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FAÇANHAS DO LULU

2.4. O Cinema Educativo e o Estado: as leis, decretos, instituições e exposições em prol do cinema educativo.

2.4.4 Outras localidades: o cinema educativo no Espírito Santo

A história do cinema educativo no Brasil está quase sempre associada aos acontecimentos do Rio de Janeiro (DF) e de São Paulo. Mas não foi só nessas localidades que o cinema educativo encontrou terreno em seus primeiros passos.

O Espírito Santo é um exemplo disso. Em 1929 a revista Cinearte anunciava a intenção do sr. Aristides Borges Aguiar, então Presidente de Estado, de instalarem cinemas nas escolas, tendo os aparelhos já sido encomendados pela diretoria de instrução. A revista Cinearte parabenizou a ação afirmando que “seria muito para desejar que o exemplo do governo espírito-santense influísse no cinema das demais administrações estaduais, compelindo-os a

129 uma nobre e fecunda imitação” (Cinearte, 13/03/1929). Esse dado é muito relevante quando pensamos que a Exposição de Cinematografia Educativa do Rio de Janeiro, considerada “o grande passo” para a promoção do cinema na educação, foi realizada somente em agosto de 1929 e a de São Paulo em junho de 1931. Fica claro, portanto, que a iniciativa no Espírito Santo antecede a essas duas últimas.

Attilio Vivacqua, secretário de educação, em um artigo intitulado: Cinema

Educativo ─ como foi compreendido e aplicado pela reforma de ensino espírito- santense, relatou as novas medidas tomadas para viabilização desse novo

serviço educacional. Uma delas foi a criação, no Espírito Santo, da Filmoteca da Secretaria da Instrução, “destinada a centralizar o serviço de seleção, preparação, guarda, catalogação e permuta de filmes pedagógicos, bem como o serviço de conservação e manejo dos aparelhos cinematográficos” (Diário da

manhã, 23/12/1930).

Todavia, de acordo com Gomes (2008) mesmo com todas essas medidas empreendidas, no sentido de viabilizar a introdução do cinema na educação, Attílio Vivacqua enfrentou dificuldades para “convencer a comunidade escolar e a sociedade de modo geral dos benefícios dessa nova tecnologia” (Gomes, 2008, p.172). Algumas medidas, no entanto, foram tomadas, como a “realização de uma sessão de cinema falado no Teatro Carlos Gomes de Vitória, em que mais de 3 mil pessoas disputaram ingressos. A outra foi a projeção, no Grupo Escolar Gomes Cardim, do filme Centenário do cafeeiro, na abertura do Curso Superior de Cultura Pedagógica" (Gomes, 2008, p.174). Segundo Berto (2013) a introdução do cinema educativo consistiria em um fator suplementar na proposta de implantação da escola activa no Espírito Santo, a criação da Filmoteca da Secretaria de Instrução também fazia parte desse planejamento.

A implantação do cinema educativo, iniciada com a Reforma, mesmo com alguma resistência, continuava o seu percurso anos após seus primeiros passos. Segundo Nascimento (2014) em maio de 1933, Claudionor Ribeiro, Inspetor Técnico do Ensino e chefe do Serviço de Cooperação e Extensão Cultural no Espírito Santo, publicou a lista dos 50 títulos dos filmes adquiridos

130 para o Departamento de Ensino Público, são títulos que abrangiam várias áreas, como veremos na tabela abaixo:

Títulos dos Filmes adquiridospara o Departamento de Ensino Público

1 O sal 26 A energia tirada do sol

2 Os Bacilos 27 O fogo e como fazê-lo

3 O Sangue 28 A proteção contra o fogo

4 Os Ossos 29 Iluminação

5 A respiração 30 A luz

6 As células 31 Alaska

7 A pele 32 O automóvel

8 A circulação 33 As ilhas do Hawaii

9 A digestão 34 A Baía de Chesapeach

10 Cuidado dos dentes 35 A vida do interior

11 Controle da circulação 36 Tuberculose e como evitá-la

12 O mosquito da febre amarela 37 O bicho da seda

13 Máquina simples 38 As diferentes canalizações

14 Aparelhos óticos 39 As Ilhas Philipinas

15 Frigorificação 40 O ouro

16 Areia e o Barro 41 Os diversos processos do ferro

17 Meteorologia 42 Pescaria na Nova Inglaterra –

1°filme

18 As forças hidráulicas 43 Pescaria na Nova Inglaterra – 2°

filme

19 A purificação da água 44 O couro

20 Os vulcões 45 O canal do Panamá

21 O ciclo da água 46 Os músculos

22 A força a vapor 47 A postura do corpo humano

23 A pressão atmosférica 48 O bom alimento – o leite 24 Os efeitos químicos da

eletricidade 49 A América do Sul

25 O calor e a luz da eletricidade 50 Efeitos magnéticos da eletricidade

Tabela 2: Títulos dos filmes adquiridos para o Departamento de Ensino Público Fonte: Nascimento (2014)

É interessante observarmos que alguns desses títulos também faziam parte da filmoteca do Departamento de Educação do Distrito Federal.90

Em 1934 foi aprovada a resolução nº 326 de 21 de março que regulamentava o Serviço de educação pelo rádio e cinemas escolares ─ SERCE, que era

90

Conf. Lista de filmes da Filmoteca do Departamento de Educação do Distrito Federal no ANEXO II.

131 “considerado uma organização auxiliar da escola, tendo como campo não só a educação, mas também ‘a obra momentosa e relevante do soerguimento das energias cívicas da nação’” (ROSA, Josineide, 2008, p.235).

O cinema além de auxiliar da escola deveria incentivar o cultivo do sentimento de civismo, para tanto era obrigatória a projeção de um filme ao mês sobre temas brasileiros nas escolas públicas. Os filmes exibidos deveriam constar da lista remetida pelo SERCE. As sessões que fossem recreativas eram pagas e as educacionais, gratuitas. Os filmes deveriam passar pelo crivo da Comissão de Cinema que era formada pelo Corpo Técnico do Ensino e do diretor do SERCE. Conforme Lauff (2007) Punaro Bley, que governou o Estado no período de 1930 a 1943, tinha grande interesse em difundir as ações do seu governo através do cinema. Em vista disso vários filmes foram produzidos pelo SERCE.91

Entendemos que as ações tomadas para implantação do cinema educativo no Espírito Santo, apesar das particularidades locais, seguiram uma trajetória parecida, com as da capital federal e de outras regiões e com resultados também semelhantes. Apesar da compra de aparelhos, e da “instalação cinematográfica” na Escola Normal e no Grupo Escolar Gomes Cardim, o cinema educativo não chegou à maioria das escolas da capital e no interior do Estado a situação não foi diferente.92

2.4.5 De caso de polícia a questão cultural - A censura cinematográfica no