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Os profissionais e a dinâmica político-partidária: aspectos

Parte II – Primeira onda: criação do município, cafeicultura, economia

Capítulo 5 – A criação do município e da medicina de São Carlos sob a

5.3 Os profissionais e a dinâmica político-partidária: aspectos

Durante a Primeira República, e até as impactantes transformações trazidas com o período pós-1930 e a chamada Era Vargas, o país caracterizou-se politicamente pela autonomia dos estados, resultante da política dos governadores iniciada pelo presidente da República Manuel Ferraz de Campos Salles (1898-1902), que influenciou decisivamente a realidade do interior do país, com consequências ao poder local do município de São Carlos. Posteriormente a Revolução de 1930, o país passou por um mais intenso processo de centralização política, em especial com a ditadura do Estado Novo (1937-1945) – a qual se associa ao maior impulso urbano-industrial do país neste período. Tais mudanças com efeitos sociopolíticos influenciaram as relações entre as esferas estatais de poder central, estadual e municipal, interferindo na dinâmica de poder em diversas regiões do Brasil, o que, como se evidenciará abaixo quanto a alguns importantes movimentos políticos e em relação a determinadas escolhas de novos prefeitos municipais, implicou significativos desdobramentos para a política são- carlense e para a inserção social de médicos na localidade.

Em meio à influência de tais fatores históricos, percebe-se o envolvimento de vários médicos não apenas da capital como também do interior paulista em dinâmicas e atividades políticas. O município de São Carlos – assim como, em certa medida, em outros núcleos urbanos do interior paulista103 – percebe o envolvimento de alguns de seus médicos não somente em atividades políticas específicas, cotidianas e locais, mas em movimentos políticos maiores, com desdobramentos para a política estadual e nacional. Este envolvimento com a política, no contexto do poder local de São Carlos,

103 Sobre a história da medicina em Araraquara (SP), município vizinho à São Carlos, e a participação de

médicos na política local, recomenda-se a leitura de: Telarolli, Rodolpho. História da medicina e dos médicos de Araraquara. São Paulo, Legnar Informática & Editora, 2002.

143 apresentou certos desafios e contraditórias consequências à autonomia profissional da medicina são-carlense, especialmente através de sua dimensão política.

A Primeira República foi caracterizada, no Estado de São Paulo, pela força de um grande partido político estadual, o Partido Republicano Paulista – PRP. A estrutura deste partido emergiu ainda em fins do período monárquico, a partir do forte movimento republicano que ocorreu no país desde os anos 1870. Em São Paulo, este movimento foi capaz de aglutinar forças anti-monarquistas em torno, particularmente, dos grandes fazendeiros de café do estado – sejam aqueles de antigas regiões, sejam outros oriundos das mais novas áreas produtoras –, o que conferiu ao PRP uma sólida base organizacional (Castro Santos, 1993, pp. 369-370). Uma das mais importantes consequências da existência dessa consistente base organizacional do PRP foi o desenvolvimento de uma expressiva política de saúde pública, o que aproximou ainda mais o mundo da política partidária (que se realiza em torno do poder de Estado), da realidade profissional da medicina paulista.

Mas as raízes históricas das conexões entre a medicina paulista (inclusive interiorana) e a política estadual explicam-se não apenas pelo fato de que muitos médicos de São Paulo descendiam de famílias politicamente influentes – tanto do próprio estado como também de outras regiões do país –, mas ainda graças ao envolvimento de importantes lideranças e setores médicos estaduais com movimentos político-ideológicos de grande envergadura para a realidade do país. Este foi o caso do positivismo, que inicialmente mobilizou grupos políticos e intelectuais brasileiros no final do século XIX e que criou raízes no movimento republicano que culminou com a proclamação da República. O positivismo paulista assumiu feição mais cientificista e pragmática do que em outras partes do Brasil, o que favoreceu, entre outros aspectos, a assimilação de novos conhecimentos científicos pela classe médica estadual – tais como os da bacteriologia – o que, por sua vez, veio a influenciar o desenvolvimento de serviços sanitários no Estado de São Paulo ao longo da Primeira República e, portanto, as relações entre médicos, elites políticas e o poder de Estado (Castro Santos, 2003).

