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3 CONSTITUIÇÃO DA INFRAESTRUTURA URBANA DAS CIDADES

3.5 PLANEJAMENTO URBANO NAS CIDADES

O termo planejamento é definido por Davidoff e Reiner (1973, p.11) como “um processo para determinar ações futuras através de uma sequência de opções”. Outro autor, Faludi (1973), também define planejamento, sendo para ele uma terminologia que possui inúmeros sentidos. De um lado, estão aqueles que consideram a questão como algo do socialismo. Por outros, há algumas definições que consideram como o esboço do design das cidades. Ainda, outras linhas de raciocínio acreditam que o planejamento são planos regionais com o objetivo de controlar o ciclo de negócios ou da participação da gestão científica no setor.

De qualquer modo, ao analisar a relação entre urbanização e cidades planejadas no Brasil, nota-se que há um histórico de construção de cidades planejadas. Abordando

somente as construídas entre o início do século XX até os dias atuais, Belo Horizonte foi a primeira capital a ser edificada a partir de um modelo planejado. Contudo, embora tenha sido arquitetada, a capital mineira é um local de representação das desigualdades sociais. Villaça (1998) enfatiza que de um lado estavam os ricos nas áreas planejadas, enquanto, do outro lado da cidade, os pobres moravam nas áreas que não possuíam infraestrutura.

Ao mesmo tempo, o Rio de Janeiro, a partir dos planos de Agache, elaborado entre os anos de 1928 e 1930, teve papel central na revolução do urbanismo brasileiro. Através das transformações causadas na aplicação das reformas urbanas, o arquiteto francês tinha em seus planos o objetivo de elucidar os problemas funcionais das cidades, modernizando sua estrutura. Já Goiânia, inaugurada em 1933, deu ênfase a produção de áreas verdes, através dos parques municipais, como forma de lazer para a população.

Sobre Salvador, objeto de estudo desta dissertação, os planos de urbanismo são desenvolvidos somente a partir da I Semana de Urbanismo, ocorrida em 1935. O plano inicial, proposto durante o evento, era que se desenvolvesse, segundo Sampaio (1999, p.163), uma “cidade-moderna, baseada num plano de urbanismo global, grandioso e grandiloquente.” Porém, alterações práticas só ocorrem a partir da criação, em 1943, do Escritório do Plano de Urbanismo da Cidade do Salvador (EPUCS), responsável pelo plano de urbanismo moderno, sob coordenação de Mário Leal Ferreira. Antes, em 1941, Alfredo Agache já havia tentado desenvolver um plano urbano para Salvador, contudo, sem sucesso.

Em continuação ao EPUCS, cria-se em 1948, após a morte de Mário Leal Ferreira, a Comissão do Plano de Urbanismo da Cidade de Salvador (CPUCS), tendo sido extinta em 1958, sendo seu acervo transferido para a Secretaria de Viação e Obras Públicas. De modo geral, segundo Sampaio (1999), poucas obras saíram do papel. Uma das poucas obras, já organizadas pelo CPUCS, foi a construção da Avenida Centenário, além de obras um pouco distantes do enfoque urbano, como a Escola Politécnica da UFBA. Além disso, Pereira (2008, p.85) cita que “na década de sessenta se deu a abertura das avenidas de vale, previstas no plano de Ferreira [Mário Leal Ferreira, ainda no EPUCS], quando a expansão do sistema viário incorporou novos tecidos urbanos”. Essas reformas urbanas são responsáveis por provocar a expulsão dos moradores

pobres, antes ocupantes dessas áreas, além de valorizar a terra urbana do redor das avenidas de vale.

Outro momento importante para o planejamento de Salvador ocorre na década de 1970. Esse período é marcado pela retomada dos planos de desenvolvimento urbano através do Plano de Desenvolvimento Urbano da Cidade Salvador, conhecido como PLANDURB. Neste Plano há as definições das diretrizes espaciais em níveis intra- urbano, objetivando um processo permanente de planejamento, criando novas atitudes, a fim de evitar problemas estruturais para Salvador e Região Metropolitana. (SAMPAIO, 1999)

Antes, porém, é aprovada a Lei da Reforma Urbana de 1968, que entrega ao mercado imobiliário as terras urbanas que estavam sobre a responsabilidade da Prefeitura Municipal de Salvador, o que permite que vastas áreas, nas mãos de poucos, passe por um processo de especulação. Um exemplo do poder das construtoras foi documentado na solicitação que a Odebrecht realiza à Prefeitura de Salvador, com o objetivo de intervir no direcionamento da Avenida Magalhães Neto. A construtora, responsável por muitas obras na área, dentre elas a atual rodoviária, desejava criar mais vagas de estacionamentos, haja vista, previa o adensamento de uso da área pelos futuros clientes das empresas que se instalassem nos empreendimentos.

