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CAPÍTULO 2: Exclusão social, exclusão escolar e políticas sociais

3.4 Os programas complementares e o pressuposto da inclusão social

3.4.2 Os programas complementares na cidade de Manaus

No município de Manaus os programas de geração de trabalho e renda destinados à população pobre são realizados pela Secretaria Municipal de Assistência Social e Cidadania — SEMASC — e pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Local — SEMDEL.

Para a Secretaria Municipal de Assistência Social e Cidadania – SEMASC —, a inclusão produtiva tem por finalidade a inserção das famílias em situação de vulnerabilidade social no mercado de trabalho. Nessa perspectiva, o Programa de Atenção Integral à Família – PAIF — pretende “contribuir para o processo de autonomia e emancipação social das famílias, fomentando seu protagonismo e desenvolver ações que envolvam diversos setores, com objetivo de romper o ciclo de reprodução da pobreza entre gerações.” ( SEMASC — Relatório de Gestão, 2006).

Como podemos perceber, a perspectiva de rompimento do chamado ciclo da pobreza intergeracional e o fomento de atividades que potencializem a autonomia das famílias estão definidos como ações prioritárias na SEMASC e em conformidade com a Política Nacional de Assistência Social — PNAS/2004.

Diante desse pressuposto, a SEMASC oferece cursos de capacitação profissional — ministrados nos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) —, com intuito de possibilitar às famílias a obtenção de uma renda. Os cursos oferecidos, em geral, são de curta duração e não exigem escolaridade prévia. Dentre eles, têm maior demanda são os cursos de: cabeleireiro, bijuterias, corte e costura, emborrachado, manicure e pedicure, miçangas em sandália, moda íntima, pintor predial, ponto cruz, técnicas de venda, tortas doces e salgados, violão, caixa para presente, enfeites natalinos, flores de meia, secretariado, oficina de reciclagem em comunidade, panificação, ovos de chocolate, pedraria em roupas, recepcionista, entre outros.

Em 2006 foram capacitadas 17.967 pessoas e oferecidos 116 cursos. Porém, a secretaria não dispõe de dados específicos sobre número de beneficiários do Programa Bolsa Família que realizaram tais cursos. No entanto, podemos afirmar que a SEMASC se pauta-se por uma concepção de inclusão produtiva expressa na

possibilidade de inserção das famílias pobres em cursos de capacitação profissional que tendem a conduzir essas famílias a uma situação de informalidade do mercado de trabalho.

Os programas de geração de trabalho e renda, destinados prioritariamente aos beneficiários do Programa Bolsa Família, ainda se encontram em fase de implementação no município de Manaus, segundo a SEMASC. Nesse processo, têm ocorrido alguns problemas em sua execução, uma vez que:

Na esfera produtiva nós fazemos junto com a rede, que é a Secretaria de Desenvolvimento Local – Semdel, o Sebrae e o Senai, mas é necessário fortalecer essa parceria. Por exemplo, quem é o público que a Semdel vai atender? É o do Bolsa Família? Prioritariamente, é o público do Bolsa Família que teria que ser atendido, isso tem que ser bem definido. Eu vejo que um dos objetivos que nós colocamos aqui é essa articulação (Gerente de Proteção Básica da SEMASC).

O relato demonstra que uma das dificuldades de implementação dos programas de geração de trabalho e renda para a população beneficiária do programa Bolsa Família é a falta de planejamento integrado entre a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico Local – SEMDEL — e a Secretaria de Assistência Social e Cidadania – SEMASC —, uma vez que ambas executam atividades de capacitação profissional para a população de baixa renda.

Além disso, outro problema SEMASC identifica é a resistência das famílias em participar dos projetos em execução, pois:

[...] Ninguém é obrigado a participar de um grupo de fazer um cursos, mas quando as técnicas convidam, dizem que é importante, elas fazem a visita domiciliar, vão à busca. Quando é feito o cadastro, elas convidam, informam quais são os grupos que eles poderiam estar inseridos. O Cras também faz o cadastro, não só a equipe do Bolsa faz, então, o Cras identifica se aquela família está numa situação de vulnerabilidade, as próprias técnicas já fazem o cadastro, aí convidam mas, a resistência é muito grande (Gerente de Proteção

Básica/ SEMASC).