Por outro lado, no início da República os médicos e as elites intelectuais e políticas do país se envolveram com o impulso político nacionalista que atingiu grupos sociais brasileiros em um movimento de expansão do sentimento nacional em diversas partes do mundo. Neste contexto, ao longo da década de 1910 realizaram-se algumas expedições médico-científicas pelo interior do país, a fim de se conhecer a realidade social brasileira para além de suas povoações litorâneas: foi um esforço para se mais

144 bem conhecer as condições sociais e de vida do povo brasileiro. Em fins da mesma década, criou-se, também, a Liga Pró-Saneamento do Brasil (1918), da qual participaram intelectuais, jornalistas, políticos e médicos preocupados com o estado sanitário da população brasileira – procurava-se verificar as relações entre o estado sanitário das populações dos “sertões” (ou interior) do país e as dificuldades da nação em conquistar o almejado progresso (Hochman, 1998). Muito cedo nesse processo que conectou medicina e política no Brasil, em São Paulo se associaram demandas no sentido da modernização do país com o cuidado da sua força de trabalho, que então se veio a entender como necessário para o progresso paulista e da nação.

Com o tempo, isso se transformou em uma estratégia das elites paulistas no sentido de desenvolver o estado geral de saúde dos seus trabalhadores através da expansão dos serviços sanitários estaduais. Essa estratégia contou com uma associação entre o poder de Estado e relevantes grupos médicos sanitaristas de São Paulo (Castro Santos, 2004), sendo que tais mudanças nos serviços de saúde pública acabaram, como se verificou acima, atingindo a realidade médico-sanitária do poder local de São Carlos. Por isso, não apenas, mas principalmente quanto à participação médica no movimento constitucionalista de 1932, a qual também contou com médicos de São Carlos, nota-se considerável influência de uma ideia que ganhou muita força desde o início da República, qual seja, a de que o Estado de São Paulo, dada a sua “excepcionalidade” como expoente do progresso da nação, deveria assumir a liderança política e guiar o Brasil rumo à sua desejada modernização (Santos & Mota, 2010).

No contexto de crise anterior e posterior à Revolução de 1930, o país experimentou grande instabilidade política, a qual foi acompanhada de movimentos políticos contestatórios com cores e matizes por vezes revolucionários (Fausto, 2010; Cohen, 2010). Tal conjunção histórica caracterizou-se não apenas pela mobilização das tradicionais elites agrárias brasileiras, mas paulatinamente encorajou crescentes parcelas de setores médios urbanos em expansão a se envolverem com os rumos políticos da nação. Nestas circunstâncias, foi muito expressiva a participação de médicos na dinâmica política da época – particularmente profissionais atuantes no Estado de São Paulo (Santos & Mota, 2010), os quais, na condição de uma espécie de elite ilustrada, engajaram-se em vários movimentos sociais e políticos que procuravam influenciar o processo político nacional e a própria definição dos caminhos para a modernização do país. No entanto, essa mobilização de segmentos médicos paulistas em atividades políticas assumiu especificidades históricas e sociais de acordo com as peculiares

145 formas de inserção social, econômica, política e profissional de cada grupo médico em distintas realidades de poder local no interior do estado.

Neste sentido, cabe enfatizar que, desde o Império, São Carlos singularizou-se pelo predomínio político dos grandes fazendeiros de café e, em especial, pela força da família Botelho. A transição do Império à República não interrompeu o prestígio do patriarca botelhista, nem de seus herdeiros. Contudo, depois de sua morte, surgiram algumas rivalidades políticas pelo controle do município, as quais se conectavam ao conjunto de relações político-partidárias e de parentesco que envolvia integrantes do poder local e setores representativos dos poderes políticos estadual e federal (Abreu, 2000).

