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Os Processo de Institucionalização da EaD na UFRN

5.2 A Ampliação do Ensino Superior na UFRN

5.2.2 Os Processo de Institucionalização da EaD na UFRN

O processo de institucionalização da EaD na UFRN teve problemas como preconceito, dificuldade de compreensão das pessoas, falta de experiência com a modalidade, ausência de um grupo de professores prontos a utilizar a modalidade. Trata-se de um cenário difícil, por não ter como fugir da EaD que é condição sine qua non para a ampliação da educação superior do Brasil, frente as suas características continentais. Diante do esforço da SEDIS, UFRN hoje tem-se um corpo docente significativo dos departamentos que participam dos cursos à distância, tanto na produção do material didático, quanto no acompanhamento das disciplinas, em especial dos professores dos departamentos de Física, de Matemática e de Química.

A SEDIS, por ser o órgão de fomento da UFRN para a EaD, é a responsável por receber todos os editais lançados do governo federal, sejam voltados às atividades da SEDIS ou às atividades da UAB.

Na sua formulação, a SEDIS teve a incumbência de formar seus quadros de professores/multiplicadores para a própria instituição. “Os sistemas de ação que estruturam a execução funcionam concretamente segundo modalidades muito variadas de uma política para outra (...)” (MÈNY; THOENIG, 1992, p. 182).

Com relação aos quadros de professores, de início eram bastante restritos porque poucos educadores tiveram essa afinidade com a modalidade, mas com o passar dos anos, o quadro torna-se mais robusto, constituindo em um grupo maior de profissionais para atuar na EaD e passam a assumir a missão de estruturar os projetos pedagógicos e discuti-los no âmbito dos Departamentos e dos Centros.

Na UFRN houve todo o processo de discussão dos conselhos, já que são projetos aprovados no CONSEPE e que a Universidade autoriza o funcionamento dos cursos a partir das estruturas de editais das políticas de projetos nacionais a eles vinculados.

A institucionalização da SEDIS e consequentemente da EaD, na Universidade continua a passar por algumas dificuldades, como: ser uma modalidade nova de ensino; resistência à modalidade devido a uma cultura e/ou pensamento vigente ratificando que só se aprende mediante o ensino tradicional, ou seja, por meio do contato presencial professor/aluno. Essa modalidade de ensino é revestida de alto grau de preconceito, o que causou, inclusive, rejeição ao projeto de criação da SEDIS que chegou a ser menosprezado.

Os problemas do processo de institucionalização da EaD na UFRN, de acordo com a Gestora C:

Agora, o processo de institucionalização na Universidade vai ter os mesmos problemas, que são esses do preconceito, da dificuldade das pessoas entenderem, da falta de experiência com a modalidade, de você não ter um grupo de professores já com essa é.feitos a utilizar essa modalidade.

O maior dos preconceitos quanto a SEDIS tornar-se realidade foi o de passar pelo crivo de convencer os próprios funcionários da instituição que se tratava de um projeto viável de acontecer. A dificuldade de encontrar espaço físico era mera questão periférica e esse não foi um problema de média, nem de grande proporção, era apenas algo estrutural. Além do que, no início, a infraestrutura da SEDIS era menor porque foram usados apenas os pólos que iniciaram o Pro Licenciatura, que existem dentro dos campi da Universidade (Gestora A).

O processo de institucionalização da EaD na UFRN é longo e começa como programa, oferecendo uma série de incentivos que, possivelmente no futuro possam não existir, como o pagamento de bolsas aos professores cursistas e uma série de outros incentivos que, com esse processo totalmente implementado e os cursos fazendo parte da rotina dos departamentos, não irão existir. A política do governo federal usa os programas vigentes (licenciaturas, Administração – piloto e Administração Pública) como incentivo à implementar e institucionalizar a cultura de EaD consolidada nas universidades públicas do país (GESTORAS B; D).

O processo de implementação da EaD na UFRN acontece aos poucos, o MEC libera vagas para professores atuarem em EaD, via concursos públicos, fortalecendo consequentemente, a atuação dos departamentos na modalidade. Possivelmente, no futuro, os departamentos não farão distinção dos professores em relação às modalidades de ensino nas quais atuam, se presencial ou à distância.

Os processos de condução da ampliação e de interiorização do ensino superior na UFRN tornam-se possíveis a partir de incentivos políticos e financeiros de governo federal, como do REUNI e os recursos disponíveis à UFRN, a partir desse projeto também são investidos em obras de infraestrutura física dentro da UFRN.

A Gestora D comenta o processo de ampliação das vagas na UFRN:

Outros projetos que vão sendo conduzidos, dentro da UFRN, aí a gente tem toda a condução também de ampliação de vagas, de interiorização, todos os processos que foram feitos a partir de outros incentivos de governo federal, como por exemplo, o do REUNI (...).

