• Nenhum resultado encontrado

4 ESCOLAS E PARQUES: A DIMENSÃO SOCIOAMBIENTAL NO MUNICÍPIO

4.4 OS PARQUES DE VITÓRIA E A CRIAÇÃO DE ÓRGÃOS PÚBLICOS: UMA

Excetuando-se o Parque Moscoso, criado em 1912, construído seguindo as tendências do estilo europeu e americano, fato que se configurou nos primeiros parques urbanos do Brasil, a história dos parques de Vitória está vinculada à criação dos órgãos públicos relacionados ao meio ambiente no município.

“Eu penso que precisamos acordar e fazer valorizar o que nosso bairro ainda tem de natureza, como o mangue e os parques que estão aqui por perto. Levar os moradores e os alunos nestes lugares. Eu vi um dia desses um morador lançando lixo no mangue e quando eu falei para ele que não poderia ser assim, que o mangue é patrimônio nosso, que seria importante para os seus filhos e netos conhecerem o mangue e ensinar aos pequenos e também aos grandes, principalmente nas escolas, com o trabalho dos professores, que é preciso cuidar, ele virou e falou: ‘Eu não me importo, não dá lucro em nada’. Eu penso que falta conhecimento porque, se ele soubesse, também eu iria achar que para dar lucro tem que ter o mangue vivo.”

Dessa forma, Trigueiro e Leonardo (2011) informam que em 1986, em Vitória, foi instituída a Secretaria Municipal do Meio Ambiente (SEMMAM) apresentando-se com certo pioneirismo, pois a Secretaria Estadual do Meio Ambiente (SEAMA) foi criada em 1987, antes mesmo da Constituição de 1988, carta que confere certa atenção ao meio ambiente no país.

Desde a implantação da Secretaria Municipal do Meio Ambiente (SEMMAM), uma das ações está relacionada à criação de Unidades de Conservação e Áreas Verdes Públicas. A primeira Área de Proteção criada no município conforme Trigueiro e Leonardo (2011) foi a Estação Ecológica Ilha do Lameirão em 1986, destacando-se com isso a proteção do ecossistema de Manguezal. Outros parques foram sendo criados e várias outras áreas foram sendo delimitadas e protegidas no município, incluindo os Parques Naturais, Áreas Verdes e Parques Urbanos.

No que tange à política de criação de Áreas protegidas, este modelo preservacionista ou “culto ao silvestre” que se mostrou a princípio, é interpretado por Alier (2007) apud Trigueiro e Leonardo (2011) como componente de uma das correntes do ambientalismo que ganhou destaque na promoção de políticas ambientais no país, e em várias partes do mundo, atuando em defesa da natureza intocada.

A partir dos encontros mundiais e nacionais referentes ao meio ambiente, este modelo vai aos poucos adquirindo outros preceitos configurando-se em ações diferenciadas em relação às formas de conceber as áreas protegidas, inclusive apontando para práticas educativas ou para pesquisas nestas áreas.

Nesse contexto, identifica-se que, a partir da década de 90, a atuação da SEMMAM direciona-se à criação de várias áreas, resultando atualmente em 21 parques dentre naturais e os urbanos no município, como pode ser observado no quadro seguinte:

Quadro 6 - Parques urbanos e naturais do município de Vitória-ES (Continua)

PARQUE CATEGORIA LEGALIZAÇÃO ÁREA m2/ha CEA

Parque Natural Municipal Dom Luiz Gonzaga Fernandes

Natural Decreto 10.179 - 1998 638.858 Implantado Parque Estadual da

Fonte Grande Natural Decreto 3.095 - 1985 218 Implantado Parque Natural

Municipal Gruta da Onça

Natural Lei Municipal 3.564 - 1988

69.114 Implantado Parque Natural

Municipal Pedra dos Olhos

Natural Decreto 11.824 - 2003 27.96 Não implantado Parque Natural

Municipal de Tabuazeiro Natural Decreto 9.073 - 1995 50.140,30 Implantado Parque Municipal do

