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CAPÍTULO 6 Discussão dos resultados

6.1 Os saberes docentes de natureza da formação

Compreendemos aqui a formação inicial ocorrida durante o Curso de Licenciatura em Matemática, considerada pré-serviço e a formação continuada, exercida pelo professor em cursos de especialização em educação superior e cursos de atualização por conta própria ou em serviço, nas escolas campo de estudo na pesquisa.

6.1.1 - Relação dos saberes da formação com os saberes Informáticos Segundo o resultado da análise dos saberes docentes dos professores de Matemática da pesquisa, os currículos dos cursos de Licenciatura não contemplaram em sua estrutura uma proposta de informática educacional, este mesmo resultado é apontado pelos estudos de Mc Laughlin (1998), Bittar (2000) e Cury & Bazzo (2001). Em sintonia com o que apontam as pesquisas de Da Ponte (1995), Sadovsky (1997)

e, Penteado (2000), nossa pesquisa mostra que o computador não está sendo usado na formação inicial para apoiar a aprendizagem de tópicos específicos de Matemática em uma relação interativa e colaborativa entre professor-aluno. Nossos resultados apontam que a prática do uso do computador com fins pedagógicos está ocorrendo por iniciativa de alguns professores na formação em serviço, nas escolas. Portanto, essa prática reflete um saber construído a partir das experiências, de forma intuitiva.

Analisamos, nos saberes considerados pelos professores determinantes e necessários para a prática com o computador nos cursos da formação inicial, que eles não tiveram acesso aos saberes que fornecessem perspectivas sobre as razões educacionais e didáticas que aconselham o uso da informática educacional em Matemática. Esse mesmo resultado foi apontado por Ribeiro & Ponte (2003) em suas pesquisas, quando argumentam que a formação inicial não tem proporcionado o prolongamento desses saberes até seu exercício docente, deixando de proporcionar situações de reflexão às necessidades individuais dos docentes e de algumas escolas em relação à aplicação de conceitos matemáticos com o computador.

A nossa análise sugere, contudo, que não basta contemplar no currículo a Informática, mas concordamos com Ribeiro & Ponte (2003), que é oferecê-la em seu nível mais profundo, como um meio para a construção de novos enfoques, ou seja, didaticamente, atrelado a objetivos matemáticos. Essa nossa análise, reforçada pelos argumentos de Alonso (2001), refere-se às reformas educacionais como “operações de maquilagem”, deixando inalterados os aspectos fundamentais do ensino e dos conteúdos transmitidos, envolvidos no currículo.

Os dados mostraram a inexistência do uso didático do computador na formação docente inicial, o que leva à utilização do mesmo na formação continuada, na digitação de trabalhos e na pesquisa na Internet, uso este apontado por Hurst (1994) em suas pesquisas. Para reverter essa situação, as instituições escolares Alfa e Beta oferecem a formação docente para a Informática Educacional, seja em curso para aqueles que têm tempo de freqüentar ou, assistematicamente, durante a interação entre a coordenação de Laboratório de Informática e os professores, quando estes procuram saber como poderia dar um determinado enfoque ao seu conteúdo.

Nesse sentido, a pesquisa demonstra a existência de uma formação de saberes informáticos educacionais planejada na instituição escolar, ausente na formação acadêmica, que objetiva suprir as necessidades dos professores em seus saberes didáticos informáticos para a construção do seu software de aula. Isto, porém, seguindo o argumento de Ponte (2002), sugere que os cursos devem ser pensados e estruturados em princípios, permitindo-lhe o desenvolvimento de capacidades e valores essenciais ao exercício da profissão, respondendo às exigências que a sociedade está fazendo aos docentes, às escolas e, esses aos cursos de formação.

Os resultados nos levam a defender a reconstrução de saberes docentes na formação inicial, em outro paradigma, catalisador de mudanças na educação, conforme a pesquisa de Abranches (2003). Isso, até por entender que o professor não é um transmissor de conhecimento e, sim, um orientador do educando, considerado por Lerner (1997) e pelos pesquisadores, que ambos são construtores do seu conhecimento com o computador. Para isso acontecer, é necessário se “formar” professores, profissionais que estejam abertos a uma forma de entender a

Informática Educacional, em seu conjunto de saberes didáticos, pedagógicos e didáticos específicos, didáticos informáticos e disciplinares, principalmente.

