Escola Normal Pinto Júnior
3.5 QUE SAUDADE DA PROFESSORINHA QUE ME ENSINOU O BEABÁ
3.5.2 Os professores dos Cursos de Ensino Normal
As Normalistas, analogicamente, informam que seus professores e professoras, eram catedráticos; médicos; maestros; advogados; engenheiros; filósofos, homens da cultura e da política niteroiense e recifense, inclusive expressam as características físicas de cada um. De acordo com os seus relatos, os professores eram sisudos, muito cultos e bem exigentes. Relatam ainda, que nas Escolas Normais, havia algumas professoras, mas os homens eram em maior número. O termo catedrático era dado ao professor titular, consequentemente aos que tinham um maior conhecimento sobre determinado assunto.
Áurea: [...] Os professores, você dizia que eram referência. Todos os professores eram considerados assim, uma referência, eram catedráticos . Tinha uns que eram daqui, era da Universidade Federal Fluminense, professor de Biologia era médico. Naquela época que podia exercer a profissão de professor, porque eram os melhores da área, estavam ensinando as futuras professoras.
Quadro 13 - Relação nominal de alguns profissionais descritos pelas Normalistas da Escola Normal da Côrte
NOME DO PROFISSIONAL FUNÇÃO/DISCIPLINA Alberto Ferreira Prof. de OSPB
Alberto Mota Prof. de Biologia / Anatomia e Médico Antônio Viana Prof. de Português
Armando Gonçalves Prof. e Diretor
Carmen Profa. de Música
Cassandra Melo Guimarães Prof. de Português
Cleber Prof. de Biologia e Médico
Clores Galvão Prof. de Música
Colé Prof. de Matemática
Iraci Profa. de Português
José Nilson Prof. de Química
Léia Rodrigues Profa. de Psicologia e Psicóloga Romanda Gonçalves Diretora e Professora de didática
Sinese Prof. de Puericultura e médica
Teresinha Guerrante Lanquernal Diretora Fonte: A pesquisa, (2014).
Em relação ao fato da maioria dos professores serem homens, era pela questão da formação dos professores e pela própria questão das mulheres no campo de trabalho. Para Louro (2008), o início das aberturas das Escolas de Ensino Normal, era predominantemente para meninos, havendo inclusive a questão da separação de gênero, professores para os meninos e professoras para as meninas. Tendo a sua conduta moral e ética inabalável, além da
questão do Decreto nº 8025 de 16 de março de 1881, que criava o regulamento da primeira Escola Normal da Côrte. Também relatava que esta instituição poderia ser frequentada por meninos e meninas, mas, no capítulo VII deste regulamento, relata-se que a contratação dos professores e a questão da direção são tratadas pelo gênero masculino, bem diferente da contratação dos "inspectores".
Imagem 13 - Regulamento da Escola Normal do Município da Côrte
Fonte: Biblioteca Nacional, (2015).
Porém Louro (2008) relata que, mesmo contratando homens e mulheres para o Ensino Normal, tendo como discurso o mesmo salário, era grande a diferença nas contratações, "Seria uma simplificação grosseira compreender a educação das meninas e dos meninos como processos únicos, de algum modo universais dentro daquela sociedade." (LOURO, 2008, p.444), ficando evidente nos relatos das Normalistas o quantitativo de professores em relação às professoras, e os diretores e diretoras.
O anexo "H" demonstra a diferenciação de gênero e de categoria, observando-se que professores de trabalhos manuais, de agulhas e de ginástica, impreterivelmente mulheres, recebiam menos do que as disciplinas de Português, Geografia, História, entre outras.
Pela questão temporal, não se encontram relatos em que os homens ministravam essas disciplinas, e os nossos quadros demonstram as disciplinas e as prevalências de ensino para estas.
Quadro 14 - Relação nominal de alguns profissionais descritos pelas Normalistas da Escola Normal Oficial de Pernambuco
NOME DO PROFISSIONAL FUNÇÃO/DISCIPLINA
Alto Nadler Prof. de Francês
Amaro Ferreira Prof. de Geografia
Amaro Quintas Prof. de História
André Gustavo Carneiro Leão Prof. de Matemática
Armando Meira Lins Prof. de Ciências Biológicas Arnaldo Carneiro Leão Prof. de Física
Bado Profa. de Educação Física
Bau Profa. de Educação Física
Dárcio de Lyra Rabello (Prof./Diretor) Prof. de Geografia Fernando de Oliveira Mota Prof. de Sociologia
Heloísa Profa. de Francês
Ivan Alecrim Prof. de Ciências
José Brasileiro Vila Nova Prof. de Português
Lucilo Ávila Latim/Português
Manoel Correia Geografia
Maria do Carmo Monteiro Profa. de Educação Física Maria Luiza Fontainha de Abreu Profa. de Artes Manuais
Maria Luiza Maranhão Guimarães Educação Doméstica/Puericultura
Mário Persivo Cunha Desenho
Mauro Mota Geografia
Milton Mello Francês
Moacir Carneiro Leão Matemática Moacir de Albuquerque Português
Nelson Saldanha Filosofia
Potiguar Matos História
Reinaldo de Oliveira Ciências Biológicas Ruy de Ayres Bello Português
Salomão Jaroslavsky Química
Sylvio Rabello Psicologia
Tadeu Rocha Geografia
Valdemar Valente Biologia
Vicente Fittipaldi (Maestro) Música
Waldemar Valente Ciências Biológicas Fonte: A pesquisa, (2011-2014).
