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Os médicos e a saúde são-carlense: uma análise da prática

Parte II – Primeira onda: criação do município, cafeicultura, economia

Capítulo 5 – A criação do município e da medicina de São Carlos sob a

5.2. Os médicos e a saúde são-carlense: uma análise da prática

Desde o surgimento do núcleo urbano de São Carlos, diversos segmentos sociais vindos de outras regiões atingiram o município – dentre os quais, inclusive, alguns grupos de profissionais liberais. Com o fim da escravidão, houve ampliação de atividades ocupacionais e crescimento do contingente de grupos sociais intermediários da estrutura social local, os quais tornaram mais complexas as antigas relações entre proprietários rurais e grupos subalternos, diversificando a população são-carlense e rearranjando as históricas relações entre campo e cidade (Truzzi, 2007). Dessa maneira, mesmo antes, mas principalmente depois de 1930, vários desses segmentos médios passam a encontrar novas oportunidades econômicas e profissionais com o desenvolvimento urbano e industrial da região (Truzzi & Kerbauy, 2000).

Ainda na Primeira República, já se notava a presença de certos grupos profissionais de nível superior, situados essencialmente na zona urbana do município, o que sinalizava para a existência de uma estrutura ocupacional e uma estratificação da sociedade local marcadas por determinada diferenciação interna, de tal modo que, além de alguns serviços públicos e algumas casas comerciais que atendiam a demanda da população local, bem como de um setor industrial incipiente – composto, basicamente, por pequenos empreendimentos frequentemente de tipo artesanal –, já se observava a existência de alguns profissionais liberais responsáveis pela prestação de alguns serviços junto à população, os quais, em essência, eram constituídos de advogados, médicos, farmacêuticos, cirurgiões-dentistas e engenheiros40.

Em realidade, quanto à profissão médica, ao que se tem registrado em documentos da época e em trabalhos de natureza histórica e sociológica41, o primeiro profissional da categoria a permanecer em terras são-carlenses foi o doutor Ernesto Lância42, que se integrou à localidade em 1867, quando o município iniciava sua

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É o que se pode reconhecer através de anúncios de alguns profissionais desses segmentos que foram encontrados em coleta de dados em edições do jornal Correio de São Carlos, como nos exemplares de: Correio de São Carlos, de 2 de janeiro de 1912, p. 1; Correio de São Carlos, de 1º de junho de 1913; Correio de São Carlos, de 7 de janeiro de 1914.

41 Conforme, por exemplo, pesquisa publicada em livro anteriormente citado. Trata-se de: Machado,

Maria Lúcia Teixeira. História da saúde em São Carlos. São Carlos, EdUFSCar/ São Paulo, Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2007 (Coleção nossa história).

42 O doutor Ernesto Lância foi genro de João Carlos de Arruda Botelho, ligado à família de grandes

proprietários de fazenda de café em São Carlos e considerada fundadora do município, bem como família da qual emergiu Antonio Carlos de Arruda Botelho, o qual veio a se tornar o Conde do Pinhal.

115 trajetória de desenvolvimento a partir da cultura exportadora de café – um momento em que também começava a adquirir maior autonomia político-administrativa com sua elevação à categoria de Vila. No entanto, o doutor Ernesto Lância logo se mudou para outra região, de maneira que não se tem mais registros sobre este profissional na localidade. Mas além deste, deve-se destacar que o primeiro profissional a requerer o legítimo direito, junto às autoridades locais, de poder exercer a medicina em São Carlos foi o doutor Carlos Fleishmann (natural da Alemanha), que fez tal solicitação à Câmara Municipal em 187143. Data também do mesmo ano informações sobre o doutor José Albuquerque Vaz Granjo – original de Portugal e um dos primeiros médicos de quem se tem notícia no município, mas que se estabeleceu na região por pouco tempo, pois, logo em 1875, durante uma epidemia de varíola44, este deixou o município.