Vale do Mulembá- Conquista

Natural Decreto 11.505 - 2002 1.142.078 Não implantado Parque Natural

Municipal Von Schilgen Natural Decreto 12.137 - 2004

71.259.27 Implantado Parque Atlântico

Urbano Decreto Municipal 13.377 - 2007

146.949.00 Não implantado Parque Municipal Barão

de Monjardim Urbano Decreto Municipal 13.378 - 2007

79.711.19 Implantado Parque Municipal de

Barreiros Urbano Decreto Municipal 10.180 - 1998

46.106.15 Implantado Parque Municipal da

Fazendinha Urbano Decreto Municipal 11.896 - 2004

22.853.78 Implantado Parque Municipal de

Fradinhos Urbano Decreto Municipal 13.688 - 2008

17.168.47 Não implantado Parque Municipal Horto

de Maruípe Urbano Decreto Municipal 14.463 - 1995

49.715.02 Não implantado Parque Municipal Ilha

do Papagaio Urbano Decreto Municipal 13.689 - 2008

15.298.75 Implantado Parque Municipal

Mangue Seco Urbano Decreto Municipal 11.881 - 2004

20.052.28 Implantado Parque Municipal Morro

da Gamela Urbano Decreto Municipal 13.376 - 2007

96.830.45 Não implantado Parque Moscoso

Urbano Lei Federal 2.356/10 - 1912

Quadro 6 - Parques urbanos e naturais do município de Vitória-ES (Conclusão)

PARQUE CATEGORIA LEGALIZAÇÃO ÁREA m2/ha CEA

Parque Municipal da Mata da Praia (Padre

Alfonso Pastore)

Urbano Decreto Municipal 10.027 - 1997

44.921.50 Implantado Parque Ítalo Batan

Régis (Pedra da Cebola)

Urbano Decreto Estadual 4.179 - 1997

100.005.00 Implantado Parque Pianista Manolo

Cabral (Chácara Paraíso)

Urbano Decreto Municipal 15.377 - 2012

14.367.48 Implantado Parque Municipal São

Benedito Urbano Decreto Municipal 10.025 - 1997

96.082.50 Não implantado Fonte: Elaborado pela autora a partir de dados coletados do site PMV-SEMMAM25.

Em visita a esses parques, resultou um texto elaborado pela pesquisadora, contendo suas impressões:

“Eu já havia visitado vários parques da cidade, sempre retornando aos parques lócus da pesquisa, realizando registros escritos e fotográficos, dialogando com pessoas, principalmente com aquelas que ali atuam, coletando dados que pudessem nos subsidiar.

O domingo ensolarado do dia 4 de novembro de 2014 me moveu, mesmo já tendo realizado visitas nestes parques e a eles retornar. Queria ver como, em um dia de domingo, alguns parques estavam sendo apropriados pela população. Eu precisava, enquanto pesquisadora, olhar para aqueles lugares e, já que eu não podia visitar todos no mesmo dia para entender o seu funcionamento, em um dia de entretenimento e de lazer, optei então por visitar o Parque Municipal da Pedra da Cebola, o Parque Natural Municipal Dom Luiz Gonzaga Fernandes, o Parque Natural do Vale do Mulembá-Conquista, O Parque Municipal Horto de Maruípe e o Parque Municipal Barreiros.

Naquele dia, foi possível observar que, na medida em que eu me dirigia no sentido centro- periferia pelos bairros de Vitória, estes parques iam se esvaziando, com atividades pontuadas, surgindo algo que, de certa forma, me fez refletir no porquê de tantas diferenças e contradições.

No Parque “Pedra da Cebola”, era visível o quanto estava bem estruturado para receber visitantes, pois a vigilância/guarda girava em torno de dez a doze pessoas. Havia inúmeros visitantes presentes. Durante a minha visita, ocorria lá um encontro de um grupo de mulheres que participavam de uma dinâmica interativa. O campo de futebol estava sendo utilizado, inclusive com times de reserva. Famílias se reuniam e conversavam. Alguns casais se fotografavam, pessoas caminhavam livremente, adultos visitavam com as crianças o viveiro de plantas medicinais e uma “fazendinha”. Deparei-me com um parque literalmente “vivo”.

No Parque Dom Luiz Gonzaga Fernandes, me deparei com dois vigilantes e um visitante que estava com sua filha. Ao caminhar pelos arredores do Parque, observando o manguezal, pude perceber que havia ali um galpão sem telhas. Um grupo de jovens veio ao meu encontro e eles me questionaram a respeito das fotos que eu estava tirando. Assim que expliquei que estava fazendo uma pesquisa, um deles disse que a areia do Parque nunca foi trocada e que isso era muito sério, pois muitas crianças pegaram micose e verminose ali. Um deles me reconheceu como professora da região. Ao dialogar com o visitante que passeava com sua filha, percebi que ele se mostrou preocupado com a situação do Parque, sugerindo que os órgãos públicos tivessem um olhar sobre

25

aquele espaço, pois ele entendia que aquele parque era muito rico para funcionar daquele jeito, em um dia de domingo, já que, durante a semana, ele via movimento de pessoas e de alunos por ali.