6.1.2 - Relação dos saberes da formação com os saberes disciplinares Em nenhum momento foi percebido nas respostas dos professores seu despreparo conceitual de Matemática. Entretanto, os professores consideram que a ausência desse saber é um obstáculo para o uso do computador em sala de aula, confirmando a posição de Even (1993). Acrescentam, ainda, que a formação inicial cumpriu com essa função, ao contrário do que afirmam as pesquisas de Canôas, Cunha, Magina & Campos (1998), que demonstraram a fragilidade dos conhecimentos matemáticos no que se refere à formação dos professores.

6.1.3 - Relação dos saberes da formação com os saberes didáticos Os professores de Matemática da pesquisa reconhecem como determinantes os saberes didáticos para o uso do computador no ensino-aprendizagem.

Considerando a importância dada aos saberes pedagógicos e aos didáticos na pesquisa pelos professores, fazemos um paralelo com os estudos de Sadovsky (1997), Lerner (1997) e Brousseau (1997), que defendem a necessidade das relações entre esses saberes na formação inicial e na exigência da prática docente.

Os saberes didáticos informáticos, entretanto, não estiveram presentes na formação inicial do professor de Matemática, estando ausente do currículo como elemento determinante para a prática docente com o computador no exercício profissional. Isto fortifica a posição de Koch (1998), que aponta a dificuldade do professor no campo metodológico. Acreditamos que o uso do computador aumenta as investigações para estudo sobre esse campo, devido ao desconforto do professor

ao planejar, construir e implementar seu software de aula, demonstrado no desejo de construir novos enfoques para suas aulas informatizadas.

Os resultados levam a concordar com Bittar (2000) sobre a diversidade de reflexões que envolvem o uso da informática em sala de aula, pois ao considerarem determinante a socialização de experiências com o computador entre seus pares, os professores sugerem a reflexão com os colegas e a sua própria, a discussão sobre as condições de trabalho e sobre as possibilidades do uso da Informática em sua prática pedagógica.

Os resultados desse trabalho coletivo são considerados importantes, devido à relação interativa coordenador (a) e professor. Essa relação de seus saberes da formação e experienciais docentes, os tornam protagonistas dos seus projetos de investigação-ação, sendo essa a idéia, também defendida em pesquisas por Ponte & Santos (1999), confirmando a necessidade da formação contextualizada e participante de seus sujeitos.

6.1.4 -Relação dos saberes da formação com as condições de trabalho

Os resultados da pesquisa mostram que as condições de trabalho estabelecem alguns limites e possibilidades para a (re) construção de saberes docentes para o uso do computador em Laboratório de Informática nas escolas. Os professores apresentam o tempo para aprender, a disponibilidade dos programas no computador para a construção do seu software e os cursos disponibilizados nas escolas, como facilitadores dessa (re) construção.

Por um lado, o acesso dos professores aos cursos em serviço, aumenta sua experiência com a informática educacional, argumento de Swetman e Baird (1998), mas os professores da pesquisa condicionam o curso à sua contextualização e às

suas necessidades do trabalho docente, em níveis, conforme a realidade de cada disciplina e os saberes de cada professor.

Outra condição é a relação estabelecida entre o coordenador do Laboratório de Informática e os professores. Esta lhes dá segurança e aumenta a sua confiança no momento de implementar sua aula informatizada, durante o apoio à aula, quando o coordenador disponibiliza hardware e software.

Conforme Balacheff & Kaput (1996) e Canário (1999), que salientam a importância da formação em serviço, nesta pesquisa, os professores referem-se à escola como ambiente formador para a Informática Educacional, onde aprendem aquilo que consideram essencial para o uso do ambiente informatizado: aprendem a aplicar seus conteúdos com o suporte computador.

Os resultados mostram que os saberes informáticos estão na pauta das prioridades das escolas, mas as condições estão em processo de construção, além da (re) construção dos saberes docentes da formação e dos experienciais. Assim, sugerimos que, para aplicar conceitos matemáticos com o computador, não basta a ferramenta, mas transformar o saber disciplinar e o saber informático em um saber didático informático específico por disciplina, envolvendo coordenador de Laboratório de Informática e professor nesse processo de (re) construção coletiva de uma prática pedagógica informatizada.