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de outubro de 1887: Meu registro para o relatório foi terminado e enviado.

No documento A HISTÓRIA DA MINHA VIDA (páginas 155-160)

e Joseph Jefferson em

ESCREVENDO O LIVRO

3 de outubro de 1887: Meu registro para o relatório foi terminado e enviado.

Tenho duas cópias e vou lhe mandar uma, mas você não deve mostrá-la a ninguém. É propriedade do sr. Anagnos até ser publicado.

Suponho que as meninas tenham gostado da carta de Helen. Ela a escreveu de sua cabeça, como as crianças dizem.

Helen fala muito do que fará quando for a Boston. Outro dia perguntou: "Quem fez todas as coisas e Boston?". Ela diz que Mildred não irá porque "Bebê chora todos os dias".

25 de outubro de 1887: Helen escreveu outra carta para as meninas ontem e seu

pai a enviou para o sr. Anagnos. Peça a ele para vê-la. Helen começou a usar os pronomes por sua própria conta. Esta manhã, por acaso, eu disse: "Helen vai lá em cima". Ela riu e disse: "Professora está errada. Você vai lá em cima". Este é outro grande passo adiante. É sempre assim. As perplexidades de ontem são estranhamente simples hoje, e as dificuldades de hoje se tornam o passatempo de amanhã.

O rápido desenvolvimento da mente de Helen é lindo de se ver. Duvido se algum professor teve algum dia um trabalho tão interessante e absorvente. Deve haver uma estrela da sorte nos céus do meu nascimento, e estou começando a sentir sua influência benéfica.

Recebi duas cartas do sr. Anagnos na semana passada.

Ele está mais grato pelo meu relato do que a lingua inglesa pode exprimir. Agora quer um retrato "da querida Helen e sua ilustre professora, para abrilhantar as páginas do próximo relatório anual".

Outubro, 1887: O senhor provavelmente já leu, antes, a segunda carta de Helen

para as meninas. Estou consciente de que o progresso que ela fez entre a redação das duas cartas parece inacreditável.

Somente aqueles que estão com ela diariamente podem perceber o rápido avanço que vem obtendo na aquisição da linguagem. O senhor verá pela carta dela que Helen usa muitos pronomes corretamente. Ela raramente os usa de forma errada ou os omite numa conversa. Sua paixão por escrever cartas e pôr os pensamentos no papel torna-se cada vez mais intensa. Ela agora conta histórias em que a imaginação desempenha um papel importante. Está começando também a perceber que não é como as outras crianças. No Outro dia ela perguntou: "O que meus olhos fazem?". Disse-lhe que eu podia ver coisas com os olhos e que ela podia ver com os dedos. Após pensar um momento, ela respondeu: "Meus olhos são maus!". A seguir, mudou a frase para "Meus olhos são doentes!".

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O primeiro relato da srta. Sullivan, publicado no relatório oficial da Instituição Perkins para o ano de 1887, é um breve sumário do que está amplamente registrado

em suas cartas. Aqui se segue a última parte, começando com o grande dia, 5 de abril, em que Helen aprendeu o significado da palavra water (água).

Em seu relato, a srta. Sullivan fala de "aulas" como se estas se dessem numa ordem regular. Tal é o efeito de colocar tudo num sumário. "Aula" é formal demais para o contínuo trabalho cotidiano.

Certo dia eu a levei para a cisterna. Enquanto a água jorrava da bomba, soletrei a palavra "á-g-u-a". Instantaneamente Helen me deu um tapinha na mão para que eu a repetisse e então fez a palavra sozinha com um rosto radiante. Naquele momento a babá entrou na casa da cisterna levando a irmãzinha de Helen. Pus a mão de Helen no bebê e formei as letras "b-e-b-ê", que ela repetiu sem ajuda e com a luz de uma nova inteligência no rosto.

Quando voltamos para casa, tudo que Helen tocava tinha de ser nomeado para ela e raramente a repetição era necessária. Nem a extensão da palavra nem a combinação de letras pareciam fazer qualquer diferença para a criança.

Na verdade, ela lembra heliotropio e crisântemo mais rapidamente do que nomes mais curtos. No final de agosto ela conhecia 625 palavras.

Essa aula foi seguida por outra sobre palavras indicando relações-espaço. O vestido dela era guardado dentro do baú e depois estendido sobre ele, e tais preposições eram soletradas para ela. Helen aprendeu muito rapidamente as diferenças entre dentro e sobre, embora algum tempo se passasse antes dela poder usar tais palavras em suas próprias frases.

Sempre que possível, ela era induzida a bancar o ator na aula e se encantava de ficar sobre a cadeira e ser colocada dentro do guarda-roupa. Em conexão com essa aula, ela aprendeu os nomes dos membros da família e a palavra está. "Helen está dentro do guarda-roupa", "Mildred está no berço", "Caixa está na mesa", "Papai está na cama" são tipos de frases construídas por ela na última parte de abril.

A seguir veio uma aula sobre palavras expressando uma qualidade positiva. Para a primeira aula eu tinha duas bolas, uma de lã, grande e macia, e a outra, uma bola comum.

Ela percebeu a diferença de tamanhos imediatamente.

Pegando a bola comum, fez o sinal habitual para pequeno, isto é, beliscando um pedacinho de pele de uma das mãos.

