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Os intelectuais no jornal

No documento Escrita subsiva: O Democrata (páginas 144-153)

Jornalista, militante do partido

2.4 Os intelectuais no jornal

O PCB manteve estreita relação com a vanguarda da escrita por longos anos de história do partido (Feijó, 1986; Rubim, 1988 e 1999; Camurça, 1998). A ligação vinha da tradição de abrigar os artistas que buscavam os caminhos alternativos da escrita rebelde, cujo trabalho era marginalizado pelos meios de difusão da produção da intelectualidade burguesa. De certa maneira, a aproximação da intelectualidade crítica com o partido era decorrente da política de estímulo à produção cultural, em que o PC buscava acolhê-los através das editoras e jornais. Sendo assim, esses homens e mulheres se viam prestigiados e identificados pela política do partido.

A adesão da intelectualidade rebelde, na opinião de Marcelo Camurça185,

poderia ser motivada pela “busca de status” e a “adesão pelo encantamento”. Na primeira questão, o autor acredita que “a atração que os Partidos Comunistas exerceram sobre esta intelectualidade periférica, está na razão direta do desejo deste segmento penetrar em um campo político acessível apenas pelos instrumentos tradicionais (partidos e instituições conservadoras)”. Em relação ao encantamento, Camurça acredita que “poderíamos arrolar como causa desta adesão, dimensões explicativas de outra ordem que não a de utilitarismo. Estamos nos referindo a uma ordem de gratuidade, do encantamento diante de uma causa, que fez indivíduos aderirem a projeto de enfrentamento às iniqüidades do mundo (...)”.

Os escritores rebeldes trouxeram, à tona, obras consideradas regionais e proletárias que documentavam o cotidiano dos oprimidos. As abordagens da literatura social deixavam os refinados temas urbanos de lado para tratar de questões sociais, o drama dos trabalhadores, temas voltados à miséria da cidade. Com a inserção, a literatura proletária produz obras mais “realista”, distantes dos salões da burguesia. Como diria Tristão de Athayde, “passou a hora das coisas bonitas”. São obras que tratam de imigrantes operários ou de experiências na

185 Camurça, Marcelo A. A intelectualidade rebelde e a militância política: adesão dos intelectuais

ao partido Comunista Brasileiro (PCB) 1922 – 1960. In: LOCUS – Revista de História. No. 1, v. 4, p.

Amazônia (O Gororoba – 1931, de Juvêncio Campos); A Escada Vermelha – 1934, de Oswald Andrade, sobre as transformações econômicas de São Paulo; Parque Industrial – 1933, de Patrícia Galvão (Pagu), entre outros escritores, precursores da escrita engajada, à maneira comunista.

“O grito possante da chaminé envolve o bairro. Os retardatários voam, beirando a parede da fábrica, granulada, longa, coroada de bicos. Resfolegam como cães cansados para não perder o dia (...) O apito acaba num sopro. As máquinas se movimentam com desespero. A rua está triste e deserta. (...) Na grande penitenciária social os teares se elevam e marcham esgoelando. (...) Saem para o almoço das onze e meia. (...) Pão com carne e banana. (...) Na grade ajardinada um grupo de homens e mulheres procura uma sombra. Discutem (...) Um rapazinho se espanta. Ninguém nunca lhe dissera que era um explorado. ‘Rosinha você pode me dizer o que é que a gente deve fazer?’ Rosinha Lituana explica o mecanismo da exploração capitalista. ‘O dono da fábrica rouba de cada operação o maior pedaço do dia de trabalho. É assim que enriquece à nossa custas!’”186.

Os textos subversivos falavam de uma cidade diferente, cheia de contradições. Os atores sociais eram gente comum, evidenciados pela escrita dos comunistas. Sendo assim, é importante fazermos reflexão sobre a participação dos intelectuais no partido, a fim de compreendermos o papel que esta relação exerceu sobre as publicações do PCB e seus leitores. Os escritores atuavam na estrutura do partido através de jornais, revistas, editoras e a produtora cinematográfica (Liberdade Filmes). Com a volta da legalidade do PCB, no final de 1945, o partido passou de 3 mil filiados para 200 mil integrantes, em 1947 (Rubim, 1988, p.138). À quantidade significativa de militantes, somava-se ainda considerável grupo de intelectuais.

