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CAPÍTULO II – A Arte de Ensinar e a Magia de Aprender

2.5. Os Materiais como Fonte Primordial de Aprendizagem

Como sabemos, a sala de aula é um espaço de aprendizagem que o professor gere e organiza de acordo com a sua intencionalidade pedagógica. Assim, a forma como o docente planifica as aulas e seleciona os recursos necessários à sua ação determinam o modo como os alunos aprendem. Como tal, é fundamental que no momento de planificação das atividades o professor inclua estratégias de manipulação, que proporcionem aos alunos o contacto com objetos físicos (Lopes & Silva, 2010). Isto porque, devemos habituar os alunos a utilizarem uma diversidade de materiais, tanto material concebido especialmente para o ensino de determinadas áreas, como objetos do dia-a-dia, que os ajudem a raciocinar, refletir e comunicar (Ponte & Serrazina, 2009).

Importa salientar que ao efetuar a revisão da literatura acerca desta temática, verifiquei que a maioria dos autores cinge a manipulação de materiais à área da Matemática. Todavia, na perspetiva de Caldeira (2009):

o material é qualquer objecto manipulável, utilizado na sala de aula, para auxiliar o ensino (e os professores), a aprendizagem (dos alunos), tendo o papel de auxiliar na construção/reconstrução de conceitos, servindo de mediador, por meio da manipulação e análise, às teorias e às práticas sociais (p. 19).

Desta forma, considero que não é apenas na aprendizagem dos conceitos matemáticos que os alunos necessitam de usar materiais, visto que no Português e no Estudo do Meio também existem conteúdos de difícil compreensão, em que a utilização desses recursos é igualmente essencial.

Relativamente ao conceito de materiais, evidencia-se que os autores apresentam diversas nomenclaturas. Zabala (1998) utiliza a denominação “materiais curriculares” para designar os “meios que ajudam a responder aos problemas concretos que as diferentes fases do processo de planeamento, execução e avaliação (…) apresentam” (p. 168). De acordo com este autor, o conceito de “material curricular” inclui todos os materiais que são utilizados pelo professor.

Por sua vez, Graells (referido por Botas & Moreira, 2013), em vez de material curricular assume a noção de “recursos educativos”, para caracterizar tudo aquilo que o professor utiliza, que pode facilitar a aprendizagem do aluno e que é usado na sua formação específica. Enquanto, Royo (referida por Caldeira, 2009) defende o conceito de “material educativo”, considerando-o como aquele material cuja manipulação incita o desenvolvimento de determinadas destrezas e atitudes, aumentando gradualmente as capacidades percetivas, representativas e conceptuais da criança. Assim, o material

educativo “não é um meio que facilita o ensino, é o ensino em si mesmo” (Caldeira, 2009, p. 17).

É de salientar que, diversos autores defendem, preferencialmente, o conceito de “material didático”, definindo-o como todos os recursos educativos que são utilizados pelo professor e pelo aluno, de forma a facilitar o processo de ensino-aprendizagem. O material didático aproxima a criança à realidade e é criado especificamente com o objetivo de facilitar a aprendizagem (Bezerra, 1962; Graells, referido por Botas & Moreira, 2013; Mansutti, 1993; Royo, referida por Caldeira, 2009). No entanto, podem existir recursos educativos que não são didáticos, por exemplo, a balança não foi criada com a finalidade de servir a aprendizagem, mas é habitualmente utilizada na demonstração de conceitos matemáticos.

Alguns autores defendem, ainda, a noção de “materiais manipuláveis”, nomeadamente, Reys (citado por Matos & Serrazina, 1996), que os considera como objetos reais que possuem uma aplicação no dia-a-dia e que podem ser usados para representar um conceito ou uma ideia. Na perspetiva de Vale (1999), o material manipulável é todo “o material concreto, de uso comum ou educacional, que permita, durante uma situação de aprendizagem, apelar para os vários sentidos dos alunos, devendo ser manipulados, e que se caracterizam pelo envolvimento activo dos alunos, por exemplo o ábaco, geoplano (…)” (p. 112).

No que diz respeito à pertinência da utilização de materiais na sala de aula, todos os autores estão em concordância, considerando que estes recursos têm uma função importante na aprendizagem, na medida em que facilitam a observação e a análise de conteúdos, promovem o desenvolvimento do raciocínio lógico, científico e crítico e auxiliam os alunos na construção dos conhecimentos (Caldeira, 2009). É de referir que a utilização de materiais, na visão de Caldeira (2009), permite ao aluno construir, integrar, modificar e interagir com o mundo físico, ajudando-o a aprender, fazendo. Esta autora acrescenta, ainda, que “os materiais permitem a tentativa e o erro; facilitam a comunicação e interacção entre os alunos (…); proporcionam ao professor a observação das diferenças individuais, o modo como os alunos entendem uma situação e pensam numa solução” (p. 32).

