• Nenhum resultado encontrado

O governo do Estado da Bahia desenvolveu, através da Secretaria da Indústria, Comércio e Mineração - SICM, vários projetos comunitários através do Programa de Inclusão Social da Mineração, visando à geração de trabalho e renda a partir do aproveitamento dos recursos minerais existentes no território dos municípios baianos (CBPM 2004). Esses projetos são implantados pelo Prisma, sob a coordenação da Companhia Baiana de Pesquisa Mineral – CBPM.

O Prisma promove, facilita, e patrocina o aproveitamento econômico de pequenos depósitos minerais e rejeitos de mineração existentes na região semiárida da Bahia, com a implantação de núcleos de produção e apoio à extração de recursos minerais, fornecendo suporte técnico, materiais, equipamentos, treinamento da mão de obra e executando outras ações necessárias para transformar esses recursos em fonte de ocupação, renda e melhoria das condições socioeconômicas nos diversos municípios baianos. Até 2012 o PRISMA já havia beneficiado mais de 8.400 artesãos e trabalhadores baianos e executado cerca de 180 ações (CBPM, 2013). O artesanato mineral é a linha de atuação do programa de maior destaque, propiciando não apenas a inclusão social, mas tendo também um foco ambiental ao favorecer o reaproveitamento de rejeitos minerais.

O Projeto Artesanato Mineral promove a implantação de núcleos de artesanato mineral para a produção de adornos, bijuterias, estatuetas, e utilitários, aproveitando ocorrências não econômicas (pequenos depósitos minerais) de quartzo, amazonita, calcita, jaspe, feldspato ou de rochas como granitos, mármores, quartzitos etc. existentes na própria região do artesão, ou disponibilizados como rejeitos de atividades de extração mineral. A Figura 9 apresenta exemplos deste artesanato desenvolvido no interior do estado e que poderia ser incentivado e facilmente implantado na Região Metropolitana de Salvador – RMS, e outras áreas urbanas similares, sendo assim mais uma alternativa de reaproveitamento de resíduos de rochas ornamentais das marmorarias.

Figura 9: Diversos tipos de artesanato mineral, promovendo a inclusão social dos artesãos e o reaproveitamento de resíduos de mineração e rochas ornamentais (A) Peixe em calcita laranja, (B) Flor mesclando calcita branca, sodalita-azul, quartzito- verde e violão em calcário, biotita e calcita branca. (C) Pássaro confeccionado com

calcita branca, sodalita azul, biotitito; Reaproveitamento feitos com a técnica de mosaico (E) Piso em quartzito São Tomé (um meta-arenito), (F) Tampos de mesa

criados pela Desing Stones.

Uma segunda alternativa já bem conhecida e difundida entre as marmorarias, principalmente aquelas que compõem o “Complexo de Marmorarias de Salvador”, é o uso de restos de rochas ornamentais na confecção de mosaicos e móveis, tanto para interiores como para áreas externas. Essas verdadeiras obras de arte são pouco divulgadas e apenas uma pequena minoria tem acesso a esse belo trabalho que soma a criatividade do artesão à versatilidade e beleza das rochas, e ainda o aproveitamento de rejeitos, promovendo novas alternativas econômicas para esses resíduos evitando seu descarte aleatório.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com os princípios da sustentabilidade, tanto para a lavra como para o beneficiamento, o ideal é escolher o processo, que conduza a uma menor geração de resíduos possível. O próximo passo é a reutilização/reciclagem dos resíduos gerados, e, por último, é que se deve optar pelos aterros e depósitos de resíduos das diferentes classes, no menor volume possível, após serem devidamente tratados. A ordem de prioridades aplicada no dia a dia do mercado ornamental, contudo está invertida e os aterros e depósitos de resíduos, em grandes volumes e sem qualquer tratamento, estão presentes em mais de 80% das marmorarias da RMS.

A pesquisa com as marmorarias da RMS resultou na elaboração de um banco de dados georreferenciado com todas as informações coletadas (Rosato 2013). O

Cláudio Sérgio Oliveira de Rosato

Figura 9: Diversos tipos de artesanato mineral, promovendo a inclusão social dos

artesãos e o reaproveitamento de resíduos de mineração e rochas ornamentais (A) Peixe em calcita laranja, (B) Flor mesclando calcita branca, sodalita-azul, quartzito- verde e violão em calcário, biotita e calcita branca. (C) Pássaro confeccionado com calcita branca, sodalita azul, biotitito; Reaproveitamento feitos com a técnica de mosaico (E) Piso em quartzito São Tomé (um meta-arenito), (F) Tampos de mesa cria- dos pela Desing Stones.