Nomes como Caio Prado Júnior, Mário Schenberg, Di Cavalcanti, Jorge Amado, Edison Carneiro, Oswald Andrade, Raquel de Queiroz, Patrícia Galvão (Pagu), Carlos Marighella, entre outras figuras, integravam os quadros do partido desde os anos de 1930. Com a legalidade do PCB, mais artistas e escritores se filiam ou se aproximam do partido, a exemplo de Cândido Portinari, Carlos Drummond de Andrade, Monteiro Lobato, Nelson Pereira dos Santos, Oscar Niemeyer, Dorival Caymmi, Ruy Santos, Walter da Silveira, Floriano Teixeira e outros.

Para a máquina partidária, os intelectuais serviam para apresentar imagem diferenciada do PCB, um partido ligado ao meio cultural, diferente da figura do militante sectário. Esta espécie de “parede protetora”, denominação de Berenice Cavalcanti (1985, p.64), era uma função desempenhada pelos intelectuais do partido, “que nunca foi assumida no nível da formulação e do discurso, embora tivesse dela consciência, tanto intelectuais, em momentos de desconforto, quanto dirigentes ao constatar que aquele mecanismo auferia dividendos ao partido” (Camurça, 1997, p. 74). Se por um lado os intelectuais ocupavam os meios de comunicação do partido, por outro, garantiam credibilidade para as publicações da instituição.

Essa “parede protetora” estava presente nas publicações do PCB, alicerçada por jornalistas, escritores e artistas plásticos. Profissionais de renome nacional como Jorge Amado, Austregésilo de Athayde, Carlos Drummond de Andrade, Portinari, Di Cavalcanti, entre outros, formavam seleto grupo que chegou a conquistar projeção internacional ao longo dos anos. No Ceará, alguns destes nomes assinavam nas páginas do jornal O Democrata artigos, colunas e matérias. Escritores como Austregésilo de Athayde, Carlos Drummond de Andrade e Jorge Amado, além dos jornalistas Oswaldo Peralva e Astrojildo Pereira, chegaram a ocupar as páginas de OD em 1946. O escritor baiano mantinha a coluna diária “Hora do Amanhecer”, transcrita do jornal Tribuna Popular187, publicada em jornal cearense:

187 O jornal Tribuna Popular era publicado no Rio de Janeiro e pertencia ao Partido Comunista

“Sabemos bem quem são esses que falam do ‘fascismo russo’. A provocação anda solta, amigos, o que ela deseja é que a guerra corra novamente solta como um vento de desgraça sobre os homens hoje no trabalho de reconstrução do mundo, na insana tarefa de firmar os alicerces da democracia. Ontem, esses mesmos que ladram sobre o ‘fascismo russo’ estavam em torno de Hitler e Mussolini e lhe apontavam o caminho de Moscou. (...) São os pregadores da guerra entre os pátrios latino americanos, são os amigos de Teotônio Pereira, são os defensores de Franco, os que se agarram a Carta de 37, como a uma âncora de salvação. Porém, mais fortes que eles, é o povo. Esse povo que faz justiça á União Soviética, que vê nela a garantia de paz, uma democracia sem os exploradores e explorados, defensora da liberdade e da dignidade do homem. E o povo liquidara os provocadores”188.

O texto de Jorge Amado mostra o militante e jornalista engajado em questões político-partidárias, em postura de autêntico guardião do PC. Na coluna diária, ele critica os fascistas que condenavam o registro do PCB na Justiça Eleitoral, baseados na Constituição imposta por Getúlio Vargas em 1937. O homem que escrevia com raiva nas folhas de jornais, era o mesmo que nas páginas dos livros descrevia com ternura a gente miserável da Bahia, em romances como Cacau (1933), Suor (1934), Jubiabá (1936), Capitães de Areia (1937), Terras do Sem-Fim (1942) e O Cavaleiro da Esperança (biografia de Luís Carlos Prestes- 1942).

