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C RUZEIRISTAS QUE VIAJARAM PELO BRASIL

3.1 P OSTOS DE TRABALHO FORMAL EM SANTA CATARINA

O emprego ou a falta dele tem sido um dos temas de debate em diferentes épocas e nos mais diferentes ramos das ciências. O desemprego, provocado pelo avanço da tecnologia, já era algo discutido por Marx54 no final do século XIX e logo na primeira metade do século

54 A competição anárquica entre capitalistas por maiores lucros faz com que cada um tente reduzir seus custos, para vender a preços mais baixos, aumentando a produtividade através da substituição do trabalho por máquinas. Marx (1984) definiu o conceito “Exército Industrial de Reserva” para explicar que o capital consegue rebaixar a remuneração da força de trabalho ao nível mínimo necessário à reprodução individual através de elevados contingentes de trabalhadores desempregados. Para ele, essa população excedente é produto necessário da acumulação e é, simultaneamente, sua própria alavanca, tornando-se condição fundamental de

XX foi, também, estudado e previsto por Keynes, que o denominou de desemprego tecnológico. O sistema produtivo taylorista, no início do século XX, seguido pela produção fordista foram alternativas decorrentes do sistema capitalista visando atenuar esta problemática. Cattani (2002) explica que estes dois sistemas de organização do trabalho baseiam-se, principalmente na divisão e racionalização do trabalho buscando, por meio da especialização e estudo dos movimentos executados nas tarefas, aproveitar intensamente o tempo. Essa conjugação do maquinário com o controle e a disciplina é conhecida como “Organização Científica do Trabalho”.

Nas últimas décadas verifica-se, conforme exposto nas bases teóricas deste trabalho, novos sistemas de produção exigindo uma reestruturação com flexibilidade produtiva adequada a hegemonia da globalização ou a mundialização do capital. Nesse contexto, desenvolve- se um novo desenho do “mundo do trabalho”55 gerando consequências

existência do próprio modo de produção capitalista. A dialética da questão está no fato de que, ao reproduzir este sistema e permitir que haja ampliação da riqueza ou do capital social, a população trabalhadora produz as condições que a tornam relativamente supérflua a este mesmo modo de produção. Amplia-se a quantidade de máquinas e equipamentos e a contratação de trabalhadores não acompanha esta ampliação. Para o bom funcionamento do sistema de produção capitalista e para garantir o processo de acumulação, é necessário que parte da população ativa esteja permanentemente desempregada. Esse contingente de desempregados atua, segundo a teoria marxista, como um inibidor das reivindicações dos trabalhadores e contribui para o rebaixamento dos salários. Assim, pois, a desigualdade e a pobreza são vitais para o funcionamento normal das economias capitalistas. Parte dessa “população excedente artificial” de desempregados pode ser atribuída à substituição da mão de obra pela tecnologia e/ou à falta de qualificação. No entanto, não é a tecnologia em si, mas o uso da tecnologia sob o capitalismo, introduzida de forma anárquica e sem planejamento, que leva ao desemprego em massa, e que, por sua vez, coloca pressão sobre os que ainda trabalham a aceitar salários mais baixos, enquanto a concorrência para os empregos remanescentes aumenta.

55 Para Fígaro (2008, p.92) “o mundo do trabalho é o conjunto de fatores que engloba e coloca em relação a atividade humana de trabalho, o meio ambiente em que se dá a atividade, as prescrições e as normas que regulam tais relações, os produtos delas advindos, os discursos que são intercambiados nesse processo, as técnicas e as tecnologias que facilitam e dão base para que a atividade humana de trabalho se desenvolva, as culturas, as identidades, as

sociais e políticas. Vários autores (RIFKIN, 1995; ANTUNES, 2003; HOLZMANN, 2002; KOVACS, 2001) indicam que esta produção flexível desencadeia mudanças nas formas de contratação, na qualidade dos produtos e nos padrões de consumo.

Decorrente dessa tecnologia, as empresas puderam atender mais intimamente as diferentes demandas dos consumidores. O conhecimento técnico-científico aplicado na produção introduziu ao que Holzmann (2002) denomina de “automação flexível” caracterizada pela introdução de máquinas acopladas a computadores. A adequação a estas mudanças exigiu formas mais flexíveis do trabalho tendo a subcontratação e a flexibilização dos serviços como forma alternativa para escapar dos encargos sociais e dos custos de produção. Surge daí o aumento do desemprego, a má remuneração do trabalhador e o retrocesso do poder sindical. Santos explica que:

As empresas, impulsionadas por crescentes pressões competitivas, por alterações dos mercados, globalização das atividades econômicas, aceleração da inovação tecnológica, têm vindo a redefinir as suas estratégias, organizando-se de forma diferente e modificando o seu posicionamento estratégico. (SANTOS, 2001, p. 30).