E

C

D

A

B

georreferenciamento dessas empresas, além de facilitar sua localização, visou fomentar o desenvolvimento de novos estudos e pesquisas, além de possibilitar a visualização das empresas e o grupamento por área de atuação e abrangência na RMS. Com base nessas informações foi então possível hierarquizar as empresas em função do tipo de aproveitamento de resíduos, o que possibilitará, no futuro, novos estudos, mais específicos sobre o aproveitamento de resíduos em marmorarias.

A pesquisa de campo gerou subsídios para o levantamento das estratégias postas em pratica por esse segmento de produção no gerenciamento/manejo/disposição dos seus resíduos sólidos. O banco de dados georreferenciado, em formato Excel, sumariza todas as informações coletadas e permite comparações entre as empresas, além da hierarquização e estabelecimento de critérios para avaliação, bem como a elaboração de diagramas e gráficos para ilustração dos resultados obtidos podendo ser consultado em sua integra em Rosato (2013). Com base nestas informações as empresas foram agrupadas em função do tipo de resíduo e estratégia aplicada (ou inexistente) no seu reaproveitamento. O banco de dados inclui ainda informações sobre a existência de fotografias e interesse do empresário em participar de iniciativas relacionadas à pesquisa acadêmica sobre o setor marmorista.

Os estudos feitos na RMS sobre o reaproveitamento de resíduos das marmorarias apontam que boa parte desses rejeitos ou resíduos é descartada de forma aleatória e inadequada, e que isto se deve em grande parte ao despreparo e a falta de alternativas ambientalmente seguras ao empresariado do setor de rochas ornamentais, que é constituído predominantemente por pequenas e microempresas. Contribui-se para dimensionar quantitativamente as empresas de marmoraria na RMS e espera-se fomentar, na área estudada, algum programa ou meta de reaproveitamento de resíduos de rochas ornamentais, bem como no futuro, contribuir para a sensibilização das demais marmorarias do Brasil, levando-as a considerar a qualidade ambiental como caminho para novas opções de produtos e serviços, redução de custos e aumento nos lucros, levando consequentemente ao desenvolvimento de vantagens competitivas neste setor.

Cláudio Sérgio Oliveira de Rosato

Os estudos realizados até hoje apontam para a reutilização de rejeitos de rochas ornamentais em novos materiais para a construção civil, principalmente as que vêm sendo realizada por pesquisadores e acadêmicos do Sul e Sudeste do Brasil. No Nordeste, em especial na Bahia, os trabalhos são ainda muito restritos. A identificação dos resíduos gerados no processo de beneficiamento de rochas ornamentais e a sua destinação final na RMS deve servir como uma ferramenta para a implantação de uma estratégia de gerenciamento de resíduos junto a estas empresas e aos órgãos governamentais que gerenciam este setor.

Ao se inventariar a real situação das marmorarias da Região Metropolitana de Salvador – RMS, com a elaboração e aplicação de questionários que permitiram avaliar o setor face às questões de reciclagem e reaproveitamento dos seus resíduos, foi possível se verificar que muitas das marmorarias existentes nessa área carecem de uma série de incentivos. Grande parte do empresariado destas pequenas e médias empresas desconhece as características tecnológicas do produto que comercializa e a mão de obra não possui treinamento e/ou qualificação. O conhecimento da técnica de polimento, corte ou outra atividade relacionada à preparação de tampos, pias, bancadas é repassado de um funcionário mais antigo para um recém-contratado. Devido ao porte pequeno ou micro, a maioria das empresas marmoristas na Bahia não dispõe de um aparelhamento técnico capaz de competir com empresas do ramo no restante do país. Muito ainda é realizado de forma artesanal o que acaba por gerar um desperdício muito grande e uma enorme quantidade de rejeitos.