Em nossa opinião, essa “resistência” não pode ser entendida como uma decisão a priori das famílias, pois em nossa pesquisa verificamos que as

dificuldades de envolvimento das famílias nessas nas ações desenvolvidas pela secretaria estão relacionadas a uma série de fatores, dentre os quais destacamos: a distância dos locais de realização dos cursos, a falta de dinheiro para o transporte até esses locais, e a ausência de creches para cuidar dos filhos menores. Ainda sobre essa temática, um dos técnicos da SEMASC sugere que é preciso:

[...] Haver uma reavaliação do Programa Bolsa Família, a condição do beneficiário comparecer em algum grupo de desenvolvimento econômico tem que passar a ser uma condicionalidade, para ele receber informações, receber condições, para que ele deixe de receber o benefício e passe a ser um cidadão produtivo. Mas aí, o que acontece? O povo ainda tem na cabeça que o Estado é pai deles. Por mais que você diga: meu amigo, aqui tem cursos de corte costura, carpintaria, bombeiro hidráulico, eletricidade, cozinha, padaria, pode fazer qual o que você quiser. [...] Por incrível que pareça, ele briga pelo benefício, mas, para mudar a condição econômica dele, ele não faz (Técnico da SEMASC).

Esta idéia reforça o argumento de que há resistência quanto ao envolvimento das famílias nos cursos oferecidos pela Secretaria. E aponta, ao mesmo tempo, a “falta de interesse” dos beneficiários em participar dessas ações. Tal explicação nos parece simplista para entender a problemática em questão, pois responsabilizar unicamente os usuários pela sua baixa inserção nos projetos em desenvolvimento é uma maneira de ocultar as responsabilidades do poder público no oferecimento de serviços de boa qualidade. Observamos que um dos problemas existentes é o desconhecimento, por parte dos beneficiários do Programa Bolsa Família, dos cursos de qualificação profissional, oferecidos tanto pela SEMASC quanto pela SEMDEL.

Por outro lado, a introdução de mais uma condicionalidade relacionada à participação das famílias nos cursos oferecidos pelas secretarias municipais, em nossa opinião, por si só não garante o maior envolvimento das famílias, na medida em que essa impossibilidade se relaciona a vários fatores, como mencionamos anteriormente.

Embora seja perceptível o esforço da SEMASC em desenvolver atividades referentes à assistência familiar às famílias pobres por meio de ações voltadas para o fortalecimento dos vínculos familiares; e embora ela esteja realizando cursos de

qualificação profissional para potencializar o desenvolvimento da autonomia financeira das famílias, acreditamos que é necessária a adoção de políticas intersetoriais que discutam mecanismos de inclusão social para a população de baixa renda.

No âmbito da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Local – SEMDEL —, este órgão tem por atribuição o incentivo à política de geração de trabalho e renda nas zonas urbana e rural de Manaus. Nesse sentido, “realiza um trabalho de capacitação e qualificação profissional voltado para pessoas que buscam conhecimento, oportunidades de inserção no mercado de trabalho e que necessitam de orientações para consolidar seus próprios empreendimentos”47.

Dentre suas funções, destacam-se: a implementação de programas voltados para o desenvolvimento do empreendedorismo; a promoção de novas tecnologias de produção em todos os setores da atividade empresarial; o incentivo à participação de empreendedores em feiras, congressos, seminários, exposições e outros eventos; o gerenciamento de políticas setoriais de desenvolvimento local; a elaboração de diagnósticos para definir mecanismos de acompanhamento e avaliação das ações; a articulação com o Estado, o governo federal e instituições não governamentais para a promoção de iniciativas de desenvolvimento local integrado e sustentável; a disseminação de informações estratégicas sobre economia familiar; e o incentivo ao desenvolvimento de organizações de micro finanças e da economia solidária48.

Uma das principais ações desenvolvidas pela SEMDEL é o programa Manaus Empreendedora, que atua com micro e pequenas empresas, cooperativas, donos de empreendimentos não formalizados e pessoas recém-saídas de cursos profissionalizantes. Sua finalidade é oferecer o apoio técnico e financeiro no sentido de propiciar o desenvolvimento socioeconômico e auto-sustentável dos empreendimentos. Além disso, o programa busca “possibilitar aos micros e pequenos empreendedores que atuam nos setores primário, secundário, terciário e

47 Informações disponíveis em: <http://www.manaus.am.bov.br/secretaria/semdel>. Acesso em: 29/ 09/2008.

trabalhadores autônomos de baixa renda, acesso ao crédito desburocratizado e conhecimento gerencial básico.” (Ações da SEMDEL/ 2007).

