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OS TIPOS DE ARGUMENTOS EMPREGADOS

5 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

5.8 OS TIPOS DE ARGUMENTOS EMPREGADOS

Durante a aplicação da SD, trabalhamos com quatro tipos de argumentos: argumento de causa e consequência, argumento de autoridade, argumento pelo exemplo, pela ilustração ou pelo modelo e argumento de princípio.

Analisando a primeira produção dos alunos (cinco transcrições do primeiro debate), constatamos que foram utilizados 40 argumentos, divididos entre: de causa, de consequência, de princípio, pelo exemplo e pela ilustração. Já na produção final (cinco transcrições do segundo debate), constatamos a presença de 67 argumentos. Nesta etapa, além dos já utilizados na produção inicial, também identificamos argumentos de autoridade. O gráfico a seguir evidencia esses resultados.

Gráfico 6 –Tipos de argumentos utilizados pelos grupos

20% 40% 30% 5% 5% 9% 32% 27% 15% 12% 5% ARGUMENTO DE CAUSA ARGUMENTO DE CONSEQUÊNCIA ARGUMENTO DE PRINCÍPIO ARGUMENTO PELO EXEMPLO ARGUMENTO PELA ILUSTRAÇÃO ARGUMENTO DE AUTORIDADE

Primeira produção Produção final

Como podemos observar no Gráfico 6, na primeira produção dos grupos os argumentos mais utilizados foram os de consequência, de causa e de princípio, respectivamente; por outro lado, na produção final, os argumentos mais utilizados foram os de consequência, de princípio e pelo exemplo, sendo que o de consequência foi o mais utilizado nas duas etapas da SD. Segundo Fiorin (2016), nesse tipo de argumentação defende-se uma dada ação, levando-se em conta os efeitos que ela produz.

De acordo com Perelman e Olbrechts-Tyteca (2014, p. 304), “a partir do momento em que uma ligação fato-consequência é constatada, a argumentação se torna válida, seja qual for a legitimidade da própria ligação”. Os argumentos de consequência não exigem nenhuma justificativa para serem aceitos pelo senso comum Perelman e Olbrechts-Tyteca (2014) explica a relação existente entre os argumentos de causa e de consequência:

De um modo geral, o fato de considerar ou não uma conduta como um meio de alcançar um fim pode acarretar as mais importantes consequências e pode, portanto, por essa razão, constituir o objeto essencial de uma argumentação. Conforme se conceba a sucessão causal, sob o aspecto da relação “fato-consequência” ou “meio-fim”, a ênfase será dada ora ao primeiro, ora ao segundo dos dois termos: se se quer minimizar um efeito, basta apresentá-lo como uma consequência; se se quer aumentar-lhe a importância, cumpre apresentá-lo como um fim (PERELMAN E OLBRECHTS-TYTECA, 2014, p. 308).

Dessa maneira, podemos compreender por que os argumentos de consequência foram os mais utilizados: eles são facilmente adequados ao ponto de vista defendido, pois um fato é analisado a partir de suas consequências favoráveis ou desfavoráveis. Além disso, este tipo de argumento tem bastante credibilidade, por ser verossímil.

Os argumentos pelo exemplo e por ilustração também fundamentaram os pontos de vista expressos pelos alunos. Segundo Perelman e Olbrechts-Tyteca (2014), os argumentos pelo exemplo devem ser incontestáveis; já a argumentação por ilustração pode ser duvidosa, mas deve impressionar vivamente a imaginação para impor-se à atenção. Na primeira produção dos estudantes, esses dois tipos de argumentos aparecem quatro vezes e, na produção final, dezoito vezes, como podemos observar a seguir:

A3: Como eu falei, a pessoa ela pode nascer. Vamos supor que ela nasce uma mulher e é como se com o tempo ela fosse meio que se desenvolvendo, ela falasse: “Ah, não sou desse corpo, nasci no corpo errado.” Parece que ela nasceu no corpo errado, sabe? Como se ela tivesse nascido pra ser um homem e isso não significa

que ela vai ser homossexual... (Argumento por ilustração – produção final)

B2: Eu vivenciei esse fim de semana, no domingo, uma pessoa drogada agredindo uma senhora, uma mulher. E o que você me diria sobre essa questão? (Argumento

pelo exemplo – primeira produção)

Acreditamos que, na última produção, os alunos estavam mais bem preparados, já que haviam estudado os assuntos durante um período maior, além de que, agora, eles conheciam os tipos de argumentos e puderam usá-los com propriedade.

Essa mesma razão justifica a presença dos argumentos de autoridade na produção final, mesmo que de forma tímida, já que aparecem apenas quatro vezes. A seguir exemplos de argumentos de autoridade:

C3: Por exemplo, a maioria das pessoas que já jogaram pokemon go já sofreram acidentes. Isso passou no Jornal Nacional.

D4: Segundo médicos, a transexualidade é um transtorno mental que merece tratamento.

De acordo com Ferreira (2010, p. 166), no argumento de autoridade “o prestígio, o caráter, o ethos da pessoa citada é fator crucial para a validação das intenções. Os discursos dos competentes sustentam esse argumento”.

Por sua vez, os argumentos de princípio aparecem em 30% da produção inicial e em 27% da produção final. Esse tipo de argumentação baseia-se em provas concretas, ou seja, quando é empregado evidencia uma tese por meio de informações concretas, extraídas da realidade. Dessa forma, nesse tipo de argumentação, podem-se usar dados estatísticos ou fatos notórios, de domínio público. Este tipo de argumento foi constantemente utilizado pelos alunos, pois, por meio da dedução, eles conseguiram chegar à confirmação de sua tese, ao relacionar um fato isolado

ao princípio que comprovava que suas crenças pessoais eram verdadeiras, por elas possuírem validade universal.

Por fim, ao compararmos as primeiras produções com as finais, identificamos que os alunos utilizaram nesta última uma quantidade maior de argumentos, fato que nos faz acreditar que as atividades aplicadas em sala de aula, durante a sequência, alcançaram o objetivo pretendido e fizeram sentido para os alunos. Na próxima seção, trazemos a opinião dos alunos quanto à SD.