Em meio a essas relações político-partidárias e de parentesco que influenciaram a dinâmica política são-carlense nas primeiras décadas do século XX, podemos destacar o papel do coronel José Augusto de Oliveira Salles, irmão do então secretário de Obras Públicas do Estado de São Paulo, Antonio Pádua Salles. O coronel José Augusto casou- se com Maria de Camargo, sobrinha e agregada do major José Inácio de Camargo Penteado, outro grande fazendeiro de São Carlos, o qual incentivou José Augusto a ingressar na política partidária através do PRP, visto as facilidades que suas relações pessoais propiciavam junto aos poderes estaduais (Abreu, 2000, p. 100). Nessas circunstâncias, no final do século XIX, consolidou-se a aliança entre as famílias Salles e Camargo Penteado que, posteriormente, teve na figura de Elias Augusto de Camargo Salles (o conhecido “Nhosinho Salles”), sua liderança mais destacada na localidade. A partir de então, e durante algumas décadas, a política local dinamizou-se tendo em vista a polarização entre uma ala “botelhista” e outra “sallista” do Partido Republicano Paulista (PRP), que disputavam o mesmo espaço no diretório local do partido em São Carlos. Até o fim dos partidos estaduais, já no período pós-1930, o PRP era a agremiação dominante tanto na região do município de São Carlos como, de maneira mais abrangente, no Estado de São Paulo, verificando relativa perda de espaço apenas para ao Partido Democrático – PD, já na passagem dos anos 1920 à década seguinte (Gomes, 2008), em fins do período da Primeira República.

Em verdade, depois da Revolução de 1930, embora tenha havido um período de maior intervenção externa do governo paulista junto à política municipal (Abreu, 2000), resultante do fim do movimento constitucionalista de 1932, e apesar de certo arrefecimento temporário da antiga tradição de domínio político das duas grandes famílias locais (os Botelhos e os Salles), desde agosto de 1933, com a nomeação do

146 “botelhista” Durval Acciolly para a Prefeitura Municipal de São Carlos, a tradicional configuração do jogo político local voltou a se estabelecer, o que veio a se modificar, de fato, apenas com o retorno à democracia e a criação das novas agremiações partidárias de abrangência nacional, decorrentes do fim do Estado Novo.

Desde sua origem, além de outras mudanças sociais e econômicas anteriormente tratadas, o município de São Carlos passou por alterações relativas à sua organização político-administrativa, fruto tanto de fatores internos como externos à localidade. Inicialmente, a autoridade pública local era, em essência, apenas a Câmara Municipal. Mais tarde, ao lado da Câmara, surgiu, em 1890, a Intendência Municipal, a qual foi transformada em Prefeitura Municipal no ano de 1908. A partir de então, estas duas instituições começaram a realizar de maneira combinada as funções legislativa (Câmara) e executiva (Prefeitura) do governo local.

Historicamente, os presidentes da Câmara Municipal de São Carlos, entre 1865 e 1890, somaram um total de oito representantes locais. Já, de 1890 a 1892, quanto ao cargo de presidente do Conselho de Intendência, o município teve quatro distintos ocupantes da função. Por outro lado, entre 1892 e 1908, São Carlos verificou oito mandatos de presidentes da Câmara e da Intendência municipais, com doze representantes se sucedendo ou ocupando cargos distintos em mandatos alternados. Enfim, no período de 1908-1930, existiram dez prefeitos na localidade104. Depois de 1930 e em razão das mudanças sociais e políticas que alteraram as relações entre o governo nacional, o estadual e o municipal, São Carlos foi governada de forma intermitente por diferentes “prefeitos-interventores”, que ocuparam este cargo por períodos bem curtos. Foi um período de maior instabilidade política e administrativa em razão não apenas da Revolução de 1930, mas também da Revolução Constitucionalista de 1932 e da não efetivação da Constituição de 1934. Com isso, nota-se a ocorrência de nomeações de prefeitos municipais por interventores federais. Ao todo, nessa fase da história brasileira, onze prefeitos foram nomeados nessas condições em São Carlos.

Neste contexto formativo da política são-carlense no início da República, pode- se observar como ocorria com rapidez a integração e participação de médicos na dinâmica política local. Este foi o caso do doutor Antonio Rodrigues Cajado, considerado o primeiro médico a fixar residência em São Carlos (1873), sendo ainda

104 Conforme levantamento realizado pela Fundação Pró-Memória da Prefeitura de São Carlos, constante

em: Prefeitura Municipal de São Carlos-Estação Cultura/Fundação Pró-Memória de São Carlos. Galeria dos Prefeitos: sala Antonio Massei. São Carlos, 2ª edição (revista e ampliada), 2012.

