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2.3. Dos meios de RAL em geral

2.3.3. Outros meios de RAL

Para além da conciliação89, da mediação90 e da arbitragem91 - os modos mais comuns de alternativa à justiça clássica ou convencional - existem ainda outros modos de resolução de conflitos que, em regra, são formas híbridas entre os modelos não jurisdicionais ou entre estes e os modelos jurisdicionais de resolução de litígios eque têm tido maior ou menor sucesso em diversos ordenamentos. Um exemplo é a mediação-arbitragem. Neste procedimento, o mediador-árbitro desempenha o papel de mediador e, no caso de insucesso, transforma-se a pedido das partes, num árbitro que faz recomendações e que tem poder para decidir sobre o litígio. Nos Estados Unidos existe uma grande diversidade de meios de RAL, sendo os mais referidos:

89 Cfr. infra Capítulo II (2.7. As ferramentas utilizadas pela Resolução Extrajudicial de Litígios, 2.7.2. A Conciliação), onde se define e desenvolve este procedimento de RAL.

90 Cfr. infra Capítulo II (2.7. As ferramentas utilizadas pela Resolução Extrajudicial de Litígios, 2.7.1. A Mediiação), onde se define e desenvolve este procedimento de RAL.

91 Cfr. infra Capítulo II (2.7. As ferramentas utilizadas pela Resolução Extrajudicial de Litígios, 2.7.3. A Arbtiragem), onde se define e desenvolve este procedimento de RAL.

O Mini-Trial, o Private Trial, o Summary Jury Trial, o Court Annexed Arbitration, o Neutral Listener, o Neutral Expert Factfinding, ou ainda o non binding ex parte adjudication of patent disputes or trade secret misappropriation.

O Mini-Trial é um procedimento em que as partes assistem a reuniões promovidas

pelos seus advogados, nas quais o caso é exposto e são apresentadas inclusivé as provas existentes. Deste modo, ambas as partes, após ouvir e avaliar as suas posições e conhecer os respetivos meios de prova, podem ficar com uma visão mais realista e objetiva do processo, bem como dos riscos envolvidos, o que facilita a obtenção do acordo. Tem sido muito utilizado em questões de natureza comercial que opõem as empresas92.

O Private Trial é um instituto previsto em legislação do Estado da Califórnia, nos EUA, em que as partes contratam de comum acordo um “juiz” (daí também este procedimento ser conhecido por “contratação de um juiz”), normalmente um juiz jubilado para que proceda ao julgamento e dê a respetiva sentença. A lei concede a estes juizes privados algumas faculdades semelhantes às dos juizes estaduais, com exceção da de fazer comparecer à força uma pessoa perante o juiz)93.

O Summary Jury Trial consiste num procedimento em que é constituído um jurí por pessoas constantes de listas previamente elaboradas para o efeito, o qual profere uma decisão que, contudo, não é vinculativa. Deste modo, as partes ficam a saber qual a decisão que será tomada por um juri efetivo, o que poderá ser particularmente útil em questões em que as partes têm uma uma visão pouco realista do processo, ou existe um desacordo entre as partes e os seus advogados sobre a dimensão dos prejuízos e das indemnizações94).

Por seu turno, o Court Annexed Arbitration é o procedimento em que qualquer uma das partes tem a faculdade de, mesmo sem acordo da outra parte, requerer que o

92 Cfr. Erika Fine e Elizabeth Plapinger, The C.P.R. Legal Program; Containing Legal Costs, New York, Butterworth Legal Publisehers, 1988.

93 Cfr. Cueto Rúa, The California Rent-a-Judge Experiment: Constitutional and Policy Considerations of Pay-As-You-Go Courts, Harvard Law Review, tomo 94, p. 1592.

94 Thomas Lambros, Summary Jury Trial: a flexible settlement alternative, ADR and the Courts; a manual for judges and lawyers, Fine, 1987.

processo interposto no tribunal judicial competente (trial court judges), seja submetido à arbitragem de uma advogado nomeado pelo juiz. A parte vendida pode recorrer da decisão.

Já no Neutral Listener as partes nomeiam um terceiro de reconhecido mérito em que ambas confiem, após o que cada uma lhe transmite a sua melhor proposta confidencialmente. De seguida, o Neutral Listener as analisa e informa as partes se as propostas são suficientemente próximas para justificar um processo negocial entre as partes.

O prodimento designado por Neutral Expert Factfinding é reservado para questões que envolvem questões técnicas complexas, nomeando as partes de comum acordo um perito que dará o seu veredicto técnico, que as partes podem aceitar, consoante tenham conferido caráter vinculativo ou não à sua opinião.

Zulema Wilde e Luis Gaibrois referem ainda outro procedimento, o non binding

ex parte adjudication of patent disputes or trade secret misappropriation. Trata-se de

um acordo, mediante o qual a resolução do conflito é confiada a uma pessoa (o

adjudicator). Ambas as partes apresentam as suas alegações e a informação técnica e

complementar e o adjudicator, a quem elas são transmitidas e as mantém confidenciais decide a questão de forma não vinculativa. Caso a decisão não seja aceite, as negociações prosseguem durante mais algum tempo. É um procedimento com alguma tradição em conflitos surgidos na área da Propriedade Industrial, que envolvem segredos comerciais e patentes95.

A RAL está aí, criou o seu espaço, utiliza ferramentas como a mediação, a conciliação ou a arbitragem que, quando bem administradas, geram bastante satisfação pelos seus utilizadores96 pelo que, mais do que meios alternativos ou amigáveis,

95Cfr. Zulema Wilde e Luís Gabrois, O que é a Mediação?, Lisboa, DGAE, 2003, p. 21. Nesta obra, caracterizam-se sumariamente os fundamentos de cada um dos procedimentos de RAL referidos.

96 A Direção-Geral da Política de Justiça procede anualmente à elaboração de um relatório sobre acompanhamento dos meios de resolução alternativa de litígios referente à satisfação dos utentes com julgados de paz, centros de arbitragem e mediação apoiados pelo Ministério da Justiça, resultante da aplicação de três inquéritos denominados: Barómetro da Qualidade dos Julgados de Paz, Barómetro da Qualidade dos Centros de Arbitragem e Barómetro da Qualidade da Mediação. Este relatório resulta do tratamento dos inquéritos que os utentes preenchem e submetem eletronicamente. Por exemplo, os utentes do sistema público de mediação, podem aceder e preencher o inquérito no seguinte endereço:

podemos dizer com toda a propriedade que complementam o sistema de justiça convencional e alargam o leque da oferta na área da Justiça, potenciando a efetivação dos direitos dos cidadãos e concretizando de facto o acesso a uma Justiça mais célere e de rosto humano.

Contudo, dado que esta dissertação versa sobre consumo, os conflitos que daí resultam, em especial, como veremos, no âmbito da Internet, os meios de RAL que nos interessam verdadeiramente são os Centros de Arbitragem (CACC), que foram entidades que começando a surgir entre nós97 já à perto de 3 décadas a esta parte, se assumem com especial competência e sensibilidade para resolver a abundante conflitualidade existente nesta área.