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3. ANÁLISE DOS DADOS

3.4. A Construção Resultativa

3.4.2. Outros Casos de Construções Resultativas formadas por stellen

Outros exemplos de construções muito semelhantes às Resultativas foram encontrados no corpus. Entretanto, esses exemplos diferem em alguns aspectos da Construção Resultativa prototípica, formada por kalt stellen. Goldberg e Jackendoff (2004) destacam que a categoria das Resultativas apresenta uma grande variação sintática e semântica, não podendo ser considerada um fenômeno homogêneo:

A Construção Resultativa, ao contrário de algumas outras construções citadas a cima, apresenta uma grande variação sintática e semântica. A literatura de modo geral tem tratado as Resultativas como um fenômeno unificado (“a Resultativa”). Nós acreditamos que isso seja muito provavelmente um erro. No nosso próprio trabalho (GOLDBERG, 1991 e 1995; JACKENDOFF, 1990), nós tratamos as Resultativas como formando um tipo de “família” de construções (nós poderíamos chamá-las de “subconstruções da Resultativa), compartilhando propriedade importantes, mas diferindo em certas particularidades, incluindo o seu grau de produtividade. (GOLDBERG e JACKENDOFF, 2004, p. 4)21

21 Original: The resultative construction, unlike some of the other constructions mentioned above, shows a great

deal of syntactic and semantic variation. The literature on the whole has treated resultatives as a unified phenomenon (“the resultative”). We think this is quite possibly a mistake. In our own work (Goldberg 1991, 1995, Jackendoff 1990), we have treated resultatives as forming a sort of “family” of constructions (we might call them “subconstructions” of the resultative), sharing important properties but differing in certain specifics, including in their degree of productivity.

Assumindo que a Construção Resultativa pode apresentar variações e que essa categoria é formada por uma família de construções, analisaremos, a seguir, exemplos que podem, segundo essa perspectiva, ser considerados subconstruções da Construção Resultativa.

Os seguintes exemplos foram retirados do corpus formado por informações provenientes das entradas dos dicionários:

(78) Er stellt sich dumm. (Ele se faz de bobo) (D10) (79) Er stellt sich taub (Ele se faz de surdo) (D10) (80) Er stellt sich krank (Ele se faz de doente) (D)

(81) Er stellt sich schlafend (Ele finge estar dormindo) (D)

As Construções (78) a (81) apresentam uma forma muito semelhante à forma de Construções Resultativas do inglês e do alemão formadas por verbo reflexivo, como em She coughed herself sick (Literalmente: Ela se tossiu doente) e She slept herself sober (Literalmente: Ela se dormiu sóbria. Significado: Ela dormiu até ficar sóbria) (GOLDBERG, 1995 p.193) e Miriam malte sich müde (Literalmente: Miriam se pintou cansada. Significado: Miriam pintou até ficar cansada) (BOAS, 2011 p.52).

Esses exemplos em inglês e alemão de Construções com Resultativas têm em comum com as sentenças (78) a (81) o fato de que todas elas são formadas por um argumento correferencial, que tanto causa, quanto sofre a mudança de estado, como é evidenciado pela presença do pronome reflexivo. Além disso, essas construções apresentam um sintagma adjetival pós-verbal, que preenche a lacuna do argumento resultado e expressa uma propriedade.

A presença do argumento correferencial qualifica as construções (78) a (81) como Resultativas transitivas, que não podem ocorrer sem o seu sintagma resultativo, como se observa a seguir:

(82) Er stellt sich*

Por não ocorrerem sem o seu argumento resultado, as Construções Resultativas (78) a (81) podem ser consideradas Resultativas não selecionadas (unselected resultativs). Além disso, elas podem ainda ser classificadas como “falsas reflexivas” (fake reflexive resultative), termo utilizado para designar Construções Resultativas como (83), em que não há alternância de sintagmas nominais:

(83) Er stellt sich dumm (84) *Er stellt sie/ihn dumm

Assim, seguindo a taxonomia completa de Goldberg (1995) e Goldberg e Jackendoff (2004), construções Resultativas com as características de (78) a (81) podem ser classificadas como Resultativas transitivas e falsas reflexivas (fake reflexive).

Analisando a semântica das construções (78) a (81) podemos questionar se o ato de se fazer de bobo/doente/surdo/adormecido realmente expressa uma mudança de estado. Aplicando novamente o teste de Goldberg (1995) às sentenças podemos questionar se há realmente uma mudança de estado, já que o verbo fingir parece não ser compatível com a ideia de uma mudança de estado interior:

(85) ?O que aconteceu com ele foi que ele ficou bobo/surdo/doente

Essas construções correspondem, no plano da forma, à Construção Resultativa, mas a sua análise semântica revela um aspecto que a difere de outras construções desse tipo, já que a mudança de estado está relacionada à aparência (“fingir-se de bobo/doente/surdo”) e não a uma mudança de estado interior do paciente. Tal mudança de estado aparente pode, ainda, ser ou não intencional. Além disso, a mudança de estado aqui acarreta em um julgamento feito por outras pessoas em relação ao argumento tema. Caso a mudança de estado aparente seja intencional, então ela pode ser entendida como uma tentativa de enganar alguém.

