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Outras coleções aparecem

No documento Na Trilha do Disco (páginas 136-143)

Nos anos 80 e 90 outras coleções passam a frequentar as bancas de jor- nais, concentradas em jazz e música clássica, e sendo todas elas ideali- zadas no exterior. De início, abandonam o formato LP e passam a usar fitas cassete, pois os ““compact discs”” (CDs) ainda não tinham grande disseminação no Brasil: eram bem mais caros que um LP e os aparelhos reprodutores, também pelo seu custo, só podiam ser adquiridos por um público muito restrito. É dessa época a coleção Clássica: a história dos gê-

nios da música, lançada pela Nova Cultural em 1988, versão de original

italiano publicado dois anos antes pela Fabbri italiana. Cada unidade dessa coleção era composta por um livro de, aproximadamente, 50 pá- ginas dedicado a um compositor e uma caixa com quatro minicassetes contendo algumas de suas obras. Com a popularização do CD, espe- cialmente a partir dos anos 90, as coleções começam a aparecer nesse tipo de mídia. Mas, numa fase de globalização, nota-se que, na maioria dos casos, não são versões brasileiras de produções estrangeiras, muito menos produções nacionais: os textos são da Espanha e de Portugal, o material impresso já vem pronto de fora e, em algumas dessas coleções, também os CDs.

Em 1994, o público brasileiro toma contato com a Opera Collection, da Orbis Fabbri. São 41 óperas completas, gravadas em 91 CDs, com

gravações que já haviam sido lançadas em vinil pela Decca inglesa, uma das gravadoras mais importantes no campo da música clássica.

Uma série lançada em 1996 foi The Jazz Masters: 100 anos de Swing ––

Folio Collection. Essa coleção foi publicada por Ediciones Folio, com sede

em Barcelona. Criada em 1980, trabalhava apenas com livros, até que em 1992 lançou-se no mercado de vendas em bancas de jornais com a publicação de livros e fascículos acompanhados de CDs, CD-ROMs ou DVDs.179 Nos anos 90, a editora expandiu suas vendas para a América

Latina, e é com essa iniciativa que a coleção The Jazz Masters aparece no Brasil, em 1996. Os fascículos em português foram impressos em Barcelona, e os CDs, como não contêm nenhuma palavra em português, nem mesmo aqueles avisos que proíbem a sua transmissão, duplicação, etc., (aparecem em inglês) provavelmente também foram fabricados no exterior.

O ano de 1996 foi rico em lançamentos: junta-se às anteriores a coleção Os grandes clássicos: história da música clássica, de Ediciones del Prado, de Madri, formada por 75 fascículos e CDs que já vieram pron- tos da Espanha e foram distribuídos pela Fernando Chinaglia Editores. Embora em português, nota-se que a revisão deixou escapar palavras que remetem ao original espanhol, como ““independientes””, ““alternan- dose”” e ““herença””.180

Ainda em 1996, uma coleção mais especializada é colocada nas ban- cas: Mestres do Blues, da espanhola Altaya, com 40 fascículos e CDs que, como no caso anterior, já vieram prontos do seu país de origem e tam- bém foram distribuídos pela Fernando Chinaglia.

Também em 1996 chegava ao Brasil outra coleção dedicada ao jazz, publicada por Ediciones del Prado, de Madri, que tinha como título sim- plesmente a palavra ““Jazz””. A editora foi fundada em 1988 e sempre se especializou em fascículos vendidos em bancas de jornais.181 A co-

leção era uma versão espanhola de original italiano: nos CDs, consta a informação: ““Licencia SAAR, Milano, 1994”” e os dizeres aparecem em espanhol, o que faz supor que também foram feitos no exterior. A parte impressa ficou a cargo de uma gráfica em Madri.

179. www.folio-sa.es/. Último acesso em 24/5/2007. 180. Fascículo 25, primeira contracapa e página 25. 181. www.delprado.com. Último acesso em 28/5/2007.

Em 1996/1997 é lançada nas bancas brasileiras a coleção Música

Sacra, por Ediciones Altaya,182 de Barcelona, composta de 75 fascículos

e 75 CDs. Os fascículos foram impressos na Espanha e os CDs, aparente- mente, também vieram do exterior.