As políticas públicas devem efetivar a necessária expansão do sistema educacional com qualidade, garantindo a democratização dos mecanismos de acesso e permanência da população à educação superior pública. A democratização está voltada à ampliação e interiorização do ensino superior (RISTOFF, 2008).

Assim, na UFRN, foram construídos prédios para cursos específicos, como o de Ciência e Tecnologia, que a estrutura do curso de graduação difere da concepção padrão dos demais, pois já ‘nasce’ com uma carga de disciplinas que pode ser conduzida a distância, regimentada no seu projeto pedagógico. Vale salientar que o curso não foi criado pela SEDIS, mas recebeu apoio técnico e reflexivo para a criação de sua estrutura.

A educação, como um todo, passa por um momento de transformação significativo com o avanço e o uso das tecnologias de informação e a iniciativa de implantar a EaD na UFRN partiu também desse momento vivido na época e que ainda perpetua, além e principalmente, do incentivo político-financeiro do Governo Federal, porque a modalidade sozinha, não teria como fazê-lo devido à relevância do ensino presencial nessa instituição. Assim, a EaD é concebida e enraizada de forma diferente dos projetos anteriores, com o apoio da diretoria da CAPES que se dedica diretamente a modalidade, o que reforça que a modalidade deixa de ser apenas um programa isolado.

A ampliação das vagas do ensino superior faz parte dos problemas de agenda do governo, principalmente no que diz respeito à formação de professores e ao acesso reduzido da população ao ensino superior. E a solução ou minimização de ambos os problemas foi operacionalizada com a oferta de cursos, via UAB, que trabalha as metas dos cursos baseada numa demanda. Com o investimento em políticas públicas, foram criados os fóruns estaduais de educação, voltados às articulações de programas do governo federal e também são discutidas estratégias para atender às carências educacionais que são detectadas na pesquisa nacional do INEP – Censo Escolar 2002.

A criação desses fóruns estaduais é estimulada pelo governo federal e a UAB teve a iniciativa de “estadualizar” a EaD, de forma que cada estado no seu próprio fórum para atuar em seu território. Os Fóruns são constituídos pelo Secretário de Educação do Estado, que é o seu presidente nato, formado também por representantes institucionais, como o Coordenador UAB de cada estado e cada instituição tem um coordenador da UAB que é o coordenador adjunto; é formado por representante da secretaria estadual e municipais, representante da UNDIME (BRASIL 2010t; 2011v; 2011w).

Nesses fóruns são discutidas a necessidade de oferta de vagas; a carência de formação de professores; além de serem feitos levantamentos das demandas de professores para todo

Estado. Assim, as universidades, de acordo com as suas possibilidades, ofertam cursos para atender às indicações demandadas, sabendo que, a oferta de um curso para uma região é limitada a existência de demanda (BRASIL 2010; 2011).

Os Fóruns Estaduais objetivam promover arranjos educacionais locais, com levantamento de demanda e solução de oferta (COSTA, s/d).

Para oferecer cursos aos professores que fazem parte das redes de ensino, seja estadual ou municipal, por meio do Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica (PARFOR22), têm que passar pelo aval do fórum estadual que detém as informações e discute a demanda e as possibilidades da oferta de cursos pelas universidades (BRASIL, 2011f; 2011g; 2010l).

A política de educação superior dirigida aos professores é fundamental que aconteça em caráter inicial e tenha continuidade, assim a melhoria da educação básica depende da qualidade da formação dos quadros de professores das redes de ensino do país. As políticas nacionais de Educação objetivam estender o ensino superior aos lugares mais distantes dos centros de ensino. Já no processo inverso, o nível de aprimoramento do ensino superior depende da capacidade intelectual dos egressos do ensino básico. Logo, trata-se de um “ciclo de dependência mútua” que acontece entre os níveis educacionais (BRASIL, 2007, p. 9). Assim, o Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica,

(...) é resultado da ação conjunta do Ministério da Educação (MEC), de Instituições Públicas de Educação Superior (IPES) e das secretarias de educação dos estados e municípios, no âmbito do Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação (PDE), que estabeleceu no país um novo regime de colaboração da União com os estados e municípios, respeitando a autonomia dos entes federados (BRASIL, 2011). Mais do que uma prioridade do Governo Federal, a educação é um desafio permanente para a construção de um projeto nacional (BRASIL, 2011c, p. 2).

