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Os Procedimentos de Análise dos Dados Coletados/Produzidos

5 PERCURSO TEÓRICO-METODOLÓGICO – A PESQUISA COMO UMA AVENTURA PENSADA

5.4 Os Procedimentos de Análise dos Dados Coletados/Produzidos

No primeiro capítulo desta pesquisa já utilizamos a Análise de Conteúdo na conformação do objeto de nossa investigação, e ali apresentamos alguns aspectos relevantes da mesma. No entanto, julgamos importante tecer mais algumas considerações sobre a Análise de Conteúdo e descrever como a utilizamos com os dados produzidos e coletados no campo empírico.

Segundo Bardin (2011), a Análise de Conteúdo, doravante chamada de AC, objetiva superar a simples descrição dos conteúdos estando mais interessada no

que os dados poderão ensinar após serem tratados, o que está em profunda sintonia com os objetivos desta investigação que pretende compreender concepções e práticas de enfrentamento do racismo, para além de uma mera conceituação livresca.

A AC inicialmente foi entendida como uma técnica de pesquisa para descrição objetiva, sistemática e quantitativa do conteúdo manifesto da comunicação. Essa é uma leitura baseada numa perspectiva estruturalista dos anos 50, época em que predominava o pensamento positivista. Esse movimento conceitual e metodológico é ampliado e diversificado por várias áreas do conhecimento sendo usado hoje pela História, Psiquiatria, Psicanálise, Linguística, além da Sociologia, Educação, Psicologia, Ciências Políticas e Jornalismo, sendo esta última por onde começou a AC.

De acordo com Bardin (2011), podemos afirmar que a AC é um conjunto de técnicas de análise de comunicações no intuito de obter, através de procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição de conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção dessas mensagens. Por isso, o primeiro momento de descrição é tão importante, para que possamos ter referências que possibilitem a inferência.

Para Vala (1990), a AC através da inferência leva a/o pesquisadora/or a ultrapassar o limite da mera descrição, conduzindo-a/o à interpretação através da atribuição de sentidos dada às características do objeto que foram criteriosamente levantadas e organizadas. Nesse sentido, compreendemos a AC como uma técnica que nos possibilita tomar o conteúdo das mensagens para que encontremos indicadores que nos permitam fazer inferência em relação aos objetivos da pesquisa.

Ao adotar, dentre as várias possibilidades de AC, a Análise de Conteúdo Temática, assumimos nossa preocupação em descobrir os núcleos ou indicadores de sentidos que partem das categorias teóricas, ou seja, da abordagem teórica que precisamos nos apropriar para fazer as inferências. Isto é, os temas que emergem dos dados estão fundamentados na base teórica que adotamos para proceder ao trabalho de análise, por meio de uma triangulação. Nesse sentido, Bardin (2011) discorre sobre como preparar os dados para a análise, organizando-os em três fases principais, conforme já mencionamos anteriormente, mas que agora nos importa

retomá-las para anunciar como procedemos o trato com os dados produzidos e coletados.

A primeira fase (pré-análise) é na qual realizamos a leitura flutuante dos documentos citados, da transcrição das entrevistas e do diário etnográfico, ou seja, o primeiro contato com os textos para captar o seu conteúdo geral sem preocupações técnicas. Em seguida, constituímos o corpus documental a partir das já citadas regras64 estabelecidas (BARDIN, 2011). Esse passo é dado com o objetivo de definir as unidades de registro (que correspondem ao menor segmento de conteúdo a ser considerado como unidade de base). Após a constituição do corpus efetuamos a preparação do material, buscando identificar com base na abordagem teórica deste trabalho as categorias que nos orientaram para que possamos proceder à fase da exploração do material.

A segunda fase da AC é a que busca aprofundar a exploração do material através da codificação, da classificação e da categorização dos dados levantados nos documentos, nas entrevistas (após devidamente transcritas) e no diário etnográfico. Essa fase mostra que as informações coletadas ou produzidas são apenas informações, ainda não são o dado; desse modo, constitui-se em uma etapa que tem o objetivo de preparar o material produzido e coletado para procedermos à terceira fase, ou seja, o tratamento dos resultados obtidos, interpretação e inferência propriamente ditas. O esquema proposto por Vala (1990, p. 105), representado abaixo, nos ajuda a compreender melhor como procedemos para realizar as análises.

Figura 10 - Esquema de Análise de Conteúdo

64 Exaustividade (reúne todos os elementos passíveis de análise); representatividade (corresponde a uma amostra que permita uma generalização dos resultados); homogeneidade (refere-se à singularidade de critérios de escolha de dados, de acesso e forma de coleta) e pertinência ou adequabilidade (trata da adequada correspondência entre os documentos retidos e o objetivo da análise para a pesquisa).

Segundo o esquema, o primeiro quadro “condições de produção da mensagem” corresponde à caracterização das condições de produção do discurso, ou seja, refere-se à caracterização/descrição do campo empírico, ou seja, da UNILAB, do campus Liberdade e da unidade Acadêmica Palmares, do Maciço do Baturité, do estado do Ceará, do Nordeste brasileiro, dos países da CPLP e das/os estudantes africanas/os e afro-brasileiras/os. Ligado ao primeiro quadro está o “discurso sujeito à análise” que corresponde às informações que coletamos e produzimos por meio das técnicas que adotamos.

As “condições de produção da análise” correspondem ao processo de dissociar os discursos de suas fontes, confrontando-os com os objetivos da pesquisa, inserindo-o num novo contexto a partir de um sistema de inferências, considerando as inteligibilidades envolvidas. O “modelo de análise” adotado será, como já mencionamos, a Análise Temática, e os “resultados” representam compreender como o racismo é curricularizado e pedagogizado nos cursos de formação de professoras/es da UNILAB. A partir do próximo capítulo, apresentamos as análises correspondentes ao percurso teórico-metodológico que apresentamos aqui.

6 AS CONCEPÇÕES DE RACISMO PRESENTES NOS CURSOS DE FORMAÇÃO