Uma importante coleção de música clássica vendida em bancas de jornais foi a Deutsche Grammophon Collection, composta de 75 volumes e 76 CDs (o primeiro contém dois CDs), também de Ediciones Altaya. A Deutsche Grammophon é uma gravadora que sempre trabalhou exclu- sivamente com música clássica, e em 1998 comemorou seu centenário. Em 1999, a coleção era lançada, reunindo intérpretes de grande cele- bridade: entre os solistas, Yehudi Menuhin, Sviatoslav Richter, Itzhak Perlman e Plácido Domingo; como regentes, Karajan, Giulini, Barenboim, Bernstein, entre outros; entre as orquestras, a Filarmônica de Berlim, a de Viena e a Sinfônica de Chicago figuravam entre as incluídas. Na verdade, assim como em outros casos, eram gravações que já haviam sido lançadas no mercado, e estavam sendo reeditadas para um público mais amplo. O fascículo introdutório dá uma ideia do planejamento de

marketing para que a coleção fosse bem vendida, quando diz:

Os fascículos poderão ser encadernados em três volu- mes de 300 páginas cada um: o volume I apresenta o período da Antiguidade até o final do classicismo; o vo- lume II engloba o período romântico e o volume III, a música contemporânea [aqui entendida como música do século XX]. A coleção, de publicação semanal, inicia- se com os fascículos correspondentes ao segundo vo- lume, que serão seguidos pelos do terceiro e primeiro, respectivamente.183

Dessa forma, a coleção começava com os compositores do período romântico, mais apreciados pelo público. (Vale lembrar que a primei- ra coleção da Abril, de 1968, iniciava com o Concerto nº 1 para piano e

orquestra de Tchaikovsky, uma das obras eruditas mais divulgadas em

todo o mundo –– o gosto do grande público não mudou muito, mesmo de- pois de três décadas...) Mais uma vez, os fascículos foram impressos na Espanha, e no seu texto percebe-se que foram traduzidos em Portugal,

182. www.altaya.es. Último acesso em 28/05/07.

pois adotou-se a grafia desse país. Já a fabricação dos CDs ficou a cargo da empresa brasileira Videolar, no Polo Industrial de Manaus.

Grandes Compositores é uma coleção lançada em 2005 por outra edi-

tora de Barcelona –– Editorial Sol90 –– que foi distribuída juntamente com jornais em vários países. A que apareceu nas bancas brasileiras é a edição portuguesa, vinculada ao jornal Expresso, de Lisboa, cuja marca aparece na capa. A mesma editora também lançou uma coleção de óperas, que foi vendida em bancas neste país. Em ambos os casos, os fascículos na verdade são pequenos livros, com cerca de 50 páginas cada um, que sintetizam a vida e a obra de um compositor e trazem um comentário sobre a obra que consta do CD.

Também em 2005, e seguindo a mesma linha de Grandes Compositores, o jornal Folha de S. Paulo lança a coleção Royal Philharmonic Orchestra. Reafirmando a hegemonia espanhola nessa área, os originais vieram do Mediasat Group, com sede em Madri. Esse grupo é especializado em produzir coleções sob medida para seus clientes, como afirma no seu

site em inglês:

O repertório musical é selecionado de acordo com as necessidades individuais dos clientes. Preparamos dis- cos com compilações musicais para todas as ocasiões e para cada público-alvo dos clientes, fazendo uso de nosso bem provido catálogo musical. É sua decisão qual tipo de música e quais intérpretes será incluído num disco promocional (tradução minha).184

A coleção da Folha de S. Paulo é formada de 36 pequenos livros, com cerca de 60 páginas cada um, acompanhados de um CD. Os livros foram impressos no Brasil pela multinacional RR Donnelley Moore, e os CDs, fabricados no Polo Industrial de Manaus pela empresa alemã Sonopress. As informações para a divulgação são imprecisas, como quando dizem que cada CD trará ““as principais obras””185 do compositor (num só CD? e

suas obras não sinfônicas?). O volume dedicado a Chopin, por exemplo, traz seus dois concertos para piano, e ignora toda a sua produção para piano solo, muito mais importante.

