Os pais estimulam o filho utilizando desenho de animais e sinais

Eu continuava sempre atenta e preocupada sobre qual seria a melhor estratégia para continuar estimulando adequadamente a aquisição da Libras pelo meu filho, à medida que ia crescendo. Procurava em literaturas, na mídia, mas praticamente não encontrava materiais que pudessem me auxiliar. Então eu tive a ideia de recortar figuras de animais e também das cores e colar nas paredes da casa, usando o espaço visual dele, já que Gabriel sempre gostou muito de animais.

Quando ele estava com a idade de um ano, comecei a mostrar-lhe as imagens dos animais e depois sinalizava cada animal em Libras, com seus tipos, características, texturas, cores e tudo que envolvia o animal. Também fiz uso das expressões facial e corporal para facilitar a compreensão dele. Montei diversas frases: Afirmativas, Negativas, Exclamativas e Interrogativas, sempre repetindo e reforçando os sinais dos animais.

Essas atividades foram também desenvolvidas a fim de estabelecer um relacionamento e interação mais forte entre os pais surdos e o filho ouvinte. Depois, brincávamos de forma que os pais sinalizavam e o bebê deveria apontar para a figura correta.

A exemplo, a didática que seguíamos era assim realizada: 1. Sinalizávamos um animal: Ex. ‘B-O-R-B-O-L-E-T-A’; 2. Pedíamos para o CODA repetir o sinal;

3. Gabriel ia até a parede e apontava onde estava a figura da ‘borboleta’; 4. Os pais reforçavam o sinal e diziam se o CODA sinalizou ‘C-E-R-T-O’ ou

‘E-R-R-A-D-O’.

Também sinalizávamos, com bastante ênfase, as expressões faciais que compõem os sinais de alguns animais, considerando a sua importância.

A exemplo:

“L-E-Ã-O”: O rosto configura-se em uma expressão de bravo, zangado, conforme figura 26.

“B-A-L-E-I-A”: A bochecha incha e em seguida solta-se o ar, acompanhando a localização e movimentos das mãos, conforme figura 27.

Figura 26: Expressão facial de LEÃO

Figura 27: Expressão facial de BALEIA

A Figura 28 mostra a estratégia utilizada com uma série de animais colados na parede, onde o Gabriel brincava e ia aprendendo os sinais.

Figura 28: Imagens de animais coladas na parede

Gabriel foi adquirindo, assim, o conhecimento real de vários animais, com seus sinais correspondentes. Alguns brinquedos eletrônicos que ele havia ganhado, também lhe proporcionavam o som característico dos animais. O animal que ele conhecia bem e tinha mais intimidade era o cachorro, já que nós tínhamos um, em nossa casa.

Continuei pensando e criando outras estratégias visuais. Em quase todos os espaços da casa, onde ele brincava, como no quarto, no berço, no banheiro (figura 29), etc, colocava adesivos com imagem de bichinhos. Ainda, espalhava animais de pelúcia pela casa (figura 30), brinquedos e livros com bastantes gravuras de animais, como ilustrado na figura 31, com textos escritos em Português.

Figura 30: Brinquedos do Gabriel

Figura 31: Livros com muitas imagens e textos em Português

Estimulávamos sempre o filho CODA com estratégias e atividades diferentes, para desenvolver assim, o seu processo visual, a atenção e a aprendizagem da língua de sinais.

Continuando a criação de didáticas, colocávamos o brinquedo no chão ou no sofá. Daí fazíamos o sinal de ‘S-A-P-O’, por exemplo; Gabriel prontamente pegava o bichinho que representava o animal. Percebemos, neste exercício/brincadeira, que ele pegava sempre o animal correto e compreendia perfeitamente o que estava sendo

sinalizado. Porém, o vocabulário que usamos no cotidiano como ‘comer’, ‘banho’, ‘dormir’, ‘mamadeira’ e outros, ele sinalizava pouco.

Na figura 32 mostra o pai sinalizando para Gabriel e interagindo com animais de pelúcia.

Figura 32: Pai sinalizando para Gabriel

Numa noite, muito especial para mim, voltando cansada do trabalho, meu esposo e Gabriel estavam brincando com alguns animais de pelúcia. O meu marido logo me contou que Gabriel conseguiu sinalizar sozinho o nome dos animais. Fiquei desconfiada e muito curiosa para ver. Então me aproximei para observar e, com o celular na mão, gravei a façanha: o pai apontou para o cachorro e, com a cabeça fez o sinal de interrogação. Gabriel respondeu, sinalizando ‘cachorro’ corretamente; o pai lhe fez sinal de ‘certo’. Por sua vez, Gabriel apontou para o sapo e sinalizou ‘sapo’. Novamente o pai lhe sinalizou ‘certo’.

Continuaram sinalizando vários outros objetos/animais, até que o pai sinalizou perguntando: - “ONDE ESTA O COELHO? PEGUE O COELHO”. Gabriel achou o coelho e deu ao pai. E ainda, “ONDE ESTA O CAVALO?” Foi quando Gabriel imitou o cavalo, pulando como faz o animal.

Para aumentar a minha curiosidade e alegria, pedi ao pai para pedir a Gabriel, “ ONDE ESTAVA A MAMÃE”. O pai sinalizou perguntando: - ONDE ‘M-A-M-Ã-E’? Gabriel

não sinalizou, apenas olhou para onde eu estava; seus olhos foram muito rápidos para mim. Eu estava filmando e fiquei muito emocionada.

Na figura 33 mostro a interação entre pai e filho, em que o Heron mostra um animal de pelúcia e pede para Gabriel mostrar o sinal correspondente.

Figura 33: Gabriel sinalizando o sinal de “cachorro”

Um fato curioso, nesta fase, foi quando Gabriel estranhou o narigão do palhaço. Daí explicamos para ele o porquê do narigão. Acreditei que ele estivesse entendendo o significado porque ele tocou e mexeu seu próprio nariz, fazendo comparação. Sempre que Gabriel tinha dúvida sobre qualquer objeto ou coisa diferente, nós dávamos explicações para ele.

Um detalhe importante na linguagem de sinais é o uso da expressão facial. Em uma determinada ocasião, sinalizei para o filho ‘L-E-Ã-O’, com uma expressão facial de ‘bravo’. Gabriel assustou-se, olhando para o rosto da mãe que estava brava; não entendeu. Percebendo que ele havia estranhado e ficado com medo, expliquei a ele o significado da expressão, que fazia parte do sinal, pela característica do animal. Gabriel não respondeu, somente ficou com expressão de dúvida. Então, expliquei sobre as características do Leão, mas, na verdade, para ele ainda ficou confuso.