Além disso, segundo Serrazina (1990), algumas investigações feitas nesta área demonstram que os alunos que utilizam materiais no processo de aprendizagem, apresentam melhores resultados do que aqueles que não tiveram essa oportunidade. É de acrescentar que o uso de materiais implica um envolvimento ativo dos alunos nas

situações de aprendizagem (Danielson, 2010; Matos & Serrazina, 1996); representam um meio pelo qual o aluno pode encontrar novas formas de ser e de fazer (Caldeira, 2009); estimula a ação mental (Alsina, 2004); constituem mediadores no processo de significação de conteúdos, na medida em que através deles os alunos vão descodificando, comparando e construindo o conhecimento (Bordenave & Pereira, 1986; Caldeira, 2009); permitem a observação total de uma situação, incluindo toda a sua complexidade e evitando perceções parciais (Bordenave & Pereira, 1986) e contribuem para uma aprendizagem eficaz e significativa, uma vez que aliam o lúdico ao jogo, estimulando a criatividade, incentivando o aluno a refletir e possibilitando a aquisição de novos conhecimentos (Caldeira, 2009; Serrazina, 1990).

Atente-se, ainda, no facto de a manipulação de materiais auxiliar os alunos na compreensão de conceitos abstratos, visto que através dos mesmos é possível ilustrar, representar e demonstrar alguns conteúdos difíceis de perceber (Alsina, 2004; Bordenave & Pereira, 1986; Ponte & Serrazina, 2009). Naturalmente, é essencial que o professor proporcione diversos momentos em que os alunos possam explorar materiais, não só na introdução de conceitos, mas também quando trabalham com novas ideias. Note-se que os alunos devem ter tempo para trabalhar com os materiais, sendo que estes devem estar sempre disponíveis, caso os alunos sintam necessidade de usá-los (Alsina, 2004; Gomide, 1970; Matos & Serrazina, 1996). Com efeito, partilho da opinião de Alsina (2004), quando esta refere que:

o processo ideal de ensino-aprendizagem deveria incluir a manipulação de diferentes materiais, já que só a partir de um ensino diversificado, rico em recursos e estratégias para abordar uma mesma aprendizagem, se conseguirá que as aprendizagens (…) sejam interiorizadas de forma significativa e aumente o grau de consciência sobre eles (p. 9).

Importa frisar que, a necessidade de utilização dos materiais varia tendo em conta o ritmo de aprendizagem dos alunos, visto que alguns alunos podem passar mais rapidamente para as representações figurativas dos conteúdos, do que outros que necessitam de utilizar os materiais durante mais tempo. Neste sentido, é fundamental que o professor esteja atento a estas diferenças e acompanhe o desenvolvimento individual de cada aluno (Matos & Serrazina, 1996).

Além disso, é preciso ter em atenção que os materiais por si só não geram aprendizagem, o uso que lhes é dado é determinante, tendo o professor de refletir acerca de como, quando e porquê estes devem são utilizados (Caldeira, 2009; Danielson, 2010; Serrazina, 1990). Ainda assim, mesmo com o auxílio dos materiais alguns alunos podem

não conseguir associar os conceitos abstratos às demonstrações e representações concretas, como tal é importante que ao longo do processo de ensino-aprendizagem o professor discuta com os mesmos sobre as relações que podem ser estabelecidas com os materiais e lhes coloque questões, a fim de compreender se a aprendizagem está a ser eficaz (Matos & Serrazina, 1996).

Finalmente, importa acrescentar que o professor deve conhecer bem os materiais que utiliza (Caldeira, 2009) e deve ter em atenção algumas regras fundamentais na sua utilização, nomeadamente, o facto de ser o aluno a explorar o material, visto que “é tão ineficaz ser o professor a usar o material, com o aluno a ver, como ter o aluno a mexer no material sem saber o que está a fazer” (Ponte & Serrazina, 2009, p. 116). É, igualmente, importante que o primeiro contacto do aluno com o material ocorra de forma lúdica e que o mesmo possa fazê-lo livremente, dado que é durante essa primeira abordagem que o aluno compreende a sua constituição (Caldeira, 2009; Cardoso, 2002). Acrescenta-se, por fim, que “um uso inadequado e pouco exploratório de qualquer material manipulável pouco ou nada contribuirá para a aprendizagem (…). O problema não está na utilização desses materiais mas na maneira como utilizá-los” (Nacarato, 2005, p. 4).