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Os Recursos Especiais representativos da controvérsia nº

2- DIVERGÊNCIAS DOUTRINÁRIAS E JURISPRUDENCIAIS ACERCA DA

2.2 O julgamento do tema repetitivo 988 pelo STJ

2.2.1 Os Recursos Especiais representativos da controvérsia nº

Primeiramente, o acórdão exarado pela Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça em sede de Recurso Repetitivo, foi proferido em 05/12/2018, publicado no Diário Oficial Eletrônico em 19 de dezembro do mesmo ano, transitado em julgado em 22/02/2019, e como já informado em outras oportunidades, a relatora foi a Min. Nancy Andrighi (BRASIL, 2020). Houve ainda modulação de efeitos, nos termos do art. 23 do Decreto-Lei nº 4.657/1942 c/c art. 927, §3 do CPC/2015, que torna a ideia eleita por meio do acórdão, apenas aplicável aos pronunciamentos interlocutórios proferidos após a sua publicação. De forma diversa, não foram suspensos os processamentos de Agravos de Instrumento em todo o território nacional, que tivessem idêntica matéria dos recursos especiais selecionados (BRASIL, 2020).

Feitas essas premissas, o REsp nº 1.696.396/MT, interposto por Ivone da Silva, alegava que o TJMT contrariou o art. 1.015, II, do CPC/2015, art. 258 do CPC/732 e art. 14 da Lei nº 11.340/20063, bem como divergiu de acórdãos prolatados pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais, ao não conhecer do Agravo interposto pela parte, por entender que a decisão interlocutória que versa sobre competência e valor da causa, hipóteses objeto do recurso, não estão inseridas no art. 1.015 do CPC/2015, tratando-se de rol taxativo restritivo (BRASIL, 2020).

Em breve histórico, vale ressaltar que trata-se de ação de reintegração de posse, ajuizada por Alberto Zuzzi contra a recorrente, sendo que no decorrer do trâmite, houve declinação de competência para a Vara Especializada em Direito Agrário da Comarca de Cuiabá-MT, competente para o processamento e julgamento de litígios relativos a imóveis urbanos situados na municipalidade (BRASIL, 2020).

A recorrente alegou com base nas contrariedades, ser possível a aplicação de interpretação extensiva ou analógica às hipóteses, por se referirem ao mérito da causa. Em seguida, afirmou a inutilidade do recurso de apelação, já que diversos atos processuais realizados perante a Vara Especializada em Violência Doméstica e Familiar, serão anulados desde a propositura da ação, e que este foro é competente para dirimir todas as ações conexas vinculadas ao mesmo contexto fático. Por fim, asseverou que o valor da causa deve acrescentar o valor do apartamento objeto do litígio (BRASIL, 2020).

Nesse viés, o Tribunal Superior deu parcial provimento ao recurso, determinando ao TJMT que observe a presença dos requisitos de admissibilidade, conheça e dê regular processamento ao Agravo de Instrumento, relativamente à hipótese que versa sobre competência. Devendo, por outro lado, ser mantido o acórdão recorrido, a fim de inadmitir o recurso em relação a hipótese que impugna o valor da causa (BRASIL, 2020).

Em continuidade, analisando o REsp nº 1.704.520, interposto por Quim Comércio de Vestuário Infantil Ltda-ME, alegava contrariedade à hipótese de cabimento do Agravo de Instrumento em relação às decisões interlocutórias que rejeitam a alegação de convenção de arbitragem, prevista no art. 1.015, inc. III, do CPC/2015, também ao art. 932, inc. III, do

2 O art. 258 do CPC/1973 decorre de a impugnação ter sido ofertada na vigência do referido código e possuía a

seguinte redação: “A toda causa será atribuído um valor certo, ainda que não tenha conteúdo econômico

imediato” (BRASIL, 2020).

3 Dispõe o Art. 14 da Lei 11.340/2006: Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, órgãos

da Justiça Ordinária com competência cível e criminal, poderão ser criados pela União, no Distrito Federal e nos Territórios, e pelos Estados, para o processo, o julgamento e a execução das causas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher. (BRASIL, 2020).

CPC/20154 e conflito jurisprudencial em relação aos julgados do Tribunal de Justiça do Paraná, contra acórdão do TJMT, que por unanimidade, manteve no Agravo Interno a decisão monocrática prolatada ao Agravo de Instrumento, com base na taxatividade do rol que não enquadra a hipótese que versa sobre competência. Vale dizer, a impugnação decorreu de decisão interlocutória, que determinou a remessa dos autos à comarca do Rio de Janeiro-RJ, acolhendo a exceção de incompetência alegada pela recorrida Shirase Franquias e Representações LTDA, nos autos da ação de rescisão contratual cumulada com reparação por danos patrimoniais e morais, ajuizada pela recorrente (BRASIL, 2020).

