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2.5 PRINCIPAIS COMPONENTES DOS PROJETOS NACIONAIS DE EDUCAÇÃO A DISTANCIA

2.5.6 Os papéis do Docente na Educação a Distância e o Acompanhamento Tutorial

Muitas vezes, confundido com outros atores dos projetos, os professores que atuam na educação a distância têm sobre si enormes responsabilidades, pois, além de domínio de conteúdo, espera-se deles capacidade de promover a motivação dos alunos, alto envolvimento e domínio das novas tecnologias da informação, facilidade na comunicação escrita, criatividade, curiosidade e uma enorme capacidade de interação e dialogicidade. Nos projetos que contêm vídeo- aula, também é necessário que o profissional tenha os pré-requisitos básicos para os apresentadores e ou atores de TV: espontaneidade, familiaridade com a câmara, boa aparência, impostação de voz, postura..., enfim, as tarefas e expectativas sobre o professor que atua na área não são nada modestas.

Mas é importante ressaltar que as descrições encontradas na literatura da área e nos anúncios dos programas que estão disponíveis no mercado, não raro, são de tipos idealizados de profissionais distantes da realidade operacional da maioria dos programas em execução, ou então, são superdimensionadas, pois é comum encontrarmos na prática diferentes profissionais exercendo as funções que alguns autores atribuem, genericamente, ao professor da EAD – como se este fosse um único profissional a exercer uma dúzia de atividades.

Voigt e Leite (2004) partiram dos papéis que os professores em cursos de EAD podem desempenhar para investigar que papéis são estes e como se dá, e se existe integração entre esses professores nas etapas de planejamento, desenvolvimento e avaliação de cursos de EAD.

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Partindo de análises e leituras a respeito, foram identificados os papéis de: professor formador, realizador de cursos, pesquisador, tutor, tecnólogo educacional, professor recurso e monitor, permitindo perceber a existência de uma complexidade de funções.

As autoras enfatizam as diferenças de posturas e comportamentos a serem adotados pelos professores presenciais ao adentrarem na educação a distância, e utilizam o quadro abaixo, apresentado por Beloni (2001), para sintetizar seus argumentos.

PROFESSOR PRESENCIAL PROFESSOR DA EAD

* De mestre (que controla e administra as aulas).

* Para parceiro (prestador de serviços, quando o aluno sente necessidade, ou conceptor – realizador de materiais).

* Só se atualiza em sua área específica; * Atualização constante, não só de sua disciplina;

* Passar do monólogo sábio de sala de aula; * Para o diálogo dinâmico dos laboratórios, salas de meios, e-mails, telefone etc; * Do monopólio do saber; * À construção coletiva do conhecimento,

através da pesquisa;

* Do isolamento individual; * Aos trabalhos em equipes interdisciplinares e complexas;

* Da autoridade; * À parceria; * Formador – orienta o estudo e a

aprendizagem, ensina a pesquisa, a processar a informação e a aprender...

* Pesquisador – reflete sobre sua prática pedagógica, orienta e participa da pesquisa de seus alunos...

Quadro 3 Comparação dos papéis dos professores presenciais e EaD Fonte: BELLONI, 2001, p. 83

As comparações apresentadas pela autora no Quadro , como ocorre em grande parte dos quadros comparativos, parece subdimensionar os papéis do professor presencial para ressaltar as características extras, necessárias para o bom desenrolar da docência na educação a distância.

Acreditamos que exigências como as de parceria, atualização, facilitação do diálogo, estímulo da integração e dos trabalhos em equipe, incentivo à construção do conhecimento, capacidade e curiosidade de aprender, sempre, já há muito fazem parte da atuação docente, em todas as modalidades e níveis. No entanto, a familiaridade com as novas TICs, a capacidade de integração e

comunicação multimeios3, além da capacidade de motivar e criar envolvimento por essas vias; essas sim são exigências específicas desse tipo de docência.

Independente das descrições românticas e enobrecedoras atribuídas aos professores da EAD, na prática, o que os profissionais que atuam nesta área precisam desenvolver com mais ênfase que na educação presencial são as habilidades tecnológicas para estarem aptos a utilizarem, da melhor forma, a enormidade de recursos existentes e, principalmente, treinar um tipo de comunicação que seja efetiva, envolvente e transformadora.

Nesta linha, consideramos importante buscar subsídio teórico em duas teorias largamente utilizadas em Educação a Distância: a Teoria da Integração e da Comunicação e a Teoria da Presença Transacional.

