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5.1. A NÁLISE DE C ONTEÚDO

5.1.2. P ERFIL DA CRIANÇA

À luz do presente estudo é importante ter por base o desenvolvimento cognitivo e emocional típico da terceira infância, já que a nossa amostra é uma criança de 10 anos que, portanto, se encontra nesse estádio do seu desenvolvimento. Por outro lado, esta criança sofria “bullying” por parte dos seus pares, e os alunos que são vitimados/”bullied” demonstram maiores níveis de desajustamento emocional de tipo internalizante, incluindo

96 ansiedade, depressão, solidão, infelicidade e baixa autoestima, assim como mais sintomas físicos (Nansel et al., 2007).

Já de seguida, serão analisados os estados emocionais do António ao longo da intervenção.

- Estados emocionais

Quando chega à consulta, o António encontrava-se claramente perturbado a nível emocional, isso fica claro nas palavras da sua Encarregada de Educação“disse que se

sente triste, não presta para nada, não faz nada de jeito.”; “Tem tendência de achar que as pessoas estão contra ele”; “a sua tristeza tem sido mais notória”; “Tem pesadelos.”; “Diz que é um mau filho”; “Sente uma enorme necessidade de chamar a atenção, de ser «popular».”

O mesmo também se denota nas palavras da própria criança, a saber, “não me sinto bem,

só me apetece enervar-me”. O António “(…) admitiu que já se sentia triste no 1º, 2º, 3º e 4º anos, que sempre se sentiu assim”. Ainda no decorrer da primeira consulta“(…) revelou à mãe um episódio de tentativa de suicídio”, a mãe percebeu que tinha acontecido

na mesma semana que ele “(…) escreveu aquelas coisas horríveis (que se sente triste,

não presta para nada, não faz nada de jeito)”.

No 7º Momento o António já “diz que tem dormido bem e não tem tido pesadelos (…)” e no 10º Momento da intervenção chegou mesmo a declarar: “(…) sinto-me melhor por

ter desabafado”.

Ainda no que se refere ao perfil da criança, cabe agora analisar os aspetos reativos à sua autoimagem, que, conforme já foi referido, também é afetada nas crianças que são vitimizadas/”bullied”.

- Autoimagem

O António chega à consulta a achar “que não faz nada bem”. Segundo a sua Encarregda de Educação, é “inseguro, desvaloriza-se, acha que tudo é negativo”.

Já no 3º Momento da intervenção, “quando lhe pedi que me dissesse qualidades suas

97 No 7º Momento, quando lhe foi pedido o mesmo, isto é, que nomeasse algumas qualidades suas, que “(…) não tem qualquer dificuldade em nomear as suas virtudes, já

o contrário sucedeu quanto aos defeitos”.

No 10º Momento de intervenção, a Encarregada de Educação declarou que: “(…) já se

valoriza mais. Apercebe-se que é importante”. Quanto à Diretora de Turma, destacamos

a sua resposta a uma das perguntas abertas no 11º Momento da intervenção: “está mais

confiante”.

Cabe agora analisar a evolução ao nível dos comportamentos e atitudes do António ao longo da intervenção.

- Comportamentos/Atitudes

No 1º momento da intervenção, “a mãe diz que ele é um pouco reservado”. A sua Diretora de Turma “sente-o triste, isolado”.

No 7º momento, o António refere que “dantes, quando o magoavam, chegava a casa e

batia nos peluches (nem sabia como eles ainda não se tinham descosido), mas agora não tem batido nos peluches, «eles não merecem “bullying”, porque senão têm que ir ao Dr. dos peluches».”

Já no 10º Momento de intervenção a Encarregada de Educação declarou que: “(…) a sua

atitude em relação aos outros melhorou. Aceita melhor as críticas e que nem sempre as coisas correm como ele espera dos outros.

Depois de analisadas as duas primeiras categorias, a relação terapêutica e o perfil da criança, haverá agora lugar à análise da terceira categoria definida para o nosso estudo, a saber, os recursos artísticos, com o objetivo de perceber em que medida eles proporcionaram o envolvimento da criança, bem como a exteriorização das suas emoções e sentimentos.