No nosso corpus foi encontrada uma ocorrência da Construção Resultativa que segue a mesma estrutura dos exemplos (78) a (81), sendo formada pelo argumento correferencial die Banken (os bancos), e pelo argumento resultativo stur (teimoso):

(86) Meinst Du das Eigenkapital erhöhen? Die Ergänzung klingt jetzt so als könnte man die Banken austricksen indem man diesen Anteil willkürlich nach oben schraubt. Aber glaube mir, gerade im Bezug auf Eigenleistung stellen sich die Banken sehr stur und akzeptieren in den meisten Fällen nur Maler-Tapezierarbeiten und ev. noch die Verlegung von Oberböden.

(WDD13/M07.77337: Diskussion:Muskelhypothek, In: Wikipedia - URL:http://de.wikipedia.org/wiki/Diskussion:Muskelhypothek:

Wikipedia, 2013)

(Tradução aproximada: Você quis dizer aumentar o próprio capital? A complementação soa agora como se fosse possível enganar os bancos, aumentando essa participação aleatoriamente. Mas acredite em mim, justamente no que diz respeito à contribuição pessoal, os bancos se comportam de forma teimosa e aceitam na maioria dos casos somente trabalhos de decoração feitos por pintores e eventualmente assentamento de solo superficial)

Assim como nos exemplos anteriores, a construção (86) é formada por um paciente correferencial. No entanto, nesse contexto, os bancos não se fingem de teimosos, mas adotam de fato um comportamento teimoso indicado pelo fato de aceitarem somente trabalhos de decoração (“(...) und akzeptieren in den meisten Fällen nur Maler-Tapezierarbeiten (...)”)

Outros exemplos encontrados nos dicionários apresentam aspectos próprios das Construções Resultativas:

(87) Kannst du die Heizung wämer stellen? (Você pode aumentar a potência da calefação?)

(88) Das Radio leiser stellen (Abaixar o volume do rádio)

As construções (87) e (88) são Resultativas Transitvas, pois são formadas por um agente como em (87), ou subentendem a presença de um agente como em (88). Além disso, tais construções são compostas por um objeto direto que desempenha a função de paciente (die Heizung/ das Radio) e por um sintagma adjetival que ocupa a posição de argumento resultado da construção. No plano semântico, podemos diferenciar mais uma vez esses exemplos das construções formadas pelo predicado kalt stellen, uma vez que, diferentemente do que ocorre com a construção den Sekt kalt stellen, em que a mudança de estado potencial pode ser descrita como física e envolvendo as forças atuantes do interior do paciente, os exemplos (87) e (88) expressam uma mudança referente à regulagem de um aparelho. Nesses casos, uma parte do

todo é regulada a fim de se obter uma mudança no produto do seu funcionamento, já que a potência do calor produzido pela calefação e o volume do som produzido pelo rádio são alterados.

Uma das acepções encontradas nas entradas de dicionário, segue uma forma semelhante à forma das Construções Resultativas com argumento correferencial, como se observa no exemplo a seguir:

(89) Im ersten Jahr zu Weihnachten schenkte ihr Maria eine teure Seife, weil wir uns gut stellen wollten mit ihr. (DUDEN 11)

(No primeiro ano Maria a presenteou no Natal com um sabonete caro, porque nós queríamos nos dar bem com ela).

Embora a construção (89) contenha um sintagma adjetival, esse sintagma não pode ser considerado resultativo, já que o sentido da construção é idiomático, e deve ser entendido como “tentar ganhar a simpatia de alguém”, “tentar ter um bom relacionamento com alguém”.

Diante das variações entre os tipos de resultativas que ocorrem no corpus, podemos resumir as características principais das Construções Resultativas aqui analisadas da seguinte maneira:

1. Ex.: den Sekt kalt stellen/die Raserei ruhig stellen

Classificação Construção Resultativa transitiva não

selecionada

Sintaxe SUJ V OBJ SA (sintagma adjetival)

Semântica X CAUSA Y A TORNAR Z

Significado Mudança de estado

2. Ex.: sich dumm/taub/ schlafend stellen

Classificação Construção Resultativa transitiva não

selecionada falsa reflexiva

Sintaxe SUJ V OBJ (correferencial) SA

Semântica X CAUSA Y (paciente correferencial)

TORNAR Z

Significado Mudança de aparência (intencional ou não

intencional) que causa um julgamento

3. Ex.: sich stur stellen Classificação

Sintaxe Semântica

Significado

Construção Resultativa transitiva não selecionada, falsa reflexiva

SUJ V OBJ (correferencial) SA X CAUSA Y (paciente correferencial) TORNAR Z

Mudança de estado.

4. Ex.: die Heizung wärmer stellen Classificação

Sintaxe Semântica Significado

Conclusão

Construção Resultativa transitiva não selecionada

SUJ V OBJ SA

X CAUSA [Y TORNAR Z]

Alteração da regulagem de aparelho e consequentemente do produto do seu funcionamento