Um bom exemplo de reciclagem de rochas já implantado na RMS são os espacatos e anticatos. Anteriormente estas sobras de corte de placas eram descartadas e somavam-se à pilha de rejeitos de marmorarias e serrarias. Com o reaproveitamento e o novo uso eles tornaram-se fonte de lucros para as marmorarias, gerando novos empregos e reduzindo o impacto ambiental.

Apenas o pequeno grupo de empresas que compõem o “Complexo de Marmorarias de Salvador” alcança a excelência na atividade marmorista. Criado em 2006, esse complexo reúne as maiores empresas do setor de marmorarias do estado. Estes empresários - que resolveram unir forças para a aquisição de novos equipamentos, participação em feiras internacionais, e treinamento de sua mão de obra de forma correta e eficiente - formam o grupo que consegue propiciar ao mercado consumidor de rochas ornamentais produtos de qualidade e com excelente acabamento. São estas empresas que, de uma forma ainda muito simples, realizam algum tipo de reaproveitamento ou conseguem dar um destino mais adequado a seus rejeitos de uma maneira que agrida menos ao meio ambiente.

Atualmente o desperdício nas marmorarias que não fazem parte do complexo gira em torno de 30% da produção realizada, o que equivale a cerca de 400 toneladas/ano. Esses rejeitos são normalmente colocados ao longo das BA 099, BA 093, BA 531 entre outras, sempre descartados junto com outros materiais provenientes de obras ou demolição de casas e edifícios. Com a intenção de fugir de possíveis punições, esses descartes são realizados a noite, quando é inexistente qualquer tipo de fiscalização.

Além disto, existe uma grande dificuldade na colocação de novas tecnologias nesse setor uma vez que o grau de conhecimento por parte do empresariado é relativamente pequeno. Em contrapartida, a atuação das empresas que compõem o chamado Complexo de Marmorarias pode favorecer esta situação de descaso e desconhecimento ainda mais, uma vez que este mesmo grupo são os compradores potenciais de materiais sintéticos vindos da China e Itália, não demonstrando interesse no desenvolvimento de novas alternativas nacionais para o reaproveitamento de rejeitos de marmorarias.

A alegação de que essa nova tecnologia sintética é muito cara é apenas uma justificativa para o não desenvolvimento de novas tecnologias limpas na área de rochas ornamentais. A proposição mais viável neste caso seria a elaboração de um projeto de formação de uma cooperativa, sem a ingerência de nenhuma das empresas ligadas ao setor marmorista baiano. Esta cooperativa funcionaria como uma empresa responsável em

Cláudio Sérgio Oliveira de Rosato

desenvolver, em parceria com o Governo e a Universidade, uma nova técnica de reaproveitamento de rejeitos e resíduos através da compra dos materiais pétreos desperdiçados e a realização de novas pesquisas que possibilitem a criação e o desenvolvimento de novos materiais sintéticos ou então, de novos estudos para a aplicação de rejeitos de rochas ornamentais destinados à área de construção civil, visto já ter sido comprovado em outros trabalhos, que a adição de pó de rocha a composição do concreto, em substituição a areia em cerca de 30%, poderá baratear os custos de construção de moradias populares em até 20% do custo atual.

Conclui-se que o desconhecimento sobre rochas ornamentais na Bahia é grande, começa no primeiro elo de produção, a pedreira, e segue até o último elo, as marmorarias. É óbvio que em todo este ciclo, a ignorância das características tecnológicas da rocha e as consequentes limitações para a sua aplicação levam ao uso do material pétreo de forma inadequada o que, quando associado à falta de qualificação da mão de obra e ao baixo nível tecnológico dos equipamentos disponíveis, são os principais fatores de desperdício e acúmulo de rejeitos.

Fica claro que há uma necessidade urgente de incentivos a essa cadeia produtiva, que possa colocar a Bahia como um dos importantes polos de exploração de rochas ornamentais do país. O desenvolvimento de novas técnicas de exploração, a implantação de novos polos de desdobramento e beneficiamento mais perto dos pontos de extração, dotados de toda a infraestrutura necessária para o escoamento da produção, além do desenvolvimento em pesquisas de novos materiais reciclados e o envolvimento das universidades e escolas técnicas para o treinamento e qualificação de pessoal, podem transformar esse cenário em algo promissor e devidamente sustentável. A associação entre a academia e o poder público pode ser a solução para a implantação dessa inovação tecnológica que muitos países europeus já alcançaram e que não compromete a estabilidade ambiental, ao contrário, proporciona o tão chamado e conhecido desenvolvimento sustentável.