Podemos perceber que a concepção predominante de desenvolvimento local está consubstanciada na lógica do empreendedorismo. Compreendemos, porém, que essa perspectiva de política pública de geração de trabalho e renda fomenta o aumento da precariedade no mundo do trabalho, distanciando, assim, a possibilidade de os indivíduos constituírem vínculos formais com o trabalho. Destarte, o empreendedorismo apóia-se no discurso da transformação do trabalhador em empresário. “Com isso, se atribui à pequena empresa uma relevância que induz os trabalhadores a acreditarem que esta pode lhes assegurar mecanismos de proteção social, qualificação e renda.” (TAVARES apud LIRA, 2008).

Para Antunes (2008), as distintas formas de precarização do trabalho na contemporaneidade são decorrentes do chamado processo de “acumulação flexível” que, entre outros aspectos, caracteriza-se pela introdução de diversas modalidades de flexibilização no mundo do trabalho. Tal dinâmica se expressa principalmente pela perda de direitos e garantias sociais. Sendo assim, neste cenário “tudo se converte em precariedade, sem qualquer garantia de continuidade; o trabalhador precarizado se encontra, ademais, em uma fronteira incerta entre ocupação e não ocupação e também em um não menos incerto reconhecimento jurídico diante das garantias sociais.” (VASAPOLLO apud ANTUNES, 2008, p. 48).

Corroborando as idéias do autor, pensamos que a adoção de políticas de trabalho e renda que priorizam a lógica do empreendedorismo, na realidade, reforça a condição de precariedade do mercado de trabalho, pois estudos demonstram que essa atividade em geral se materializa por meio de longas jornadas, pouca segurança e baixo rendimento (BARBOSA, 2008).

Em nossa pesquisa, verificamos que, embora a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Local – SEMDEL – procure envolver a população de baixa renda em ações voltadas para o empreendedorismo, essa perspectiva encontra alguns limites para sua realização, uma vez que a “falta de vocação” dos indivíduos para o exercício de atividades dessa natureza e a sua preferência pelo emprego formal são os principais fatores que comprometem tal objetivo, na visão da secretaria.

A primeira justificativa atribui ao indivíduo a “culpa” pela sua condição de excluído da esfera do trabalho, ocultando, assim, a responsabilidade do poder público de criar alternativas efetivas de inserção no mundo do trabalho. Por outro lado, quando as pessoas optam pelo emprego, na verdade estão fazendo uma opção pela possibilidade de receber uma renda estável que o vínculo formal com o trabalho proporciona, ainda que, a qualquer momento, os trabalhadores possam ser submetidos a uma situação de desemprego. É possível afirmar também que, ao optar pelo emprego formal, a população de baixa renda percebe o significado deste em termos de certas garantias sociais, tais como auxílio transporte, alimentação, contribuição previdenciária, entre outros.

No quadro que segue são apresentados os programas desenvolvidos pela SEMDEL para geração de trabalho e renda no município de Manaus.

Tabela 07 - Programas existentes na cidade de Manaus

Programas Objetivos Parceiros

Compra Direta Local da

Agricultura Familiar Beneficiar os produtores através da compra de toda produção MDS; INCRA;Comunidade Novo Horizonte; Cristiano de Paula; Buritis e Novo Amanhecer Potencialização do

Cupuaçuzeiro Aumentar a produtividade, o beneficiamento do produto e quebrar o gargalo da produção

Agência de Desenvolvimento da Amazônia - ADA; Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas – IDAM; Federação da Agricultura do estado do Amazonas - FAEA; Sindicato dos Trabalhadores Rurais do Careiro e de Manaus e Universidade Federal do Amazonas - UFAM.

