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A área de Gestão de Pessoas do CNPq, por intermédio do então Serviço de Assistência Psicossocial – SAPS, hoje denominado Serviço de Promoção de Qualidade de Vida – SEPQV, da Coordenação de Promoção da Qualidade de Vida e Competência - COPQV, que sempre teve uma atuação marcante no acompanhamento psicossocial das pessoas da Instituição, se preocupou em criar programas que pudessem melhorar a motivação das pessoas da Instituição, desde a época do planejamento estratégico da instituição.

Antes, porém de dessa equipe SAPS desencadear esse projeto, foi necessário identificar como estavam os servidores da Instituição em vários aspectos de suas vidas. Para isso utilizou-se de uma pesquisa inédita intitulada Inventário Qualidade de Vida (SAPS/SRH/CNPq, 1997), respondida por 90% dos 623 servidores efetivos do quadro de pessoal da Instituição daquela época. Esta pesquisa revelou indicadores psicossociais preocupantes que mereciam serem revertidos urgentemente. Dentre eles destacou-se; 54% dos servidores se consideravam estressados; 41,7% dos servidores diziam não ter objetivos de vida traçados, entre outros.

Por outro lado, identificou-se um grande espaço para inovar, pois 93% dos servidores entrevistados consideravam-se profissionais competentes, tinham um alto grau de escolaridade e foi revelada a vontade de realização efetiva de suas funções.

Daí percebeu-se a necessidade de dissolver essas situações preocupantes nas pessoas da instituição que repercutiam negativamente nas equipes de trabalho. Essa inovação veio com a criação e implantação do PQVT.

No Contexto dos Programas de Qualidade de Vida no Trabalho com foco na aposentadoria como citado anteriormente, o “Construindo o Amanhã" tem como público alvo os servidores em vias de aposentadoria até 4 (quatro) anos. Este programa visa a criar oportunidades de preparação para a aposentadoria, proporcionando momentos de reflexão para que o servidor possa lidar melhor com este momento. São realizados encontros os próprios servidores protagonizam suas histórias, ou um profissional especializado realiza palestra.

Já o programa “Longevidade com Qualidade” tem como objetivo principal promover o reencontro dos servidores inativos. Este tem a peculiaridade de integrar-se ao primeiro, seguindo o mesmo foco de desenvolvimento de uma cultura acolhedora no âmbito da instituição, e o interesse de proporcionar aos seus ex-servidores momentos para “matar a saudade”, “trocar idéias” e “relembrar as histórias vividas no ambiente de trabalho”.

Segundo registros CGRH, ambos os programas nasceram no ano de 2004 e tiveram inicialmente poucas participações, e então a partir de 2005 os encontros foram sendo realizados com maior participação e freqüência anual. Desde esta época vem sendo executado um cronograma de atividades. Porém, face à carência de recursos financeiros destinados a estas atividades, a relevância e diversidade do tema explorado, e o universo de pessoas envolvidas, a freqüência dos encontros tem sido considerada insuficiente.

Uma das operações do Planejamento Estratégico é definir as competências essenciais para que as pessoas do CNPq contribuíssem de uma forma mais efetiva para o cumprimento da missão institucional (CNPq, 1996). Para isso foi criado um grupo de trabalho (CNPq, 1998) que programou e realizou várias reuniões com o intuito de escutar todas as pessoas da Instituição para essa finalidade. O resultado desse trabalho foi a definição das seguintes competências: Adaptabilidade, Aprendizagem Contínua, Capacidade de Análise, Comunicação, Conhecimentos Específicos, Liderança, Negociação, Proatividade, Trabalho em Equipe e Visão Estratégica.

A equipe do Programa Qualidade de Vida - PQV atrelou essas competências essenciais ao Programa como um todo, com o intuito de estimular as pessoas a se identificarem em tais competências (OLIVEIRA, 2008).

O foco maior do PQVT nesse contexto é o de dar oportunidade aos participantes, inicialmente, para que tenham o conhecimento de suas competências e de suas atitudes em relação ao grupo. Num outro momento busca-se o compartilhamento dessas competências para a harmonia e aprendizagem nos encontros, disseminando esse conhecimento às equipes de trabalho, para melhorar o clima organizacional e sustentar o desempenho institucional (Figura 9).

Figura 9: Bases de sustentação da Política de Recursos Humanos Fonte: PRH/ CNPq (2001).

Segundo o PQV/CNPq (1999), esses programas de qualidade de vida oferecem alguns indicadores de mudança de comportamento individual, que apontam para uma melhoria em cinco dimensões do ser: física, intelectual, emocional, social e espiritual definidas como espaços de aprendizagem.