AGRADECIMENTOS

Este artigo é o resultado da pesquisa sobre reciclagem e reaproveitamento de resíduos de rochas ornamentais junto às marmorarias da RMS que foi o alicerce para o desenvolvimento da dissertação de mestrado de C.S.O. Rosato e exprime o cenário da reciclagem e reaproveitamento de rochas neste importante setor produtivo. Os autores expressam aqui seu agradecimento a Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB) pelo apoio financeiro, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Nível Superior (CAPES) pela bolsa de mestrado, ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico (CNPQ) pelas bolsas de produtividade em pesquisa e à Secretaria da Indústria, Comercio e Mineração do Estado da Bahia pelo apoio logístico. Agradecemos aos revisores pelos comentários enriquecedores que ajudaram a aprimorar este texto e ao Curso de Pós- Graduação em Geologia da UFBA por incentivar o desenvolvimento de dissertações no formato de artigos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALICANTE COMÉRCIO EXPORTAÇÃO E IMPORTAÇÃO LTDA. 2013.

http://www.alicante.com.br acessado em 03/05/2013.

CBPM 2013. Prisma – Programa de Inclusão Social da Mineração. Disponível em:

http://www.cbpm.com.br acessado em 06/09/2013.

CIMAGRAN (COMÉRCIO E INDÚSTRIA DE GRANITOS E MÁRMORES LTDA). 2013.

http://www.cimagran.com.br acessado em 06/09/2013.

GOMES JUNIOR U.L. 2004. Marmorarias do Estado da Bahia – Caracterização Técnica, Diagnóstico Operacional e Cadastro. Série de Estudos Técnicos de Geologia, Mineração e Tecnologia Mineral nº1. 72p.

http://www.blogdapri.com.br acessado em 06/09/2013.

Cláudio Sérgio Oliveira de Rosato

http://www.cimagran.com.br acessado em 06/09/2013.

http://www.peval.com.br acessado em 06/09/2013.

LISBÔA E.M. 2004. Obtenção do concreto auto-adensável utilizando resíduo de mármore e granito e estudo de propriedades mecânicas. Dissertação de Mestrado. Pós-Graduação em Engenharia Civil. Universidade Federal de Alagoas. 121p.

MENEZES R.R., NEVES G.A., FERREIRA H.C. 2002. O estado da arte sobre uso de resíduos como matérias-primas cerâmicas alternativas. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, vol. 6, nº 2, p. 303-313.

PEVAL S/A 2013. http://www.peval.com.br acessado em 06/09/2013.

RIOS, D. C., CONCEIÇÃO, H., PENA, Z. G., SILVA FILHO, C. V. R., ALVES, J. E. S., DIAS M. O., COSTA T. S. Projeto marmorarias: Avaliação do último elo da cadeia produtiva de rochas ornamentais, Região Metropolitana de Salvador, Bahia. In: Simpósio de Geologia do Nordeste, 2005, Recife,PE. Resumos Expandidos do XXI Simpósio de Geologia do Nordeste, 2005. v. 19. p. 447-449.

ROSATO C.S.O., 2013. Marmorarias da RMS: Um estudo quantitativo e estratégico sobre reaproveitamento e reciclagem de resíduos de rochas ornamentais. Dissertação de Mestrado. Pós- Graduação em Geologia. Universidade Federal da Bahia.

ROSATO, C.S.O., RIOS, D.C., CONCEIÇÃO, H., 2013. Reciclagem e reaproveitamento de rochas ornamentais: perspectivas brasileiras. Revista Brasileira de Geociências. Submetido.

SETEC 2007 – Secretaria de Educação Profissional Tecnológica – Ministério da Educação – Cartilhas Temáticas – Rochas Ornamentais – Brasília – DF – 29p.

STONE WORLD MAGAZINE 2012. Disponível em: http://www.stoneworld.com acessado em 22/03/2013.

STRECKEISEN A.L. 1976. Minerals and rocks: A pocket identification guide. Series: Foulis spectrum books. Ed. Haynes. Germany. 67p.

STRECKEISEN A.L. 1976. To each plutonic rocks, its proper name. Earth Science Review. 12: 33p.

Cláudio Sérgio Oliveira de Rosato