Como os dados evidenciam, mesmo às vezes não afetando o município, ou o atingindo em menor intensidade do que em outros lugares, os surtos de doenças epidêmicas e certa endemias, comuns àquela época, invariavelmente chamavam muito a atenção da imprensa e das elites locais. Foi o caso não somente dos surtos de varíola, mas também de casos de peste bubônica – que se manifestaram em terras paulistas no final do século XIX e início do século seguinte45. Além disso, notam-se preocupações locais quanto aos casos de hanseníase – sempre mais ou menos presentes em todo o período inicial da República. Outras enfermidades que foram objeto de atenção municipal referem-se aos casos de tracoma, ancilostomíase, febre amarela e gripe espanhola, que marcaram a história das primeiras décadas do século XX em todo o Estado de São Paulo (Almeida, 2003; Bertucci, 2003 & 2004; Telarolli Junior, 1996).

Em meio às práticas de cunho campanhista-policial46 e de inspiração anterior quanto às relações entre, de um lado, o conhecimento médico e bacteriológico e, de

43 Cabe lembrar que a Câmara Municipal de São Carlos havia sido empossada, pela primeira vez, pouco

antes, ainda em 1865, logo após a elevação de São Carlos à condição de Vila.

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Existem registros locais que apontam um forte surto de varíola nos anos 1870. Tendo sido inicialmente confirmado em 1874, o mesmo ressurge depois, em 1879, embora com intensidade mais branda. Posteriormente, São Carlos apresentou mais 60 casos dessa doença em 1911, em novo surto da mesma na municipalidade.

45

Como se encontra em: Correio de São Carlos, de 02 de abril de 1900, p. 8.

46 O denominado “modelo campanhista-policial” – que será relativamente observado nesta análise sobre a

medicina do município de São Carlos – organizava-se tendo em vista certo embasamento científico típico da ciência médica daquela época. Seus conceitos combinavam a nova teoria microbiana e bacteriológica sobre a causação de doenças e certa influência de alguns outros princípios teóricos – remanescentes da chamada medicina social do século XIX (Foucault, 1984; Rosen, 1980, 1994) e da teoria miasmática (Chalhoub, 1996; Telarolli Junior, 1996) –, as quais apostavam no cuidado de fatores ambientais possivelmente nocivos à saúde de populações humanas. Tais fatores, na antiga perspectiva miasmática, implicavam que determinados materiais do meio ambiente poderiam entrar em estado de decomposição ou putrefação, gerando os chamados “miasmas”, de tal maneira que estes poderiam levar os indivíduos

116 outro, os serviços de saúde pública, a municipalidade recebe algumas instituições de saúde criadas para o cuidado mais imediato e emergencial de algumas endemias e, principalmente, de certas doenças tipicamente epidêmicas: como foi o caso da varíola – para a qual, em 1888, constituiu-se um Lazareto para Variolosos; ou ainda, para importantes casos de gripe espanhola, a qual, ao longo de 1918, teve doentes cuidados pelo Hospital de Isolamento da Câmara Municipal e pelo Hospital Escola Modelo (sob os auspícios da Cruz Vermelha Sancarlense).

Além disso, houve a questão de casos de tracoma e de ancilostomíase, em relação às quais o município abrigou um posto estadual especializado de combate às enfermidades – o então conhecido Posto Anti-Trachomatoso. O primeiro diretor deste órgão, denominado oficialmente de Serviço de Combate ao Trachoma e Ankilostomiase, foi o doutor Eloy Lessa, que veio a ocupar posição de destaque na localidade (Machado, 2004, p. 384). Ademais, no Distrito de Santa Eudóxia existiu também um Posto de Saúde voltado ao combate do tracoma, o qual, no início da década de 1910, teve o doutor Francisco Granadeiro Guimarães Junior47 como médico atuante no combate à enfermidade – o tracoma tinha considerável incidência à época em diversas partes do Estado de São Paulo e causava preocupações em grupos médicos e sanitaristas, bem como em setores políticos.

Como tais questões envolviam problemas de saúde pública, não apenas a imprensa, mas ainda relevantes grupos políticos, segmentos médicos locais e o próprio delegado de hygiene (ou de saúde) municipal também se mobilizavam em discussões sobre o assunto, ou a fim de desenvolver medidas de combate ou contenção dessas

