A hipótese 1 parte da conclusão que as questões económicas, sociais, ambientais e culturais são as mais valorizadas no estabelecimento da relação entre qualidade de vida e turismo sustentável, sendo consideradas nos diversos sistemas de indicadores analisados. A hipótese 2 surge do facto da temática ‘Emprego’ ser comum aos sistemas de indicadores de qualidade de vida e de turismo sustentável e do aumento de oportunidade de emprego ser mencionado como um dos principais impactos positivos do turismo percepcionados pelos residentes no destino turístico. A hipótese 3 é fundamentada, também, por a temática ‘Actividades de recreio de lazer’ ser percepcionadas como um dos principais impactos positivos do turismo e estar contemplada nos sistemas de indicadores de qualidade de vida e de turismo sustentável.
A validação das hipóteses apresentadas é efectuada através da recolha da opinião de responsáveis por instituições/empresas que disponibilizam bens e serviços nas áreas definidas pela CST como áreas de negócio fundamentais para a actividade turística: alojamento, restauração e bebidas, transporte (de passageiros e rent a car), agências de viagens e operadores turísticos, serviços culturais e serviços recreativos. Estas instituições/empresas contribuem para um dos factores considerados dos relevantes para assegurar a qualidade de vida – a oferta de emprego à população residente. Por outro lado, apesar de direccionados para o turista, os bens e serviços disponibilizados por estas entidades podem, também, ser usufruídos pelos residentes no destino turístico e contribuir, também, desta forma, para a sua qualidade de vida. Conclui‐se, assim, que estas áreas de negócio têm uma relação directa com aqueles que são considerados os principais impactos positivos do turismo percepcionados pelos residentes nos destinos turísticos: aumento de oportunidades de emprego e aumento da oferta de locais destinados a actividades de recreio e de lazer.
Capítulo 6. Metodologia
6.3.
M
ÉTODO DE RECOLHA DE INFORMAÇÃO‐
T
ÉCNICA DED
ELPHIA técnica de Delphi, desenvolvida nos EUA na década de 50 do século XX, pertence a um conjunto de métodos de pesquisa qualitativa que dependem do julgamento de indivíduos pressupostamente especialistas no assunto em estudo (Garrod & Fyall, 2005). Esta técnica foi concebida como um processo de comunicação em grupo que visa atingir uma convergência de opinião sobre um determinado assunto (Hsu & Sandford, 2007). Consiste num método sistemático de recolha de opiniões de um grupo de especialistas através da aplicação de várias rondas de questionários, sendo fornecido, entre estas, o feedback sobre a opinião do grupo, mas preservando o anonimato das respostas dos inquiridos (Miller, 2001; Garrod & Fyall, 2005; Hsu & Sandford, 2007). O seu principal objectivo é alcançar o consenso do grupo, sem que haja o efeito de pensamento colectivo (Miller, 2001), ou seja, sem que haja uma influência directa do grupo nas escolhas de cada inquirido. Esta técnica é, muitas vezes, utilizada para a predição de eventos futuros, através do alcance do referido consenso (Poulsen de 1920; Woudenberg, 1991 citados por Choi & Sirakaya, 2006).
A técnica de Delphi não deve ser entendida como uma ferramenta de tomada de decisão, mas sim uma ferramenta de análise e, como tal, o objectivo não é conseguir uma resposta definitiva, mas sim ajudar no desenvolvimento de possíveis soluções, com base nos resultados obtidos na sua aplicação (Kaynak & Macauley, 1984 citados por Miller, 2001). É uma técnica de pesquisa aplicada em diversos estudos, incluindo na área do turismo (Garrod & Fyall, 2005). Segundo Delbecq, Van de Ven & Gustafson (1975, citados por Hsu & Sandford, 2007) a técnica de Delphi pode ser utilizada para atingir os seguintes objectivos: i) Determinar ou desenvolver uma gama de alternativas possíveis de programas; ii) Explorar ou expor suposições subjacentes ou informações que levem a juízos diferentes; iii) Recolher informações que possam gerar um consenso no seio do grupo inquirido;
iv) Correlacionar julgamentos informados sobre um tema que abrange uma ampla gama de disciplinas;
v) Educar o grupo de inquiridos quanto a aspectos diversos e inter‐relacionados sobre o assunto em estudo.
A técnica de Delphi distingue‐se pela capacidade de aprofundar as questões de uma forma rigorosa, por recorrer a conhecimentos especializados que estariam indisponíveis a quem realiza o estudo se utilizasse métodos mais convencionais (Garrod & Fyall, 2005). O facto dos inquiridos corresponderem a indivíduos especialistas na matéria em análise confere maior rigor ao estudo, permitindo também obter resultados com um nível de aprofundamento mais elevado.