98 5.1.3.RECURSOS ARTÍSTICOS

Neste estudo, optou-se pelos recursos artísticos enquanto principal estratégia de intervenção por acreditarmos que estes proporcionam o desejado envolvimento da criança nas atividades interventivas, bem como a exteriorização das suas emoções e sentimentos. De seguida, serão analisadas separadamente estas duas subcategorias de análise.

- Envolvimento da criança

Logo no 1º Momento da intervenção, após ter feito um desenho livre, o António “passou

a descrever com muito pormenor o seu desenho. Disse que a árvore está a morrer (por isso é amarela e com folhas pretas), que as ferramentas (os objetos cortantes a vermelho de cada lado da árvore) estão a ultrapassar a barreira e estão a matar a árvore e que as barreiras tentam protegê-la dos ventos fortes.)”, e, quando termina a sua descrição “(…) identificou claramente que a árvore era ele”.

No 3º Momento, “por vezes foi agressivo, revelou concentração, organização, construía

e destruía facilmente”. No 4º Momento, quando dramatizámos o conto, “(…) foi com entrega que o fez e com (à)vontade. assumindo plenamente o personagem Max. Mesmo depois de terminarmos a leitura dramatizada, o António manteve-se em personagem”.

No 5º Momento, em que projetou o seu próprio corpo, no papel cenário, pintando-o com as suas próprias mãos, “foi com muito empenho e concentração que o António se entregou

a esta atividade.” No 6º Momento, “(…) quando fomos para o chão, junto à pintura da projeção do seu corpo o seu rosto ficou iluminado, sorria, estava descontraído.”

No 7º Momento, quando lhe foi pedido que pintasse com as suas mãos o corpo da pessoa que mais o magoa, no papel cenário, percebeu-se que “(…) encarava a tarefa com

seriedade.” No 8º Momento, no qual recorremos à técnica de colagem, “quando lhe apresentei a atividade e os materiais a reação foi: «vai ser fácil».” E, no 9º Momento, “mostrou satisfação quando lhe disse que ia trabalhar com o barro”; importa ainda

salientar, conforme foi registado, que o António “participou com interesse e empenho em

todas as atividades propostas.”

De seguida, iremos tentar perceber até que ponto é que os recursos artísticos utilizados durante a intervenção permitiram a exteriorização e os sentimentos do António.

99 - Exteriorização de emoções e sentimentos

No 1º Momento da intervenção, “quando terminou o desenho escondeu-se debaixo de um

banco”. Também no 3º Momento “durante o manuseamento do barro fez uma escultura (elefante) que estava a pedir «help»”. Ainda nessa mesma consulta, “mostrou grande satisfação quando foi incentivado a imaginar que o barro que tinha nas mãos era alguma daquelas crianças que o magoam, sorria e ria enquanto esmagava o barro”.

Aquando a dramatização do conto, no 4º Momento, “(…) chegou facilmente à conclusão

que os monstros do conto representam os nossos medos, que no seu caso particular são os colegas da escola que o ofendem e magoam”. No 7º Momento, depois de pintar com

as suas mãos o corpo da pessoa que mais o magoa, no papel cenário, foi-lhe perguntado como se sentiu, “(…) respondeu que se sentiu bem, «é bom desabafar»”.

No 8º Momento, depois de se autorretratar como um super-heroi, “perguntei-lhe se isso

era o que ele é realmente ou o que ele gostaria de ser. Respondeu que é o que ele é”. No

9º Momento também ficou claro que “(…) a criança assume os personagens que trabalha

e que através deles se revela, deixando perceber as suas ansiedades e inquietudes.”

No 10º Momento, no qual lhe foi pedido que desenhasse uma árvore, o resultado foi “(…)

uma árvore bem mais estruturada, organizada, arrumada. Muito diferente daquela que representou na 1ª consulta”.

Seguidamente, será analisada a quarta e última categoria de análise, desempenho académico, a partir das suas subcategorias, nomeadamente, rendimento académico, atitudes face à escola, integração no grupo-turma e envolvimento em situações de “bullying”.