Assim, as terras urbanas nas mãos das construtoras e incorporadoras, através da delegação do poder pelo Estado, foram responsáveis pela ocupação, por um lado, de áreas dotadas com infraestrutura prévia para a população que atendia ao mercado formal de aquisições residenciais e, por outro, pelo adensamento das ocupações para a população de baixa renda, principalmente através da autoconstrução, e sem a prévia instalação de infraestrutura urbana. Há, então, a intencionalidade por parte dos agentes de produção em reservar determinadas áreas para a formação de residenciais elitizados, principalmente a partir da migração de outras partes do Brasil com a instalação de empresas e órgãos governamentais.

Assim, em um salto no tempo, em 2001 é aprovado o Estatuto da Cidade. Este instrumento tem como objetivo auxiliar no planejamento das atividades urbanas, minimizando a diversidade de problemas que contemplam o interior das cidades. O surgimento do Ministério das Cidades, ocorrido no início do primeiro governo de Lula, no ano de 2003, aparece como um dos responsáveis pela implementação de um novo

modelo de política urbana. Este novo modelo é uma contribuição inovadora para o paradigma das políticas públicas.

A partir do exposto, a necessidade de existir um processo de planejamento urbano constante é ocasionada pela expansão das cidades, principalmente porque o desenvolvimento ocorrido nas últimas décadas do século passado não foi acompanhado pelo planejamento das ocupações. Barnett (1982) afirma que a arquitetura das cidades não é a soma das partes, ou seja, a cidade não é composta por um apanhado de recortes encaixáveis, mas por arquiteturas que devem se comunicar. O planejamento urbano contempla as decisões voltadas para o desenvolvimento da infraestrutura urbana. Isto posto, é a partir das políticas públicas que há a determinação para o desenvolvimento das redes de infraestrutura, levando ao crescimento físico dos serviços.

Couto (1981) entende que a disponibilidade de infraestrutura, equipamentos urbanos e comunitários possuem importância fundamental para que exista o equilíbrio social das áreas urbanizadas. Além disso, a população ainda experimentaria um equilíbrio político, cultural e psicológico, porque estes serviços servem de fator de escape das tensões geradas pelo cotidiano das cidades.

Para Passos (2009, p.43)

As cidades planejadas, segundo Richard Sennett, no livro Carne e pedra eram pensadas de acordo com a revolução científica da compreensão do corpo humano e de sua circulação sanguínea, proposto por William Harvey em sua obra de 1628 De motu cordis. O que Harvey expôs parecia bastante simples: o coração bombeia sangue através das artérias e veias, recebendo-o das veias, para ser bombeado. O fato foi que muitos engenheiros e urbanistas fizeram tal analogia a construção de cidades: a livre circulação (como a sanguínea) ao longo das ruas principais, estas se tornando um importante espaço urbano, cruzando áreas residenciais ou atravessando o centro da cidade.

Del Rio (1990, p. 130), ao discutir sobre a intervenção no crescimento urbano da Favela da Maré, no Rio de Janeiro, enfatiza sobre a necessidade de que

Programas e projetos habitacionais, por sua vez, também deveriam prever diversos níveis de participação dos mutuários. Isto, como repetidamente observado em experiências participativas em todo o mundo, aumentaria o grau de satisfação dos moradores, permitiria uma adaptação contínua da unidade as necessidades da família e ás suas possibilidades financeira. Da mesma maneira, para o sucesso de uma implementação contínua e satisfatória dos objetos de intervenção era vital a definição de um processo decisório com participação das

comunidades atingidas, cujos os atores seriam imbuídos de diferentes níveis de poder e responsabilidade. Uma garantia técnica disto seria fornecida pela implantação de escritórios técnicos locais, com representantes do BNH e da Prefeitura [do Rio de Janeiro], em cada assentamento prestando assessoria às associações e aos moradores na construção de consolidação de suas unidades e administração de seu assentamento.

Em outras palavras, o autor propõe que os moradores tenham maior participação no processo de tomada de decisões. Para tanto, há a necessidade de que ocorra a aproximação entre quem planeja, ou seja, os técnicos imbuídos em projetar o espaço urbano e habitacional, e quem realmente vai usufruir dos resultados das obras de (re) qualificação, ou seja, os moradores. Os técnicos a serviço do poder público têm a missão de consolidar o processo de melhorias, demonstrando que o planejamento é um processo longo e amplo.

Sendo assim, o planejamento urbano é um dos principais fatores na organização do espaço urbano. Para tanto, ele é embasado nas pesquisas realizadas pelos agentes estatais ou privados. No caso da infraestrutura urbana, como abordado no próximo subcapítulo, os investimentos públicos são distribuídos conforme as pesquisas apontam as necessidades de diferentes localidades. Os censos demográficos são realizados no início de cada década pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e, independente das dificuldades e problemas encontrados, é a melhor maneira de representar as necessidades da população. Além disso, a pesquisa tem importante valor para o planejamento porque apresenta informações importantes que, quando utilizadas da maneira correta, é responsável por subsidiar os técnicos e planejadores urbanos na tomada das melhores decisões.

3.6 DADOS DA INFRAESTRUTURA URBANA NOS CENSOS