subjetividades e as relações de comunicação constituídas nesse processo dialético e dinâmico de atividade”. Nesse sentido, pode ser dito que o mundo do trabalho é, pois, o mundo trabalhado pelo homem. Isso supõe a compreensão de que é o trabalho do homem que promove a história, e que é pelo trabalho que o homem se realiza. Fígaro explica que a atividade de trabalho não pode ser vista fora da história. No sistema capitalista, ela é determinada como mercadoria e as relações ente as pessoas são escalonadas e hierarquizadas por meio da especificidade das características e dos valores que cada atividade de trabalho adquire em relação ao poder hegemônico (GRAMSCI, 1977). Esse sistema econômico pressupõe o trabalho remunerado e o trabalho não remunerado (apropriado como parte do capital, conforme Marx (1993), regulados pelo emprego e os diferentes vínculos contratuais entre os que se oferecem para o trabalho no mercado de trabalho. O mundo do trabalho trata-se, pois, de uma categorização ampla, porque possibilita congregar conceitos como trabalho, relações de trabalho, vínculo empregatício, mercado de trabalho, salário, tecnologia, troca, lucro, capital, organizações, controle, poder, sociabilidades, cultura, relações de comunicação etc. (FÍGARO, 2008, p.93).

Nesse contexto, busca-se identificar qual o papel e a dinâmica que as ACTs catarinenses apresentam, não apenas do ponto de vista econômico, mas, principalmente, na perspectiva socioespacial. Tem ocorrido diminuição no número de empregos? Os empregos gerados pelas empresas das ACTs catarinenses possuem uma remuneração menor que as demais empresas do Estado? Qual é o perfil destes trabalhadores? Qual a distribuição do número de trabalhadores pelas mesorregiões do Estado?

O Estado de Santa Catarina apresenta um bom índice de desenvolvimento com uma diversificada atividade econômica, a qual gera um bom número de empregos. Vale, no entanto, relembrar a teoria marxista, segundo a qual a questão do desemprego é, inexoravelmente, perene na sociedade capitalista. Os resultados obtidos na pesquisa e apresentados a seguir mostram que os empregos formais ligados às ACTs têm crescido, porém fazem-se necessárias algumas análises para melhor compreensão destes dados.

Santa Catarina é líder na região Sul em PIB per capita e o quarto do Brasil. A Tabela 9 mostra o ranking das 10 unidades da federação com o maior PIB per capita. É possível verificar que o Estado de Santa Catarina subiu da 5ª posição, em 2002, para a 4ª, em 2010, onde se encontrava o Estado do Rio Grande do Sul. Da mesma forma, o Estado do Espírito Santo subiu para a 6ª colocação, a qual era ocupada pelo Estado do Paraná.

Tabela 9: PIB per capita do Brasil e Unidades da Federação entre 2002 e 2010 Unidades da Federação 2002 R$ Ranking 2010 R$ Ranking Distrito Federal 25.747,00 1 58.489,00 1 São Paulo 13.259,00 2 30.243,00 2 Rio de Janeiro 11.543,00 3 25.455,00 3 Santa Catarina 9.969,00 5 24.398,00 4 Rio Grande do Sul 10.057,00 4 23.606,00 5 Espírito Santo 8.258,00 7 23.379,00 6

Paraná 8.945,00 6 20.814,00 7

Mato Grosso 7.928,00 8 19.644,00 8 Minas Gerais 6.904,00 12 17.932,00 9 Mato Grosso do Sul 7.004,00 11 17.766,00 10

A Região Sul encontra-se em segundo lugar na participação do PIB nacional, conforme demonstrado no Gráfico 2. Observa-se que o Sudeste responde por mais da metade do PIB do País enquanto que a região Norte detém a menor participação.

Gráfico 2: Participação da Região Sul no PIB nacional entre 2002 e 2010 Fonte: Dados IBGE (2013)

Conforme demonstra a Tabela 10, dentre os Estados da região Sul, Santa Catarina é o que possui menor participação no PIB nacional. Destaca-se, contudo, que esse Estado apresenta maior PIB per capita do que Rio Grade do Sul e Paraná em decorrência da maior participação

4,69 4,78 4,95 4,96 5,06 5,02 5,1 5,04 5,34 12,96 12,77 12,72 13,07 13,13 13,07 13,11 13,51 13,46 56,68 55,75 55,83 56,53 56,79 56,41 56,02 55,32 55,39 16,89 17,7 17,39 16,59 16,32 16,64 16,56 16,54 16,51 8,77 9,01 9,11 8,86 8,71 8,87 9,21 9,59 9,3 0% 20% 40% 60% 80% 100% 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010