Ao chegar ao Parque Barreiros, vi cerca de oito pessoas. Havia um vigilante na portaria lateral, que dava acesso a ele e um fazendo a ronda. Além de um casal, vi seis jovens assentados e outros em pé, que, ao perceberem a minha presença, deram pistas de que me conheciam e se aproximaram. Travamos um diálogo e eles disseram que moram nas redondezas e que estavam ali na intenção de baterem “uma bolinha”. Realizei alguns registros fotográficos e deixei o Parque com a sensação do quanto a população local poderia, aos domingos, usufruir das inúmeras condições de aprendizagem e entretenimento que este espaço não formal de Educação oferece.

Ao chegar ao Parque Horto de Maruípe, identifiquei a presença dois jovens que, quando me viram, se recolheram por detrás das árvores frondosas. Observei, junto a uma mãe acompanhada de sua filha, a nascente que sai canalizada lá no alto do muro que faz divisa com o Parque, que se apresentava aparentemente limpíssima, clara, transparente. Lembrei-me de que, na outra visita, ocorrida em abril do mesmo ano, eu havia sido informada pelo vigilante que aquela água vinha dos “fundos de um bairro próximo” e o que ele sabia era que ela escoava pelo regato que fica dentro do parque e que depois essa água “dava para o esgoto” que passa na rua. De repente, ouvi uma voz vinda do alto, nos arredores, que assim dizia: “Sai logo daí, sai logo daí!”. Saímos eu e a mãe acompanhada da criança, assustadas, pois não entendemos o teor daquela fala.

No Parque Municipal do Vale do Mulembá-Conquista, estavam presentes na portaria dois guardas/vigilantes. Não estava aberto para visitação naquele dia e por isso não entrei.

Ao passar pela Serafim Derenze, nos arredores desse Parque, percebi um movimento de pessoas indo em direção à cerca que dá acesso a ele. Vi que estavam utilizando a área do lago de contenção. Esse lago é originário de atividades de uma antiga pedreira que, ao ser desativada, permitiu que a água fosse sistematicamente sendo depositada, alimentando a “Grande Lagoa”, assim chamada pelos moradores locais. As pessoas tomavam sol ao ar livre, lanchavam, nadavam, mas não havia nenhum guarda/vigilante na área. Lembrei-me de um representante do Movimento Comunitário, quando conversávamos na escola, que me sinalizou a potencialidade turística que esta região oferece e que se encontra em condições tão precárias. Esse episódio não aconteceu somente naquele domingo, conforme fiquei sabendo.

Na grande maioria dos parques que visitei, mesmo durante a semana, evidenciei pouca presença da população mediante suas belezas e contradições, que oferecem tantas possibilidades de estudos na aproximação destes espaços junto à escola e à comunidade.

O encantamento com o município parte também de uma iniciativa de movimentos locais, da apropriação da população em relação a estes lugares, pois todos têm direito à cidade.

Refleti, então, sobre o quanto o poder público, as escolas e as comunidades necessitam problematizar coletivamente acerca da gestão destes espaços e da importância da sua apropriação pela população, buscando uma Educação Ambiental articulada a promover e desenvolver efetivamente o senso de pertencimento, assim como uma gestão de meio ambiente e educação, cuja cidadania parte da apropriação do conhecimento e do cuidar daquilo que nos pertence coletivamente. Afinal, todos nós somos sujeitos de direito, mas até que ponto e de que forma estes direitos são apropriados por “todos”?

Nesse contexto em que esta discussão pode se ampliar para várias instâncias, atribuo um teor relevante quando mapeamos todos os parques de Vitória, posto que a sua legalização, certamente, está vinculada ao esforço dos sujeitos ligados aos órgãos públicos por criá-los. Ao mesmo tempo, a gestão implica no conhecimento de leis, na participação social da constituição destas leis, nas práticas educativas em busca da justiça social e de um mundo que esteja comprometido com a vida em sua totalidade, o que abre precedentes para se repensar estes espaços públicos, aos quais a população está vinculada.”

Documentos relacionados