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3. O ensino militar em Moçambique

3.3 O ensino militar

3.2.3 Os planos de formação – breve análise

Os planos curriculares de formação na AM e ESFA (cf. Anexos) abrangem um leque amplo de disciplinas.

A disciplina de liderança enquadra-se na formação básica específica correspondente a um conjunto de disciplinas militares que analisam aspetos relacionados à gestão; direção de operações militares; e tática militar. No caso específico dos CFO, este conjunto de disciplinas militares ocupam uma carga horária letiva de 1440 horas, sendo ela transversal para todos os cursos da carga horária aqui referida, a liderança ocupa um total de 54 horas.

Para os formandos dos CFS também aqui a disciplina de liderança enquadra-se num grupo de disciplinas que compõem a formação básica específica, cujo total de horas é de 1400 horas letivas e ela ocupa uma carga horária de 80 horas. No plano geral de formação, tanto dos CFO assim como dos CFS, a liderança volta a constar e constitui um elemento chave no dia-a-dia dos finalistas ao realizarem a prática de comando na fase do tirocínio, sendo este um período de um semestre para os CFO e um trimestre para os CFS. O objetivo que se pretende com esta disciplina curricular é que no final os formandos sejam capazes de comandar e chefiar as Tropas (em guerra, paz, no aquartelamento ou em campanha).

Uma análise crítica aos conteúdos curriculares lecionados na cadeira de liderança, tanto na AM como na ESFA, nota que esta não faz menção a uma matéria que em nosso entender é importantíssima para a formação da identidade militar. A nossa proposta é que para além das matérias ligadas à profissão militar e suas particularidades devia-se incorporar questões ligadas à cultura organizacional militar e liderança. Este aspeto é

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Souza (2010), a propósito do trabalho que desenvolveram em contexto de formação militar:

É importante para organização trabalhar o desenvolvimento da liderança, podendo também trabalhar este desenvolvimento de maneira específica, trabalhar as características desejáveis e não-desejáveis de seus líderes, ao invés de tentar desenvolvê-las de uma forma geral. Com isto, pode-se atingir uma maior efetividade dos estilos de liderança desejáveis para a organização, tendo como resultado o aumento da eficiência e eficácia organizacional. (p. 48)

Os formandos destas duas instituições obedecem a um concurso anual documental lançado em todo o território nacional para o ingresso na AM e para ESFA, logo e sobretudo nos cursos lecionados pela AM, concorrem para o ingresso jovens civis que entram em contacto pela primeira vez com o ambiente militar nas provas de aptidão física militar (PAM), para o ingresso a carreira militar.

Atendendo que, após a formação, os formandos encarregar-se-ão, entre outras, das funções de comando, a componente da cultura organizacional militar e liderança, sobretudo no que concerne a liderança de equipas, é extremamente importante, por razões já descritas anteriormente neste trabalho por um lado, e por outro, tendo em consideração a missão principal destes formandos após a conclusão do curso.

Em nosso entender, esta componente pode contribuir para criar nos formandos a personalidade de conjunto o chamado “espírito de corpo” que é exigido aos militares. John Adair (1988, p. 38) afirma que existem três necessidades que se encontram presentes em todos os grupos de trabalho:

1. Realizar uma tarefa comum; 2. Manter uma unidade coesa;

3. As necessidades que os próprios indivíduos trazem para o grupo.

Estas constatações reforçam as ideias já descritas e defendidas por Andeski (1964; Hage, 1965; Neto, 1989; Bilhim, 2001; Ferreira, 2002; e Cobra, 2005) sobre a cultura

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organizacional militar, ao defenderem que uma das características da cultura militar é o seu caráter de uma cultura forte.

Em todas as especialidades militares em formação na AM, as disciplinas de Educação Moral, Cívica e Militar; Ciências Sociais pretendem promover nos futuros Oficiais uma formação científica comportamental assente em sólida educação militar, moral e cívica tendo em vista desenvolver os atributos de caráter, alto sentido de dever, honra e lealdade, culto de ordem e da disciplina e as qualidades de comando e chefia inerentes à condição militar.

Pretende-se também estimular nos futuros Oficiais a compreensão da dinâmica do comportamento e relacionamento a nível do indivíduo, das organizações e da sociedade, na prossecução de objetivos políticos e económicos; desenvolver capacidade analítica sobre a evolução dos processos históricos, sociológicos, políticos e culturais, por forma a se enquadrar nos atuais contextos global, nacional, regional e local.

Com as disciplinas de “Comando e Chefia Militar” e “Organização Militar” pretende-se desenvolver capacidades de liderança e de tomada de decisão em qualquer situação; adquirir uma base de conhecimentos técnico-militares que permita desempenhar com eficiência e eficácia as funções de Comando e Chefia.

Nas especialidades militares em formação na ESFA e de acordo com o perfil do graduado as disciplinas transversais de “Liderança”, “Educação Cívico-Patriótica”, “Manutenção e Conservação de Infra-estruturas”, “Noções de defesa” têm em vista desenvolver nos futuros Sargentos elementos que permitam uma melhor compreensão das funções do comandante e do Sargento e reflexão sobre as normas éticas, os princípios e as qualidades que presidem, orientam e dão eficiência ao comando e bem assim sobre os condicionalismos que se podem pôr ao desenvolvimento e ao exercício do Comando nos dias de hoje.

A educação cívico-patriótica tem em vista desenvolver nos formandos o espírito patriótico e o sentido de missão e através destes para com os soldados sob sua liderança.

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Com a conservação de Infra-estruturas procura-se incutir nos formandos e através destes para os soldados, o valor e a importância que tem como militares a manutenção dos diversos equipamentos e infra-estruturas militares, desenvolvendo desse modo o espírito solidário tanto no tempo assim como no espaço valorizando deste modo as gerações futuras e passadas de militares.

Do mesmo modo através das noções de defesa desenvolve-se tanto o espírito patriótico assim como a unicidade dos moçambicanos, tendo como foco a unidade nacional e a defesa incondicional da pátria.

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