• Nenhum resultado encontrado

Outras políticas de combate à violência contra as mulheres

6 RESULTADOS EMPÍRICOS

6.2 Outras políticas de combate à violência contra as mulheres

Em 2003, foi criada a Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República com o objetivo de reduzir a desigualdade de gênero no país. Dentre os principais eixos de ação da SPM está a Política de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres. Sendo assim, a partir do ano de 2003, antes mesmo da promulgação da Lei Maria da Penha e instalação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, houve ampliação das políticas públicas voltadas ao combate da violência contra as mulheres. Apesar de tais políticas não

35 Nas estimações incluindo a interação entre as variáveis de consumo excessivo de álcool e a dummy temporal, os resultados se mantiveram.

focarem somente a questão da violência contra mulher, mas a questão de gênero de forma mais ampla, é possível que os efeitos encontrados na dissertação sejam viesados ao omitirmos dos modelos a existência de tais políticas. Essa seção apresenta especificações adicionais dos modelos já estimados (considerando todos os municípios sedes de comarca e somente a amostra pareada), levando em consideração a existência concomitante de outras políticas de gênero.

Primeiramente, acrescentou-se como variável de controle da regressão a existência ou não de planos estaduais de políticas de gênero na Unidade da Federação à qual o município pertence. Os dados sobre planos estaduais foram obtidos da Pesquisa de Informações Básicas Estaduais (ESTADIC) de 2012, do IBGE. A pesquisa contém informação acerca da existência ou não de um plano estadual de políticas para mulheres e do ano de lançamento de tal plano. A partir dessa base de dados, criou-se uma variável binária igual a um caso houvesse políticas estaduais de gênero no ano de 2010 ou posteriores a esse ano, e zero, caso contrário. Os resultados estimados são reportados na Tabela 12. A inclusão da dummy de planos estaduais de políticas para as mulheres não alterou os resultados previamente encontrados. Ao usar a amostra com todos os municípios sedes de comarca, as estimativas mostram um impacto negativo e significativo a 10% dos JVDFM sobre o número de internações por agressão. Todavia, quando utiliza-se a metodologia de Propensity Score Matching, os coeficientes estimados permanecem com sinal negativo, porém, não há efeito estatisticamente significativo dos juizados especializados sobre as agressões.36

Em seguida, estimou-se outra especificação adicional, incluindo como variável explicativa uma variável binária indicando a existência de planos de políticas para mulheres no nível municipal. A informação sobre a presença dos planos municipais de políticas de gênero é proveniente da MUNIC (2009), em que há dados sobre os planos municipais e suas datas de lançamento. Assim como na especificação controlando por planos estaduais, vê-se que considerar a existência de planos municipais de políticas de gênero, não altera os resultados previamente obtidos. Quando se inclui na amostra todos os municípios sedes de comarca, a estimativa indica um impacto negativo e significante a 10% dos JVDFM sobre as agressões, mas, usando a amostra pós-pareamento, tais estimativas são estatisticamente insignificantes.

36 Uma especificação adicional foi um estimador de triplas diferenças, onde verificamos se houve impacto da interação entre o plano estadual e os JVDFM com a introdução da Lei Maria da Penha. Tanto o efeito dos JVDFM, quanto o efeito dos juizados em municípios localizados em estados com políticas de gênero, possuíram sinal negativo, mas não foram estatisticamente significativos a um nível de 10%

Todavia, em ambos os casos (amostra pré e pós-pareamento), municípios com planos de políticas de gênero possuem, em média, menor número de agressões.37