A profissão professor era para os gêneros masculino e feminino, sendo que naquela época era de responsabilidade do Estado, tanto para o Ensino Normal quanto para o Ensino Primário, mesmo a Escola Normal Pinto Júnior tendo o viés de uma sociedade propagadora, isto é, a escola fornecia bolsas para as Normalistas que não tinham condições de pagar. Caminhando de acordo com as demandas do governo, tanto o estadual, quanto o federal.
Quadro 15 - Relação nominal de alguns profissionais descrito pelas Normalistas da Escola Normal Pinto Júnior
NOME DO PROFISSIONAL FUNÇÃO/DISCIPLINA
Agenor Inglês
Alda Lucas Coordenadora (noite)
Aldo Rabello Geografia
Alípio Francês
Aluísio Albuquerque Português
Amaro Quincas Sociologia
Arlindo Lima Português
Armando Temporal Diretor Baltazar da Câmara Desenho
Cândido Duarte Diretor
Clóris Ciências Naturais
Costa Mario Nunes Desenho Dárcio de Lyra Rabello Geografia Doris Monteiro Profa. Português Dulce Campos Profa. de Sociologia Edileusa Profa. de Educação Física Eliane Campos Profa. de História e Religião
Heitor Maia Matemática
Júlio de Melo Matemática
Lisboa Português
Lourdes Correia Profa. de Didática da Matemática
Mário Nunes Desenho
Neide Profa. de Música
Nelsina Profa. de Cuidadora/inspetora
Nizan Profa. de Coordenadora (manhã)
Porto Carrero Português
Rui de Aires Belo Diretor
Sebastiana Profa. de Educação Física Silvinha Profa. de Coordenadora (tarde)
Souza Leão Inspetora
Suelly Biologia
Sylvio Rabello Psicologia
Tânia Alcôforado Diretora e Profa. de História Teresinha Botelho
Vera Profa. de Português
Violeta Educação Física
Waldemar de Oliveira Teatrólogo Waldemar Valente História Natural Zuleide
Zulmira Profa. de Português / Didática Fonte: A pesquisa, (2011- 2014).
Áurea: Nomeação-prêmio é quem tirava mais de setenta durante o curso todo. Mais de setenta em cada disciplina e mais de oitenta na global. Entendeu? Então nós... aí quem não fazia aquela prova pra dar aula... que era como um vestibular naquela época né? Terminava o curso normal e o pessoal fazia ingresso, aí ia pra longe... era uma coisa dificílima aquela prova naquela época. E nós daqui do instituto de educação que passava nesse critério, você escolhia a escola que queria trabalhar. Eu aí, eu mais umas
cinco... acompanhando as colegas, ao invés de ficar aqui... nós fomos pra outra escola. Aí eu fui trabalhar no colégio estadual Raul Vidal, que é ali perto da rodoviária.
Dona Lindete: Maravilhosa. Os professores eram respeitados, os alunos quando a gente entrava se levantava, a gente se benzia, rezava e também na Escola Normal, também que muito mais rigoroso. Eu amava a disciplina, eu tenho saudade, de os alunos de hoje e de ontem. Hoje os alunos não querem usar farda, eu achava maravilhoso usar farda.
Ingracita: [...] comecei a trabalhar como professora lá mesmo, porque lá tinha jardim, mas eu fiquei contratada porque eu procurei outro recurso lá fora, ai fiz logo em seguida o concurso do estado, ai passei.
[...] Ana Paula Como era ser professora do Pinto Júnior? Primeiro, que ano foi isso?
Ingracita: Foi em 1969.
Ana Paula E a senhora fez o concurso e passou pra ser professora...
Ingracita: Passei pra ser professora, fui logo laureada. Como eu fui laureada, eu passei e fiquei esperando um ano mais ou menos e trabalhado lá particular, quando eu fui nomeada, aí eu pedi transferência pra ir pra escola Manoel Borba, pronto.
