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1. FASE 1 O RECONHECIMENTO DO AMBIENTE HOSTIL

1.2 O EXÉRCITO INIMIGO (conceitos e tipologia dos newsgames)

1.2.6 Outras considerações

Nesse processo de construção de uma teoria sobre os jogos jornalísticos, Santos e Seabra (2014) discordam em parte das categorias definidas por Bogost (2010). Para eles, os newsgames se apresentam como uma nova alternativa aos modelos tradicionais de produção, circulação e consumo de notícias. Já as divisões propostas pelos estudiosos americanos se assemelham muito ao processo de separar as notícias dos impressos em editorias.

Os pesquisadores acreditam que na construção de um newsgame deve-se levar em conta a mesma lógica de seleção das notícias feita pelos critérios de noticiabilidade, visto que seu enredo se pauta em informações/notícias segmentadas. Tal critério é denominado por eles como “notícias-tema”, ou seja, criar um newsgame tendo em mente sua temática social (por exemplo, educação, política, saúde, economia, etc).

Embora cada vez mais veículos jornalísticos utilizem essa ferramenta para complementar suas notícias, é possível encontrar também na internet o caminho inverso. Normalmente com o propósito de satirizar algum conteúdo divulgado pela mídia, vez ou outra, produtores independentes divulgam jogos que não têm a premissa de serem considerados newsgames.

Isso não impede o leitor que teve contato com a notícia original de relacionar os dois conteúdos, mesmo que o jogo não tenha sido divulgado em uma mídia jornalística. Um exemplo é o jogo Corrida Pelada!

POA46, cuja narrativa remete aos casos noticiados, no início de

novembro 2014, em que mulheres corriam nuas pelas ruas e parque da cidade de Porto Alegre, no estado do Rio Grande do Sul.

Figura 22 - Destinado a aparelhos mobile, o jogo consiste em evitar o guarda e desviar dos obstáculos a fim de alcançar a pontuação mais alta possível

Fonte: http://downloadapk.com.br/app/corrida-pelada-poa-android-apk Produzido pelo gaúcho Cristiano Bartel, o jogador controla uma mulher nua e precisa, ao mesmo tempo, fugir do guarda que a persegue e desviar de obstáculos como carros, buracos e bancos. O jogo inicia-se no parque e a cada obstáculo ultrapassado o jogador recebe uma pontuação. Após atingir 20 pontos o cenário da cidade é desbloqueado.

As categorias estabelecidas por Bogost, Ferrari e Schweizer (2010) levam em consideração o conteúdo do jogo e em sua maioria priorizam os jogos produzidos por profissionais da área jornalística. Essa conceituação, embora pertinente, acaba por não incluir os jogos cujo enredo aborda conteúdos retratados na mídia, porém os idealizadores não tiveram a intenção de produzir um newsgame.

46 O jogo mobile com sistema operacional Android foi originalmente

disponibilizado na loja Google Play, sendo retirado posteriormente. No entanto é possível fazer o download do jogo por outros sites, instalando posteriormente o aplicativo no celular ou tablet Android. Até a conclusão deste trabalho o arquivo do newsgame estava disponível em http://downloadapk.com.br/app/corrida-pelada- poa-android-apk.

Para suprir essa lacuna, Marciano (2014) propõe duas novas modalidades:

a) Newsgames por ação: jogos cuja pretensão inicial dos produtores era enquadrar o produto como newsgames. Situam-se aqui os jogos produzidos para veículos jornalísticos e divulgados em seus portais. b) Newsgames por associação: jogos que, em sua concepção, não partem da hipótese de serem considerados newsgames, porém, devido sua mecânica, gráficos ou enredo referenciarem algum conteúdo jornalístico, geram esse reconhecimento associativo no jogador. Este grupo abrangeria, em grande parte, os jogos que têm apenas o propósito inicial de entretenimento, como os divulgados em plataformas autônomas, redes sociais, mobile ou portais sem vínculo jornalístico.

O jogo CSI: ciência conta o crime47, produzido em 2011 pela

equipe da Superinteressante, complementa a reportagem de capa da revista impressa (edição 257, outubro de 2008). Em suas 10 páginas a reportagem impressa apresenta informações sobre as ferramentas e procedimentos realizados por um perito forense; já o newsgame disponibiliza tais informações de modo que o jogador/leitor se torna um agente criminal e precisa utilizá-las para desvendar um crime misterioso.

Figura 23 - Na pele de um detetive, em CSI – Ciência Contra o Crime o jogador precisa desvendar os mistérios por trás de um assassinato

Fonte: http://super.abril.com.br/multimidia/info_405177.shtml

47 Disponível em: <http://super.abril.com.br/multimidia/info_405177.shtml>

Esse jogo enquadra-se na categoria de newsgame por ação, visto que os produtores tiveram a intenção de produzir um jogo que complementasse a reportagem impressa.

Já o jogo O duelo final48, produzido em 2006 para o portal

Charges.com, pode ser enquadrado como um newsgame por associação, embora a equipe de produção contasse com o jornalista Maurício Ricardo.

Figura 24 - Em “O Duelo Final” o jogador assume o papel de um dos candidatos e literalmente precisa lutar para ganhar o jogo

Fonte: http://charges.uol.com.br/game_ver.php?game_pk=24

A temática do jogo refere-se ao segundo turno das eleições presidenciais brasileiras de 2006, disputadas por Luiz Inácio Lula da Silva e Geraldo Alckmin. Ele pode ser classificado como newsgame por associação pois, na época em que foi produzido, remetia ao tema jornalístico das eleições. No entanto o jogo tem o simples objetivo de satirizar a disputa presidencial, inclusive ressaltando apelidos como “Sapo Barbudo” e “Picolé de Chuchu”.

48 Disponível em: <http://charges.uol.com.br/game_ver.php?game_pk=24>

Com a divulgação de CSI: ciência conta o crime, o termo newsgame começa a ser disseminado, principalmente pela própria equipe da revista que passa a ter uma equipe dedicada à produção de newsgames. Os criadores de CSI: ciência conta o crime consideram-se pioneiros na produção nacional de jogos jornalísticos, no entanto, pode-se perceber pela análise anterior que, ainda sem a intenção, Maurício Ricardo possa ter iniciado os trabalhos com newsgames no Brasil.