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IV. Análise de Resultados

4.2 Inquérito por Questionário

4.2.4 Motivos para a inativação de matrícula na Universidade de Évora

4.2.4.12 Outros motivos: diversidade e profundidade

Solicitámos aos inquiridos que especificassem os aspetos que, relacionados com cada uma das grandes categorias de motivos, foram importantes para a situação de inativação da matrícula na Universidade de Évora. Na estrutura do guião de inquérito que foi desenhado, a solicitação desta resposta assumiu a forma de questões semiabertas onde, para além de um conjunto de motivos já elencados, os estudantes inquiridos podiam, através das suas próprias palavras e sem limitação de caracteres, indicar outros ou, eventualmente, detalhar ou complementar os motivos que haviam assinalado anteriormente. Na análise global às respostas obtidas verificou-se que os inquiridos utilizaram esta possibilidade em percentagens bastante superiores ao usualmente observado em inquéritos autoadministrados de aplicação indireta. Por esta razão, justifica-se que façamos aqui uma análise detalhada destas respostas.

No conjunto, foram validadas 385 respostas às diversas questões “Outro(s) [motivo(s)]. Qual(ais)?”. Estas respostas são múltiplas e diversificadas. Uma primeira análise, de natureza quantitativa e olhando à expressão numérica, permite desde logo constatar que as respostas não se distribuem de forma homogénea pelas diversas categorias de motivos (Figura 4.14).

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Casos válidos: 385

Figura 4.14: Distribuição das respostas aos outros motivos que levaram à inativação da matrícula na Universidade de Évora.

Concretamente, verifica-se que a maior percentagem de motivos acrescentados pelos estudantes ocorreu no bloco de questões dedicado aos aspetos relacionados com a estrutura curricular e funcionamento do curso (21,6%), aspetos relacionados com a situação profissional na altura (20,5%) e, em cerca de metade dos casos, vida pessoal (14%) e motivação para aquele curso em particular (10,6%). O bloco de questões relacionadas com a situação económica na altura e a tese/estágio/ trabalho de projeto registou 8,3% do total de respostas às questões semiabertas, e o desempenho de docentes 7%. As percentagens mais diminutas de respostas às questões semiabertas verificam- se nos blocos relacionados com as infraestruturas e equipamentos da Universidade (2,6%), a fase de transição/integração na Universidade (3,4%) e os serviços de apoio e aconselhamento da Universidade (3,6%).

Uma segunda análise, de natureza qualitativa mas ainda exploratória, atendendo ao conteúdo das respostas adicionadas pelos estudantes, evidencia um caos aparente, uma vez que não existe uma correspondência direta entre os motivos acrescentados pelos estudantes num determinado bloco e a categoria temática desse mesmo bloco. A título de exemplo, no bloco de questões dedicado a detalhar os motivos relacionados com a estrutura curricular e funcionamento do curso, justamente o que colheu o maior número de respostas desta natureza (83), surgem respostas como “distanciamento da Universidade e dificuldade de transportes para frequentar as aulas”, “falta de tempo”, “falta de horário compatível com a minha atividade laboral para efetuar o estágio”, “falta de disponibilidade para atendimento pós-laboral” ou “ausência de estímulo/acompanhamento dado pelo Orientador”. Previsivelmente, estas respostas deveriam ter sido canalizadas para outros blocos de questões, nomeadamente, os relacionados com a transição/integração na Universidade, a situação profissional na altura, o desempenho dos docentes ou com a tese/estágio/trabalho de projeto. Porém, tal não aconteceu e, neste caso como também em vários outros, tudo leva a crer que os estudantes de algum modo tomaram partido dos espaços de resposta livre para enfatizar o seu motivo para a inativação da matrícula, querendo com isso distingui-lo dos demais.