que entrassem em contato com eles a variados processos de adoecimento. No início do século XX, a teoria miasmática estava em claro descenso graças ao surgimento da microbiologia e da bacteriologia, mas sua influência, mesmo que atenuada, ainda se fazia valer – é o que se percebe em certos traços do “policiamento sanitário” do modelo campanhista-policial. Por outro lado, a partir dos referenciais de inspiração bacteriológica surgiram no Estado de São Paulo organismos estatais voltados à pesquisa e produção de medicamentos e vacinação de certas doenças. Ao lado dessas instituições científicas acoplaram-se também outras instituições prestadoras de serviços de saúde dedicadas ao cuidado de surtos epidêmicos e aumentos de endemias em regiões localizadas, as quais geralmente eram regiões de maior importância socioeconômica. Este trabalho de saúde pública se dava através de determinadas estruturas organizacionais, como: dispensários e hospitais de isolamento; outros órgãos sanitários ligados ao acompanhamento estatístico-demográfico de populações e comissões de combate a males específicos, bem como demais órgãos públicos – como as delegacias de higiene ou saúde estaduais. Tais órgãos eram compostos por profissionais dedicados ao combate de doenças e à vacinação de pessoas e populações. Quanto ao já indicado “policiamento sanitário” (que se dava em termos sempre de espírito fiscalizador), se materializava a partir de estatísticas demográficas de nascimentos, casamentos e óbitos; a atenção sobre circulação de alimentos e o asseio de edificações públicas e privadas, além da transmissão de noções básicas de higiene e do incentivo a medidas de saneamento básico, que apenas começaram ser implementadas no início da República (Sanches, 1920; SERVIÇO SANITÁRIO DO ESTADO DE SÃO PAULO, 1928; Telarolli Junior, 1996; Castro Santos, 2004).

117 doenças48. Neste sentido, deve-se enfatizar que a autoridade sanitária municipal era o próprio delegado de hygiene (inicialmente) ou delegado de saúde (mais tarde), responsável pela Delegacia de Hygiene – ou, como veio a ser denominada depois, Delegacia de Saúde –, e que seguia as orientações do Código de Posturas Municipal, do Código Sanitário Estadual, bem como demais recomendações sanitárias dos serviços de saúde do governo paulista49.

Além deste trabalho em saúde pública, São Carlos já possuía instituições e profissionais de saúde que atuavam em alguns setores relacionados, tais como o farmacêutico, o odontológico e o médico-assistencial propriamente dito, os quais atuavam tanto no atendimento clínico como cirúrgico, seja em consultórios privados ou em outros espaços ambulatoriais e hospitalares: não apenas e principalmente nas instalações da Santa Casa de Misericórdia de São Carlos (inaugurada em 1899), mas também nos consultórios particulares dos próprios médicos ou nos seus atendimentos em domicílio – tão comuns àquela época. Afora o trabalho de farmacêuticos – os quais, muitas vezes, atuavam como verdadeiros médicos no interior do país –, e paralelamente ao trabalho de enfermeiros e outros auxiliares nos atendimentos hospitalares –, particularmente os serviços médicos já contavam com considerável prestígio local, tanto do ponto de vista político como social mais amplo. Ademais, ainda na Primeira República, a medicina e a área de saúde locais puderam contar com a criação de uma Escola de Pharmacia e Odontologia, a qual, desde 1914, veio a formar outros quadros profissionais para alimentar o mercado de mão de obra da área de saúde de São Carlos50.

Mas a principal instituição ou organização em que os médicos são-carlenses prestavam seus serviços na localidade, e que representava, igualmente, a mais importante instituição de saúde da localidade, era a Santa Casa de Misericórdia. Esta surgiu a partir da iniciativa do senhor Francisco Domingos de Sampaio e sua esposa, a

48 É o que se pode perceber de dados relativos ao jornal Correio de São Carlos: de 29 de dezembro de

1899; de 28 de março de 1900; de 30 de março de 1900, p. 1. E ainda em: Machado (2007, p. 283).

49 Dentre os delegados de hygiene ou saúde que existiram em São Carlos na primeira metade do século

XX, pode-se citar o doutor Eurico de Souza Pereira e Phillipe Nery Gonçalves (Machado, 2004, p. 384- 386).

50 A inauguração e início das atividades da Escola de Pharmacia e Odontologia contaram com grande

cerimônia oficial, a qual movimentou a sociedade local, contando até com baile realizado no prestigiado Club Concordia, o qual, com frequência, tinha suas atividades publicadas, divulgadas e comentadas pela imprensa local – a exemplo do jornal diário Correio de São Carlos. Dessa maneira, as atividades realizadas por este clube social recebiam a atenção de círculos sociais médios e de elite letrados do município, os quais tinham contato com esta publicação. É o que consta em: Correio de São Carlos, 03 de fevereiro de 1914, p. 1; Correio de São Carlos, 05 de fevereiro de 1914, p. 1; Correio de São Carlos, 14 de fevereiro de 1914.