Ana Paula Mas como era ser professora do Pinto Júnior?
Ingracita: Ser professora do Pinto Júnior era como se tivesse ganho... uma vitória! Entendeu? Era como... Me orgulhava em dizer, “Eu sou professora daqui da escola Pinto Júnior”. E dizia pra todo mundo “Eu sou professora do Pinto Júnior!”. “Eu agora sou professora primária do Pinto Júnior, no dia que eu entrei pela primeira vez na Pinto Júnior foi como se eu tivesse ganho um troféu de um grande prêmio na minha vida.
Vários foram os motivos que levaram as Normalistas a ingressarem na trajetória docente, como também a sua forma de contratação. D. Áurea foi por meritocracia, pois a aluna que obtivesse as melhores notas tinha a sua contratação garantida, não relatando os detalhes e muito menos os critérios para a escolha de uma determinada professora. Já em Recife, na Escola Pinto Júnior, a nomeação de uma das Normalistas se deu por meio de concurso, em 1969.
Cada relato é feito de acordo com sua época e com a política vigente da sua localidade e instituição escolar, mudanças essas que acompanham a ampliação do ensino Normal e consequentemente o Ensino Primário, validando a procura e a oferta. Nos apêndices das entrevistas, também é relatada a influência que alguns diretores tiveram para a contratação. Assim, os modelos de ingresso como professoras não foram hegemônicos, porém revelam o orgulho de ora pertencerem a estas instituições como Normalistas e logo em seguida como professoras.
3.5.3 Diretor
Nesta pesquisa, trabalhamos com três instituições distintas, tendo cada Normalista estudado o Curso Normal em momentos diversos, mas dentro do marco temporal da mesma. As Normalistas narram fatos comuns, tanto em relação as suas próprias vivências, quanto nas relações com os seus inspetores, professores e diretores, todos do gênero masculino.
Mesmo em suas narrativas, é perceptível que havia uma disciplina, um controle constante das inspetoras, professores e professoras, como também dos diretores e diretoras.
Francisca: Essa escola era uma escola muito linda! Muito importante! Eu cobrava muito a disciplina, porque eu só trabalhei com a disciplina já de adulto né... de meninas de segundo grau... já mocinhas.
Relembrando um pouco desta trajetória, torna-se importante destacar pela memória das Normalistas, a pessoa do Professor de geografia e diretor Dárcio de Lyra Rabello, que foi responsável pela formação, administração, organização e disciplina do IEP.
Quanto mais significativo um nome ou um rosto, maior a probabilidade de que seja lembrado; os outros é que são gradualmente descartados da memória por um ‘processo muito lento de esquecimento’.
O processo da memória depende, pois, não só da capacidade de compreensão do indivíduo, mas também de seu interesse. Assim é muito mais provável que uma lembrança seja precisa quando corresponde a um interesse e necessidade social. (THOMPSON, 2002, p.152).
Nessa fala, pode-se perceber que Dárcio Rabello estava inserido em todos os aspectos da instituição, como a postura rigorosa, a disciplina excessiva, as avaliações orais e escritas e a constante participação da instituição em eventos sociais. Exemplo: Desfile cívico, jogos escolares, missas e exposição ao final do ano. As alunas o apontam como competente, com alto nível de conhecimento, com uma boa postura pedagógica e administrativa, mesmo estando em diversas atribuições, pois até mesmo o resultado do teste de admissão era ele quem anunciava.
Norma: Quem falou nome, por nome do resultado do teste de admissão, foi o Dr. Dárcio Rabello, esse teste era muito difícil de passar, ele saiu dizendo oralmente a nota e dizendo quem passou e quem não passou.
Ingracita: [...] meu pai era pintor, era encanador... Então foi convidado pra ir pro Pinto Junior, fazer um grande serviço lá, tanto de pintura quanto de hidráulica. Então, ele falou com o diretor na época, que era Armando
Temporal. Ele falou que tinha uma filha que tava na quinta série, queria fazer o período de admissão. Eu e minha irmã. Então ele convidou e disse: “Bem, vamos fazer o seguinte, você traz suas duas filhas pra começarem a estudar o...” sexta série? Naquela época não era sexta série. Era quinta, sexta... Era quinta série. Então eu entrei na quinta série do Pinto Junior, eu e minha irmã Ione. Ficamos estudando. Quando meu pai terminou o período de receber o pagamento, então ele disse assim: “Olhe, Ferreira, eu tenho uma proposta pra você, pras meninas não perderem o ano aqui, já que estão na sexta, na sétima série. Eu vou inscrevê-las em bolsa de estudo pela Educação de Pernambuco” Aí ele disse “Tá bom!” “Botei o nome delas, tudo, elas fazem um testezinho aqui... Quando passarem, elas ficam estudando até terminar o curso de desejo.” Pronto.
