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DESCENTRALIZAÇÃO ADMINISTRATIVA 151 4.1 O CONTEXTO SOCIOECONÔMICO QUE ANTECEDEU A

4 A EXPERIÊNCIA DE SANTA CATARINA COM A DESCENTRALIZAÇÃO ADMINISTRATIVA

4.2 DA PROPOSTA DE PLANO DE GOVERNO À CONCRETIZAÇÃO DO MODELO DE DESCENTRALIZAÇÃO

4.2.3 Os instrumentos de planejamento adotados nessa trajetória

A partir do Plano 15 (Luiz Henrique da Silveira, 2003-2007), o novo chefe do Poder Executivo catarinense parece reascender a ideia de planejamento no governo estadual e retomar o ideário da co-produção lançado desde a época do Plameg (1961-1965). A partir do pressuposto da participação da sociedade, inicia a implantação de uma reforma administrativa que pressupõe a politização no processo de formação das políticas públicas, tendo o desenvolvimento regional como direção das ações de planejamento. Assim, desde o início do seu governo, vários instrumentos de planejamento público no sentido de desenvolvimento regional foram concebidos.

A assinatura de um acordo de cooperação internacional em agosto de 2003 entre o governo do Estado de Santa Catarina e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), sob a chancela da Agência Brasileira de Cooperação do Ministério das Relações Exteriores, iniciou a discussão preparatória do que iria se chamar Projeto Meu Lugar e que também ficou conhecido como um dos primeiros instrumentos de planejamento que permeou a implantação da gestão descentralizada.

Este projeto foi iniciado em duas regiões escolhidas pelo governo como regiões-piloto: São Joaquim e Concórdia, no período compreendido entre setembro de 2003 e junho de 2004. Teve como objetivo inicial

[...] a elaboração de uma estratégia de construção de planos de desenvolvimento locais e microrregionais centrados na participação e gestão social e na consolidação de identidades regionais [...] O esperado era o desenvolvimento da capacidade local (regional e municipal) para planejamento e fiscalização das políticas públicas e programas, com a devida regionalização do orçamento, contribuindo para a reversão do processo de litoralização [...] reequilibrando geograficamente a população catarinense com qualidade de vida (SANTA CATARINA, 2006, p. 105-106).

Tendo como slogan “Transformar regiões administrativas em territórios de desenvolvimento”, o Projeto Meu Lugar foi o instrumento

de apoio ao governo para a criação dos Planos de Desenvolvimento Regional (PDR) para cada uma da SDRs. A sua elaboração foi realizada contando com a parceria das instituições de ensino superiores regionais, conforme cada SDR – a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) coordenou a elaboração do PDR para a SDR da Grande Florianópolis, a Universidade Regional de Blumenau (FURB) para a SDR de Blumenau, etc.

A metodologia do Projeto Meu Lugar proporcionou, à luz das teorias de desenvolvimento local e da experiência do PNUD, a elaboração do primeiro pacote de Planos de Desenvolvimento Regional e envolveu as seguintes etapas metodológicas: i) Oficina de Concepção do Plano de Desenvolvimento Regional, ii) Oficina para a elaboração dos Planos de Ação dos Componentes Setoriais, iii) Oficina para a Seleção de Indicadores de Impacto e de Implementação para o monitoramento e avaliação, iv) Detalhamento e Sistematização do Plano de Desenvolvimento Regional, v) Seminário de Validação do Plano pela SDR e CDR (SANTA CATARINA, 2005)

Outro instrumento desenvolvido foi o Master Plan do Estado de Santa Catarina. É um plano diretor que foi elaborado em 2004 por professores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em conjunto com professores da UFSC e com especialistas que haviam participado do planejamento estratégico do governo federal. O objetivo deste instrumento foi conceder orientação da ação do governo estadual no sentido de investimentos estratégicos que eliminassem gargalos que limitavam o crescimento de Santa Catarina e identificassem oportunidades para aumentar a dinâmica da economia. Seu escopo foi delineado a partir de quatro áreas: logística de transportes, desenvolvimento com base na inovação, energia e finanças.