118 senhora Ana Miquelina Ferraz de Sampaio, os quais, além de figuras de considerável influência social, em homenagem à morte de seu filho em Jaboticabal (SP), resolveram criar esta instituição hospitalar no município51. Com a mobilização social que a iniciativa produziu, vários donativos foram reunidos para a consecução desta finalidade, como no caso da doação de um terreno para que a construção do prédio da Santa Casa fosse realizada. Em 1894, lançou-se a pedra fundamental da obra que resultou no futuro hospital, que foi definitivamente inaugurado em 1º de novembro de 1899. Assim como suas congêneres em outras localidades paulistas, e de acordo com certos conhecimentos, técnicas e modelos arquitetônicos comuns à época, a estrutura da Santa Casa de São Carlos seguiu as bases típicas de estruturas hospitalares construídas em pavilhões (ao estilo da tradição europeia então em voga), e não a partir do erguimento de estrutura em monoblocos, que mais tarde se passou a utilizar com frequência na arquitetura hospitalar brasileira, de acordo com inovações nessa área surgidas desde os Estados Unidos (Costa, 2011ab).

Mesmo ainda com poucos anos de existência, a Santa Casa já possuía em suas instalações ambientes diferenciados, nos quais atividades médicas específicas e cuidados em saúde determinados eram realizados cotidianamente, de acordo com os conhecimentos e tecnologias existentes. Havia área de trabalho para enfermaria, algumas salas de cirurgia e internação e alguns equipamentos para certos tipos de exame e tratamento comuns àquela época. Dentre as instalações e ambientes existentes, destacavam-se, ainda na Primeira República: a sala de alta cirurgia asséptica; outra sala de cirurgia séptica; farmácia e laboratório; secção de diagnose radiológica, radiografia e radioterapia; gabinete de diatermia; seção de raios ultravioleta e sol das montanhas; gabinete de duchas; sala de partos e puericultura52.

A despeito de certas restrições em termos de uma efetiva presença popular nos seus serviços especializados, logo se observou na Santa Casa um aumento nos atendimentos anuais53. Ademais, desde cedo existiu um conjunto de ocupações, embora não muito diverso nem mais numeroso, que compunha os quadros da equipe que realizava atendimentos a doentes e feridos que adentravam a Santa Casa. Havia equipe para o trabalho de enfermagem, com formação geralmente não tão especializada como

51 De acordo com informações de: Almanack Annuario de S. Carlos – 1928. São Carlos, EdUFSCar/São

Paulo, Imprensa Oficial, 2007.

52 Informações constantes em: Almanack Anuario de S. Carlos – 1928. São Carlos, EdUFSCar, 2007. 53 Em conformidade ao que foi publicado em: Correio de São Carlos, de 1º de dezembro de 1899 e

Correio de São Carlos, de 4 de janeiro de 1901. Além disso, também se pode observar tais aspectos em: Machado, 2007, p. 282.

119 mais tarde o município verificaria, alguns outros auxiliares e os próprios médicos, sendo que estes últimos não apenas realizavam diagnósticos, tratamentos e cirurgias, mas também assumiam cargos com caráter diretivo, especialmente técnico, em um regime de trabalho que funcionava a partir de um rodízio entre os profissionais. Segundo consta em dados de jornais da época, esse rodízio tinha ciclo mensal, ou seja, para cada mês geralmente de um a três dos médicos da instituição assumiam a condição de responsáveis pelas atividades e cuidados ministrados aos doentes e feridos, cedendo a função a outro (ou outros) colega(s) no mês seguinte54. Isso evidencia aspectos significativos do ponto de vista da organização do trabalho e das relações internas ao grupo médico de São Carlos, que influenciavam o cotidiano da Santa Casa e a divisão de trabalho médico (Freidson, 2009) entre os pares da profissão. Dentre alguns profissionais que atuaram na Santa Casa de Misericórdia nas primeiras décadas do século, têm-se: doutor Rodolpho Gastão Fernandes de Sá, doutor Serafim Vieira de Almeida, doutor Fernando Terra e doutor Procópio Davidoff55.