Por fim, controla-se na regressão pela adesão estadual ao Pacto Nacional de Enfrentamento à Violência contra Mulheres. Segundo a Secretaria de Políticas para Mulheres, o pacto nacional é “[...] um acordo federativo entre União, Estados, Distrito Federal e Municípios, pelo qual os entes se comprometem a enfrentar todas as formas de violência contra a mulher”. As políticas do pacto nacional abrangem a questão da violência numa perspectiva mais geral, não focando especificamente a violência doméstica contra a mulher. O site da SPM possui informações sobre a adesão estadual ao pacto de enfrentamento à violência, incluindo as datas nas quais cada Unidade da Federação aderiu ao pacto nacional. Foram excluídos da análise o Distrito Federal, por não possuir informação da data inicial de adesão, somente da data de repactuação, e o Rio Grande do Sul, pois em tal estado o pacto nacional foi firmado diretamente com os municípios. Novamente, as estimativas não foram sensíveis ao controle pela adesão a outras políticas de gênero.38 Outra especificação utilizada foi a inclusão de

dummies indicando há quanto tempo os municípios aderiram ao pacto nacional. Foram

obtidos resultados análogos em tal especificação.

37 Também foi estimado um estimador de triplas diferenças incluindo a interação dos planos municipais com a

dummy temporal, a interação dos planos com os JVDFM e a interação de ambos com a dummy anual. Em tal

especificação, nenhum dos impactos estimados é significante a um nível de 10% (efeito conjunto será na amostra completa uma queda de -1,76 significante a 15,1%, e na amostra pareada -5,309 com p-valor 0,173).

38 No estimador de triplas-diferenças, o coeficiente do impacto da interação entre o pacto nacional e os juizados especializados foi positivo e não significativo a nível razoáveis de significância. Contudo, os impactos estimados dos JVDFM passam a ser bem próximos na amostra pré e pós-pareamento; são próximos em magnitude e marginalmente significativos (todos os municípios sedes de comarca: -5,754 (p-valor:0,156) e amostra pareada: - 5,664 (p-valor:0,137)).

Tabela 12 - Plano estadual de políticas para mulheres

Notas: 1) Erros-padrão clustered por UF; 2) Informação sobre os planos estaduais de políticas para mulheres foram obtidos da ESTADIC (2012); 3) Fonte da distribuição dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher: Pesquisa de Informações Básicas Municipais de 2009, IBGE.

Variável

Coeficiente P-valor Coeficiente P-valor

Dummy anual 2010 0,594 0,441 -0,605 0,845

Juizados de Violência Doméstica 0,229 0,765 0,102 0,913

Juizados de Violência Doméstica*2010 -1,989 0,061 -3,283 0,262

Plano 0,227 0,585 2,674 0,321

População 0,001 0,092 0,001 0,116

População feminina -0,003 0,002 -0,003 0,002

Número total de internações 0,001 0,029 0,000 0,196

Número total de internações*2010 0,000 0,199 -0,001 0,079

População 20 a 40 anos 0,002 0,000 0,002 0,001

População 40 a 60 anos 0,002 0,028 0,002 0,034

População acima 60 anos 0,001 0,332 0,001 0,043

Mulheres chefe de família 0,001 0,277 0,001 0,194

População urbana 0,000 0,620 0,000 0,995

População branca 0,000 0,068 0,000 0,019

Casados -0,001 0,006 -0,001 0,020

Coabitam e não são casados -0,001 0,000 -0,001 0,010

Analfabetos (não sabem ler e escrever) 0,001 0,022 0,001 0,043

Fecundidade média das mulheres 0,314 0,737 -0,959 0,784

Nunca migraram de município 0,000 0,086 0,000 0,167

Taxa desemprego -0,015 0,780 -0,085 0,562

Proporção população baixa renda 0,029 0,481 -0,118 0,102

Renda média domiciliar 0,004 0,495 -0,006 0,118

Renda média relativa (mulheres/homens) 0,073 0,852 -0,209 0,830

Dummies UF Número observações R-quadrado 4672 Sim 0,654 996 0,586

Plano estadual de políticas para mulheres Variável depedente: número internações de mulheres por agressão

Amostra pré pareamento Amostra pós pareamento

Tabela 13 - Plano municipal de políticas para mulheres

Notas: 1) Erros-padrão clustered por UF; 2) Informação sobre os planos municipais de políticas para mulheres foram obtidos da MUNIC (2009); 3) Fonte da distribuição dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher: Pesquisa de Informações Básicas Municipais de 2009, IBGE.