Rowe & Wright (1999 citados por Garrod & Fyall, 2005) especificam quatro características‐chave que podem ser consideradas como necessárias para um procedimento ser considerado como sendo a técnica de
Capítulo 6. Metodologia
Delphi: o anonimato, o processo iterativo, o feedback controlado e a adequação de uma variedade de técnicas de análise estatística para interpretar as respostas do grupo.
O (i) anonimato é uma das principais vantagens da técnica de Delphi ao permitir eliminar os efeitos indesejáveis decorrentes de outras técnicas em que é utilizada a discussão em grupo para recolher e sintetizar informação (Dalkey, 1972 citado por Hsu & Sandford, 2007). Ao preservar o anonimato dos inquiridos, conseguido pela condução do inquérito por correio, por e‐mail ou através de entrevistas pessoais individualizadas, é reduzido o risco dos inquiridos se sentirem pressionados ou serem influenciados pelos outros especialistas (Garrod & Fyall, 2005), preservando a sua opinião exacta.
A técnica de Delphi, em contraste com outras técnicas de recolha e análise de dados, caracteriza‐se por empregar um (ii) processo iterativo composto por várias rondas de inquéritos com o objectivo de atingir o já mencionado consenso no grupo de especialistas (Hsu & Sandford, 2007). Normalmente, a primeira ronda inicia‐se com um questionário composto por questões abertas com o objectivo de recolher informações específicas sobre a matéria em estudo (Taylor & Judd, 1989; Green et al., 1990 citados por Miller, 2001), que servirão de base aos inquéritos aplicados nas restantes rondas. Contudo, quando for possível, através de uma extensa revisão da literatura, reunir a informação de base ao estudo, pode‐se excluir o questionário aberto na primeira ronda e iniciar‐se a aplicação da técnica de Delphi por um questionário composto por questões fechadas (Kerlinger, 1973 citado por Hsu & Sandford, 2007), orientadas de forma directa para os objectivos definidos.
Wheeller, Hart & Whysall (1990 citados por Miller, 2001) criticam a utilização da primeira ronda para a recolha da informação base pela sua incapacidade de produzir o mesmo nível de informação que uma minuciosa revisão da literatura pode gerar. O número de rondas necessárias para atingir os objectivos definidos depende de estudo para estudo. No entanto, vários autores indicam que três rondas são, na maioria das vezes, suficientes para recolher as informações necessárias e chegar a um consenso, apontando, ainda, o facto de que quanto maior for o número de rondas, maior é a probabilidade da taxa de respostas ser pequena (Hsu & Sandford, 2007). Kaynak, Bloom & Leibold (1994) apresentam vários exemplos de estudos onde a aplicação de duas rondas foi suficiente para alcançar os objectivos pretendidos.
O (iii) feedback controlado consiste em informar, em cada ronda, os inquiridos sobre o resultado das respostas do grupo na ronda anterior, permitindo e incentivando a reavaliação das suas decisões sobre as informações fornecidas nas iterações anteriores (Hsu & Sandford, 2007). A natureza iterativa da técnica Delphi, em que os inquiridos têm a oportunidade de fazer os seus julgamentos novamente com base na reflexão informada, reduz a probabilidade dos inquiridos fazerem julgamentos sob pressão, contribuindo para aumentar a precisão dos resultados do estudo e torná‐los mais confiáveis (Ayton et al., 1999 citados por Garrod & Fyall, 2005).
Capítulo 6. Metodologia
A (iv) agregação estatística da resposta do grupo permite dar a conhecer de uma forma simplificada o resultado global de cada uma das rondas, sendo utilizadas, maioritariamente, medidas de tendência central (média, mediana e moda) e medidas de dispersão (desvio padrão e intervalo interquartil) (Miller, 2001; Garrod & Fyall, 2005; Hsu & Sandford, 2007). Dado que o objectivo subjacente à técnica de Delphi é atingir o consenso, ou seja, a convergência das respostas para um único valor, a utilização da média ou da mediana pode ser enganadora, pelo que se sugere, em determinadas situações, a utilização da moda (Ludwig, 1994 citado por Hsu & Sandford, 2007). Existem dois pressupostos nos quais a técnica de Delphi se baseia. O primeiro subentende que, com a aplicação das várias rondas, a amplitude de respostas convirja para o valor médio da distribuição, enquanto o segundo pressuposto afirma que a resposta global do grupo tende, sucessivamente, a mover‐se no sentido de fornecer a resposta correcta, verdadeira ou mais provável (Jolson & Rossow, 1971 citados por Kaynak et al., 1994).
A aplicação da técnica de Delphi implica o cumprimento de um conjunto de etapas (Figura 6.1.), das quais se destacam, por serem as mais relevantes, a selecção dos inquiridos, o desenho do questionário, o fornecimento do feedback e a decisão sobre o número de rondas a serem realizadas (Yong et al., 1988 citados por Kaynak et al., 1994), sendo que as três últimas questões já foram desenvolvidas anteriormente.
Capítulo 6. Metodologia