Cozinha Comunitária Promover a educação alimentar da comunidade e oferecer 500 refeições diárias as famílias em estado de risco social

Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome - MDS e SEMASC

Horta Comunitária Visa à produção de hortaliças isentas de contaminação por produtos fitossanitários

Comunidade Novo Horizonte

Consolidando Empreendimentos Atender o maior número de empreendedores formais e informais

Comunidades da Zona Leste de Manaus

Pesquisa de Mercado Levantar todos os micro e pequenos negócios da Zona Leste de Manaus

Bairros da Zona Leste de Manaus

Levantamento da demanda de mão-de-obra do Pólo Industrial de Manaus – PIM

Visa capacitar os jovens cadastrados no programa Nacional de Estímulo ao

Delegacia Regional de Trabalho e CIEAM

primeiro Emprego. Plano Nacional de Qualificação –

PNQ Qualificar e Capacitar para inserção no mercado de e trabalho

Ministério do Trabalho e Emprego – M.T.E

Programa Nacional de Estímulo

ao Primeiro Emprego Promover a inserção de jovens de 16 a 24 anos sem experiência prévia no mercado de trabalho formal que possuam renda familiar per capita de até meio salário mínimo, que estejam cursando ou tenham completado o Ensino Fundamental ou Médio.

Ministério do Trabalho e Emprego – M.T.E

ProJovem Educação, Qualificação e Ação Comunitária. Elevar a escolaridade e proporcionar a qualificação profissional aos jovens de 18 a 24 anos que terminaram a quarta mas não concluíram a oitava série do Ensino Fundamental e não Têm vínculos formais d e trabalho

Ministério da Educação- MEC-; Ministério do Trabalho e Emprego - MTE e Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome - MDS.

Programa FUMIPEQ Ambulante Oferecer financiamento aos

micro empreendedores Agência de Fomento do Estado do Amazonas – AFEAM Projeto EXPOSEMTRA Divulgação do trabalho dos

artesãos Ação da SEMDEL em diversos pontos estratégicos da cidade de Manaus

Universidade do Povo Promover a qualificação e

capacitação profissional Ação da SEMDEL Inclusão Digital Oferecer curso de informática

em seis escolas da Zona Leste de Manaus

Ação da SEMDEL

Feira da Bondade Comercializar os produtos feitos

pelos artesãos Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais – APAE VII Feira “Valorizando o

Trabaho” Comercializar os produtos dos artesãos Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – SEBRAE

Como podemos perceber, são poucos os programas desenvolvidos pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico Local – SEMDEL — em parceria com o governo federal. Dos chamados programas complementares que buscam inserir às famílias em ações voltadas para sua autonomia financeira, foram viabilizados, os projetos da agricultura familiar, da cozinha comunitária, e o Programa de inclusão de jovens – Projovem. Além desses programas, a SEMDEL firmou parceria com o Ministério do Trabalho e Emprego para a implementação do Plano Nacional de Qualificação - PNQ — e o Programa Nacional de Estímulo ao Primeiro Emprego.

Verificamos, porém, que há uma dificuldade de realização dessas ações junto aos beneficiários do Programa Bolsa Família, pois a SEMDEL atribui a pouca

interlocução com o governo federal e insuficiência de recursos públicos como principais razões que impedem a efetiva implementação dos programas complementares.

Em nossa pesquisa observamos que a baixa inserção dos beneficiários do programa Bolsa Família nos chamados programas complementares se deve principalmente à falta de conhecimento por parte das famílias sobre a existência dessas ações. Os dados revelam que apenas 24% das famílias conhecem algum tipo de programa dessa natureza. E apenas 2% das famílias estão vinculados a algum deles.

Percebemos também que em nível local há pouco diálogo entre a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico Local – SEMDEL — e a Secretaria Municipal de Assistência Social e Cidadania – SEMASC —, na definição de estratégias conjuntas para que as famílias atendidas pelo PBF ingressem em atividades que potencializem a inserção destas no mundo do trabalho.

A desinformação das famílias sobre os programas complementares existentes, aliada a essa dificuldade de interlocução entre as secretarias municipais no âmbito do planejamento público, revela-nos um problema de gestão do Programa Bolsa Família na cidade de Manaus.

Outra ação da SEMDEL na esfera do trabalho é o denominado programa “Universidade do Povo”, que tem por objetivo proporcionar a capacitação e a qualificação profissional da população de baixa renda. Para isso, são oferecidos cursos em diversas áreas, com ênfase no empreendedorismo e no artesanato. No ano de 2006, segundo esta secretaria, foram atendidas várias solicitações provenientes de diversas comunidades, clubes de mães, associações de moradores, igrejas, escolas e centros culturais.

