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Os sujeitos de pesquisa e as condições de produção dos documentos

CAPÍTULO 4 – O PROCESSO DE PESQUISA

4.2. Os sujeitos de pesquisa e as condições de produção dos documentos

Com relação aos documentos digitais cedidos pela coordenação do Núcleo Educativo do MLP em 2016, o mapeamento de autoria mostrou-se inconsistente por haver muitos textos produzidos coletivamente e outros que, embora fossem aparentemente individuais, não traziam a data e a autoria. Esse problema acontecia com alguma frequência por conta da pressa, e gerava o (mau) hábito de contextualizar o documento em um texto no corpo do e-mail enviado à coordenação (assim, ambas as partes confiavam na memória virtual, considerando desnecessária a inserção das mesmas informações no arquivo anexo). Como somente os arquivos foram cedidos, em vários casos, faltam informações contextuais. Contudo, reconhecemos esses documentos como válidos pelas referências a atividades que também foram mencionadas em outros documentos e entrevistas devidamente identificados.

Precisamos ressaltar que em muitos casos, a linguagem burocrática e o caráter institucional dificultam o aproveitamento, pois não se pode ter clareza sobre como as relações de poder resultam ou não em posturas de “superficialidade” a respeito de uma ação. Fazemos essa consideração em relação a documentos que “não descrevem” a atividade realizada, limitando-se apenas a informar o número de participantes e um breve comentário se foi “bem-sucedida” ou não – sem entrar no detalhamento do que isso quer dizer.

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Pela necessidade de cruzamento das informações para resolver esse tipo de lacuna, além da aplicação dos questionários (respondidos por 23 dos 74 educadores), realizamos 24 entrevistas com ex-funcionários do museu que atuaram diretamente no Núcleo Educativo em diferentes épocas. Entre eles estão educadores de diversas áreas de formação, dois assistentes de coordenação (sem contar a pesquisadora que ao longo de 8 anos atuou no mesmo espaço como educadora e como assistente) e a coordenadora Marina Toledo, que exerceu esse cargo desde de abril de 2007 e hoje é a única funcionária remanescente, responsável por toda a documentação das atividades educativas do museu.

Os questionários foram aplicados via formulário digital e as entrevistas presenciais foram realizadas em diferentes ambientes – em alguns casos, deslocamo-nos até o atual local de trabalho do entrevistado, em outros, marcamos um encontro em um café, uma biblioteca ou um espaço cultural. Algumas pessoas que estão fora da cidade, preferiram participar enviando um depoimento por escrito ou enviando uma mensagem em áudio (via aplicativo de mensagem WhatsApp), que também foi transcrita. Outras ainda, estando fora do país, aceitaram conceder as entrevistas via Skype, que também foram transcritas. Como já foi dito, reconhecemos que cada um desses suportes e circunstâncias de enunciação interferem no discurso e eventualmente trouxeram problemas técnicos (como falha no questionário digital e a “frieza” do suporte para tratar um tema de alta carga afetiva). Mas em geral, considerando o nível de aprofundamento para o qual temos condições neste momento, os resultados são suficientes.

4.3. Outros desafios no processo de construção do objeto de pesquisa

Atendendo às orientações do capítulo III da Resolução 510, de 7 de abril de 2016, que dispõe sobre Processo de Consentimento e do Assentimento Livre e Esclarecido, todos os depoimentos, questionários, entrevistas e documentos foram solicitados de modo documentado (por e-mail) e todos os colaboradores tiveram a oportunidade para esclarecimentos de dúvidas, acréscimo ou correção de informação e de revogação de sua autorização a qualquer momento. Em alguns casos específicos, a pedido do colaborador, nomes citados nas gravações não foram transcritos, para evitar que o acesso público a esta pesquisa traga ao declarante eventuais prejuízos ou desconfortos de ordem pessoal.

Também com o intuito de evitar quaisquer prejuízos ou desconfortos de ordem pessoal ou profissional, à exceção da coordenadora que responde institucionalmente pela

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autorização de acesso aos documentos, no geral, os nomes dos educadores entrevistados serão omitidos no texto. Todos os dados, documentos e transcrições, que foram autorizados para uso restrito a esta pesquisa, serão mantidos pela pesquisadora em arquivo pessoal, e em caso de uso para pesquisas futuras, os educadores serão contatados para nova autorização. A listagem dos documentos e as características dos sujeitos constam no anexo desta dissertação.

Lembramos ainda que, no caso dos documentos institucionais, a autorização (Anexo 2) foi feita sob a condição de que enviaremos um exemplar da dissertação para que seja arquivado pelo gestor atual do Museu da Língua Portuguesa. Pelo mesmo princípio ético, comprometemo-nos a levar o resultado desta pesquisa a todos os participantes.

Infelizmente, durante o processo de solicitação alguns educadores se recusaram a colaborar com as entrevistas e questionários. Como temos clareza de seu desconforto, procurou-se evitar sua exposição, bem como o uso explícito dos documentos significativos de sua autoria em nossas citações diretas.

Reconhecemos assim nossas limitações na construção do objeto (apesar de nosso esforço de construí-lo da forma mais coletiva possível). Enfrentamos algumas dificuldades, primeiramente porque, por acaso, a data planejada para aplicação dos questionários coincidiu com dois eventos significativos: a demissão dos últimos funcionários (dissolução do Núcleo Educativo, em janeiro de 2017) e uma pesquisa institucional que foi rejeitada por muitos funcionários (e eles acabavam rejeitando também o nosso contato, entendendo que fizéssemos parte dessa iniciativa da instituição). Tentamos encontrar educadores mais antigos por meio das redes sociais, mas com isso, o questionário acabou chegando a pessoas que não se enquadravam no recorte da pesquisa (por não terem exercido a função de educador).

Em consequência do fato de que “as relações eu/outro nem sempre são harmônicas” (BRAGA, 2010: 152) houve recusas e animosidades por parte de alguns, de modo que achamos por bem adiar as entrevistas para julho, quando o contexto social já era mais favorável, mas mesmo nesse momento, houve recusas.

Dessa forma, reconhecemos o conjunto dos documentos como um recorte complexo que dificulta generalizações, mas oferece indícios sobre a realidade cotidiana do Núcleo.

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