Embora, como visto anteriormente, em princípio relativamente pouco numeroso, com o tempo o contingente médico são-carlense aumentou. Ainda em 1894, já se contabilizava 14 médicos no município – para uma população estimada, em 1891, em 16 mil habitantes (Machado, 2007, p. 279). Dessa forma, acompanhando o próprio desenvolvimento local, nota-se que, entre 1889 e 1930, houve considerável aumento quantitativo desses profissionais no município – em um movimento que, em termos paralelos, acompanhou relativamente tanto o desenvolvimento econômico e urbano da localidade como também o crescimento demográfico da população são-carlense.

Ademais, esse avanço econômico e populacional do município, ao lado do relativo crescimento da demanda por serviços médicos, chega a atingir a própria Santa Casa, o que levou o grupo médico local a almejar criar uma Casa de Saúde (o então chamado Instituto Sancarlense Casa de Saúde)56, que assim surgiria na condição de instituição hospitalar privada controlada por médicos da cidade, os quais possuiriam cotas sobre o empreendimento e seus lucros. No entanto, como será analisado mais abaixo, esse desejo da categoria médica local deve ter encontrado restrições ligadas às mudanças nas condições sociais econômicas, políticas e profissionais para a própria

54 De acordo com: Correio de São Carlos, de 30 de março de 1900, p. 1.

55 Em conformidade ao que consta em: Correio de São Carlos, de 24 de novembro de 1899, p. 1; Correio

de São Carlos, de 10 de janeiro de 1900, p. 2; Correio de São Carlos, de 30 de março de 1900, p. 1.

120 categoria médica em razão do declínio da economia cafeeira e da crise política em fins da Primeira República.

Por outro lado, ao se analisar os diversos Livros de Impostos sobre Indústrias e Profissões de São Carlos 57, que ofereceram registros relativos ao mesmo período histórico de 41 anos, bem como alguns Livros de Impostos sobre Assucar e Café (do mesmo período), certas edições do jornal Correio de São Carlos (entre 1899 e 1914) e alguns atestados de óbito do município no início do século XX, contabilizou-se dados de 45 profissionais58, que legalmente exerceram a atividade médica em São Carlos. O que se observa é que, apesar de ser relativamente elevado o número total de profissionais registrados ao longo do período da Primeira República, inclusive se considerada a variação no tamanho da população são-carlense, a distribuição de médicos por ano analisado apresenta certa alteração no tempo, atingindo a marca máxima de 13 profissionais (em 1924), com alguns picos e algumas baixas mais claras, indo de um mínimo de 04 médicos (em 1910) ao número máximo apontado acima, diante de uma população local que, por exemplo, esteve calculada, no ano de 1894, em 16 mil habitantes59 e, em 1926, na casa dos 17.300 mil habitantes60.

As razões do elevado número de registros de profissionais para o conjunto do período (total de 45 médicos, conforme os Livros de Impostos sobre Indústrias e Profissões), combinado com a relativa variação nos totais de registros por ano que, por sua vez, nunca estiveram acima 13 profissionais no total, são difíceis de averiguar com os dados verificados. No entanto, apesar de alguma rotatividade de certo percentual de médicos entre os anos observados, a existência de registros totais mais elevados para o período se explica, pelo menos em parte, graças às possibilidades de mobilidade geográfica, ou migração, gerada pela chegada da estrada de ferro e pela pujança, atratividade, movimentos de altas e baixas da economia local (que oscilou em relativo acordo com os avanços e retrocessos da produção cafeeira), tendo em vista, ainda, o fato de que tais avanços permitiram o desenvolvimento de certa infraestrutura urbana, um

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Tratar aqui de informações sobre os Livros de Impostos sobre Indústrias e Profissões, relativos aos anos de: 1907; 1907 a 1910; 1910 a 1912; 1913 a 1915; e 1915 a 1918. Todos esses livros foram consultados durante o segundo semestre de 2012.

58 Ao final deste relatório, segue anexa uma relação de profissionais encontrados nas buscas realizadas

junto aos documentos e referências consultados para esta pesquisa. Na análise seguinte dos dados relativos aos Livros de Impostos sobre Indústrias e Profissões, desde 1907, contabilizou-se, na realidade, 45 profissionais da medicina. Os demais médicos foram encontrados em registros anteriores de outras