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Os padrões espaciais e as variáveis de análise

3 SOBRE A ARQUITETURA E A CONSTRUÇÃO/SELEÇÃO DOS

3.4 Sintaxe Espacial: a medição da complexidade

3.4.1 Os padrões espaciais e as variáveis de análise

Segundo Holanda (2002, p.96), as categorias de análise selecionadas devem servir para responder a questionamentos acerca do objetivo principal da teoria: o estabelecimento de ―relações entre espaço e sociedade, a última entendida como um sistema de probabilidades de encontros‖.

Hillier e Hanson (1984, p. 54), afirmam que a organização do homem no espaço é ―o estabelecimento de padrões de relações compostos essencialmente de barreiras e de permeabilidades de diversos tipos‖. O território pode ser entendido como um vazio contínuo até que sejam impostas, nele, as barreiras. A distribuição das barreiras, geradoras de passagens no espaço, condiciona a existência de um ―sistema de encontros e de restrições que constituem a sociedade‖ (Holanda, 2002, p.96).

Como a teoria da lógica social do espaço está sendo utilizada nessa pesquisa como um instrumento de aferição da possível ausência de humanização no espaço e por este conceito estar atrelado ao fato das instituições totais se organizarem em torno do lema supremo da vigilância e do controle, as ferramentas da sintaxe espacial que nos interessa são aquelas voltadas ao estudo da profundidade do sistema espacial, através de estudos de permeabilidade tomando por base a classificação dos espaços-tipo no que diz respeito às propriedades referentes a acessibilidade e visibilidade (Hillier, 1996; Amorim, 2013), já que esta classificação dá pistas de como a disposição espacial e seu jogo de aberturas, permite as atividades de supervisão e vigilância no espaço.

Sobre os tipos de comportamento humano na ocupação de edifícios, Hillier (1996, p. 248) afirma que ―é útil começar considerando-os da forma mais genérica possível‖, sem ater- se ao propósito ou significado da atividade, mas sim à sua manifestação física e espacial ―ou seja, o que realmente pode ser observada sobre a atividade humana por , digamos, um extra- terrestre que não tinha idéia do que estava acontecendo e só poderia registrar observações‖ (idem, p. 248).

Assim, de forma genérica, o autor defende que podem ocorrer no espaço: ocupação e movimento. Ocupação é definida como o uso do espaço para atividades que tem características, parcialmente, ou em sua grande parte, estáticas e pode englobar, também, pequenos movimentos dentro de uma mesma unidade espacial. Já o conceito de movimento

engloba a movimentação entre os espaços, ou seja, a relação entre eles. Desta forma, ―ocupação usa as propriedades locais de espaços específicos e o movimento as propriedades mais globais do padrão de espaços‖ (Hillier, 1996, p.249).

Daí pode-se extrair outra diferença acerca da forma espacial que as atividades de ocupação e movimento solicitam. A primeira demanda formas convexas, ou seja, aqueles em que ―nenhuma linha pode ser traçada entre quaisquer dois pontos do espaço que passe por fora dele‖ (Hillier & Hanson, 1984, p.54), pois ―envolve a interação ou co-presença‖ (Hillier, 1996, 249) e apenas em espaços convexos se pode estar ciente da ocupação de todo o espaço. Já o movimento é essencialmente linear e, por conseguinte, solicita que o espaço também o seja. Segundo Hillier (1996, p. 250), para o movimento ser inteligível e eficiente, ―deve haver linhas claras e relativamente desimpedidas através dos espaços‖.

Da existência de espaços mais propícios à ocupação e outros ao movimento, surge o estudo dos diferentes tipos de espaços de acordo com as relações que se estabelecem dentro de um sistema espacial.

3.4.1.1 Tipos de espaços - acessibilidade (Hillier, 1996; Amorim, 2013)

Segundo Hillier (1996, p.250), existem quatro tipos de espaços (ou espaços-tipo), de acordo com as propriedades de adjacência e acessibilidade, são eles: tipo a, chamados de espaços finais, aqueles que contem apenas uma conexão; tipo b, que possuem mais de uma conexão e ―medeiam o acesso entre dois espaços adjacentes em uma sequência‖ (Amorim, 2013, p.10); tipo c, possuem mais de uma conexão e, ao menos, um anel ou ciclo, possibilitando o movimento; tipo d, possuem, ao menos, duas conexões e dois ciclos.

Dessa forma, espaços do tipo a, por não possibilitarem o movimento, sendo finais em uma sequência de espaços, seriam mais adequado à ocupação. Já os espaços do tipo b, possibilitam o movimento, porém com alto grau de controle, por possuir rotas únicas e pelo fato do movimento de retorno de uma rota passar pelo mesmo espaço da ida. Os espaços do tipo c, também possibilitam o movimento restringindo sequências de espaço, porém sem o requisito do retorno encontrado em ―b‖. Por fim, espaços do tipo d, permitem o movimento com baixo grau de controle já que permite a escolha de rotas nos dois sentidos.

Figura 23: Exemplo de espaço-tipo segundo acessibilidade de acordo com Hillier (1996) e grafo justificado.

