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Os governos estaduais e municipais, bem como parte das empresas proprietárias de parques eólicos, destacam que a chegada dos parques eólicos nos lugares, especialmente em municípios localizados no semiárido nordestino, é um vetor de desenvolvimento local.

A tese do desenvolvimento local, atualmente muito presente nas políticas públicas no Brasil, nos mais diversos níveis, municipal, estadual e federal, estaria baseada na proeminência da escala local em detrimento das demais escalas. Esta tese tem diversos desdobramentos na atualidade, em linhas gerais ela está intimamente ligada à existência de um processo endógeno que por sua vez seria capaz de promover certo dinamismo econômico a nível local, o que resultaria na geração de renda e melhora da qualidade de vida das pessoas (BRANDÃO, 2007; BUARQUE, 2002).

Simas (2012) afirma que a energia eólica contribui com o desenvolvimento socioeconômico em nível regional e local no Brasil. Segundo a autora a nível local sua maior contribuição seria a geração de empregos em duas fases distintas, na construção dos parques, quando os empregos são mais numerosos, mas temporários. Em um segundo momento, nas fases de operação e manutenção, quando os postos de emprego são menos numerosos, mas permanentes, já que estarão presentes durante todo o tempo de vida útil do projeto. Ainda segundo ela “ambas as atividades tem alto potencial para a geração de empregos no nível local”, sendo seu principal desdobramento a geração de renda muitas vezes em “localidades rurais com baixas oportunidades de crescimento econômico” (SIMAS, 2012, pg. 165).

A geração de empregos localmente tem sido o principal argumento para se justificar que está havendo o desenvolvimento local nos municípios onde estão sendo instalados parques eólicos. Acreditamos que esta é uma tese refutável. Isso por que a instalação de parques eólicos é uma atividade intensiva em capital e não em mão de obra. Exceto no período da construção destas grandes infraestruturas, quando há geração de uma grande quantidade de empregos nas obras civis, não podemos afirmar que a atividade é geradora de empregos.

de acesso, construção de plataformas, construção das bases, montagem dos aerogeradores e a construção de subestações e linhas de transmissão, dura em média um ano podendo chegar a dois anos, a depender das dificuldades encontradas e do tamanho do parque.

Durante as obras civis, primeira etapa, que envolve a terraplanagem, a fundação e pavimentação do complexo, ou seja, a preparação do terreno para que as torres sejam afixadas, há uma relevante geração de empregos temporários.

Segundo Marcelo Arruda da empresa Gestamp, proprietária de parques eólicos no Rio Grande do Norte, durante o período das obras há a geração de mais ou menos 100 empregos diretos e em torno de 300 indiretos por parque em construção. No entanto, esta fase dura aproximadamente oito meses. Somente a secagem da fase de concretagem dura em torno de um mês. Ainda assim, a mão de obra contratada nem sempre é local, já que há uma demanda por muitos trabalhadores com habilidade para a construção civil em um mesmo período.

Ressalte-se que a construção dos diversos parques eólicos das mais diversas empresas vem se dando de forma concomitante nos municípios de elevado potencial eólico. Em se tratando de municípios pequenos que dispunham de uma quantidade limitada de mão de obra especializada na construção civil, é necessária a importação de mão de obra proveniente de outros lugares.

O trabalho de campo realizado no município Caetité (BA)152, confirmou que a geração de empregos definitivos no município, resultante da instalação dos parques eólicos, é reduzida e que muitos trabalhadores, em especial aqueles qualificados, vem de outras localidades para execução das obras.

Em canteiros de obras da empresa Renova Energia, localizados em Caetité (BA), existem diversos operadores de máquinas e caminhões, que vem atuando na etapa das obras civis, que são oriundos do estado de Santa Catarina, conforme informado pelos próprios trabalhadores em trabalho de campo153. De acordo com estes funcionários, a dificuldade que as empresas têm para encontrar localmente trabalhadores qualificados para operação de máquinas, tratores e caminhões, explica a contratação de mão de

152 Trabalho de campo realizado em 23 e 24/07/2013.

obra de outras regiões. No caso específico da empresa Renova Energia, houve a subcontratação do consórcio MGT (formado pelas empresas DM Construtora e TKK Engenharia), que é especializado na preparação de terrenos. Esta empresa trouxe funcionários especializados na operação de máquinas para trabalhar nas obras civis dos parques da Renova Energia, que com o fim das obras devem retornar para seu estado de origem.