O processo de implementação da EaD aconteceu em todas as universidades brasileiras, integrado às políticas públicas nacionais e sua linha prioritária de ação se inicia com os projetos do chamado Pró-Licenciatura, voltado à formação de professores e depois passa para a UAB. Dependendo do edital federal para abertura de vagas para cursos, poderia ter demanda

22 PARFOR “é resultado de um conjunto de ações do MEC, em colaboração com as secretarias de educação dos

estados e municípios e as instituições públicas de educação superior neles sediadas, para ministrar cursos superiores gratuitos e de qualidade a professores em exercício das escolas públicas sem formação adequada à LDB” (CAPES, 2011).

específica de grupo de professores que faziam parte da rede de ensino, como se constituir também de alunos provenientes da demanda social.

A implementação dos cursos citados por meio de parceria entre os consórcios regionais e o MEC, que têm suas coordenações geridas pelas próprias instituições de ensino superior, aponta para um modelo diferenciado (modelo Botton-up) na própria concepção da construção das licenciaturas. Ao invés de convocar o Banco Mundial para definir as políticas públicas (modelo Top-down) que melhor se adéquam ao sistema educacional brasileiro, o governo federal agregara as principais universidades públicas, respeitando suas diferenças regionais, para a construção de cursos de licenciatura e bacharelado na modalidade à distância.

O estado do RN avançou muito em termos de oferta de vagas e a UFRN figura entre as universidades mais conceituadas do Nordeste, devido a um trabalho intenso em ensino, pesquisa e extensão em todas as áreas e não poderia ser diferente na EaD que foi avaliada tendo em vista a posição galgada pela Universidade, pode-se supor que há ganhos qualitativos (BRASIL, 2010).

O contingente de alunos da universidade utiliza-se de um cenário que desenvolveu tecnologias que permitem expansão, conhecimento e informação podendo chegar a diferentes espaços e lugares, por meio da capitalização da educação. Brasil (2007), de acordo com o programa de expansão e qualificação do ensino, da pesquisa e da extensão da UFRN, a expansão das atividades acadêmicas visa fortalecer as bases científica, tecnológica, sociocultural e estatística da instituição. Dessa forma, para Brasil (2007, p.15-16), a ampliação da oferta de vagas de ingresso no ensino de graduação,

(...) com adoção de novas modalidades de formação acadêmica, como o bacharelado interdisciplinar e o ensino a distância, possibilitando a democratização do acesso à universidade pública de qualidade; Consolidação e ampliação da modalidade de ensino a distância nos níveis de ensino de graduação e pós-graduação; Implementação de uma Política de Formação Inicial e Continuada de Professores da Educação Básica, apoiada no conceito de redes de ação e cooperação entre os sistemas de ensino e a UFRN (BRASIL, 2007, p. 15-16).

A linha prioritária de articulação com a educação básica busca assegurar a melhoria na qualidade da formação dos profissionais da educação, voltando-se ao desdobramento da renovação pedagógica do ensino de graduação (BRASIL, 2007). E no processo de democratização do ensino, busca-se minimizar os déficits educativos e de desigualdades regionais por meio também da EaD, já que o MEC, a União e os Estados são parceiros para o

desenvolvimento da informática nas escolas de ensino fundamental e médio no país (BRASIL, 2001).

Não se pode imaginar que a universidade por meio de um único espaço físico possa comportar a quantidade de demanda existente e que cresce a cada dia, então é preciso descentralizar seus serviços. E o processo de descentralização da ação, da missão da universidade, precisa ser irrigado usando aquilo que a sociedade já lhe oferece, que é a informação e a tecnologia para chegar mais rápido às partes. Percebe-se que o desafio da EaD é muito grande porque está sendo implantado e decorre de todo um processo de aprendizagem dos sujeitos envolvidos:

Então, minha avaliação, é que a gente, realmente, está fazendo a coisa de qualidade e que uma questão muito bem estruturada (GESTORA A).

Eu acho importante, fundamental! Ampliar é fundamental, agregar a ampliação à qualidade é fundamental então, não se pode conceber uma universidade que forma um contingente muito pequeno de alunos (...). Não se pode imaginar que a universidade, que um lugar só, em termos de espaço físico pode comportar a quantidade de demanda que existe então isso precisa ser descentralizado (GESTORA C).

Para as Gestoras A e C, a SEDIS está crescendo organizadamente, sedimentando e discutindo seus cursos; é tanto que no início só foram oferecidos três cursos. Em 2009 foram graduados os alunos das primeiras turmas dessas licenciaturas e nesse mesmo ano, a SEDIS começou a atuar na extensão e na pós-graduação. A avaliação das Gestoras citadas quanto à forma de condução da ampliação com qualidade é positiva por não se analisar só números, uma vez que se busca ofertar os cursos com garantia de qualidade. Já a Gestora D salienta que a estrutura da EaD na UFRN como está sendo institucionalizada ainda precisa ser repensada. E a Gestora D completa:

(...) até de definição, de suas funções de atuação mesmo. É um professor que faz isso? É um funcionário aquilo? Da própria definição de alguns papéis que estão principalmente ligação à gestão dessa Secretaria, quanto da condução, dentro da própria UFRN (GESTORA D).