A Teoria da Interação e da Comunicação, proposta por Börje Holmberg nas décadas de 70 e 80, é uma das mais respeitadas e citadas teorias da área. Segundo Petri (2002), essa teoria foi formulada como “conversação didática guiada, com propósito educativo, organizada, planejada e orientada para a aprendizagem, “mediatizada” por diferentes meios de comunicação.”

O autor reitera que a teoria da Interação e da comunicação está baseada no estabelecimento de um sentimento de relação pessoal entre o ensino e a aprendizagem, isto é, na motivação do estudante. E diz que, para Holmberg, quando a conversação presencial não pode ser realizada, é o espírito e a atmosfera da conversação o que pode caracterizar a ação educativa. (PETRI, 2002)

Outra teoria educacional que tem servido de apoio para os programas de EAD e que nos ajudará a entender o papel do docente nessa modalidade de ensino é a Teoria da Presença Transacional.

Proposta por Namin Shin, da Open Univesity of Hong Kong, apud Petri (2002), essa teoria está centrada na noção de “relação” mais do que de “interrelação”, uma vez que o autor considera impreciso o conceito de interação ou interatividade. E ressalta as relações estudante-professor, estudante-estudante e

3 Comunicação em Multimeios é uma área da Comunicação Social que estuda o advento de novas

mídias (ou meios) para transmissão de mensagens, suas linguagens e seu impacto na sociedade. De um maneira mais técnica, estuda o campo da multimídia, em toda sua abrangência.

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estudante-instituição. Presença Transacional envolveria, então, aspectos relacionados com a relação com os outros, intimidade e afetividade.

Presença transacional [...] corresponderia ao grau com que o aluno percebe a disponibilidade dos outros atores numa situação de formação a distância, de estar em relação com eles (connectedness). Ultrapassa a percepção de sua situação geográfica em relação aos outros (telepresença) e o sentimento de intimidade e proximidade afetiva (togetherness) para compartilhar o tempo ou o espaço (presença social). Petri (2002)

A partir das duas teorias apresentadas, acrescentemos ao rol das características necessárias para atuação na educação a distância, a capacidade de estabelecer um sentimento de relação pessoal com os alunos, e também de demonstração de disponibilidade e de intimidade com os discentes.

Ressaltadas as características importantes para os professores que atuam na educação a distância, voltamos a lembrar que esses profissionais desempenham diferentes papéis e funções, sendo comum nos projetos em andamento o fato de que algumas dessas funções são divididas entre vários profissionais. No Quadro , transcrevemos as funções do professor EaD, descritas por Belloni (2001); consideramos este, um resumo bastante abrangente dessas funções, uma vez que elas estão presentes em quase todos os programas de educação superior a distância que conhecemos.

• Professor formador: orienta o estudo e a aprendizagem, sendo correspondente a função pedagógica do professor no ensino presencial;

• Professor conceptor e realizador de cursos e materiais – prepara os planos de estudo, currículos...;

• Professor pesquisador: pesquisa e se atualiza em várias disciplinas e metodologias de ensino/aprendizagem, reflete sobre sua prática pedagógica... • Professor tutor: orienta o aluno em seus estudos de acordo com as disciplinas

de sua responsabilidade, em geral, participa das atividades de avaliação;

• Professor tecnólogo educacional: especialista em novas tecnologias, função nova, é responsável pela organização pedagógica dos conteúdos, adequação aos suportes técnicos a serem utilizados na produção dos materiais, assegura integração entre a equipe técnica e pedagógica;

• Professor recurso: esta função poderá ser exercida também pelo tutor, ele assegura uma espécie de “balcão” de respostas a dúvidas com relação aos conteúdos de uma disciplina ou questões relativas à organização dos estudos e das avaliações;

• Professor monitor: muito importante em certos tipos de EAD, especialmente, em ações de educação popular com atividades presenciais de exploração de materiais em grupos de estudo. O monitor coordena e orienta esta exploração, é uma função de caráter mais social que pedagógico, sendo formada uma pessoa da própria comunidade para exercer esta função.

Quadro 4 Funções do Professor EaD Fonte: BELLONI 2001, p.87

De acordo com as funções e atividades que podemos observar no quadro acima, podemos concluir que a habilidade de integração e de trabalho em equipe também não podem faltar nos profissionais que exercerem qualquer uma dessas funções.

3 COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR – ABRANGÊNCIA, DEFINIÇÕES E