Uma terceira análise, de natureza também qualitativa mas já em profundidade, permite concluir sobre a multiplicidade, diversidade e complexidade das causas por detrás da situação de inativação da

Estudo de Caso na Universidade de Évora

matrícula por parte dos estudantes inquiridos, particularmente daqueles em que essa situação teve lugar no decorrer do curso e não apenas sem que tenham frequentado quaisquer disciplinas. Esta conclusão encontra solidez em vários argumentos. Desde logo, na expressão numérica das respostas como um todo (385). Estas respostas são sempre únicas e apesar de, à distância, ser possível agrupá- las em categorias e encontrar as regularidades sociais que lhes são subjacentes, não devemos, em caso algum, menosprezar a importância desse motivo em particular como o ou um dos motivos para a situação de inativação da matrícula por parte de um/a estudante. Os comentários que se seguem patenteiam de modo evidente como as descrições dos estudantes vêm dar profundidade a categorias pré-definidas, frequentemente “banalizadas”, seja no que respeita a aspetos relacionados com a “situação económica”, “vida pessoal” ou “vida profissional” na altura em que a matrícula ficou inativa:

R Outro(s) motivo(s). Qual(ais)?:

“Tinha salários em atraso de vários meses e daí não conseguir pagar as propinas.”

R Outro(s) motivo(s). Qual(ais)?:

“Mais especificamente, a violência [da] vivência de dois lutos em simultâneo.”

R Outro(s) motivo(s). Qual(ais)?:

“Quando ingressei estava numa empresa onde os horários me permitiam ir de forma assídua [às aulas] e depois mudei de profissão e era completamente impossível cumprir horários ou prazos, pois o trabalho exige muitas horas.”

Por outro lado, é frequente a justaposição, numa mesma resposta, de dois, três ou mais motivos que resultam na situação de inativação da matrícula para o/a estudante. Vejamos alguns comentários que ilustram esta constatação:

R Outro(s) motivo(s). Qual(ais)?:

“Pelo facto de me encontrar no fundo de desemprego na altura e a minha mulher estar grávida. Tendo [ela] nessa altura ficado sem trabalho devido à gravidez fui obrigado a procurar trabalho fora do Algarve e mudar de residência.”

R Outro(s) motivo(s). Qual(ais)?:

“Não ter tido conhecimento do plano de estudos na íntegra aquando da candidatura ao Doutoramento e no confronto com o mesmo não correspondeu às minhas expectativas. Os aspetos relativos ao funcionamento também não estavam claros aquando da candidatura nem aquando da realização da matrícula, apesar de ter contactado o Diretor de Curso antes de me matricular para esclarecimentos, no entanto, os mesmos não me foram facultados corretamente.”

R Outro(s) motivo(s). Qual(ais)?:

“Alteração de datas por parte da UE para entrega de dissertação; pedidos e processos pendentes com resposta tardia da UE; propina não definida cobrada pela UE; aviso tardio de informação relevante.”

Por fim, verifica-se que as respostas introduzidas pelos estudantes, embora genericamente de pequena dimensão, não se limitam a enunciados factuais e objetivos, antes surgem lado-a-lado com complementos circunstanciais de modo, tempo ou lugar que de forma simultaneamente sintética e impressionista ajudam a compreender as experiências pessoais que conduzem à situação de inativação de matrícula. A este propósito, vejamos também alguns comentários que ilustram tal constatação:

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R Outro(s) motivo(s). Qual(ais)?:

“Por consequência de todos os fatores, instalou-se desânimo, frustração, insegurança, desmotivação, ansiedade, desleixe e, por fim, esgotamento que por consequência quase arrasa com sonhos.”

R Outro(s) motivo(s). Qual(ais)?:

“Transmissão de informação via e-mail com algum atraso. Uma docente enviou um e-mail a alertar que no dia seguinte não havia aula, só que o e-mail foi enviado à meia noite, e não foi visto e foi no dia seguinte para as aulas e ficou sozinha a vaguear pelo jardim da Universidade, e neste dia chegou a casa a chorar e disse que não queria mais frequentar a Universidade de Évora.”

R Outro(s) motivo(s). Qual(ais)?:

“A organização do curso desde o 1.º ano (este foi um ano perdido), depois era uma corrida contra o tempo. Não dava para usufruir da pesquisa, era necessário mudar de universidade para terminar a tese.”

4.2.4.13 Leitura conjunta entre questões fechadas e abertas