Variável

Coeficiente P-valor Coeficiente P-valor

Dummy anual 2010 0,772 0,336 0,523 0,860

Juizados de Violência Doméstica 0,254 0,743 0,119 0,896

Juizados de Violência Doméstica*2010 -1,919 0,066 -3,100 0,265

Plano -3,531 0,005 -8,436 0,010

População 0,001 0,084 0,001 0,103

População feminina -0,003 0,002 -0,004 0,001

Número total de internações 0,001 0,022 0,000 0,133

Número total de internações*2010 0,000 0,197 -0,001 0,069

População 20 a 40 anos 0,002 0,000 0,002 0,000

População 40 a 60 anos 0,002 0,027 0,002 0,027

População acima 60 anos 0,001 0,295 0,001 0,015

Mulheres chefe de família 0,001 0,296 0,001 0,233

População urbana 0,000 0,560 0,000 0,872

População branca 0,000 0,063 0,000 0,016

Casados -0,001 0,005 -0,001 0,017

Coabitam e não são casados -0,001 0,000 -0,001 0,011

Analfabetos (não sabem ler e escrever) 0,001 0,021 0,001 0,046

Fecundidade média das mulheres 0,230 0,794 -1,013 0,773

Nunca migraram de município 0,000 0,079 0,000 0,150

Taxa desemprego -0,014 0,809 -0,069 0,639

Proporção população baixa renda 0,032 0,426 -0,117 0,099

Renda média domiciliar 0,004 0,463 -0,006 0,139

Renda média relativa (mulheres/homens) 0,106 0,783 -0,203 0,830

Dummies UF Número observações R-quadrado

4672 996

0,655 0,589

Plano municipal de políticas para mulheres Variável depedente: número internações de mulheres por agressão

Amostra pré pareamento Amostra pós pareamento

Tabela 14 - Pacto Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres

Notas: 1) Erros-padrão clustered por UF; 2) Informação sobre a adesão ao Pacto Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres é proveniente do site da Secretaria de Políticas para Mulheres; 3) Fonte da distribuição dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher: Pesquisa de Informações Básicas Municipais de 2009, IBGE.

Variável

Coeficiente P-valor Efeito Marginal P-valor

Dummy anual 2010 0,333 0,685 -1,534 0,597

Juizados de Violência Doméstica -0,068 0,935 -0,015 0,988

Juizados de Violência Doméstica*2010 -2,122 0,057 -3,884 0,214

Pacto Nacional 0,289 0,685 2,835 0,364

População 0,001 0,055 0,001 0,157

População feminina -0,003 0,000 -0,003 0,002

Número total de internações 0,000 0,075 0,000 0,247

Número total de internações*2010 -0,001 0,088 -0,001 0,155

População 20 a 40 anos 0,002 0,000 0,002 0,000

População 40 a 60 anos 0,002 0,068 0,002 0,052

População acima 60 anos 0,001 0,133 0,001 0,239

Mulheres chefe de família 0,000 0,342 0,000 0,651

População urbana 0,000 0,820 0,000 0,610

População branca 0,000 0,001 0,000 0,013

Casados -0,001 0,055 -0,001 0,101

Coabitam e não são casados -0,001 0,000 -0,001 0,018

Analfabetos (não sabem ler e escrever) 0,000 0,042 0,001 0,096

Fecundidade média das mulheres 0,229 0,810 -1,159 0,743

Nunca migraram de município 0,000 0,235 0,000 0,263

Taxa desemprego -0,019 0,753 -0,121 0,538

Proporção população baixa renda 0,039 0,399 -0,069 0,411

Renda média domiciliar 0,005 0,438 -0,002 0,515

Renda média relativa (mulheres/homens) 0,077 0,833 0,065 0,928

Dummies UF Número observações

R-quadrado / Pseudo R-quadrado

Pacto Nacional de Enfrentamento à Violência contra Mulheres Variável depedente: número internações de mulheres por agressão

Amostra pré pareamento Amostra pós pareamento

Sim Sim

4386 920