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3 CONSTITUIÇÃO DA INFRAESTRUTURA URBANA DAS CIDADES

3.1 OS PRIMEIROS MODELOS DE INFRAESTRUTURA URBANA

Ao observar a conjuntura histórica em que ocorre o desenvolvimento dos sistemas de infraestrutura urbana nas cidades, conclui-se que a história destas se confunde com o período de surgimento das primeiras cidades. Existe a indissolubilidade histórica entre o surgimento de tais objetos e os primeiros aglomerados urbanos. Além disso, o surgimento da infraestrutura está intimamente ligado à necessidade destas servirem como benefícios urbanos, além da melhoria na qualidade de vida da população de um modo geral.

Em um contexto histórico, há indícios de que várias civilizações na antiguidade já disponibilizassem um sistema de abastecimento de água. Egípcios, babilônicos, assírios e fenícios são alguns destes exemplos. Nínive, do Imperador Senaquerib, Capital do Império Assírio, possuía uma tubulação rochosa que distribuía água para seus moradores. A Roma Antiga tinha um avançado sistema de abastecimento de água, além de contar com uma exemplar rede sanitária para a época. Sendo assim, o Império Romano é exemplo de infraestrutura urbana a partir da observação do seu sistema viário, adaptado, inclusive, pelas cidades ocidentais no processo de evolução na qual nos deparamos atualmente (MASCARÒ e YOSHINAGA, 2005).

Os gregos construíram, no século VI a.C, um amplo complexo hidráulico, responsável pela distribuição de água para suas cidades. Aristóteles, por volta do século IV a.C, propõem o zoneamento da cidade, próximo ao que encontramos hoje na literatura, sendo a cidade dividida por setores – comercial, residencial, administrativo e religioso. As vias de Pompeia, fundada por volta do século VI a.C, mostravam uma cidade planejada, organizada a partir de eixos norte-sul, leste-oeste. As residências possuíam uma altura definida em 18 metros, sendo separadas entre si por uma distância de 3 metros (MASCARÓ e YOSHINAGA, 2005).

Entre o século II a.C até o século XIII d.C. ocorre uma estagnação do desenvolvimento das cidades europeias, ocasionadas pelas invasões bárbaras. Este período é marcado pelas ruas lamaçadas, com uma mistura de esgoto e água da chuva. No século XII, o rei da França, Felipe Augusto, ordena a pavimentação das ruas de Paris por questões militares. A falta de infraestrutura mais a explosão demográfica no século XIV são responsáveis pelo surgimento da Peste Negra, com o óbito de um terço da população da Europa (MASCARÓ e YOSHINAGA, 2005). A partir do século XV,

devido a devastação ocorrida na Europa anos antes, surge a tendência de criar vias retas. Com isso, surgem várias praças nas cidades, sendo estas até hoje consideradas como pulmões urbanos. No século XVIII, Paris passa por um processo de pavimentação, com a criação do sistema de esgotamento sanitário.

A primeira companhia de distribuição de gás surgiu somente no início do século XIX como serviço público, tendo o objetivo de atender a Londres pós-industrial. Nos EUA, os primeiros testes para viabilização de uma rede de abastecimento energético por gás foram testados no ano de 1815, nos estados de Massachusetts e Rhode Island, e na cidade da Filadélfia, no estado da Pensilvânia. No Brasil, a distribuição de gás, enquanto serviço público, teve início em 1860, quando é instalado em todas as ruas da Praça da Sé, em São Paulo, lampiões que serviam na iluminação noturna.

Em relação às redes de energia elétrica, os primeiros serviços datam do final do século XIX, com a finalidade de iluminar o centro das cidades, substituindo o abastecimento energético por gás. Ocorre, em 1936, a substituição dos últimos lampiões alimentados por gás em São Paulo. Ao mesmo tempo, outro objetivo deste processo foi a substituição dos cavalos que puxavam os bondes, tornando, tanto o gás na iluminação pública quanto bondes puxados por animais, obsoletos. A partir desse momento, o uso de gás é restringido à produção de calor, sendo utilizado entre 1871 e 1974 a partir da extração do carvão mineral. A partir da década de 1970, o gás utilizado passa a ser derivado do petróleo, sendo que atualmente as redes energéticas usam o gás natural (ZMITROWICZ e ANGELIS NETO, 1997).

Além disso, as redes de energia tiveram papel fundamental no início do processo de industrialização. Isso porque as primeiras fábricas foram construídas próximas dos locais com potenciais hídricos, tendo como objetivo aumentar o funcionamento das máquinas pelo uso da eletricidade advinda da energia hidroelétrica. O desenvolvimento tecnológico e de transportes também é responsável por proporcionar o uso da energia elétrica em locais distantes do seu ponto de produção. Esse processo, inclusive, leva ao incremento do processo de urbanização, haja vista, tanto o deslocamento da matéria- prima quanto do trabalhador é facilitado pelo encurtamento da relação tempo x distância através dos transportes.

Durante o período medieval, o modo de apropriação das vias de deslocamento apresentava características inversas ao processo de apropriação observada nos dias atuais. Mascaró (1987) sustenta que, devido às restrições existentes na Idade Média, as

vias urbanas possuíam um uso além do tráfego de carruagens. Na verdade, as ruas serviam de lugar de encontro, de lojas comerciais, de festas, dentre outros usos. Os espaços das cidades eram mais vivos, mais ricos, mais urbanizados. Enfim, mais socializados.

Diferente nos dias atuais, as vias são locais de uso intenso tanto no solo quanto no subsolo. Atualmente, as ruas comportam uma série de equipamentos urbanos, tais como bueiros, poços de inspeção, câmaras de operação, fiação elétrica, de telefone, dutos de água, esgoto, gás, dentre muitos outros. A manutenção dos equipamentos causam diversos problemas no cotidiano da população, principalmente devido à necessidade de instalação, obstrução da circulação e deteriorização das vias, o que acarretam transtornos aos usuários de diferentes tipos de serviços públicos.

Outra questão a se pontuar reside no fato de que, historicamente, ocorre uma transformação em larga escala no que se refere à necessidade da existência de infraestrutura urbana no processo de urbanização, em que os elementos estruturais tornam-se essenciais para o desenvolvimento da vida urbana. Deák (1991), no texto A

cidade: do burgo a metrópole destaca as necessidades da população tanto no início do

processo de urbanização quanto nos tempos atuais. Para o autor, nos estágios iniciais do processo de urbanização, como a necessidade de diferenciar o território era mínima, não havia uma cobrança maior pela instalação de infraestrutura urbana. Com o passar do tempo, quando o sistema de infraestrutura adquire importância inclusive para a valorização das terras, há a necessidade de que os terrenos, além de serem urbanizados, devessem possuir um sistema de infraestrutura adequada as suas necessidades.