• Nenhum resultado encontrado

Por regime de bens, compreende-se o conjunto de normas que disciplina a relação jurídica-patrimonial entre os cônjuges, ou por, simplesmente, o estatuto patrimonial do casamento.

A escolha do regime de bens pelos nubentes se dá através da formalização do pacto antenupcial. Trata-se de um negócio jurídico solene, realizado entre as partes que estão para celebrar um casamento, pelo qual escolhem o regime de bens mais adequado aos dois, segundo o princípio da autonomia privada. Admite-se, ainda, que possa ocorrer um consenso entre as partes para que seja aceito um regime misto, embora não seja comum este tipo de regime. A opção das partes exige por parte do julgador um olhar mais atento, pois como se

sabe pode interferir em questões de direito de sucessão (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2012).

De qualquer maneira, a partir do momento em que as partes optam por celebrar o pacto antinupcial, é frequente que elejam um determinado tipo de regime, que na maioria das vezes, é apenas um, facilitando a interpretação. Desse modo, o pacto antinupcial consiste em um negócio jurídico formal, sendo considerado nulo o pacto antenupcial que não for feito por escritura pública, e ineficaz se não lhe seguir o casamento (art. 1.653, CC), assim como aquele que contrariar disposição legal (art. 1.655, CC) (BRASIL, 2002). Ademais, para gerar efeitos para terceiros (erga omnes), o pacto deve ser registrado em Cartório de registro de imóveis do domicílio dos cônjuges (art. 1.657, CC).

Gagliano e Pamplona Filho (2012, p. 326) esclarecem que a legislação civil estabelece os seguintes regimes de bens: comunhão parcial de bens; comunhão universal de bens; separação (convencional e obrigatória) de bens; e participação final nos aquestos.

Comunhão parcial de bens: este é um dos regimes mais adotados no Brasil, pois é o

regime legal, adotado nos casos em que os casais não definem o regime de bens. Nesse tipo de regime, em regra, há comunicabilidade dos bens adquiridos a título oneroso na constância de matrimônio, por um ou ambos os cônjuges, preservando-se os recebidos a título gratuito a qualquer tempo. De forma mais clara, é como se houvesse a ‘’separação do passado’’ e uma ‘comunhão do futuro’’ em face daquilo que o casal, por seus esforços, adquiriu conjuntamente. Trata-se de um regime conveniente, junto e equilibrado. Está previsto no artigo 1.658 do Código Civil (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2012).

Comunhão universal de bens: este regime tende a unicidade patrimonial. Seu princípio

básico determina, salvo as exceções legais, uma fusão do patrimônio anterior dos cônjuges e assim, a comunicabilidade ocorre em relação aos bens havidos a título oneroso ou gratuito, no curso do casamento, incluindo-se as obrigações assumidas (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2012). Nesse sentido, o art. 1.667, do Código Civil estabelece que o regime de comunhão universal importe a comunicação de todos os bens presentes e futuros dos cônjuges e suas dívidas passivas, com as exceções do art. 1.668, pelo qual são excluídos da comunhão:

I - os bens doados ou herdados com a cláusula de incomunicabilidade e os sub- rogados em seu lugar;

II - os bens gravados de fideicomisso e o direito do herdeiro fideicomissário, antes de realizada a condição suspensiva;

III - as dívidas anteriores ao casamento, salvo se provierem de despesas com seus aprestos, ou reverterem em proveito comum;

IV - as doações antenupciais feitas por um dos cônjuges ao outro com a cláusula de incomunicabilidade;

V - Os bens referidos nos incisos V a VII do art. 1.659. (BRASIL, 2002).

Separação convencional de bens: este regime tem como premissa a

incomunicabilidade dos bens dos cônjuges, anteriores e posteriores ao casamento (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2012). Com previsão no art.1.687, do Código Civil, na separação de bens, estes permanecerão sob a administração exclusiva de cada um dos cônjuges, que os poderá livremente alienar ou gravar de ônus real. Trata-se de um regime que exige expressa manifestação das partes, não se confundido com o da separação legal ou obrigatória. É estipulado, no regime de separação de bens, que cada cônjuge mantém o seu patrimônio próprio, compreensivo dos bens anteriores e posteriores ao casamento, podendo, como visto, livremente aliená-los, administrá-los ou gravá-los de ônus real. Admite-se, todavia, em situações excepcionais, a possibilidade de um dos cônjuges, demonstrando colaboração econômica direta na aquisição de determinado bem, obter direito a correspondente indenização ou, até mesmo, a divisão proporcional, não com amparo no regime em si, mas com fulcro no princípio proibitivo do enriquecimento sem causa (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2012).