Outras questões foram surgindo ao longo do desenvolvimento e aplicação destes programas, tais como a importância destas ações para a própria área de gestão de pessoas, para os servidores, bem como a necessidade de entender o fenômeno da aposentadoria por merecer atenção especial do grupo gestor, principalmente para encontrar caminhos que levem

a ocupar os espaços (ocupacionais ou sociais) vazios, que os servidores deixaram ao se desligar da Instituição, em decorrência de sua aposentadoria.

Estas questões, ainda necessitam ser refletidas, para respaldar analises tais como: estimular a participação dos servidores e ex-servidores nos programas; conhecer a percepção deles sobre os impactos resultantes da aposentadoria; identificar a necessidade das ações de gestão de pessoas para estimular a Direção em investir em ações que se precedem a saída do conhecimento. Em conhecer a raiz dos fenômenos relacionados a aposentadoria, justificar-se- á a necessidade de apontar estratégias para a continuidade da aprendizagem no ambiente organizacional.

Nesta pesquisa foram entrevistados somente os servidores da sede em Brasília, que concentra o maior número de aposentados.

4 METODOLOGIA

A metodologia utilizada no desenvolvimento desta pesquisa enquadra-se na categoria de estudo de caso, envolvendo servidores e ex-servidores do CNPq.

Segundo (YIN, 2005), o conceito estudo de caso pode ser entendido como uma pesquisa sobre as relações entre as pessoas e delas com o ambiente no qual se inserem. De acordo com (FONSECA, 2002), trata-se de uma investigação que se dedica a uma situação particular que se supõe única, com o objetivo de desvendar o que há de mais característico.

O estudo de caso pode ser desenvolvido com uma perspectiva interpretativa ou pragmática, a primeira visa a compreender como é a realidade do ponto de vista dos participantes, já a segunda, tem por objetivo apresentar uma visão global, tanto quanto possível coerente do objeto de estudo.

O ponto forte do estudo de caso, segundo o ponto de vista de Hartley (apud MORESI, 2004), é a sua capacidade de explorar processos sociais que ocorrem nas organizações, permitindo análises processuais, contextuais e longitudinais das várias ações e dos significados que são construídos pelos protagonistas. A natureza mais aberta da coleta de dados em estudos de caso permite analisar em profundidade os processos e as relações entre eles. (HARTLEY apud MORESI, 2004).

Considerando o conceito de estudo de caso que colima o olhar sobre o objeto da pesquisa, esta se classifica como qualitativa. Na visão de (BOGDAN e BINLEN, 1998), a pesquisa qualitativa é entendida como aquela em que os pesquisadores tem como alvo o seguinte:

Compreender o comportamento e a experiência humana. Eles procuram

entender o processo pelo qual as pessoas constroem significados e descrevem o que são aqueles significados. Usam observação empírica porque é com os eventos concretos do comportamento humano que os investigadores podem pensar mais clara e profundamente sobre a condição humana (1998, p. 38).

Os métodos qualitativos são considerados:

Métodos de pesquisa indutivos, holísticos, êmicos, subjetivos e orientados para o processo, usados para compreender, interpretar, descrever e

desenvolver teorias relativas a fenômenos ou a settings (MORSE &

Em particular, o conceito de êmico foi lembrado pelas autoras como o estudo e análise de um setting ou comportamento interpretados a partir da perspectiva do autor, sendo que as explicações culturais e padrões são indutivamente “descobertos” dentro do contexto cultural em vez de analisados a partir da perspectiva do pesquisador ou de um quadro ou teorias prévios (MORSE & FIELD, 1995).

O termo vem de (fon)êmico; forma reduzida do inglês phonemic, e em antropologia refere-se a categorias e valores internos, próprios às sociedades e grupos em estudo, e tomados segundo a lógica e coerência com que aí se apresentam, vindo do uso analógico na lingüística, onde diz da maneira de abordar uma língua, ou realizar seu estudo, considerando-a como um sistema em que a transmissão de significados se faz por unidades distintivas mínimas próprias a esse sistema, Ferreira, dicionário eletrônico.

Um aspecto que deve ser destacado sobre a pesquisa qualitativa é a permissão de abrangência metodológica diversa e abrangente quanto ao foco, pelo fato de envolver uma abordagem interpretativa sobre os fenômenos investigados. Isto implica o estudo dos fenômenos que ocorrem em seu ambiente natural (setting), tentando sistematizar os significados conferidos pelos protagonistas sobre determinadas situações ou questões (DENZIN & LINCOLN, apud TURATO, 1989).

O termo fenômeno foi cunhado por Lambert no Século XVIII para designar o estudo descritivo de um processo, tal como se apresenta à nossa experiência. Desde então, fenomenologia tornou-se uma corrente filosófica do que se pode chamar de “volta às coisas mesmas” ou daquilo que aparece à esfera da consciência. O termo significação, por sua vez é entendido como a produção humana de sinais considerada como meio pelo qual uma pretendida objetivação ganhe sua peculiaridade e um objeto (JAPIASSU & MARCONDES, apud TURATO, 1989).

