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3 CENÁRIO E SUJEITOS – A COMPOSIÇÃO DO BORDADO

3.2 OS INSTITUTOS FEDERAIS E AS DEMANDAS DA DOCÊNCIA

Para compreender como se constitui a docência em uma ambiência educativa complexa, percebi a necessidade de avançar na busca de elementos que configuram o espaço no qual se efetivou a investigação, ou seja, explicitar de forma sistemática como se constituía o pano de fundo em que teceria as minhas ideias e proposições. Dessa forma, optei por abordar alguns aspectos com relação aos Institutos Federais, evidenciando as suas características e finalidades no cenário da educação profissional brasileira, no intuito de estabelecer conexões entre a ambiência e a docência vivida e retratada nesta pesquisa pelos sujeitos. Com isso, importantes marcadores foram considerados para o desenho da rede de [trans] formação docente proposta nesta pesquisa.

Assim, busquei compreender as rotinas e as funções relativas à docência a partir do levantamento de elementos legais e estruturais que descrevem os Institutos Federais, uma vez que estes exercem um importante poder simbólico na configuração da ambiência institucional e docente. Com esse segmento do trabalho, estou a defender a ideia de Arendt (2005) quando coloca que o contexto deve ser concebido por meio de inúmeras cadeias invisíveis de relacionamento, e não como substâncias singulares isoláveis. Nesse contexto social, cada pessoa tem seu espaço de atuação circunscrito, formando uma teia humana permeada de significados. Desvelar parte dos significados implícitos nesta ambiência é o que me ocupo a fazer nesta parte do trabalho.

Os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia surgiram com a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, a partir da lei Nº 11.892, de 29 de dezembro de 2008. Com o objetivo de qualificar profissionais para atender às demandas cada vez mais diversificadas do setor produtivo, a Rede congregou instituições de Educação Profissional atualmente em funcionamento e espalhadas pelo território nacional. A partir da data de sua criação até hoje, está composta por 38 Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, 2 Cefets, 25 escolas vinculadas a universidades, o Colégio Pedro II e à uma Universidade Tecnológica Federal.

Os Institutos Federais são autarquias que, em conformidade com outras instituições de Educação Profissional, surgiram como resposta aos desafios de ordem política e econômica vigente na sociedade brasileira e ao mundo produtivo, aspecto a ser detalhado no próximo capítulo do trabalho. Nesse momento, esforcei-me em chamar atenção para a sua configuração, diferenciada e inédita na história da educação no Brasil. Pela primeira vez, uma mesma instituição de ensino tem a finalidade de

I - ofertar educação profissional e tecnológica, em todos os seus níveis e modalidades, formando e qualificando cidadãos com vistas na atuação profissional nos diversos setores da economia, com ênfase no desenvolvimento socioeconômico local, regional e nacional;

II - desenvolver a educação profissional e tecnológica como processo educativo e investigativo de geração e adaptação de soluções técnicas e tecnológicas às demandas sociais e peculiaridades regionais;

III - promover a integração e a verticalização da educação básica à educação profissional e educação superior, otimizando a infraestrutura física, os quadros de pessoal e os recursos de gestão;

IV - orientar sua oferta formativa em benefício da consolidação e fortalecimento dos arranjos produtivos, sociais e culturais locais, identificados com base no mapeamento das potencialidades de desenvolvimento socioeconômico e cultural no âmbito de atuação do Instituto Federal;

V - constituir-se em centro de excelência na oferta do ensino de ciências, em geral, e de ciências aplicadas, em particular, estimulando o desenvolvimento de espírito crítico, voltado à investigação empírica;

VI - qualificar-se como centro de referência no apoio à oferta do ensino de ciências nas instituições públicas de ensino, oferecendo capacitação técnica e atualização pedagógica aos docentes das redes públicas de ensino;

VII - desenvolver programas de extensão e de divulgação científica e tecnológica;

VIII - realizar e estimular a pesquisa aplicada, a produção cultural, o empreendedorismo, o cooperativismo e o desenvolvimento científico e tecnológico;

IX - promover a produção, o desenvolvimento e a transferência de tecnologias sociais, notadamente as voltadas à preservação do meio ambiente. (BRASIL, 2008)

Ao abordar tais finalidades e características, estou a retratar um cenário com exigências que impactam diretamente na formação docente. Segundo a conjuntura atual, os docentes dos Institutos Federais, em sua maioria, atendem desde o ensino fundamental até o superior, em uma diversidade de cursos, dentre eles estão:

 cursos de nível médio integrado, para os concluintes do ensino fundamental e para o público da educação de jovens e adultos;

 cursos de formação inicial e continuada de trabalhadores, objetivando a capacitação, o aperfeiçoamento, a especialização e a atualização de profissionais, em todos os níveis de escolaridade, nas áreas da educação profissional e tecnológica;

 cursos de nível superior – cursos superiores de tecnologia, cursos de licenciatura, cursos de bacharelado e engenharia, cursos de pós-graduação lato sensu e stricto senso.

Além da atividade de ensino, fazem parte também da profissão docente as atividades de gestão, pesquisa e extensão, ampliando sua área de atuação em programas e projetos. Essa é uma conjuntura que traz diferentes exigências aos professores da educação profissional; segundo o projeto ―A Gênese dos Movimentos Construtivos da Docência na Praxiologia Autobiográfica de Professores Ingressantes na Educação Profissional Tecnológica‖, são colocadas demandas de

 atuação: ao atenderem o ensino básico, superior e profissional;  clientela: ao incluir um público de jovens e adultos;

 formação: ao integrar e promover a formação da Educação Básica à educação profissional e Educação Superior.

Diante dessa realidade, percebi a necessidade de investir na formação de professores. Essa decisão fomentou o desejo de se pensar em uma rede de [trans] formação docente. Para isso, senti que precisava recolher dados que me permitissem descrever esta ambiência complexa, bem como os elementos que constituem a docência considerando o contexto de trabalho apresentado. A partir daí, foi possível o entrecruzamento de ambos os aspectos que possibilitaram recolher dados importantes acerca das demandas da docência que contribuem para o desenho da rede.