No caso de D. Ingracita, é demonstrada a autoridade e autonomia que um diretor também tinha. pois a escola era particular, e como o pai não podia pagar com dinheiro, pagou com serviços o estudo das duas filhas.
Com D. Maria José, da mesma escola de D. Ingracita, a autoridade dos funcionários era grande, confundindo-se a inspetora com o diretor. Neste caso, todos estavam envolvidos: alunas, inspetora, professor e diretor, consolidando a autoridade do cargo de diretor e professor.
Maria Jose: A disciplina era muito rigorosa. Tinha uma tal de uma diretora, de uma inspetora chamada Souza Leão. Essa mulher era parada. Ela que fiscalizava até as prova, as sala tudinho... Como era o primeiro nome dela? Era da família Souza Leão. Ela era bonita. Mulher bonita. Mas mulher braba que só num sei quê. Foi ela suspendeu a gente. Sabe porquê? Ó... Baltazar da Câmara, professor de desenho. Mas aquilo era um professor chato, aquele Baltazar da Câmara... Ela dava aula, assim, de uma maneira que as meninas não gostava, ele era muito rigoroso, com aqueles desenho, aquelas coisa que ele queria. Um dia, Baltazar da Câmara disse “num sei quê”, e uma menina deu uma vaia... Sabe aquela vaia “ê, num sei quê...”... aquele... coisa assim. Isso foi no primeiro ano ou foi no segundo ano do ginasial. A diretora chegou, essa inspetora. Era inspetora...
Ana Paula: Inspetora?
Maria José: É, inspetora... Souza Leão. Juntou-se com ele, foi lá e perguntou: “Quem foi que deu?” Todo mundo calado... Ninguém denunciou ninguém. Suspendeu a turma todinha por 4 dias ou foi 5 dias.23
Ressalte-se que a disciplina e rigor que os diretores e diretoras exerciam, não era postura própria, estava embasada no Regulamento do Ensino Normal do Estado do Rio de Janeiro e no de Pernambuco, onde em cada capítulo era discernida a organização escolar, a
23
Entrevista realizada com a Normalista Maria José da Luz Bezerra, no dia 11 de agosto de 2015, e autorizada pelo modelo do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, no anexo A.
finalidade, a estrutura, a vida escolar (Regime escolar e didático), e das disposições gerais e transitórias, inclusive as questões de contratações e salários. O Regulamento do Estado do Rio de Janeiro (BRASIL, 1881, p.200-201), dizia que:
ACTOS DO PODER EXECUTIVO Capítulo VIII
Art. 59. O director será nomeado por decreto d'entre as pessoas que com distincção houverem exercido o magistério publico ou particular.
Art. 60 Compete ao director, além das attribuições que lhe são conferidas em outros artigo:
1º Exercer a inspecção geral do estabelecimento e especialmente a do ensino;
2º Observar e fazer cumprir as disposições deste regulamento, admoestando os professores que se fastarem do cumprimento de seus deveres, reprehendendo os empregados negligentes ou mal procedidos e suspendendo-os até 15 dias
[...]Art. 61. Na falta do director ou em seus impedimentos, servirá quem o Governo designar e provisoriamente o professor mais antigo do curso de sciencias e lettras que estiver em exercício.
O Regulamento do Estado de Pernambuco dizia:
Compete ao diretor presidir o funcionamento dos serviços escolares, aos trabalhos letivos, as atividades dos alunos, e às relações da comunidade escolar e com a vida exterior, velando por que se cumpra, no âmbito de sua ação, o plano educacional vigente no país, e paralelamente no estado (PERNAMBUCO. Secretaria de Estado dos Negócios de Educação e Cultura, 1952, p. 26).
Assim sendo, essa ideia se embasava no modelo de centralização e verticalização, ou seja, um modelo de hierarquia e interesses, onde o poder decisório estava nas esferas da política local e nacional, modelo este enraizado nas escolas públicas. Para Elias (1994a, p.171) "[...] Em todos os estados nacionais, as instituições de educação pública são extremamente dedicadas ao aprofundamento e a consolidação."
No caso da Sociedade Propagadora, o diretor na tese de Gati (2010), no § 9 do artigo 15: "organizar os modelos pelos quais devem ser feitos os mapas e escrituração". No estatuto da criação desta sociedade e consequentemente da criação da Escola Pinto Júnior, seus membros tinham plenos poderes para todas as deliberações necessárias.