Jorge Amado chegou ainda a dirigir a coleção Romances do Povo do Editorial Vitória do Povo, publicação do PCB que ajudou a projetar, no mercado editorial do leste europeu, escritores como Dalcídio Jurandir (“Chove nos Campos de Cachoeira”) e Aline Paim (“Sol do Meio Dia”)189. Para Albino Rubim, o PCB

consegue organizar um espaço cultural alternativo, agregando filiados e

188 Coluna “Hora do Amanhecer”, de Jorge Amado, publicada no dia 01/03/1946, página 5, no

jornal O Democrata.

189 Berno de Almeida, Alfredo Wagner. Jorge Amado, Literatura e militância no PCB in Religião e

simpatizantes – “(...) a rede cultural somada ao intercâmbio e ao conjunto de aparelhos dos movimentos comunistas, funcionam como elementos cativantes (...)”190. Esses “elementos cativantes” foram trazidos para o jornal O Democrata e podem ser entendidos como forma de conquistar leitores.

Com a mesma contundência, o discurso em nome da causa era seguido à risca por Carlos Drummond de Andrade. Conforme leituras, o poeta Drummond não escrevia com freqüência no vespertino cearense. As contribuições do escritor pareciam esporádicas, sem a periodicidade de Jorge Amado. Mesmo assim, deixava a marca de uma escrita sensível, engajada em questões sociais, carregada de ódio contra o regime ditatorial da Espanha:

Notícias da Espanha Aos navios que regressam

Depois de negra viagem, aos homens que nele vêm com cicatrizes no corpo ou com o corpo cortado, peço noticias da Espanha Não tenho notícias da Espanha

(...)

Ah! se eu tivesse navio! Ah! se eu soubesse voar! Meu sonho apenas meu canto,

E um canto é nada. O poeta, Imóvel dentro do verso, Cansado de vã pergunta,

Farto da contemplação, Queria fazer do canto

190 Rubim, Antonio Albino Canelas.Partido Comunista, Cultura e Política Cultural. Tese de

Não uma flor: uma bomba E com essa bomba romper O muro que envolve Espanha Carlos Drummond de Andrade191

Enquanto a poesia ocupava as páginas de OD, dando certa leveza à pretensa revolução, outra vertente mais sectária fazia o contraponto nos textos. Alguns tinham o conteúdo panfletário, neste caso, as palavras objetivavam (in)formar a militância. Os escritos dos camaradas Luís Carlos Prestes e Oswaldo Peralva buscavam um leitor mais comprometido com as questões do comunismo. A saudação do “Cavaleiro da Esperança” estava estampada, por várias vezes, na primeira página do vespertino cearense:

“Ao ter início a circulação de mais um jornal do povo, congratulo-me com o Comitê Estadual do Ceará e com os militantes do partido do proletariado e do povo desse Estado, fazendo voto de prosperidade para O Democrata pt Estou certo de que O Democrata será um digno porta-voz das reivindicações do povo cearense, defensor da democracia e lutador pelo progresso de nossa terra, além de eficiente e honesto educador político das massas trabalhadoras das cidades e dos campos pt Saudações fraternais (a)”

Luiz Carlos Prestes192

Da mesma maneira como os escritores comunistas figuravam nas páginas de OD, o artista plástico maranhense, Floriano Teixeira193, teve passagem nos

191 Poema de Carlos Drummond de Andrade, publicado na página “Literatura-Arte-Ciência”, no

jornal O Democrata, em 24/08/1946, p. 5.

192 Saudação de Luís Carlos Prestes publicada na edição número de O Democrata, dia 01/03/1946,

p.1.

193 Os dados sobre a vida de Floriano Teixeira foram compilados através de pesquisas nos jornais

primeiros anos do jornal. Ele trabalhou como ilustrador, em 1950. Alguns dos trabalhos em xilogravura são vistos nas páginas, podendo ser reconhecidos pelos traços refinados do talento maranhense. As relações de amizades construídas no partido, permitiram Teixeira conhecer outros artistas cearenses, acabando por fundar com Zenon Barreto, Antônio Bandeira, entre outros, o “grupo dos Independentes”, importante movimento das artes plásticas no Brasil (1950).