Nessa mesma linha, reconhecendo-se a excepcionalidade da hipótese. Tem-se por compatível com regime de separação, a eventualidade de condomínio dos cônjuges sobre determinados bens, que tenham sido adquiridos com a participação efetiva de ambos, nos limites e proporção correspondentes, ou em decorrência de doações ou legados conjuntos. Essa circunstância, dado o seu caráter de excepcionalidade, não desfigura do condomínio voluntário (arts. 1.314 a 1.326, CC), sem interferência das regras aplicáveis aos demais regimes matrimoniais de bens (LOBO, 2011).

Separação obrigatória de bens: esse regime matrimonial poderá provir da Lei ou de

convenção. Em certas circunstâncias da lei que o impõe, caso em que este regime é obrigatório por razões de ordem pública, visa proteger o nubente ou terceiro ou por ser exigido como sanção (DINIZ, 2012).

Sendo assim, em virtude do Código Civil, art.1.641, é obrigatório o regime de separação de bens no casamento: das pessoas que celebrarem o casamento com infração das causas suspensivas, ou seja, do viúvo que tiver filho do cônjuge falecido, enquanto não tiver feito o inventário dos bens do casal e der partilha aos herdeiros, porém, caso não tenha bens para inventar, não há em que se falar de separação de bens; da viúva, ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou ter sido anulado, até dez meses depois do começo da

viuvez, ou como da dissolução da sociedade conjugal; do divorciado, enquanto não tiver sido homologada ou decidida à partilha dos bens perante o ex-casal; do tutor ou o curador diante de seus descendentes, ascendentes, irmãos, cunhados ou sobrinhos, com a pessoa tutelada ou curatelada, enquanto não terminar a tutela ou curatela, e não estiverem saldadas as respectivas contas; da pessoa maior de 70 anos; e de todos os que dependerem, para casar, de suprimento judicial (DIAS, 2013). Ademais, os cônjuges casados sob esse regime não podem contratar sociedade entre si (art.977, CC) (MIRANDA, 2001).

Destaca-se que a imposição deste regime às pessoas com idade superior a 70 anos tem por objetivo evitar que o casamento seja utilizado para se conseguir algum tipo de vantagem econômica. Ademais, quanto aos indivíduos que necessitam de suprimento judicial para casar-se, esta obrigatoriedade existe para mostrar a insatisfação do legislador com aqueles que se casam mesmo quando a lei sugere que não o façam, impondo assim, restrições em relação ao patrimônio do casal (DIAS, 2013).

Participação final nos aquestos: esse regime foi consagrado em substituição ao regime

dotal. Segundo Bevilácqua (1954), o regime dotal é aquele pelo qual a propriedade dos bens é exclusiva de cada um, recaindo o ônus da sustentação da família sobre os bens do marido e sobre os rendimentos do dote, cuja administração é direito especial do marido, sob a condição de devolver o dote à mulher com o término da sociedade conjugal. Esse regime de bens foi substituído pela participação final nos aquestos.

É muito provável que esse regime não se adapte ao gosto de nossa sociedade. Por si só se verifica que se trata de estrutura complexa, disciplinada por nada menos do que 15 artigos, com inúmeras particularidades. Não se destina, evidentemente, a maioria da população brasileira, de baixa renda e de pouca cultura. Não bastasse isso, embora não seja dado ao jurista raciocinar sobre fraudes, esse regime ficara sujeito a vicissitudes e abrira vasto campo ao cônjuge de má-fé (VENOSA, 2005, p. 360). Na mesma linha, Dias (2013) discorre que o regramento é exaustivo (arts 1.672 a 1.686); apresenta normas de difícil entendimento, gerando insegurança e incerteza. Além disso, é também de execução complicada, sendo necessária a mantença de uma minuciosa contabilidade, mesmo durante o casamento, para possibilitar a divisão do patrimônio na eventualidade de sua dissolução, havendo, em determinados casos, a necessidade de realização de perícia. Nessa linha, pode-se observar que “este regime não obstante seja dotado de autonomia jurídica, pode reconhecer a participação final dos aquestos como um regime híbrido, ou seja, com características de separação e de comunhão parcial de bens” (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2012, 384).

Documentos relacionados