CAPÍTULO 4. TURISMO E SUSTENTABILIDADE
4.3. P OLÍTICAS DE TURISMO SUSTENTÁVEL
Na sequência da CNUAD foi elaborada, em conjunto com a WTTC, a OMT e o Earth Council, a Agenda 21 para a Indústria das Viagens e do Turismo, afirmando‐se como uma das primeiras publicações de âmbito
Sustentabilidade Autoridades locais Ambiente de suporte Indústria do turismo Sustentabilidade económica e ambiental Sustentabilidade económica e social Uso e protecção dos recursos
Capítulo 4. Turismo e sustentabilidade
internacional a expor um conjunto de recomendações com o objectivo de assegurar o desenvolvimento sustentável da actividade turística. Este documento traduz a Agenda 21 num programa de acção para a indústria das viagens e do turismo, definindo as áreas de acção prioritárias e os objectivos inerentes a cada uma, bem como, sugestões de actividades a serem implementadas para os alcançar. As acções propostas baseiam‐se, então, na Agenda 21, da qual emergem os seguintes princípios básicos relacionados com o turismo:
• “O turismo e as viagens deverão contribuir para que as pessoas tenham padrões de vida saudáveis e produtivas em harmonia com a natureza;
• O turismo e as viagens deverão contribuir para a conservação, a protecção e a recuperação do ecossistema Terra;
• O turismo e as viagens deverão basear‐se em padrões sustentáveis de produção e consumo; • As nações deverão cooperar para promover um sistema económico aberto, no qual o comércio
internacional de serviços de turismo e viagens deverá ocorrer numa base sustentável;
• O turismo, as viagens, a paz, o desenvolvimento e a protecção ambiental são interdependentes; • O proteccionismo no comércio dos serviços de turismo e viagens deverá ser interrompido ou
invertido;
• A protecção ambiental deverá ser parte integrante do processo de desenvolvimento turístico; • Os assuntos relacionados com o desenvolvimento turístico deverão ser tratados com a participação
dos cidadãos que se preocupam com essas questões, devendo decisões de planeamento ser adoptadas ao nível local;
• As nações deverão alertar‐se mutuamente quando ocorrerem desastres naturais que possam colocar em risco turistas e áreas turísticas; • O turismo e as viagens deverão utilizar as suas capacidades para criar postos de trabalho para as mulheres e para os povos indígenas de uma maneira em geral; • O desenvolvimento do turismo deverá reconhecer e apoiar a identidade, a cultura e os interesses da população local; • As leis internacionais de protecção do ambiente deverão ser respeitadas pela indústria do turismo e das viagens.” (WTTC et al., 1995, p. 34, tradução nossa). A Agenda 21 para a Indústria das Viagens e do Turismo destaca três pontos fundamentais: (i) a utilidade das parcerias entre os governos, a indústria turística e as organizações não governamentais, (ii) a importância estratégica e económica da indústria das viagens e do turismo e (iii) os enormes benefícios que surgirão ao tornar esta indústria sustentável. O seu programa de acção encontra‐se dividido em duas partes, uma dirigida às entidades governamentais, autoridades nacionais do turismo e associações empresariais e a outra dirigida às empresas da indústria das viagens e do turismo. Pretende‐se, em ambos os casos, estabelecer sistemas e procedimentos para que o processo de tomada de decisão e as políticas de gestão incorporem considerações de desenvolvimento sustentável e identificar as acções necessárias para que as suas actuações se centrem nas premissas do desenvolvimento do turismo sustentável (WTTC et al., 1995). As áreas prioritárias de acção definidas para cada tipologia de intervenientes encontram‐se transcritas na Tabela 4.1.