Em seus fundamentos, a recorrente argumentou que impedir a reanálise imediata da decisão sobre competência configura prejuízo aos sujeitos e a matéria processual decorrente, por ser ineficaz a espera pelo momento da apelação (BRASIL, 2020).

No juízo preliminar de admissibilidade, a Corte Especial visualizou observância aos requisitos formais previstos no art. 256 do regimento interno do STJ, determinando a distribuição do recurso por prevenção ao REsp 1.696.396/MT (BRASIL, 2020).

Considerando o entendimento do voto vencedor da Corte, de que é cabível a interposição do recurso em hipótese que versa sobre competência, julgou-se pelo provimento, então, do referido Recurso Especial (BRASIL, 2020).

Cabe referir que no julgamento dos repetitivos, foram admitidas na condição de amicus curiae, a Associação Brasileira de Direito Processual - ABDPRO, a União e a Defensoria Pública da União - DPU, que se manifestaram favoravelmente pela aplicação da interpretação extensiva às questões pautadas no recurso. No mesmo entendimento, pronunciou-se o Ministério Público Federal - MPF. Por sua vez, o Instituto Brasileiro de Direito Processual – IBDP e a Associação Norte e Nordeste de Professores de Processo – ANNEP, expressaram argumentos favoráveis e contrários a aplicação interpretativa em comento, complementando, a ANNEP, acerca dos benefícios e desvantagens da interpretação restritiva, analógica e do enquadramento do rol como exemplificativo. Ainda, o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil-CFOAB, não ofertou manifestação tempestivamente. Houve também pedido de ingresso como amigo da corte pela Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização – CNSEG, a qual teve seu pedido negado, recorreu via Agravo Interno, tendo

4 “Art. 932. Incumbe ao relator: III. não conhecer de recurso inadmissível, prejudicado ou que não tenha impugnado especificamente os fundamentos da decisão recorrida; [...]” (BRASIL, 2020)

sido apreciada a questão na própria análise da tese jurídica, não sendo conhecido o recurso, com base no caput do art. 138 e §1º do CPC/20155: (BRASIL, 2020, grifo nosso).

Desse deslinde, surge o interesse de explanar algumas considerações críticas ao voto vencedor do tema repetitivo e quais as consequências práticas que decorrem da fixação da controvérsia.

2.2.2 Considerações finais acerca do tema repetitivo 988/STJ

Primeiramente, discorrer-se-á acerca de algumas mudanças que repercutem na manipulação dos Agravos de Instrumento a partir da definição da controvérsia até aqui discutida. Posteriormente, será analisada se a decisão tomada é mais benéfica frente as falhas oriundas da sistemática deste recurso ou se a interpretação originou novos problemas.

Inicialmente, é preciso esclarecer que nos termos do art. 927, inc. III do CPC/2015 (BRASIL, 2020), através do enfrentamento que resultou na definição da controvérsia pela Corte Especial, o legislador sujeita as instâncias inferiores a atender ao posicionamento adotado, pois veja-se, in verbis: “Os juízes e os tribunais observarão: III - os acórdãos em incidente de assunção de competência ou de resolução de demandas repetitivas e em julgamento de recursos extraordinário e especial repetitivos; [...]”

Da mesma forma, também, a previsão contida no art. 932, inc. IV, ‘b’ do CPC/2015, que aborda a incumbência do relator de negar provimento aos recursos que contrariarem acórdão proferido em sede de recursos repetitivos pelo STJ, restando clara e inequívoca a atuação limitada do julgador que possui apenas a alternativa de seguir o predisposto na controvérsia.

Precipuamente, incumbirá também aos envolvidos (partes e os tribunais competentes para apreciar Agravos de Instrumento) o dever de analisar os excepcionais casos que ensejarão recorribilidade imediata pelo critério urgência, que se visualiza na situação de o

5 Art. 138 do CPC/2015: O juiz ou o relator, considerando a relevância da matéria, a especificidade do tema objeto da demanda ou a repercussão social da controvérsia, poderá, por decisão irrecorrível, de ofício ou a requerimento das partes ou de quem pretenda manifestar-se, solicitar ou admitir a participação de pessoa natural ou jurídica, órgão ou entidade especializada, com representatividade adequada, no prazo de 15 (quinze) dias de sua intimação. § 1º A intervenção de que trata o caput não implica alteração de competência nem autoriza a interposição de recursos, ressalvadas a oposição de embargos de declaração e a hipótese do § 3º. (BRASIL, 2020)

pronunciamento judicial gerar impossível ou difícil restabelecimento futuro e, que, portanto, torna mister a reanálise imediata (IMHOF, 2020).