184. www.mediasatgroup.com. Último acesso em 28/5/2007. 185. musicaclassica.folha.com.br. Último acesso em 28/5/2007.

Nos últimos anos, a revista Caras, dedicada a falar da vida das cele- bridades, também tem lançado coleções de CDs (além de coleções em vídeo e objetos variados). Uma delas foi Jóias da Música, formada por 10 CDs que vinham acoplados à revista e, direcionados ao público de Caras, continham somente trechos das composições clássicas mais conhecidas, como a ““Valsa das flores””, da suíte O quebra-nozes, de Tchaikovsky, ou ““Aleluia””, do oratório O Messias, de Haendel. Essa série teve o apoio cultu- ral da Vinólia (provavelmente com a utilização de alguma lei de renúncia fiscal). A versão original é da Barsa Produciones, também da Espanha.

Outra coleção de Caras foi a Música do século, com clássicos da música popular norte-americana (somente estes constituem a ““música do sécu- lo””?). Para tanto, a Editora Caras apelou para a HHO –– Henry Haddaway Organization Ltd –– ““o maior licenciador independente de material au- diovisual do mundo””, segundo o seu site.186 Do mesmo modo que a ci-

tada Mediasat, essa empresa, baseada em Londres, tem um catálogo do qual se pode licenciar músicas ao gosto do cliente. Os CDs contêm um ““bônus””: reafirmando a vocação da revista, de alimentar o gosto do seu público pela vida das celebridades, um deles traz uma faixa multimídia sobre ““Edward e a Sra. Simpson”” (Eduardo VIII, tio da Rainha Elizabeth II, foi o rei britânico que renunciou ao trono em favor de seu irmão e casou-se com Walli Simpson, uma americana divorciada).

A coleção de fonogramas mais recente da revista Caras foi lançada em parceria com a Azul Music, gravadora criada em 1993 e que, ini- cialmente, se destacou no segmento de músicas para meditação e re- laxamento. Essa gravadora ultimamente vem incursionando em outros estilos musicais, como o lounge e a música eletrônica.187 A coleção dis-

tribuída pela Caras e produzida pela Azul Music é composta de ““25 CDs, onde traços culturais e musicais de cada região foram retratados pelo

cast de produtores e artistas da gravadora, e também por músicos e

artistas convidados de todo o planeta””, como diz a contracapa de todos os CDs. A música de Bali, A música da África, A música do Tibete e A música

dos países árabes são os títulos de alguns CDs. Na verdade, trata-se de

simulacros da música desses países. De modo muito diferente da citada coleção Povos e Países, muitas das faixas são interpretadas por artistas nacionais que adotam nomes exóticos, e todas apresentam um produto bastante pasteurizado, frequentemente com elementos de música pop,

186. www.hho.co.uk. Último acesso em 3/10/2007. 187. www.azulmusic.com.br Último acesso em 25/5/2007.

lounge e new age. O CD com ““a música de Bali””, por exemplo, apresen-

ta faixas com títulos como ““Bali Sunrise”” (Crepúsculo de Bali) e ““Bali Nights”” (Noites de Bali), títulos que já sugerem um simulacro com um perfume de Hollywood. Parece destinar-se a um público que só aprecia entrar em contato com uma cultura diferente de longe e sem nenhum envolvimento –– como passageiros de um navio de cruzeiro observando os nativos da amurada da embarcação.

Em setembro de 2007 era lançada pela Folha de S. Paulo a coleção

Clássicos do Jazz, composta de 20 pequenos livros, cada um com um CD,

com gravações de um grande nome do jazz. O formato é muito seme- lhante ao da coleção Royal Philharmonic Orchestra, lançada pela mes- ma Folha, mas desta vez os textos são assinados pelo brasileiro Carlos Calado, crítico de jazz do jornal. O licenciamento dos fonogramas foi feito utilizando-se o catálogo da Mediafashion, empresa com sede em Portugal e escritórios em vários países europeus, Moçambique, México e Brasil, e que, como outras companhias já citadas, fornece música ao gosto do cliente para que este monte o seu produto.188 As seleções mu-

sicais nem sempre são as melhores. Um exemplo é o primeiro CD da série, dedicado a Nat King Cole: embora o músico escolhido tenha sido um grande pianista de jazz e a coleção seja dedicada a esse gênero, 12 das 14 faixas trazem o Nat King Cole cantor, interpretando um reper- tório de música popular americana sem demonstrar as suas qualidades jazzísticas. E não as melhores versões que Cole gravou dessas canções, mas sim registros de um show em Las Vegas, em 1960.

