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4 ESCOLAS E PARQUES: A DIMENSÃO SOCIOAMBIENTAL NO MUNICÍPIO

4.2 UMA ANÁLISE SOCIOAMBIENTAL DO MUNICÍPIO DE VITÓRIA

O Instituto de Geografia e Estatística (IBGE) classificou em 2013 os municípios brasileiros de acordo com o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Entre as capitais brasileiras, Vitória possui o 4.º melhor IDH depois de Florianópolis.

De acordo com pesquisas da Fundação Getúlio Vargas, Vitória foi considerada a 4.ª melhor cidade para se viver no Brasil pela Organização das Nações Unidas em 2013.

Tabela 1 - Maiores índices de IDH - Municípios Brasileiros - 2013

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

É necessário se chamar à atenção para alguns índices apresentados em novembro de 2014, na divulgação do Atlas de Desenvolvimento Humano nas Regiões Metropolitanas em relação ao IDH do Espírito Santo, no qual Mata da Praia, Barro Vermelho e Santa Luíza aparecem na sétima posição entre os melhores bairros do Brasil para se viver.

MUNICÍPIO UF IDHM (2010)

1 São Caetano do Sul São Paulo 0,862

2 Águas de São Pedro São Paulo 0,854

3 Florianópolis Santa Catarina 0,847

4 Balneário Camboriú Santa Catarina 0,845

4 Vitória Espírito Santo 0,845

6 Santos São Paulo 0,840

7 Niterói Rio de Janeiro 0,837

8 Joaçaba Santa Catarina 0,827

9 Brasília Distrito Federal 0,824

Ainda aparecem a Praia do Canto, Ilha do Boi, Ilha do Frade e Enseada do Suá, com um índice de 0,958, informando que todos esses bairros estão no mesmo patamar da Noruega, país com um dos maiores IDHs, do Planeta, (0,944).

Entretanto, tendo em vista que o IDH é calculado através de uma média, a partir de três indicadores que são a longevidade, a educação e a renda, fica evidente a marca da desigualdade social em Vitória.

A tabela seguinte, que mostra os IDHs mais elevados entre os bairros de Vitória, revela índices muito mais elevados que o índice geral do Município.

Tabela 2 - IDHs mais elevados entre os bairros de Vitória – 2014

Fonte: Infotau22.

Esse fato fica evidenciado, quando se leva em consideração a média de renda mensal por Região Administrativa de Vitória, um dos indicadores para se medir o IDH, confirmando que, no município, a Região Administrativa de São Pedro e também a de Maruípe, onde estão localizadas as escolas e parques elencados nesta pesquisa, estas regiões apresentam os menores índices, sendo a de São Pedro a que apresenta os mais baixos indicadores.

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Disponível em: http://infotau.net.br/especial/os-bairros-do-brasil-que-poderiam-estar-na-Noruega

REGIÃO LOCAIS IDHM

Grande Vitória Barro Vermelho / Santa Luíza 0,961

Grande Vitória Mata da Praia: Orla 0,961

Grande Vitória Mata da Praia: Pedra da Cebola 0,961 Grande Vitória Praia do Canto / Ilha do Boi / Ilha do Frade / Enseada do Suá 0,958

Tabela 3 - Renda mensal por Região Administrativa de Vitória – 2013

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – 2013 Coordenação de Cadastro Imobiliário.

Carvalho (2004) ressalta a importância de que a educação aconteça como um movimento proveniente do mundo da vida e da sociedade que não seja puramente biológica, mas da vida pensada de forma a envolver o domínio social. Nesse aspecto, assinala-se para o acesso e a análise de dados estatísticos e de informações que são divulgadas cotidianamente e que passam por diversas ocasiões despercebidas aos nossos olhos tal qual o citado sobre o IDH de Vitória.

Assim, quando o alcance das análises da mídia, se fundamentam simplesmente nos dados numéricos, que comparam Vitória com a Noruega, em termos de qualidade de vida, questiona-se a contradição que existe na divulgação destes dados e até que ponto este nível de conferição mostra-se como apropriado para avaliar o nível de qualidade da população de Vitória, tendo em vista as dificuldades ambientais que enfrenta a população que habita o município e das desigualdades sociais nele presentes, partindo dos problemas sucessivos ocasionados pelo processo industrial.