Assim, diante da necessária observância pelos tribunais dos julgamentos fixados pelo rito dos recursos repetitivos, é que surgem novas condições a serem observadas por advogados, membros do Ministério Público e da Defensoria Pública, quando intencionarem agravar de determinada decisão interlocutória, proferida na ação de conhecimento, para que ao menos avancem do juízo de admissibilidade.

Nesse prisma, caso a decisão interlocutória a ser impugnada comportar concomitantemente hipótese prevista expressamente em dispositivo legal e outra compreendida pela taxatividade mitigada, ambas deverão ser impugnadas, com justificação da hipótese que preenche o requisito urgência (LEMOS, 2020).

Diversamente, se a interlocutória abrange duplo conteúdo, somente poderá impugnar em relação ao ponto agravável por disposição legal ou pela definição do repetitivo, pois se impugnar abrangendo questões não recorríveis imediatamente, espera-se que o tribunal não conheça do recurso.

A situação, entretanto, comporta exceções, no caso de a questão prejudicial presente na decisão interlocutória, ser recorrível por Agravo e por uma questão lógica antecedente se sobrepor à questão prejudicada, não agravável, tornando cabível, portanto, por prejudicialidade a interposição do Agravo (LEMOS, 2020).

De certa forma, é evidente que após a ampliação das hipóteses recorríveis via Agravo de Instrumento, seja por disposição legal ou fruto da taxatividade mitigada, reduziu-se a utilização do mandado de segurança, conforme pretendiam os adeptos ao voto vencedor.

Por outro lado, a intenção de simplificar a sistemática do Agravo, pelo legislador, diante da fixação da controvérsia, não mais persiste, por conta do critério subjetivo conferido às partes e aos tribunais, na análise da hipótese urgente, que retira a celeridade implícita no Código.

Diante disso, importante discorrer acerca dos desdobramentos que decorrem da interpretação da lei, relativos ao assunto e quais as consequências oriundas da definição do tema repetitivo nº 988 do STJ.

A respeito da intenção do legislador, pela elaboração do anteprojeto do CPC/2015 é pertinente observar que houve preocupação com a coerência dos julgados dos tribunais, afinal, é fácil constatar posicionamentos distintos, que podem ocasionar (in)admissibilidade ou (des)provimento de recursos com idêntica questão de direito.

Por conta disso, visando modificar a presente realidade aos jurisdicionados, na exposição de motivos do CPC/2015, estão previstos os seguintes dizeres, in verbis:

Esse fenômeno fragmenta o sistema, gera intranqüilidade e, por vezes, verdadeira perplexidade na sociedade. Prestigiou-se, seguindo-se direção já abertamente seguida pelo ordenamento jurídico brasileiro, expressado na criação da Súmula Vinculante do Supremo Tribunal Federal (STF) e do regime de julgamento conjunto de recursos especiais e extraordinários repetitivos (que foi mantido e aperfeiçoado) tendência a criar estímulos para que a jurisprudência se uniformize, à luz do que venham a decidir tribunais superiores e até de segundo grau, e se estabilize. Essa é a

função e a razão de ser dos tribunais superiores: proferir decisões que moldem o ordenamento jurídico, objetivamente considerado. A função paradigmática que

devem desempenhar é inerente ao sistema. (COMISSÃO, 2020, grifo nosso)

É de se enfatizar que, considerando os elementos relacionados aos motivos explanados na elaboração do atual Código, é possível extrair que o legislador confere aos Tribunais Superiores tornar suas jurisprudências referência para as instâncias inferiores, visando precipuamente à unicidade, mas condicionadas ao respeito da taxatividade, especificamente em relação ao art. 1.015 do CPC/2015, já que é evidente ter sido esta a sua intenção.

A despeito da taxatividade mitigada, já se verificou que um dos pontos mais defendidos para sua prevalência, trata das diversas situações não abrangidas via recorribilidade imediata, que acabam por macular a higidez do procedimento, podendo resultar inclusive, na anulação de diversos atos processuais eventualmente por vícios processuais insanáveis (BRASIL, 2020).