Então pegou a outra bola e fez o sinal para grande esticando bem as mãos sobre ela. Substituí os sinais pelos adjetivos grande e pequeno. Então a atenção dela foi atraída para a dureza de uma bola e a maciez da outra, e ela aprendeu macio e duro. Alguns minutos depois ela apalpou a cabeça da irmãzinha e disse para a mãe: "A cabeça de Mildred é pequena e dura". A seguir tentei ensinar-lhe o significado de rápido e lento. Ela me ajudou a enrolar um pouco de lã no outro dia, primeiro rápido e depois lentamente. Então eu lhe disse com o alfabeto manual, "enrolar rápido" ou "enrolar lento", segurando suas mãos e mostrando-lhe como fazer do modo que eu queria. No dia seguinte, enquanto se exercitava, ela soletrou: "Helen enrola rápido", e começou a andar rapidamente. Então disse: "Helen enrola lento", novamente juntando a ação às palavras.

Pensei então que era tempo de ensiná-la a ler palavras impressas. Um pedaço de papel onde fora impressa a palavra caixa em letras em relevo foi colocado sobre o objeto; tentei a mesma experiência com muitos artigos, mas ela não compreendeu imediatamente que o nome-etiqueta representava a coisa. Então peguei uma folha do alfabeto e coloquei seu dedo sobre a letra A, ao mesmo tempo em que fazia A com meus dedos. Ela moveu o dedo de um tipo impresso para outro enquanto eu formava cada letra nos meus dedos. Ela aprendeu todas as letras num só dia, tanto as maiúsculas quanto as minúsculas. A seguir virei a primeira página da cartilha e a fiz tocar na palavra gato, soletrando-a nos meus dedos ao mesmo tempo. Ela apreendeu a idéia instantaneamente e me pediu para encontrar cachorro e muitas outras palavras. Na verdade, Helen estava muito descontente porque eu não conseguira encontrar o nome dela no livro. Naquele momento eu não tinha nenhuma frase em letras em relevo que ela pudesse entender; mas ela ficou ali por horas tateando cada palavra do livro.

Quando toquei numa que lhe era familiar, uma expressão especialmente doce iluminou seu rosto, e temos visto sua fisionomia ficar cada vez mais doce e mais séria a cada dia.

Mais ou menos nessa época, enviei uma lista das palavras que Helen conhecia ao sr. Anagnos e ele muito amavelmente as mandou imprimir para ela. A mãe de Helen e eu cortamos várias folhas de palavras impressas para que ela pudesse arrumá-las em frases. Isso a encantou mais do que tudo o que já fizera; e a prática assim obtida preparou o caminho para as aulas escritas. Não houve qualquer dificuldade em fazê-la entender como escrever as mesmas frases com lápis e papel que construía todos os dias com os pedacinhos de papel e ela logo percebeu que não precisa se limitar a frases já aprendidas: podia comunicar qualquer pensamento que passasse por sua mente. Coloquei uma das tábuas de escrever usadas pelos cegos entre as dobras do

papel na mesa e deixei-a examinar um alfabeto. Então guiei sua mão para formar a frase "Gato bebe leite". Quando terminou, estava superfeliz. Levou-a para a mãe, que a soletrou para ela.

Dia após dia movia o lápis da mesma forma ao longo do papel com ranhuras, sem demonstrar por um momento sequer a mínima impaciência ou sensação de fadiga.

Como Helen havia aprendido agora a expressar suas idéias no papel, a seguir ensinei-lhe o sistema braile. Ela o aprendeu contente quando descobriu que poderia ler o que escrevera; isso ainda lhe dá um prazer constante. Por uma boa parte da noite ela senta à mesa escrevendo seja lá o que lhe ocorrer à ocupada mente; e raramente encontro qualquer dificuldade em ler o que ela escreveu.

O progresso de Helen em aritmética tem sido igualmente notável. Ela pode somar e subtrair com grande rapidez até 100; e sabe multiplicar até cinco. Ela trabalhava recentemente com o número 40 quando eu lhe disse: "Multiplique por dois". Ela respondeu imediatamente: "20 vezes 2 são 40". Mais tarde eu disse: "Faça 15 vezes 3 e conte".

Eu queria que ela fizesse o grupo de três e achava que os contaria em ordem para saber quanto seria 15 vezes 3. Mas ela imediatamente soletrou a resposta: "15 vezes 3, 45".

Ao lhe dizerem que era branca e que uma das criadas era negra, ela concluiu que todos que ocupavam a mesma posição subalterna tinham a mesma cor; e sempre que eu lhe perguntava a cor de uma criada, ela dizia "negra". Quando lhe perguntaram a cor de alguém cuja ocupação ela desconhecia, ela pareceu perturbada e finalmente disse "azul".

Ainda não lhe foi dito nada sobre morte ou o enterro do corpo e mesmo assim, ao entrar no cemitério pela primeira vez na vida, com sua mãe e eu, ao olhar algumas flores, ela pôs a mão em nossos olhos e soletrou repetidamente: "chorar-chorar". Seus olhos na verdade se encheram de lágrimas. As flores não lhe pareceram dar prazer e ela ficou muito quieta enquanto permanecemos lá.

Em outra ocasião, enquanto caminhava comigo, ela pareceu consciente da presença do irmão, embora estivéssemos distante dele. Ela soletrou repetidamente seu nome e partiu na direção em que ele vinha.

Quando caminhando ou andando a cavalo, ela geralmente diz os nomes das pessoas que encontramos quase tão rapidamente quanto nós as reconhecemos.

As cartas retomam o relato.

No documento A HISTÓRIA DA MINHA VIDA (páginas 155-160)