Fonte: Amorim, Lins Filho, 2013.

No entanto, Amorim (2013, p.10) afirma que

o uso das propriedades de acessibilidade como referência única para a classificação dos espaços-tipo não parece ser suficiente para representar o fenômeno em tela. Faz- se necessário incluir no modelo descritivo as propriedades de visibilidade do sistema, notadamente pela importância na concepção de sistemas espaciais, seja para garantir boa inteligibilidade, portanto, fácil navegação, seja para oferecer as condições de vigilância e supervisão, muitas vezes requerida.

3.4.1.2 Tipos de espaços - visibilidade (Amorim, 2013)

Complementando o modelo proposto por Hillier (1996), Amorim (1999; 2013) apresenta a classificação de unidades convexas segundo propriedades de adjacência e visibilidade, onde ―se uma porção de um espaço convexo, adjacente ou não, for visto de um terceiro, então a relação entre os dois espaços é estabelecida, independente da área visível‖ (idem, 2013, p.11).

A classificação desses espaços, segundo o autor é: espaço-tipo α, com apenas uma

conexão visual a um espaço adjacente; espaço-tipo β, que possui, ao menos, duas conexões visuais com espaços adjacentes; espaço-tipo γ, que conecta-se ―visualmente, no mínimo, a um espaço não adjacente e todos os espaços a quem ele se conecta são visíveis entre si, constituindo uma rede de mútua visibilidade‖ (Amorim, 2013, p.12); espaço-tipo que também possui conexão visual com espaços não-adjacentes mas nem todos estão mutuamente conectados.

Como conclusão, o autor traz que

a característica principal do espaço-tipo α é o de se constituir como um espaço recluso, que oferece pouca informação visual acerca das unidades espaciais que compõem a edificação. Já o espaço-tipo β pode se prestar para a supervisão ou vigilância dos espaços adjacentes. Já os espaços-tipo γ e δ oferecem amplos campos visuais e permitem uma compreensão do sistema espacial como um todo, além de permitir a supervisão e vigilância de espaços. Por estas características, os espaços-

tipo α, β e γ, por terem características mais restritas de visibilidade entre espaços, ocorrem com menos frequência quando comparando especificamente aos espaços- tipo δ. (Amorim, 2013, p.12)

Figura 24: Espaços tipo segundo visibilidade de acordo com Amorim (2013) e grafo justificado.

Fonte: Amorim, Lins Filho, 2013.

3.4.1.3 Tipos de espaços - acessibilidade e visibilidade (Amorim, 2013)

Cruzando os tipos de espaços quanto as propriedades de acessibilidade e visibilidades, Amorim (1998, 2013) traz o sistema aα |dδ, que é composto por treze espaços-tipo:

(a) espaço-tipo aα é acessível por apenas um espaço e oferece visão para a apenas este espaço adjacente; (b) espaço-tipo aβ é acessível por apenas um espaço e oferece visão para mais de um espaço adjacente, ao menos por meio de uma barreira transparente; (c) o espaço-tipo aγ é acessível por apenas um espaço e está conectado visualmente com, no mínimo, um espaço não adjacente e todos os espaços a quem ele se conecta são visíveis entre si, constituindo uma rede de mútua visibilidade; (d) já o espaço-tipo aδ mantém as propriedades reclusão quanto à acessibilidade e apresenta conectividade visual para espaços não adjacentes, mas alguns destes não estão mutuamente conectados; (e) o espaço-tipo bβ é acessível por dois espaços e tem domínio visual de, no mínimo, dois espaços adjacentes; (f) espaço-tipo bγ é acessível por dois espaços e está conectado visualmente a uma rede de mútua visibilidade com, no mínimo, um espaço não adjacente; (g) espaço-tipo bδ é acessível por dois espaços e faz parte de uma rede de visibilidade onde alguns dos seus componentes não são visíveis entre si; (h) o espaço-tipo cβ faz parte de um anel e tem domínio visual de, no mínimo, dois espaços adjacentes; (i) espaço-tipo cγ está inserido em um anel e está conectado visualmente a uma rede de mútua visibilidade com, no mínimo, um espaço não adjacente; (j) espaço-tipo cδ faz parte de um anel e está inserido em uma rede de visibilidade onde alguns dos seus componentes que não compartilham acesso visual; (k) o espaço-tipo dβ está inserido em, no mínimo dois anéis e tem domínio visual de, no mínimo, dois espaços adjacentes; (l) espaço- tipo dγ faz parte de, no mínimo, dois anéis e está conectado visualmente a uma rede de mútua visibilidade com, no mínimo, um espaço não adjacente; (m) espaço-tipo dδ faz parte de, no mínimo, dois anéis e faz parte de uma rede de visibilidade onde alguns dos seus componentes não são visíveis entre si.

Esta análise dos tipos espaciais é, muitas vezes, utilizada na comparação de edifícios históricos. No entanto, aqui será utilizada para a descrição espacial de um único exemplar pelo seu caráter morfológico de interessantes constatações, como, por exemplo, a identificação de sistemas espaciais que favoreçam o controle.