Fotos 15 e 16

Gigantesco canteiro de obras da Renova Energia em Caetité (BA)

Fonte: Trabalho de campo realizado em 23/07/2013.

Há também um grande deslocamento de trabalhadores que saem de diversas regiões do estado ou até de estados vizinhos para trabalhar nas obras. Estes trabalhadores, ainda que provisoriamente se instalam no município, elevando o número de habitantes, pressionando o custo de vida, elevando os preços de gêneros de primeira necessidade e dos aluguéis, conforme apontado pelo Secretário de Infraestrutura do município de Caetité, Nilo Joaquim de Azevedo154

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Indiretamente, como bem coloca Simas (2012), há a geração de empregos nas áreas de alimentação e hotelaria, que resulta em certa dinamização da economia nos municípios. Em João Câmara, por exemplo, houve expansão no número e porte das pousadas, cuja finalidade era atender a enorme demanda gerada pela construção dos parques eólicos. Entretanto, estas atividades estão ligadas diretamente à existência de

parques em construção, fase em que há maior geração de empregos. Com o fim das obras há redução no número de empregados nos parques, reduzindo assim também a demanda por estes tipos de serviços.

Após o fim das obras civis as vagas de emprego relacionadas à construção dos parques são fechadas. A etapa de montagem do parque dura pouco mais de quatro dias por torre. De acordo com o funcionário da Gestamp, Juan Castro155, que é responsável técnico pelos parques eólicos Cabeçu Preto I e IV, localizados em João Câmara (RN), são necessários em média dois dias para a montagem das turbinas, um dia para a montagem da torre com a nacele e mais um dia para a montagem das pás. Durante este período atuam apenas os projetistas do parque e os funcionários da empresa que vendeu os aerogeradores. O tempo de execução desta etapa é determinado pelo número de equipamentos que serão instalados.

Após o fim da implantação do parque e sua entrada em operação há reduzida geração de empregos, como pudemos verificar na visita realizada aos parques eólicos Cabeçu Preto I e IV em João Câmara (RN)156. Em geral os parques contam com um segurança armado e um técnico, que é responsável por acompanhar a produção de energia e verificar possíveis problemas. Como mostra a Foto 17, a estrutura de um parque eólico é relativamente simples. Existe um escritório, onde trabalha o técnico responsável pelo parque, a cabine do segurança, as torres e a subestação do parque. A Foto 17, mostra que a estrutura de organização do parque encontrada em Caetité (BA) é bastante similar a estrutura encontra em João Câmara (RN).

155 Ele participou do processo de construção do parque enquanto ainda era funcionário da empresa Vestas

Foto 17

Parques eólicos Cabeçu Preto I e IV, localizado no município de João Câmara (RN)

Fonte: Trabalho de campo realizado em 18/07/2013.

Foto 18

Parque eólico Caetité, localizado no município de Caetité (BA)

Os parques eólicos recebem, periodicamente, visitas da equipe de manutenção, pertencente à empresa fabricante do equipamento. As equipes de manutenção contam com 4 ou 5 funcionários, em média, e são itinerantes. Estas equipes são responsáveis pela cobertura de uma área, estipulada pela empresa fabricante dos aerogeradores, que engloba diversos municípios onde existem parques eólicos operando com seus equipamentos, conforme explicou o supervisor de manutenção da Vestas, Jorge Fernandes157.

Foto 19

Equipe de manutenção da empresa Vestas em visita aos parques eólicos Cabeçu Preto I e IV, localizada no município de João Câmara (RN)

Fonte: Trabalho de campo realizado em 18/07/2013.

Estas equipes de manutenção são responsáveis pelos serviços de manutenção e também pelo acompanhamento do comportamento dos equipamentos e da produção de energia. Realizam visitas semanais aos parques e também atuam nas emergências para troca de peças que apresentam defeitos. Elas são responsáveis também por realizar as revisões periódicas para apertar parafusos, trocar freios, lubrificar os equipamentos, realizar as trocas anuais de óleo, além da limpeza das máquinas.

157 Entrevista realizada no escritório dos Parques Eólico Cabeçu Preto I e IV, em João Câmara (RN) em 18/07/2013.