Segundo Belloni (2003) os modelos influenciam a elaboração dos modelos teóricos, na política e nas práticas de EAD, quanto às estratégias desenvolvidas como a organização do trabalho acadêmico e de produção de materiais pedagógicos. A SEDIS inicialmente não tinha professores lotados especificamente para atuarem nos cursos à distância. A partir dos incentivos federais do MEC, foram consolidadas vagas específicas para professores atuarem

em EaD. A UFRN, por ser uma das primeiras universidades federais a trabalhar com a modalidade, foi uma das beneficiadas no processo.

No momento da entrevista, a Gestora D reflete sobre a atuação retrospectiva da SEDIS e ressalta:

(...) a própria institucionalização da educação a distância dentro da UFRN ainda precisa ser repensada (GESTORA D).

Então hoje, cinco anos depois, por isso que eu vejo essa ampliação muito complicada, enquanto nós temos ainda temos quinze pessoas ainda ‘batendo cabeça’ (GESTORA D).

Dessa forma, a gestão da SEDIS precisa de um melhor alinhamento de atuação, mas para isso, o processo de atuação precisa ser repensado. Os cursos oferecidos por meio da EaD apresentam as mesmas (ou maiores) duração e carga horária do ensino presencial e são certificados pela UFRN, independente da modalidade, o aluno é licenciado pela UFRN no curso escolhido. Até o ano de 2010, o aluno para ingressar na UFRN, via EaD, passava por um processo seletivo, via vestibular (GESTORA A). Dessa forma, o aluno de EaD é graduado,

Tal qual! Lá no certificado dele não vem certificado à distância não. Ele é licenciado em Matemática pela UFRN [...] (GESTORA A).

Parágrafo Único. O registro de diplomas é feito na própria Universidade, por delegação do Ministério da Educação, e dá direito ao exercício profissional no setor de estudos abrangido pelo currículo do Curso respectivo, com validade em todo o território nacional (BRASIL, 2002, p. 23).

Mas esses cursos precisam ter uma identidade específica que caracterize a EaD na UFRN. A SEDIS por ser o órgão que fomenta os projetos e precisava ter uma estrutura mínima de funcionários e de estrutura física como setores: para as provas, de viagem aos pólos, de encaminhamento de materiais didáticos, setor responsável pela tecnologia, pelo uso de ambientes virtuais e pelo uso de produção de CD. Assim, percebe-se a necessidade de novos planejamentos dos processos a serem colocados em prática pela SEDIS.

Toda essa ampliação é vista pelas Gestoras A, B, C e D como um processo, como um caminho sem volta já que a política pública pode ser explicada em função das características do programa, dos comportamentos dos executores e das reações entre os grupos-objetivo (MÈNY e THOENIG, 1992, p. 182-183). Trata-se de responder à sociedade e à própria comunidade UFRN que nessa mudança de gestão passa a ver a SEDIS como aquele órgão que

fomenta e fornece estrutura. Além de oferecer cursos às demandas externas, precisa estar preparado para atender aos cursos e projetos que estejam acontecendo em paralelo para os servidores do quadro da instituição.

O reitor tem todo o interesse em resolver essa situação, certo? Então há a possibilidade de se criar uma unidade acadêmica especializada em Educação a Distância, onde todos esses professores passariam a ser lotados nessa unidade ou então se chegar ao chegar ao fato de os professores irem pra os departamentos onde estão sediados os cursos (...) (GESTORA B).

Nós ficamos separados de todos e unidos com todos ao mesmo tempo porque para dar o curso de física nós precisamos de professores do Departamento de Física. Um único professor de Física dentro desse processo, não consegue dar conta de todas as disciplinas do curso. Ele precisa do departamento (GESTORA D).

Forma de institucionalização seria deslocar essas pessoas para determinadas departamentos que estão ligados às suas áreas, se for, a gente perde na hora em que a gente tem essa coesão onde estão todos juntos aqui, eles estão em departamentos, mas, no entanto, eu também ganho quando eu trago isso muito mais próximo do departamento e do ensino presencial. Então há uma grande discussão entre duas saídas: essa, dos professores irem para departamentos e outra, que é criar uma unidade acadêmica para dar sustentabilidade à educação a distância dentro da UFRN (GESTORA D).

Subirats (1994) expõe que quanto menor for seu grau de mudança provocado pela aplicação do programa, maiores serão as possibilidades de êxito ou maior será o rendimento dos programas. A implementação da EaD na UFRN segue uma linha sem muitas alterações, como a realocação dos professores nos seus departamentos de origem que aconteceu após essa fase de transição de gestão na UFRN. Nesse caso, a decisão repercutiu de forma a oferecer maior êxito ao programa.