Sobre esse ponto, Leal (In: MARCATO et al., 2019, p. 64) vai manifestar alguns reflexos negativos oriundos da decisão da Corte Especial, que resulta em outros problemas, conforme manifesta, in verbis: “[...] a mera crítica ao texto legal não autoriza recusa em sua aplicação. Desse modo, deve-se observar a escolha legislativa, em respeito à separação de poderes (art. 2º da Constituição Federal de 1988) e ao Estado Democrático de Direito.”

Mais detidamente, ao afastar as interpretações apresentadas para análise, a Min. Nancy Andrighi cria uma hipótese que desconsidera a pretensão legislativa, e fundamenta isso no sentido de a razão humana não conseguir abranger todas as situações merecedoras de regulamentação legal, sendo questionável esta atuação, pois a sua função limita-se a interpretar a legislação federal, não atuar legislando (PITTA, 2020).

De certa forma, pela definição da taxatividade mitigada, a Corte possibilita o afastamento da aplicação do art. 1.009, §1º do CPC/2015, que regula o cabimento da apelação nas hipóteses não agraváveis, configurando visível prática de negação à vigência do dispositivo legal, como se implicitamente estivesse declarando sua inconstitucionalidade, algo

de competência exclusiva do STF, conforme expressão contida no art. 1.032, parágrafo único do CPC/20156 e art. 102, inc. I, alínea “a” da CRFB (PITTA, 2020).

Importante ressaltar que os argumentos da relatora acerca de ser insuficiente a taxatividade que admite interpretação extensiva, para admitir a taxatividade mitigada, passa a aceitar uma característica comum entre ambas: a insegurança jurídica, que pode ser vista através da “tentativa de suplementar eventuais omissões legislativas” (LEAL In: MARCATO et al., 2019, p. 67) para englobar situações presentes no sentido amplo da norma.

Adicionalmente, pela insegurança jurídica das referidas correntes também se verifica o problema vinculado à preclusão, que indubitavelmente retira o caráter excepcional do critério objetivo urgência, tornando regra a interposição do Agravo nos casos não previstos pelo legislador (PITTA, 2020).

Acerca ainda do assunto, a parte beneficiada pelo pronunciamento, fica com sua atuação condicionada à atitude tomada pelo prejudicado, porquanto, deixando exclusivamente ao alvedrio da parte recorrer mediata ou imediatamente, a preclusão fica subordinada à realização ou não do ato processual (LEAL In: MARCATO et al., 2019).

Em outra situação, também não prospera a fundamentação da recorribilidade imediata de hipóteses urgentes não previstas em lei, com base no princípio constitucional da inafastabilidade da jurisdição, previsto no art. 5, inc. XXXV da CRFB/1988, pois configura usurpação de função do STF competente para julgar questões constitucionais. (PITTA, 2020). É de se considerar ainda que a definição da controvérsia é ineficiente, por implicar na necessidade futura e paulatina de analisar quais situações merecem ser abrangidas pelo rol com base na taxatividade mitigada, não atendendo a uma das finalidades da Corte Especial na definição das controvérsias, qual seja: “julgar casos fornecendo razões públicas (= conforme a Constituição e as leis) universalizáveis para a comunidade jurídica orientar-se na aplicação do direito sem voluntarismos.” (STRECK; SOUSA, 2020, grifo do autor).

Para fins meramente informativos, explana-se um julgado recente da terceira turma do STJ, em 18/02/2020, vinculado ao REsp nº 1.758.800-MG, em que se entendeu pelo cabimento do Agravo de Instrumento contra despacho que, na fase de cumprimento de sentença, determinou a intimação do executado, na pessoa de seu advogado, para cumprir

6 Art. 1.032. Se o relator, no Superior Tribunal de Justiça, entender que o recurso especial versa sobre questão constitucional, deverá conceder prazo de 15 (quinze) dias para que o recorrente demonstre a existência de repercussão geral e se manifeste sobre a questão constitucional. Parágrafo único. Cumprida a diligência de que trata o caput, o relator remeterá o recurso ao Supremo Tribunal Federal, que, em juízo de admissibilidade, poderá devolvê-lo ao Superior Tribunal de Justiça. (BRASIL, 2020)

obrigação de fazer, sob pena de multa, por entender que a hipótese apresenta caráter decisório suficiente a causar prejuízo à parte, possibilitando a interposição com base no art. 1.015, parágrafo único do CPC/2015, corroborando inclusive, com trecho do primeiro capítulo da pesquisa, que abordou acerca dos despachos desta natureza (BRASIL, 2020).

