.

La Rovere et al. (2002) indicam, para cada unidade de tratamento componente dos principais sistemas de tratamento de esgotos, o risco ambiental e formas de diminuição ou erradicação desse risco.

Quadro 2: As principais unidades de tratamento do esgoto sanitário, seus riscos ambientais e as formas de diminuição desse risco

Unidade de

Tratamento Risco Ambiental

Forma de Diminuição do Risco Ambiental

Gradeamento

Excesso de odores desagradáveis e proliferação de insetos em torno de locais utilizados para a disposição do

material removido

Utilização de substâncias químicas como a cal para eliminação dos

inconvenientes

Desarenador Presença de gases Localização das unidades em áreas

externas e descobertas

Leito de secagem

Geração de gases devido ao lodo não estar totalmente digerido

O lodo deve ser regado com água clorada ou pulverizado com

hipoclorito

Sistemas de lodo ativado

Formação de aerossóis contendo organismos patogênicos

Lagoas de estabilização

Proliferação de insetos, principalmente mosquitos transmissores de doenças

Não haver vegetação muito perto das lagoas e garantir profundidades

superiores à 90 centímetros

UASB

Geração de maus odores

Garantia de bom projeto e operação; Garantia de completa vedação do reator, incluindo a saída submersa

do efluente

Fonte: adaptado de La Rovere et al. (2002)

Os riscos ambientais destacados precisam ser identificados antes da implantação e operação das Estações de Tratamento de Esgotos, uma vez que eles são diferem, em cada tipo de unidade de tratamento, o que indica a importância da análise no processo que antecede a emissão da licença ambiental. Conforme os conceitos ora

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expostos se torna fundamental ainda que tais riscos sejam considerados, sob a ótica da região de inserção da ETE.

2.2 CARACTERÍSTICAS E CONFIGURAÇÕES DE ESTAÇÕES DE

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