Uma produção brasileira de 2009 foi a Coleção Folha 50 anos de Bossa

Nova, composta também de pequenos livros, com bonitas fotos –– algu-

mas muito pouco conhecidas –– e textos de Ruy Castro, um verdadeiro ““sacerdote”” da bossa nova, acompanhados, cada um, de um CD. O gran- de ausente dessa coleção é, sem dúvida, João Gilberto. Provavelmente tendo como causa questões de direitos autorais, trata-se de uma ausên- cia e tanto: João Gilberto foi quem estabeleceu um padrão de canto para o gênero, quem gravou pela primeira vez a famosa batida ao violão (num disco de Elizeth Cardoso) e quem registrou o primeiro disco do qual se pode dizer que é integralmente bossa nova (Chega de Saudade –– embora a primeira gravação tenha sido a de Elizeth) e que foi lançado no mer- cado, ainda em 78 RPM, em 1958. Nesta coleção, consta como editora a já citada empresa Mediafashion, mas as produtoras originais das gra-

vações são citadas na última página de cada número, com a tradicional expressão ““fonogramas gentilmente cedidos por”” Sony BMG, Universal Music, etc. Embora aqui e ali se notem inclusões não muito importantes, e com a ressalva feita acima, de modo geral a coleção conta com grava- ções bastante representativas do gênero que propõe celebrar.

Uma importante coleção lançada em 2009 foi Tesouros da Ópera, edi- ção brasileira da coleção Los Clásicos de la Ópera: 400 años, publicada ori- ginalmente pela editora Altea na Espanha em 2006. São 25 livros com CDs que trazem gravações completas de óperas famosas, com obras que vão do Orfeo de Monteverdi a Wozzeck de Alban Berg. Os livros são visualmente atraentes, com textos de qualidade, oferecidos a um preço nas bancas que é uma pequena fração do que se paga pela gravação completa em CD de uma ópera, quase sempre importada. Trazem sem- pre o libreto original na íntegra, com uma competente tradução para o português, ao lado do texto original. As gravações, boa parte delas feita nos anos 50, passaram por uma digitalização que produziu, em muitos casos, uma surpreendente qualidade sonora: veja-se, por exemplo, o registro de Rusalka, de Dvorak, feito em Praga, em 1952. Se para os es- pecialistas no gênero nem sempre se trata das melhores gravações, ou a sua qualidade de áudio não se compara a de gravações posteriores, em alguns casos elas satisfazem mesmo os mais exigentes. É o caso de La

Traviata, de Verdi, gravada em 1953, com Maria Callas no papel-título,

de Tristão e Isolda, de Wagner, com Kirsten Flagstad, considerada uma das maiores intérpretes wagnerianas de todos os tempos, ou de Lucia de

Lammermoor, de Donizzetti, com Renata Scotto e Luciano Pavarotti.

Deve-se mencionar, ainda, a coleção Grandes Compositores da Música

Clássica, lançada pela revista Bravo!/Abril Coleções também em 2009.

São 40 pequenos livros com um CD cada um. É uma coleção criada no Brasil, com textos de João Marcos Coelho e Leonardo Martinelli, e supervisão musical do maestro Roberto Minczuk. Os CDs trazem gra- vações da Naxos,gravadora que lançou no mercado, a preços baixos, numerosos registros de música clássica feitos na Europa Oriental. No Brasil, muitos desses títulos da Naxos foram lançados pela gravadora Movieplay. Curiosamente, o folheto de publicidade dessa coleção afir- ma que a Naxos é uma gravadora americana, mas no site da própria Naxos, informa-se que a ““Naxos é criação de Klaus Heymann, um em- presário alemão e amante da música, baseada em Hong Kong””, e que suas atividades tiveram início em 1987.

Os independentes nas bancas: o Disco de Bolso, versão

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