Capítulo 4. Turismo e sustentabilidade
Tabela 4.1. | Áreas prioritárias da Agenda 21 para a Indústria das Viagens e do Turismo Entidades governamentais, autoridades nacionais do turismo e associações empresariais
Avaliação da capacidade do quadro regulamentar, económico e voluntário existente para garantir o desenvolvimento turístico sustentável Avaliação das implicações ambientais, culturais e económicas das actuações das organizações Formação, educação e sensibilização públicas Planeamento para um desenvolvimento turístico sustentável Facilitar o intercâmbio de informação, competências e tecnologia relativas ao turismo sustentável entre países desenvolvidos e em vias de desenvolvimento Promoção da participação de todos os sectores da sociedade Concepção de produtos turísticos sustentáveis Monitorização de resultados obtidos no alcance do desenvolvimento turístico sustentável Estabelecimento de parcerias para promover o desenvolvimento turístico sustentável Empresas da indústria das viagens e do turismo Minimização de resíduos Conservação e gestão de energia Gestão de recursos hídricos Gestão de águas residuais Substâncias perigosas Transportes Gestão e planeamento do uso do solo Envolvimento dos recursos humanos das empresas, dos clientes e da comunidade local nas questões ambientais Concepção de projectos tendo em conta a sustentabilidade Estabelecimento de parcerias para promover o desenvolvimento turístico sustentável (Fonte: WTTC et al., 1995, tradução nossa) Imbuída no mesmo espírito, também a Comissão Europeia definiu um plano de acção orientado para reforçar a sustentabilidade do turismo, associando a este o factor de competitividade. Assim, em 2007, é divulgada a Agenda para um Turismo Europeu Sustentável e Competitivo que lança oito desafios para assegurar a sustentabilidade do sector: (i) reduzir a sazonalidade, (ii) abordar o impacto do transporte turístico, (iii) melhorar a qualidade do emprego no sector do turismo, (iv) manter e melhorar a prosperidade e qualidade de vida da comunidade em função da mudança, (v) minimizar o impacto da utilização de recursos e da produção de resíduos, (vi) preservar e acrescentar valor ao património natural e cultura, (vii) possibilitar o gozo de férias a todos e (viii) utilizar o turismo como ferramenta no desenvolvimento sustentável global (Turismo de Portugal, 2010). Para alcançar estes desafios e, consequentemente, o turismo sustentável e competitivo, a Comissão Europeia propõe os seguintes princípios:
• Adopção de uma abordagem holística e integrada com o objectivo de garantir que a actividade turística é exercida de forma equilibrada e com respeito pela sociedade e pelo meio ambiente; • Planeamento a longo prazo, tendo em vista as necessidades das gerações futuras, bem como, das actuais; • Alcançar um ritmo adequado de desenvolvimento, respeitando o carácter dos destinos turísticos; • Garantir o envolvimento de todos os stakeholders; • Empregar o melhor conhecimento disponível e compartilhá‐lo por toda a Europa; • Minimizar e gerir os riscos (princípio da precaução), ou seja, tomar medidas preventivas para evitar prejuízos no meio ambiente ou na sociedade; • Reflectir os impactos nos custos ‐ os preços devem reflectir os custos reais para a sociedade das actividades de produção e consumo;
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• Fixar e respeitar limites de desenvolvimento;
• Estabelecer um processo contínuo de monitorização (European Union, 2011).
No contexto nacional, destaca‐se a publicação, em 2009, da Lei de Bases do Turismo que assume uma visão sustentável deste sector, tido como estratégico para a economia nacional. Assim, institui o princípio da sustentabilidade, pelo qual a adopção de políticas na área do turismo deve fomentar:
“a) A fruição e a utilização dos recursos ambientais com respeito pelos processos ecológicos, contribuindo para a conservação da natureza e da biodiversidade;
b) O respeito pela autenticidade sociocultural das comunidades locais, visando a conservação e a promoção das suas tradições e valores;
c) A viabilidade económica das empresas como base da criação de emprego, de melhores equipamentos e de oportunidades de empreendedorismo para as comunidades locais” (Artigo 4.º do Decreto‐Lei n.º 191/2009, de 17 de Agosto).
Este documento enfatiza, também, a democratização do acesso dos cidadãos à prática do turismo e o envolvimento do sector privado na execução das políticas de turismo (Turismo de Portugal, 2010).