147 delegado de polícia, além de vereador (entre 1883-1886). O médico prestou serviços aos enfermos que sofreram com a epidemia de varíola que atingiu a localidade em 1875 e, assim como outros colegas de profissão de sua época, veio da região nordeste do país, a fim de trabalhar e se fixar em São Carlos após concluir sua formação profissional pela Faculdade de Medicina da Bahia.

Com efeito, a integração de médicos à vida política local respeitou, desde o início, as relações entre as facções políticas existentes em São Carlos. Dessa maneira, dentre os representantes da denominada “ala botelhista” do PRP local, é possível destacar aquele que foi o primeiro prefeito da cidade após a era das chamadas Intendências Municipais, ou seja, o doutor Rodolpho Gastão de Sá – prefeito municipal entre janeiro de 1908 e janeiro de 1912105. Aliás, antes desse mandato como prefeito o doutor Gastão de Sá também já havia sido vereador e presidente da Câmara Municipal de São Carlos, entre 07/01/1881 e 06/01/1887, e presidente do Conselho de Intendência da localidade, nos períodos de: 18/01/1890 a 29/03/1891; 07/01/1902 a 07/03/1903; e 08/01/1903 a 07/01/1905. Enquanto membro do PRP são-carlense, ele ainda participava ativamente dos processos eleitorais relativos a outras esferas de poder, tanto em nível estadual como nacional106. A liderança médica e política deste médico expressa, em boa medida, o prestígio social e político que seu grupo profissional desde cedo estabeleceu com os poderes locais em São Carlos e, ao mesmo tempo, como se firmaram as conexões entre profissionais da medicina e demais setores sociais e políticos das elites municipais.

Outro destacado médico do período em atividades profissionais e políticas – e que, como se observou anteriormente, possuía relevo por suas demais relações com o meio profissional da medicina local e de fora do município, foi o doutor Serafim Vieira de Almeida107, o qual foi vereador e presidiu a Câmara Municipal de São Carlos entre

105

Com efeito, através do Decreto-lei nº. 1.533, de 28 de novembro de 1907, encerrou-se no país o período das Intendências Municipais e se iniciou a fase das Prefeituras e prefeitos municipais.

106 Exemplo disso foi seu papel no diretório são-carlense do PRP durante as eleições federais de 1912,

quando participou da convocação e campanha junto à população para eleição da chapa de seu partido neste pleito. É o que se lê em: Correio de São Carlos, de 18 de janeiro de 1912, p. 1. Também é o caso da campanha do partido para as eleições estaduais de 1912, a qual contou com a participação do doutor Gastão de Sá. É o que se verificar em: Correio de São Carlos, de 29 de fevereiro de 1912, p. 1. Outras informações sobre o mesmo doutor Rodolpho Gastão Fernandes de Sá foram observadas em consulta online ao site da Câmara Municipal de São Carlos, em 08 de novembro de 2013, no seguinte endereço eletrônico: http://www.camarasaocarlos.sp.gov.br/portal/index.php/conheca-a-camara/listas-dos- presidentes.html.

107 Conforme informações encontradas sobre o Dr. Serafim Vieira presentes em reportagem de Eloiza

Strachicini, cujo título é “Nome de Rua: Serafim Vieira de Almeida. Médico, filantropo e esquerdista”, publicada pela Revista Kappa de São Carlos em 23 de abril de 2013. A autora obteve essas fontes partir

148 07/01/1905 e 07/01/1906108. O doutor Serafim Vieira participou da articulação política realizada em torno da Legião Revolucionária de São Carlos e Região, que estabeleceu proximidade com o conhecido movimento tenentista de 1922. Nas disputas políticas daquele tempo em São Carlos, embora fosse uma personalidade local com estatura política própria e prestígio social, o médico, assim como o doutor Gastão de Sá, manteve clara proximidade com a “ala botelhista” do PRP são-carlense – uma decorrência, no mínimo indireta, de sua ligação matrimonial com a filha do coronel Paulino Carlos de Arruda Botelho. O médico teve quatro filhos, sendo que dois deles também fizeram carreira no meio político. Estes foram: Paulino Botelho Vieira, o primeiro prefeito do município de Marília; e Clóvis Botelho Vieira, que participou da organização da Revolução de 1930, em São Paulo. Por outro lado, além de Anna, sua única filha, o doutor Serafim Vieira também foi pai do doutor João Paulo Botelho Vieira, que seguiu os caminhos profissionais de seu pai (Strachicini, 2013).