A passagem de Floriano Teixeira pela folha comunista é lembrada com saudosismo pelo jornalista Alberto Galeno. “Homem simples, de pouca conversa mais de muito talento”, como lembra o jornalista que conviveu com ele nas salas apertadas do jornal, na Rua Senador Pompeu, 814. No salão de entrada, segundo recorda Galeno, existia enorme painel do artista, cujos traços chamavam a atenção de quem passava. Galeno acredita que O Democrata contribuiu para divulgar os trabalhos do maranhense:

“(...) o pintor Floriano Teixeira, por exemplo, chegou aqui era um anônimo, aqui no Ceará, né? Era um anônimo aqui, ia lá para o jornal e dormia lá em cima das carteiras dos jornais e fazia as ilustrações. Ele fazia as ilustrações. (...) o Fran Martins, por exemplo, era do jornal O Estado então descobriu o valor dele e levou lá para o Estado. Ele trabalhava lá pro Estado fazendo ilustrações e por último veio o Jorge Amado e acabou convidando para ir pra Bahia. Ele deu apoio a ele e ele tornou-se um mentor nacional, viu?! Conhecido!”194.

A entrevista de Galeno trouxe a importante informação da participação de Teixeira na Imprensa Cearense, embora Floriano não fosse um “anônimo”, pois já vinha do Maranhão com carreira promissora, onde havia ganhado o I Prêmio do Salão de Dezembro, em São Luís-Ma (1941). De ilustrador de jornal comunista, Teixeira desponta, nos espaços da cultura, e ocupa a direção do Museu de Arte

obras do escritor baiano (Amado, Jorge. Dona flor e seus dois maridos: história moral e de amor. 37ª. Edição. Rio de Janeiro. Record. 1982. Entre outras obras do escritor baiano, ilustradas por Floriano Teixeira). Escritores da literatura nacional e internacional também compartilharam dos traços de Floriano Teixeira, a exemplo de Graciliano Ramos e Mário Vargas Llosa.

da Universidade Federal do Ceará (1962). Depois da experiência acadêmica, Floriano Teixeira foi convidado por Jorge Amado para morar em Salvador-BA (1964). Em terras baianas, o artista buscou inspiração para ilustrar as páginas de obras como “A Morte e a Morte de Quincas Berro D’Água”, “Gato Malhado”, “Dona Flor e seus Dois Maridos”, entre outros romances e contos do baiano, traduzidos para o alemão, espanhol, francês, holandês, húngaro, inglês, italiano, russo e tcheco.

O endereço do jornal comunista, em Fortaleza, parecia estar no caminho dos intelectuais ligados ao PCB. Embora a antiga camarada Rachel de Queiroz tivesse rompido com o partido (1946)195, o fato é que a residência dos familiares da escritora cearense foi a sede de O Democrata. A casa onde funcionava o jornal pertenceu ao bisavô dela, major Cícero Franklin, depois passada às mãos do seu tio, general Benévolo, mais tarde chegando ao domínio dos comunistas196. Neste

trabalho, não consegui obter qualquer informação que levasse a participação da escritora na negociação da residência na Rua Senador Pompeu.

Ao contrário de Rachel Queiroz, que não mais compartilhava das diretrizes do partido, OD chegou a abrigar no corpo de redatores, importante ativista da história do Partido Comunista Brasileiro: Oswaldo Peralva. Ele chegou a Fortaleza depois de transferido da Base Aérea da Bahia (1945), onde havia formado um grupo de militares comunistas – “Isso me valeu a antipatia e a perseguição do comandante da Base e uma severa advertência do general Dermeval Peixoto, que comandava a região militar”197. Advertido e transferido pelo comando militar,

Peralva continuou militando, desta vez, com incursões na imprensa cearense:

195 É importante ressaltar que Raquel de Queiroz deixou o PCB em 1937, após a publicação do

livro “Caminhos de Pedra”, onde a escritora cearense critica a proletarização do partido (Rubim, 1999, p.85). “Raquel nos propõe em ‘Caminhos de pedras’ um romance de participação social

direta, o drama da luta social, da própria luta de classe, no estreito cenário da vida urbana da província, uma espécie de transição entre o rural e o urbano, a tensão extrema da perspectiva revolucionária” (Antônio Carlos Villaça. In Queiroz. Rachel de. Campos de Pedra. 11ª. Edição. São

Paulo. Siciliano. 1992). A escritora já vinha em discordância com a direção do partido desde a publicação do livro “João Miguel” (1932), quando houve uma tentativa de censura da publicação, por parte do PCB (Rubim, 1999, p.85).

196 Azevedo. Miguel Ângelo de (NIREZ). Cronologia Ilustrada de Fortaleza: roteiro para um turismo

histórico e cultural. V.1. Fortaleza. Banco do Nordeste. 2001. p.338.

“(...) ignorava minha condição, porquanto, servindo na Aviação, não me encontrava sob o seu comando – verberou o esquerdismo de meus artigos e ameaçou-me de processo e prisão. Obtive então transferência para a Base Aérea de Fortaleza e depois para a de Recife, continuando nessas duas capitais a escrever artigos esquerdistas, a recrutar e organizar em células militares que mostravam simpatias por Prestes ou pela URSS”198.

A experiência na profissão de radiotelegrafista, nas agências noticiosas do Rio de Janeiro (1937), possivelmente contribuiu para Peralva se integrar à redação de O Democrata em 1946. Entretanto, seu nome consta somente no expediente do jornal durante aproximadamente seis meses. A partir de setembro de 1946, o nome de Peralva sai do quadro de redatores do jornal, em virtude de transferência para a Base Aérea de Recife. Conforme biografia (Peralva, 1956, p. 10 e 11), em 1946, ele deixou o Ceará e foi para Recife. Em 1947, o jornalista trabalhava como repórter da Tribuna Popular, no Rio de Janeiro, depois vindo a dirigir a oficina gráfica do jornal Imprensa Popular, período em que ocupou ainda a secretaria da revista teórica do PCB, Problemas (1948):

“A bibliografia marxista é certamente intensa e cresce dia a dia. Todos os ramos de conhecimento humano – política, arte, ciencia, pedagogia, filosofia, religião, etc, etc – vêm sendo estudadas a luz da teoria marxista. Chega a ser espantoso como apenas dois homens, dois grandes sábios, apenas, puderam penetrar em alguns terrenos, abordar tantos temas relevantes, estudá-los e explicá-los. No entanto, Carlos Marx e Frederico Engels, fizeram isso. Observe-se que a bagagem de livros dos fundadores do socialismo científico é relativamente pequena. Explica-se isso de vários modos. Primeiro porque ambos dedicaram grande parte do seu tempo ao estudo, pois não nasceram sábios. Segundo porque não foram apenas teóricos, mas homens de ação (deve-se recordar que foram

eles os fundadores da Primeira Internacional Comunista). Terceiro que tinham que ganhar o proprio sustento. E, finalmente, porque possuíam notável poder de síntese”199. (...)

Oswaldo Peralva era um dos principais nomes de referência do Partido Comunista, na América do Sul. Integrante da Escola Revolucionária de Moscou, no período de 1953 a 1956, o jornalista conheceu, como poucos militantes brasileiros, a burocracia do Partido Comunista da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (PCURSS). Mas a devoção à causa comunista sofreu ruptura na vida de Peralva. Ele vivenciou de perto as revelações do relatório secreto de Kruschev, que denunciava os crimes de Stalin e o terror vigente na Rússia:

“Para mim, foi como se de súbito se houvessem acendido as luzes nas catacumbas do movimento comunista: após longos anos de rijo combate, em que empenhei todas as minhas forças, ao lado de tantos companheiros, compreendi, porém, que seu defeito era estrutural, incorrigível, e com ele rompi definitivamente”200.

No documento Escrita subsiva: O Democrata (páginas 144-153)