Dentre as recomendações do Master Plan (2004) estão a necessidade de atenção à i) arquitetura portuária e respectivo plano de negócio para atrair investidores privados, ii) aos acessos rodo- ferroviários a esses portos, iii) à criação de um sistema de inovação catarinense impulsionado pelo Governo, iv) à emergência de uma aproximação entre as instituições de ensino e a indústria criando cursos conforme a vocação de cada região e v) à criação de um sistema de financiamento à inovação constituído por fundos a serem administrados por órgãos do governo estadual.

Além do Projeto Meu Lugar, dos Planos de Desenvolvimento Regional e do Master Plan, cabe destacar o Plano Catarinense de Desenvolvimento (PCD 2015) elaborado pelo Instituto Celso Ramos em 2005 sob a coordenação da Secretaria de Estado do Planejamento e com

a participação de professores do Centro Socioeconômico da UFSC. O PCD foi uma iniciativa do Governo do Estado desenvolvida com base na metodologia de construção de cenários e teve como princípios norteadores: a concentração em ações de responsabilidade do Estado; a ideia de que o plano é um instrumento de coordenação dos programas e projetos setoriais e regionais considerados prioritários; a necessidade de levar em consideração programas e projetos em andamento; a criação de condições para o desenvolvimento de programas e projetos regionais; a necessidade de uma estruturação em torno de dimensões e áreas de atuação, a partir das quais serão definidas diretrizes e estratégias.

Este trabalho projetou o Estado para o período de 2006 a 2015 tornando-se “[...] um conjunto de diretrizes e estratégias que visam a orientar a ação governamental até 2015 [...]” e a expressão do desejo de que “[...] o planejamento assuma caráter de longo prazo, perpassando os diferentes governos e que oriente e defina a atuação do Estado [...]” (SANTA CATARINA, 2006, prefácio do Secretário de Estado do Planejamento).

Interessante enfatizar que o princípio de considerar programas e projetos em andamento parece ter sido respeitado na elaboração do PCD. Ele se deu a partir da base de dados da Secretaria de Estado do Planejamento, envolveu as equipes técnicas das Secretarias Setoriais, Regionais e demais órgãos da Administração Pública Estadual, tomou como base os PDRs elaborados a partir do Projeto Meu Lugar e o Master Plan. O Quadro 4.4 resume a trajetória desses projetos que objetivaram fortalecer a política de desenvolvimento regional que permeava a concepção conceitual do modelo de gestão descentralizada.

Instrumento de Planejamento Período de elaboração

Projeto Meu Lugar 2003-2004

Planos de Desenvolvimento

Regional (PDR) 2003-2006

Master Plan 2004

PCD 2015 2005

Quadro 4.4 – Trajetória dos instrumentos de planejamento desenvolvidos na gestão descentralizada do Governo do Estado de Santa Catarina.

Fonte: Elaborado pela autora.

O PCD foi o último instrumento de planejamento público desenvolvido ao longo dessa trajetória. O fato de ele ter levado em conta

os instrumentos que o antecederam denota, ainda que limitado a uma perspectiva normativa, uma convergência dos instrumentos de planejamento adotados durante o processo de implantação da gestão descentralizada tanto quanto o envolvimento dos técnicos, da sociedade e de especialistas participantes de instituições de ensino superior e organismos internacionais nessa experiência que se tornou emblemática. Mas, por outro lado, tal quadro ajuda a confirmar que nos últimos anos dessa trajetória houve uma desmobilização no sentido da execução dos planos e da ideia de planejamento no sentido regional. Ao fim desse primeiro ano do governo de Raimundo Colombo, o que se pode concluir é que um vácuo de planejamento se estabeleceu desde o início do segundo mandato do seu antecessor.

Essa função administrativa parece ter sido retomada apenas no segundo semestre de 2011 por parte da equipe técnica da Secretaria de Estado de Planejamento que organizou e coordenou os Seminários de Desenvolvimento Regional realizados em setembro e outubro em oito cidades-polo. Esse movimento de retomada das ações de planejamento incluiu na programação do evento a apresentação e discussão do PCD 2015 e uma metodologia de elaboração dos novos Planos de Desenvolvimento Regional por SDR, porém sem a presença e participação do titular da pasta em nenhumas das oito edições.