Por arguto, a análise do repetitivo evidencia que mesmo refutada a corrente minoritária de o rol ser exemplificativo (ampla recorribilidade), sob o argumento de que se estaria fazendo ressurgir os problemas sofridos no CPC/1973, verifica-se que implicitamente, pelos desdobramentos da taxatividade mitigada, está-se permitindo relativamente os efeitos da referida corrente rechaçada (LEAL, In: MARCATO et al., 2019).

Parece mais razoável, através do objetivo que pretendia a Corte Especial - antecipar novo julgamento da questão urgente que recebe apenas amparo legal na apelação - permitir espécie de apelação antecedente, com a formulação de pedidos em caráter antecipatório, cumulado com a hipótese legal de cabimento em preliminar de apelação, até em razão da tutela antecedente estar prevista na parte geral do CPC/2015, sendo aplicável a todo o processo, ao invés de criar hipótese inexistente para o cabimento do Agravo de Instrumento (PITTA, 2020).

Defende-se tal alternativa por existir influência de fatores externos, em que a definição do acórdão repetitivo não soluciona o problema, pois é comum a apreciação do Agravo de Instrumento não ocorrer no momento oportuno, em decorrência de a sentença ser prolatada sem que o tribunal já o tenha apreciado, precisando a parte reiterar a questão prévia em preliminar de apelação, nos termos do art. 930, parágrafo único do CPC/2015, já debatido anteriormente, para que a aludida questão seja analisada primeiramente.

Não se está a afirmar que através da presente alternativa estaria solucionada toda a temática, em decorrência do que afirmam André Roque, Luiz Dellore e Zulmar Duarte (2020), in verbis:

Não se está a defender que a solução é simples. É de se reconhecer que o problema do agravo não está apenas no agravo em si, mas também na fragmentação excessiva de nosso procedimento, o que acarreta a prolação de um excesso de interlocutórias. Assim, o problema é também estrutural, de modo que sua solução não é fácil. Mas é ingenuidade do legislador ficar andando em círculos, como atualmente está, sem considerar a história processual do recurso.

Pelo exposto, está-se a afirmar que apenas se origina uma solução adequada à problemática do Agravo de Instrumento, quando analisados aspectos externos à sua sistemática, de modo que, restringir suas hipóteses ou ampliá-las por si só, causam

problemas, sendo primordial que a solução resulte de atuação de quem seja competente legalmente para fazê-la.

CONCLUSÃO

Este trabalho buscou analisar o instituto jurídico previsto no artigo 1.015 do CPC/2015, a natureza jurídica fixada pelo legislador, os problemas resultantes do elenco e como a doutrina e a jurisprudência se comportaram diante dessa criação legislativa. Por conta disso, fora preciso em primeiro momento discorrer acerca do Agravo de Instrumento e todos os elementos internos que regulam essa via recursal.

Destaca-se, que a pesquisa evidenciou através das hipóteses contidas no rol de cabimento do Agravo de Instrumento, que as decisões interlocutórias que ensejam a sua interposição estão ligadas ao conteúdo contido no pronunciamento.

Por essa razão, afirma-se também que diante de uma decisão interlocutória complexa, apenas o conteúdo previsto em lei impugnável via Agravo de Instrumento poderá ser alegado, salvo na hipótese de questões prévias, em que a situação agravável possui interdependência à outra não agravável, sendo permitida nesse caso a recorribilidade imediata.

Dessa forma, constatou-se através dos estudos, que o elenco recorrível por Agravo de Instrumento é exaustivo e de forma que a interpretação restritiva foi a escolhida na elaboração das hipóteses.

Em contrapartida, os problemas da pesquisa, acerca das hipóteses ensejadoras do Agravo e, se foi feliz o legislador no elenco das hipóteses expressas no art. 1.015 do CPC/2015, demonstram ter sido insuficiente o rol criado, de modo a restringir diversas garantias processuais e das partes na prestação jurisdicional, e juntamente com a verificação de que as hipóteses não agraváveis e que tornam inútil a apelação, permitem a impetração de mandado de segurança, segundo dispõe o ordenamento jurídico, motivaram o surgimento das demais correntes.

No que tange à corrente da taxatividade que admite interpretação extensiva, é de se admitir que apenas será adequada se observar a essência contida em cada inciso do art. 1.015 do CPC/2015, do contrário considerando a amplitude interpretativa, é evidente que a dúvida

acerca do cabimento irá perfazer a insegurança da preclusão, algo que retirará a essência do Agravo de Instrumento, pelas demasiadas interposições de hipóteses incabíveis visando evitar a surpresa de a matéria estar preclusa caso impugnada apenas via apelação.

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