Dentre estas contradições, há a questão da emissão descontrolada do pó de minério de ferro, o “pó preto”, ocasionado pela atividade de mineração no município, que compromete a qualidade da água, do ar consequentemente a qualidade de vida e da

REGIÃO ADMINISTRATIVA RENDA MÉDIA MENSAL (R$)

São Pedro 508,84 Santo Antônio 649,82 Maruípe 806,72 Goiabeiras 946,95 Jucutuquara 1.217,69 Centro 1.425,82 Jardim Camburi 2.259,37 Jardim da Penha 2.737,84 Praia do Canto 3.844,97

saúde da população, da contaminação do manguezal na ocorrência do lançamento de esgoto e na desigualdade social evidenciada no município.

Estas considerações se fazem legítimas, na medida em que se discute uma educação inserida no contexto das relações produtivas, onde a marca das desigualdades sociais se faz presente, fato revelado na fala do Sr. “F”, representante do Movimento Comunitário do bairro Resistência, quando dialogamos junto aos educadores da escola, a respeito da implantação da Unidade de Transbordo no bairro, realizada na ocasião do fechamento da antiga Usina de Lixo, ocorrida na década de 90:

A fala do Sr. “F”, sinaliza também a questão da Educação Ambiental presente nas discussões junto à comunidade:

“Sabemos que há uma nascente dentro da Unidade de Transbordo, exatamente em cima de uma placa indicativa que existe ali dentro [...] dos quinze vereadores de Vitória eleitos, apenas um deles mora do lado de cá, do lado pobre. Se fosse em uma área nobre, já teriam pensado em soluções para proteger esta nascente. Nossos alunos e as pessoas precisam saber a respeito destas coisas que acontecem pelo bairro, deixo com você a apresentação que fizemos no Ministério Público onde está a nossa defesa em nome da qualidade de vida para o povo. Sou morador daqui há mais de 30 anos e temos uma responsabilidade com este lugar.”

“Há projetos de se estruturar melhor o Movimento Comunitário e assim poder se dedicar mais às questões ambientais da região. [...] Há um Termo de Ajuste de Conduta – TAC a ser assinado entre a Prefeitura Municipal de Vitória e a Comunidade com o aval do Ministério Público, onde serão realizadas algumas compensações por se ter esta construção alocada no bairro. Ainda percebemos que a relação da escola com a comunidade é complicada por causa de vários fatores, principalmente o tempo. É preciso colocar em evidência a Lei 2305, Lei Política de Resíduos Sólidos, que regulariza a implantação da Unidade de Transbordo, porém na escola não se discute e nem a população toda participa das reuniões. Precisamos discutir sobre isso. Principalmente em relação à ocupação do espaço e da distância da Unidade de Transbordo até as áreas naturais como o Mulembá e o manguezal, onde se pode verificar [...] pelos slides que apresentamos ao Ministério Público.”

Figura 13 - Imagens destacando a distância da Unidade de Transbordo em relação às áreas naturais de Vitória-ES

Fonte: Fragmento da apresentação da II Audiência Pública realizada em 31/05/2014 junto ao Ministério Público ES e a Comunidade do Bairro Resistência.

Nessa figura, pode ser observada a questão da distância da Unidade de Transbordo até as áreas naturais adjacentes, o que contraria a Lei 2.305, Lei Política de Resíduos Sólidos, que regulariza a implantação da Unidade de Transbordo. Nessa linha de reflexão, a presença da participação com os movimentos populares, como o Movimento Comunitário ora indicado do bairro Resistência, as evidências das contradições existentes se despontam como indicadores para o estabelecimento de um diálogo entre os diferentes atores sociais, das escolas e comunidades, no que tange à apropriação dos espaços do município e as leis instituídas.

Essa questão é apontada por Saviani (1997) quando considera que, no caminhar da formação dos profissionais da educação, ocorre uma ênfase da ratio técnica em detrimento de uma ratio política, fato que pode ser um dos fatores vinculados ao

pouco interesse dos profissionais da educação nos estudos da legislação educacional, bem como em sua contextualização junto ao cotidiano escolar.

4.3 VITÓRIA, MEIO AMBIENTE E PARQUES: ESPAÇOS NÃO FORMAIS DE

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