Caberia igualmente relembrar as já mencionadas relações com a localidade, do doutor Carlos Botelho, o qual, além de membro da importante família Arruda Botelho, não apenas foi titular da Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo, durante o governo de Jorge Tibiriçá, mas veio a se candidatar ao cargo de deputado estadual para o legislativo paulista. Em suas atividades políticas, o doutor Carlos Botelho contou com apoio político de grupos sociais de São Carlos – sejam pelas relações e prestígio político de sua família, sejam pelas consequentes conexões que o doutor Carlos Botelho possuía com a medicina são-carlense e da capital paulista, pois, como observado, estas conexões estendiam-se à própria Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo – à época, a mais importante e prestigiada entidade associativa dos médicos paulistas.

Já o médico e coronel, doutor José Augusto de Oliveira Salles, foi vereador, juiz de paz e presidente da Câmara Municipal de São Carlos. Em sua gestão como presidente da Câmara Municipal concluiu a rede de abastecimento de água que estava em construção àquela época, participou da inauguração da Santa Casa de Misericórdia de São Carlos e fundou o Hospital dos Lázaros, mais tarde transformado em Villa Hansen – instituição dedicada ao cuidado de pacientes são-carlenses acometidos de hanseníase (Machado, 2004, p. 385).

de depoimento do historiador Marco Bala, dedicado ao estudo da história local. Esta publicação da Revista Kappa refere-se a sua edição nº. 69, ano 03, nº. 21, pp. 20-21, 2013.

108 De acordo com dados obtidos no site da Câmara Municipal de São Carlos, em consulta online

realizada em 08 de novembro de 2013, no correspondente endereço eletrônico que se encontra indicado a seguir: http://www.camarasaocarlos.sp.gov.br/portal/index.php/conheca-a-camara/listas-dos- presidentes.html.

149 O doutor Samuel Valentie de Oliveira foi outro notório médico local que veio a ser nomeado prefeito de São Carlos no conturbado período de 10/03/1934 a 10/04/1935. O doutor Samuel teve participação ativa também na Revolução Constitucionalista de 1932 (Machado, 2007), que mobilizou expressivos grupos sociais e médicos do estado (Santos & Mota, 2010). Aparentemente este médico e político exerceu um posicionamento relativamente neutro diante dos grupos políticos locais dominantes até 1945, ou seja, de um lado, os chamados “sallistas” e, de outro lado, os grupos da facção “botelhista” (Abreu, 2000). Devido à instabilidade política do período, o doutor Samuel Valentie exerceu seu mandato como prefeito municipal por um período bem curto de apenas um ano e um mês109. Em realidade, o médico – que foi clínico e delegado regional de saúde, membro do IAPB e do posterior INPS, já no período pós-1930110, foi ainda diretor da futura Maternidade “Dona Maria Francisca Cintra Silva” (Machado, 2004, p. 386) – e ocupou posição de destaque e liderança não apenas na esfera político- partidária, mas igualmente junto aos pares e às instâncias de representação profissional típicas da medicina paulista dos anos pós-1945. Neste sentido, deve-se enfatizar que a trajetória do profissional foi marcada por sua participação no processo de fundação da Sociedade Médica de São Carlos, a qual foi criada já na democracia brasileira de 1945- 1964 (precisamente no ano de 1948111), sendo ainda seu presidente entre os anos de 1958 e 1961112.

109 Conforme dados extraídos de: Prefeitura Municipal de São Carlos-Estação Cultura/Fundação Pró-

Memória de São Carlos. Galeria dos Prefeitos: sala Antonio Massei. São Carlos, 2ª edição (revista e ampliada), 2012.

110 Sobre as duas siglas, deve-se dizer que significam: a) IAPB – Instituto de Aposentadoria e Pensões dos

Bancários; INPS – Instituto Nacional de Previdência Social.

111 De acordo com livro de atas de reuniões e assembleias da Sociedade Médica de São Carlos: Livro de

Atas, nº 01 – de 14/04/48 a 05/01/1955.

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Em conformidade ao que consta em atas de reuniões e assembleias da Sociedade Médica de São Carlos: Livro de Atas nº 3 – de 1958 a 1961. Com efeito, ainda no final dos anos 1940 a Sociedade