Os principais cursos oferecidos pela “Universidade do povo” foram: micro/pequeno empreendimento, empreendedorismo e fluxo de caixa, qualidade no atendimento, liderança em técnicas de venda, cooperativismo, emborrachado, bijuteria, pintura em tecido, artesanato em pet, artesanato em palito, cabeleireiro, informática básica, moda praia, serigrafia, manicure, ovos de páscoa, eletricidade, artesanato em cipó, artesanato em vime, cozinha regional amazônica, licores regionais, marchetaria, reciclagem de lixo, entre outros.

Esses cursos, em geral, são realizados em parceria com o Serviço Nacional e Aprendizagem Industrial – SENAI —, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – SEBRAE —, o Serviço Social da Indústria – SESI — e o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural — SENAR.

No ano de 2006, aproximadamente 19 mil pessoas realizaram cursos de capacitação profissional nas diversas áreas ofertadas. Considerando que existem cerca de 130 mil famílias na cidade de Manaus que possuem uma renda per capita de meio salário mínimo, é possível deduzir que o alcance desse programa é bastante limitado. Por outro lado, a SEMDEL não dispõe de dados que demonstrem o percentual de pessoas que concluíram esses cursos e posteriormente ingressaram no mercado de trabalho.

Na área rural da cidade de Manaus, a SEMDEL executa o programa de agricultura familiar, que “busca, através do associativismo e cooperativismo, oferecer aos comunitários rurais uma forma de geração de renda sustentável.” (Folders da SEMDEL). Desse modo, são promovidos cursos que visam estimular a produção de hortaliças, a criação de galinha caipira, peixes e produção de mel de abelha para o auto-sustento das famílias e também para sua comercialização.

Segundo a Secretaria de Desenvolvimento Local – SEMDEL —, ainda não é possível perceber o impacto dos citados programas no processo de inserção das famílias de baixa renda no mercado de trabalho, em função de que são atividades recentes. De outro modo, a referida secretaria considera imprescindível a realização de encontros que possibilitem a discussão de alternativas de desenvolvimento local. Nessa direção, foi somente em outubro de 2007 que se realizou o “I Seminário de Desenvolvimento Econômico de Manaus: uma visão de futuro”, que teve por finalidade “coletar dados para a elaboração do Planejamento Estratégico da SEMDEL, no âmbito do Município de Manaus.” (Folders do seminário, outubro/2007).

Diante do exposto, podemos observar que a política de geração de trabalho e renda desenvolvida pela SEMDEL prioriza uma concepção de inserção laboral voltada para o aumento da informalidade no mundo do trabalho.

Nesse sentido, “o problema é que está se perdendo de vista a idéia do Estado como pacto, como ‘ambiente’ ético-político, expressão de uma comunidade

politicamente constituída, de um espaço público que se afirmaria diante dos interesses privados.” (LIRA apud NOGUEIRA, 2008). Ou seja, a idéia-força diante das profundas transformações na esfera produtiva tem sido a implementação de alternativas que privilegiam uma inclusão precária no mundo do trabalho, o que, na realidade, representa perdas de direitos historicamente conquistados.

CONSIDERAÇÕES FINAIS:

Este estudo faz inicialmente um resgate histórico das diferentes proposições sobre programas de transferência de renda no Brasil, evidenciando que o cenário desta discussão nos anos 1990 caracteriza-se pelo ajuste estrutural na economia brasileira, cuja conseqüência mais visível é o aprofundamento da exclusão social. Nesse percurso foi possível identificar as questões que norteiam o debate, das quais ressaltamos: a necessidade de o Estado intervir no plano das políticas sociais para enfretamento da pobreza; o recebimento do benefício mediante a freqüência dos filhos à escola; o reforço ao acesso à rede de serviços públicos; e, a inserção das famílias beneficiárias em alguma atividade produtiva.

Tendo como objeto de pesquisa o Programa Bolsa Família, percebemos que ele possui um desenho institucional que aponta para idéia de inclusão social alicerçada em três dimensões, a saber: a transferência monetária às famílias, mediante o cumprimento das condicionalidades; o acesso à rede de serviços públicos, em particular na área de saúde, educação e assistência social; e a inserção das famílias nos chamados programas complementares de geração de trabalho e renda.

Nessa perspectiva, essa ação integra a estratégia Programa Fome Zero,