O campo da experiência não pode ser identificado com o da realidade em si mesma conforme a opção dos positivistas, mas como a interpretação, mas como a interpretação dos fenômenos, tais como são relatados por seus protagonistas. Os seguidores desta abordagem enfatizam os aspectos subjetivos do comportamento das pessoas. Acreditam que múltiplos modos de entender e compreender as experiências das pessoas por meio da interação entre elas, pois, é por meio das significações conferidas aos fenômenos pelos protagonistas, que a realidade é construída, evidenciando algumas suas características (BOGDAN & BIKLEN, 1998).

Como base sólida para a descrição e considerada um valioso instrumento de análise, o estudo dos fenômenos permite sentir o objeto e enxergá-lo diante dos olhos, expressando significações, bem como ir além da percepção, penetrando em suas propriedades, apreendendo sua essência, e caminhando na direção do significado articulado (Martins e Bicudo, apud TURATO, 1989).

Com a fenomenologia, a psicologia ganhou autonomia científica e pode estudar uma série de fenômenos ligados à consciência que são dotados de significação própria.

A pesquisadora compartilha com a base conceitual descrita, pois como psicóloga foi movida a uma atitude de acolhida das angústias e ansiedades das pessoas em estudo, realizado no ambiente natural (settings) unidades do CNPq, e mostrando-se particularmente útil, nos casos onde tais fenômenos que tenham estrutura complexa, por serem de foro pessoal íntimo ou de verbalização emocionalmente difícil.

A pesquisadora também procurou a compreensão das relações face a face, valorizando as trocas afetivas mobilizadas nas interações pessoais, escutando ativamente (conversa efetiva) as falas dos sujeitos, com foco nos tópicos relacionados aos Programas de Qualidade de Vida no Trabalho (PQVT) e, especialmente, como lidam com a aposentadoria. As escutas envolveram o cotidiano das pessoas face à aposentadoria, sobretudo, como percebem e lidam com a proximidade deste estado de vida pessoal, bem como as atividades relacionadas ao trabalho e a competências de cada um, ao ambiente de relacionamento.

Durante as entrevistas, a pesquisadora observou a linguagem corporal dos entrevistados, no sentido complementar, a comunicação verbal, possibilitando a confirmação do que foi falado inspirado na condução da concepção desta metodologia, proposta por (TURATO, 2000).

Por outro lado, a escolha pelo método fenomenológico deve-se também a impropriedade encontrada no método positivista para este estudo, onde a importância dos fenômenos se restringe aos fatos.

O pensamento positivista busca o conhecimento das causas e efeitos dos chamados “fatos”, como sendo o suficiente para todo o entendimento científico. O positivismo lato sensu caracteriza-se pela valorização de um método empirista e quantitativo, pela defesa da experiência sensível como fonte principal do conhecimento, pela hostilidade em relação ao idealismo, e pela consideração das ciências empírico-formais como paradigmas de cientificidade e modelos para as demais ciências (JAPIASSU & MARCONDES, apud

TURATO, 2000).

Finalizando com uma comparação (quadro a seguir) das duas filosofias de investigação – positivista x fenomenologia - como possibilidades de pesquisa no setting natural deste estudo, que motivaram a escolha do método qualitativo com orientações paradigmáticas também distintas.

Quadro 4 Comparativo das filosofias de investigação: positivista x fenomenologia

Paradigma Positivista Fenomenologia

Objetos Estudo sobre os fatos relativos

à aposentadoria Estudo sobre o fenômeno da aposentadoria

Temas de pesquisa Existência de relações entre os PQVT (os fatos) e os

aposentados

Como os servidores lidam com a aposentadoria (o fenômeno)

Objetivos da pesquisa Estabelecer as relações de

causalidade entre os fatos. significações dos fenômenos Interpretar os sentidos e como reportados pelos sujeitos.

Método Quantitativo Qualitativo

Técnicas Questionários fechados, escalas, etc.; amostragem.

Observação, entrevistas abertas; amostragem intencional.

Questões a serem investigadas

Aposentar-se tem implicações salariais, sociais, etc..com a

política de pessoal?

O que as pessoas entendem por QVT? que sentidos e

significados dão a aposentadoria? como lidam

com ela? Fonte: adaptada de (TURATO, 2000).

Na ampla perspectiva cultural é importante considerar que foram os alicerces do pensamento fenomenológico que permitiram que os significados dados pelos sujeitos aos fenômenos essencialmente dependam de pressupostos próprios do meio que constroem suas realidades.Entende-se, portanto, que por intermédio deste método, que há a possibilidade de orientar não só a gestão de pessoas ao evidenciar a importância de se conhecer os sentimentos dos funcionários em relação à aposentadoria ou à sua proximidade, bem como fundamentar esta relação com a gestão do conhecimento e da aprendizagem institucional.

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